Mais um soneto, mais
versos de uma poetisa. Talvez seja essa forma de poema aquela que
enseja às mulheres extravasar emoções inconfessáveis, arroubos de amor
escondidos nos recônditos da alma. Este
soneto, que aí vai, até no seu título revela a explosão da fêmea que rompe convenções.
(Cinira
do Carmo Bordini Cardoso - Rio de Janeiro-RJ -1905/1933).
DESASSOMBRAMENTO.
Carmen Cinira.
Que me aguarde, por
pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me
sigam pela vida,
que floresçam vulcões
nos montes sossegados
e trema de revolta a
Terra adormecida...
Que se ergam contra mim
os seres indignados
como um quadre dantesco
em fúria desmedida,
e que, na própria
altura, os astros deslocados
rolem numa sinistra e
tremenda descida...
Hei de ser tua um dia e
ofertar-te, sem pejo,
vibrante, ébria de
amor, à chama do teu beijo,
esta alma virginal que
a tanto assim de espera...
E então hei de sentir
vaidosa, intensamente,
desabrochar em mim, num
delírio crescente,
o instinto de mulher em
ânsia de pantera.
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VHCarmo.
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