quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um momento de poesia (é algo mais)....



Mais um soneto, mais versos de uma poetisa. Talvez seja essa forma de poema  aquela que  enseja às mulheres extravasar emoções inconfessáveis, arroubos de amor escondidos nos recônditos da alma.   Este soneto, que aí vai, até no seu título revela a explosão da fêmea  que rompe convenções.
(Cinira do Carmo Bordini Cardoso - Rio de Janeiro-RJ -1905/1933).
               
                    DESASSOMBRAMENTO.
                        Carmen Cinira.
Que me aguarde, por pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me sigam pela vida,
que floresçam vulcões nos montes sossegados
e trema de revolta a Terra adormecida...

Que se ergam contra mim os seres indignados
como um quadre dantesco em fúria desmedida,
e que, na própria altura, os astros deslocados
rolem numa sinistra e tremenda descida...

Hei de ser tua um dia e ofertar-te, sem pejo,
vibrante, ébria de amor, à chama do teu beijo,
esta alma virginal que a tanto assim de espera...

E então hei de sentir vaidosa, intensamente,
desabrochar em mim, num delírio crescente,
o instinto de mulher em ânsia de pantera.

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VHCarmo. 

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