sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

UM PROJETO DE TIRANO...

Este modesto blogueiro estava cogitando escrever um texto sobre o incrível procedimento do Sultão JB  ao assacar contra seus pares e contra o próprio STF o seu discurso rancoroso e descabido; eis que encontrou o texto abaixo no Facebook que lhe dispensou o trabalho.   O Ministro está abusando da paciência de todos.  Impõem-se medidas para contê-lo, sobe pena de tornarmos todos responsáveis por este projeto de tirano.

 Olhem só:


Comentário de Maria Luiza Quaresma Tonelli, no Facebook.
Como vai reagir a classe jurídica diante do que aconteceu na mais alta corte de justiça do país hoje [27/2]? Estamos num Estado Democrático de Direito. O presidente de um tribunal desqualificar a decisão da maioria logo após proclamar o resultado do julgamento é algo impensável, inadmissível. É muito mais do que uma grosseria, uma boçalidade. É um desrespeito não apenas a seus pares, mas sobretudo à instituição. A decisão da maioria não é simplesmente a soma dos votos de cada um. É a decisão do próprio STF. A ele não compete não concordar com a decisão da maioria. Resta-lhe apenas acatar.

Joaquim Barbosa não tem apreço pela democracia, sabemos. Hoje provou que não tem respeito sequer pela instituição que preside. Acha que está acima de seus pares, da instituição e dos outros poderes. Joaquim Barbosa é hoje uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. Porém, só faz o que faz porque não encontra nenhum limite. Nem por parte de seus pares, nem por parte do Senado. Até onde isso pode chegar? Se Joaquim Barbosa não respeita o STF, que seus pares tomem alguma providência no sentido de resgatar a dignidade da instituição. Do jeito que está não pode ficar. O terceiro poder da República não pode continuar nas mãos de um desequilibrado com vocação para ditador.
_____________________  vhcarmo.

Lula falou... (fora o pessimismo!)

É bom  tomar conhecimento daquilo que o Lula fala. Tudo o que ele expõe aí, abaixo, é  baseado em fatos e estudos confirmados e desmente a corrente de pessimismo que a grande mídia e a oposição vem espalhando  na  tentativa de reverter o clima eleitoral que lhe é francamente desfavorável.  Repita-se o velho refrão “o povo não é bobo...”.

Olhem só:

Artigo de Lula: Por que o Brasil é o país das oportunidades

Feb 25, 2014
Por Luiz Inácio Lula da Silva

Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.
Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.
Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.
Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.
Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?
A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.
A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.
Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.
O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?
O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.
Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?
Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?
Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.
E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?
O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.
O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.
Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?
Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.
O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?
A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?
Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.
Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT
Este artigo foi originalmente publicado no jornal Valor Econômico: http://www.valor.com.br/opiniao/3442426/por-que-o-brasil-e-o-pais-das-oportunidades


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

BOA NOTÍCIA A GENTE ESPALHA...

Quando a gente toma conhecimento de uma notícia como esta que aí vai pode aquilatar a maldade com que agem os detratores da nossa Petrobrás. 
Entre as notícias veiculadas pelos jornalões e revistas golpistas, no sentido de propagar o terror econônomico eleitoreiro, a Petrobrás tem sido um dos alvos preferidos.  Os prognósticos pessimistas - que dispensam explicações - sofrem reiterados desmentidos da realidade. Como se vê abaixo.
É de se lembrar que esses  mesmo críticos pregavam a entrega da empresa no mesmo molde que usaram para entregar a Vale, ou seja, a preço de banana.   Já tinham iniciado o processo tirando  o "brás'' e colocando o "ex".  Era a Petroex do FHC e companhia. Iniciou-se, também, a demissão de pessoal e aposentadorias compulsórias e antecipadas. Feelizmente a empresa foi salva, embora tenha perdido o monopólio inaugural.
 
Estamos em ano eleitoral e todas notícias dos jornalões e revistas golpistas devem ser confrontadas com a  realidade e com o entendimento de críticos comprometidos com a verdade, abandonando os eternos "especilialistas" da mídia conservadora.
 
Olhem só: 

Petrobras bate recorde diário no pré-sal com novo poço em Sapinhoá


  • SÃO PAULO, 25 Fev (Reuters) - A produção de petróleo da Petrobras no pré-sal das bacias de Santos e Campos atingiu um recorde de 407 mil barris por dia (bpd) em 20 de fevereiro, informou a empresa.
A marca está associada ao início da produção do poço 9-SPS-77 no campo de Sapinhoá, na Bacia da Santos, na semana passada.
Segundo a Petrobras, o poço atingiu produção inicial de 36 mil bpd. Inicialmente, a empresa havia informado uma produço de 33 mil bpd no poço, o que já dava a ele a condição de maior poço produtor do pré-sal brasileiro.
A petroleira tem 21 poços produzindo no pré-sal, segundo comunicado publicado hoje em jornais brasileiros.
Destes, 10 poços estão na Bacia de Santos e respondem por 59 por cento da produção do pré-sal, com 240 mil bpd. Outros 11 poços estão na Bacia de Campos, com 41 por cento da produção, ou 167 mil bpd.
A produção do pré-sal ocorre por meio de 10 plataformas.
Três novas plataformas entrarão em operação no pré-sal em 2014: P-58, no campo Norte Parque das Baleias (1o trimestre); FPSO Cidade de Ilhabela, em Sapinhoá (3o trimestre); e FPSO Cidade de Mangaratiba, em campo de Lula/área Iracema Sul (4o trimestre).
Com estas e outras plataformas, a Petrobras espera superar 1 milhão de bpd nas áreas que opera no pré-sal já em 2017.
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VHCarmo.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

UM CONTO ( É O ALGO MAIS)...

                                Algumas lágrimas.
                           (conto).
  
                    Em um espaço físico relativamente pequeno, entre o Posto Seis de Copacabana e o Arpoador, em Ipanema, aparecem nitidamente dois mundos em que se divide a população da cidade do Rio de Janeiro.   Nos edifícios nobres da Av. Atlântica  e das ruas Joaquim Nabuco e Vieira Souto, residem, em sua maioria, gente da classe média alta e, até mesmo alguns ricos. Nos morros adjacentes do Cantagalo e Pavão-pavãozinho vicejam a penúria, os pobres, o tráfico de entorpecente; o crime.
        Aqueles, desde a infância, freqüentam as boas escolas, têm a oportunidade do lazer.   Os pobres, embora vizinhos, ali nos morros, têm um outro percurso na vida. Têm de cuidar, desde crianças, da sua sobrevivência e muitas vezes a da família, aprendendo a conviver no ambiente onde há também gente honesta e trabalhadora.  Lazer mesmo só nas fugas para a praia, sob a vigilância da polícia, nem sempre amistosa.
                O  garoto Jeremias, mal aprendeu vagar pelas ruas,  pôs-se   a ajudar em casa para  prover o sustento da mãe  e  de um bebê de colo, o Jesuíno.  O pai sumia no mundo  do tráfico de drogas; pouco era visto por eles.   Às vezes aparecia, ao fim da noite, jurava amor à mulher, metiam-se no quarto onde mal cabia a cama, transavam;  deixava algum dinheiro, sempre muito pouco, sobre a mesa da salinha do barraco, debaixo de um  velho jarro de barro com flores  desidratadas, e sumia.    Nunca revelava onde vivia, nem mesmo à mulher Gertrudes.   O menino  via mal o rosto do pai  que  parecia propositadamente esconder na penumbra da noite.  Chamava-lhe a atenção, porém, uma cicatriz arroxeada que lhe corria pelo braço  direito até às costas da mão; de cor era  mulato claro.
               Quando Jeremias chegou à idade de ir à escola, a mãe Gertrudes o matriculou no colégio municipal  Castelnouvo,  no Arpoador. O menino adorou, era só descer o Pavãozinho e sentir aquele cheirinho gostoso do mar e ficar ali pertinho da praia.    Escola, pela manhã, e a busca do sustento após as duas da tarde.  Aprendeu a fazer malabarismos com as bolinhas de tênis nos sinais de trânsito e, com agilidade, esgueirar-se por entre os carros a recolher as minguadas moedas.   Vender balas e salgadinhos, subindo os ônibus, sacudindo as pencas, enganchando-as nas hastes, pedindo desculpas por importunar a viagem dos  senhores passageiros, fazendo o discurso da excelência do produto e a vantagem do preço, não importando em flexionar a moeda;  sempre real. 
                    O menino, no entanto, tinha facilidade de aprender; de encantar as pessoas; uma inteligência viva.  Era, como a mãe, bem pretinho, de rosto fino, delicado, olhos negros grandes e  o seu sorriso, expondo os dentes branquinhos, irradiava singular simpatia.  Recolhia o produto da arte com os seus malabares, da  venda dos confeitos e salgadinhos, levava-o ao sustento da família.   De noite, à luz tênue da lâmpada oscilante, pendente do teto da salinha do barraco, estudava e lia. Gostava de ler.  Já no quarto ano primário sabia ler e interpretar.  Ler faz sonhar: o Jeremias aprendeu cedo a sonhar. Queria ser alguém na vida.
                          Muitas vezes, nas suas incursões noturnas, o pai ainda o encontrava acordado, debruçado sobre os livros. Recebia, contrafeito, sobre a cabeça, um afago do homem que, pela madrugada, se ia sem despedidas, antes de clarear o dia.          Aquilo lhe doía bem no peito; não só por ele, mas também  pela mãe e pelo irmãozinho.   Ela recebia o seu homem com uma resignação e passividade que não conseguia entender e isto lhe causava uma profunda revolta.  Jamais trilharia o caminho do pai, prometia a si mesmo, com fé.  Contudo não tinha ódio dele.
           A idade da responsabilidade chegou cedo para o Jeremias; ele não fugiu à regra da pobreza das favelas; treze anos incompletos, deixou o malabarismo, as balas e os salgadinhos; passou a estudar de noite e  arranjou  trabalho numa loja de venda de pranchas de surfe, apetrechos e vestimentas de mergulho, no Arpoador.  Ali era a sua terra, ou melhor, a sua praia e as suas ondas que aprendera a dominar.       Ainda menino aprendeu a surfar com um professor de educação física da escola municipal, e aprendeu bem; se destacava no meio da molecada do Pavãozinho.     Trabalhando na loja, restava-lhe pouco tempo para o mar, mas se revelou, por sua coragem e habilidade no trato das ondas, um bom surfista.   Começou a ganhar, seguidamente, disputas que se promovem nas praias da cidade, usando uma velha prancha.    O dono da loja, seu patrão, Adib Abdala, um libanês mulçumano – homem bom --  resolveu patrociná-lo e franqueou-lhe todos os apetrechos, inclusive as pranchas.    O rapaz passou a disputar as provas, vestindo a camisa da loja “Na onda do Surfe”. Sobrou, também, tempo para ele treinar, nos dias em que o mar ficava propício.
                        O rapaz, seguidamente vencedor, exibia seus troféus e passou a ser uma atração na loja do árabe, onde dava conselhos e sugestões aos novatos e trato às pranchas. Seu Adib  passou da admiração a um enorme carinho pelo rapaz que tratava como filho. O moço, por sua vez, fazia crescer a clientela da loja com a sua popularidade na praia.    Com a melhora de suas condições pôde dar maior conforto à mãe e ao irmão.   Reformou o barraco onde moravam e já não passavam tantas dificuldades; o Jesuíno foi poupado das ruas.  O que lhe causava incômodo, ainda, era as indesejadas visitas noturnas do pai e a passividade resignada da mãe.

                      Seu Adib e o Jeremias, numa manhã de uma terça-feira, pouco antes das 9 horas, de  um dia  chuvoso, chegavam ao local para abrir a loja; o patrão metera a chave e  acabara de erguer as duas portas de aço e, quando iam penetrando o estabelecimento, surgiram frente a eles, três homens encapuzados e apontando revolveres para suas cabeças.   Era um assalto. Um  deles pulou o balcão e penetrou o interior da loja, os outros dois, continuavam a apontar as armas.   Queriam dinheiro, jóias, mercadorias e todos os valores.  Seu Adib ensaiou resistência e um dos bandidos desferiu-lhe uma coronhada na cabeça, o homem girou e caiu pesadamente sobre o balcão e rolou ao chão, desfalecido.   O rapaz se manteve encostado na parede e um dos assaltantes se aproximou dele, empunhando a arma à altura de seu rosto.  Uma camionete  estacionou em frente e os dois bandidos e o  que veio dirigindo o veículo foram  esvaziando o estoque da loja, levando  tudo para o carro.   O homem que apontava o revólver  para o Jeremias, parecia muito nervoso  e o rapaz  reparando nele  viu que o conhecia, apesar do capuz; era o seu pai.  A cicatriz arroxeada estava ali bem sob seus olhos, ia do braço até a mão que sustentava a arma. Era ele e o pai  também o reconheceu. 
                        “Fica calado, se descobrem, você tá morto; falou, cochichando  entre os dentes e  continuou a  apontar a arma para a cabeça do  filho,  até que a operação terminou.
                             Feita a limpeza, os bandidos se foram para a camionete. Seu Adib despertou e, ainda meio tonto, olhou desconsolado para a pequena loja, que tanto amava, praticamente vazia – levaram quase tudo: a coleção de pranchas, as roupagens e aparelhos de mergulho, dinheiro e cheques que se encontravam na caixa,
                           O Jeremias viu o pai correr para a rua e, por último, entrar no veículo que, com o material roubado, arrancou bruscamente e se dirigiu para os lados do Posto Seis.                        
                       A polícia, como sempre, chegou atrasada.  Perícia, cata de impressões digitais, fotos e mais fotos.    O rapaz e o patrão foram convidados a ir até a Delegacia. Convite que, afinal, era mais uma intimação do que um convite.  Seu Adib precisava de atendimento médico, foram conduzidos antes ao hospital do INPS da Rua Jangadeiros.   Foi assistido ali por um estagiário e, em seguida, partiram para a Delegacia no camburão.
                       No percurso o Jeremias foi invadido por um  grave dilema.  Se denunciasse o pai, fatalmente a polícia iria deduzir que ele facilitara as coisas para os ladrões e que estaria metido no assalto.  O patrão jamais o perdoaria, por mais que tentasse fazê-lo crer que não tinha nada com aquilo.
.                 Omitir, pareceu-lhe o melhor caminho. Se indagava, no entanto, se seria justo proteger o pai criminoso.      Por outro lado, denunciá-lo significaria ter que enfrentar as suspeitas que recairiam sobre ele e  não merecia arruinar , sem razão,   a amizade do patrão.
                   Ao chegar na Delegacia os investigadores passaram a ouvir o patrão e o empregado.   Ambos narraram exatamente o que tinham visto e Jeremias  não mencionou o pai.
                    O tempo passou; a polícia jamais deslindou o crime.  Seu Adib, velho, cansado e sem filhos, achou por bem transferir o negócio para o Jeremias  era um prêmio à sua dedicação.
                      O rapaz mudou-se com a família do Pavãozinho, para um pequeno apartamento na Ladeira do Leme bem perto do Favela Chapéu Mangueira. Nunca mais viu o pai.
              Um belo dia, passados alguns anos, Jeremias viu um desses pasquins que cultuam o crime, estendido na banca de jornais, exibindo, na primeira página, em manchete: “Morto o bandido da cicatriz”, expondo a foto do pai estirado numa poça de sangue.  “O chefão do bando foi morto com mais três traficantes numa incursão da polícia na Favela da Rocinha”.
                      Jeremias chorou, furtivamente, algumas lágrimas. 
                                                                                         Victor Hugo do Carmo – Janeiro 2007. ( Do Livro "Complexo do Alemão &outros contos - RTC Editora). 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

NÃO À LEI ANTI-TERRORISMO (NOTA DO PT).



A Executiva Estadual do PT fixou, através da nota abaixo, a sua posição em face do vandalismo que se infiltra nas manifestações populares legítimas para cometer ações criminosas.  Impõe preservar as liberdades democráticas e os pronunciamentos populares que se vêm amedrontados pela violência.

Olhem só:

Executiva repudia projeto de lei anti-terrorismo

O episódio que vitimou o repórter cinematográfico Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, no Centro do Rio, não pode servir de cortina de fumaça para encobrir a escalada de violência policial, que vitimou mais de uma dezena de pessoas, inclusive nas manifestações, ou como pretexto para tentativas conservadoras de alteração na legislação brasileira, como o PL-499 (conhecido como lei anti-terrorismo) ou a proposta do secretário estadual de segurança de tipificar o crime de desordem, abrindo perigosas janelas para o aumento da criminalização dos movimentos sociais. Essa é a avaliação da Executiva Estadual do PT do Rio de Janeiro, que, reunida na segunda-feira, dia 17, emitiu uma nota oficial a respeito das repercussões na mídia das últimas manifestações de rua. O partido manifestou também solidariedade ao PSol e ao deputado estadual Marcelo Freixo. Eis a íntegra da nota:

"A morte do cinegrafista Santiago Andrade deve servir de alerta para algumas reflexões. Em primeiro lugar, solidarizamo-nos com amigos e familiares da vítima, cuja perda e dor deve ser respeitada, e não espetacularizada ou apropriada por uma ofensiva conservadora. Criticamos duramente a ação de pequenos grupos que substituem a organização popular, o trabalho de base e o debate político pelo uso performático da violência, prestando um desserviço às lutas por mais direitos e pela radicalização da democracia, servindo de pretexto para o aumento da repressão, colocando em risco a integridade dos próprios manifestantes e diminuindo a adesão popular aos movimentos de massa.

Para nós, do PT, a construção de uma sociedade em novas bases é uma tarefa de milhões de pessoas, e ações irresponsáveis e de legitimidade social reduzida não contribuem para a superação das desigualdades que ainda existem em nosso país. No entanto, não concordamos que o episódio que vitimou Santiago – que deve ser devidamente apurado, e processados os responsáveis – sirva como cortina de fumaça para encobrir a escalada de violência policial, que vitimou mais de uma dezena de pessoas, inclusive nas manifestações, ou como pretexto para tentativas conservadoras de alteração na legislação brasileira, como o PL-499 (conhecida como "lei anti-terrorismo”) ou a proposta do secretário estadual de segurança de tipificar o crime de desordem, abrindo perigosas janelas para o aumento da criminalização dos movimentos sociais.

Por último, solidarizamo-nos com o PSOL e o deputado estadual Marcelo Freixo, vítimas recentes da sanha da mídia empresarial brasileira, sempre disposta a atacar as ideias, as organizações e as lideranças da esquerda brasileira, como ocorre sistematicamente contra o PT, sendo a cobertura do julgamento da AP-470 um caso emblemático. Entendemos os ataques desferidos contra o deputado e o seu partido como parte de um processo mais amplo de disputa ideológica – como ficou explícito nos editoriais da imprensa sobre o VI Congresso Nacional do MST, cabendo a todos e todas que lutam por um mundo melhor uma postura mais generosa entre nós e de repúdio à campanha difamatória orquestrada.

Comissão Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores
Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2014”

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ROJÃO - UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA ...

Morreu o cinegrafista de uma emissora de Televisão, atingido por um “rojão” acionado por um encapuzado e violento marginal. Comoção geral e justa.  O fato, porém, se presta a uma análise sem paixão.

Ninguém, ninguém mesmo, compactua com a violência policial.

É compreensível e também legítima a vigilância geral exercida, inclusive pela imprensa e seus colunistas, sobre a atuação dos policiais.  É insuportável o excesso com que estes últimos agem, muitas vezes, no embate com manifestantes nas chamadas passeadas de protesto.

Além da arma de fogo que o policial conduz presa ao corpo, muni-se de artefatos apropriados para dissolver tumultos: gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, de balas borracha e jatos de água, todos meios  não letais.  

De um lado: a polícia para conter e não cometer excesso. Do outro lado: os manifestantes - em sua maioria pacíficos – e os violentos, munidos de rojões e materiais próprios para a agressão, dispostos a matar, a agredir e destruir, indivíduos mascarados   que se aproveitam dos protestos para praticar atos criminosos.  

O policial é o agente da segurança publica que deve, por imperativo legal, presta-la aos cidadãos que manifestem pacificamente as suas reivindicações e reprimir aqueles que as desvirtuam mediantes ações criminosas.

As ações criminosas usadas pelos manifestantes violentos atentam contra a segurança dos demais e vulneram o patrimônio público e particular.   O mais grave, no entanto, é o que representa em termos de confronto com o estabelecido na Constituição Federal como cláusula pétrea, ou seja, a vedação da insurgência contra o Estado de Direito Democrático que, por sua vez, veda atos que contribuam para a sua derrocada.

Indaga-se o que pretendem os violentos?  aqueles que conduzem artefatos que podem até matar?  aqueles que, desafiando a segurança, se arremetem contra os estabelecimentos públicos e privados e contestam a normalidade democrática vigente?

Por outro lado é de considerar: alguém que participa de uma manifestação munido de artefatos capazes de ferir e até mesmo de matar pode esperar um tratamento pacífico do agente da segurança coletiva?  Claro que não. 

A proporcionalidade desejada da resposta policial se estabelece de modo altamente perigoso, pois quem está disposto a ferir e matar, corre também o risco de ser ferido ou morrer.    Esperar-se do policial - que também é um ser humano - uma resposta pacífica é, mesmo, uma ilusão, posto que seja imperativo ao agente defender os demais manifestantes e também sua própria vida e sua integridade física contra um indivíduo encapuzado e munido de artefatos capazes de ferir e matar.

Em resumo: fica evidente que os predadores pretendem violar a ordem democrática que os agentes pretendem garantir para as vítimas da violência  e, mesmo, para eles próprios policiais como indivíduos portadores de direitos de autodefesa.

Por fim impõe mais uma grave reflexão sobre a posição da mídia em face dos agentes da violência.  Até então constatava-se uma certa tolerância, uma disfarçada simpatia, uma menção passageira dos órgãos de comunicação conservadores em face da violência dos "balck blocs", naturalmente quando poderiam, de forma indireta, inculpar o governo e criar um mal estar propício à difusão de temores e medo. Em ano eleitoral tudo lhes convém.
A morte do cinegrafista mudou o foco. Atingiu-se um dos seus e vislumbra-se uma nova direção da violência que não convém á mídia.     Seria demais afirmar: "há mal que vem pro um bem"?...

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VHCarmo.     

UM MOMENTO DE POESIA (é o algo mais).


Passado o concretismo e o neoconcretismo, a  nossa poesia envereda, ao fim do século XX, para um singular "desespero", uma contra/forma ou candente e se mostra anticanônica, buscando o desregrado. Se instala uma espécie de desafio entre o erudito e o popular, tanto na forma como na mensagem. Remonta-se ao imutável cordel e suas raízes, desbordando em seu entorno para , de certa forma, torná-lo visível. Dar voz ao som difuso das ruas e falar de intimidades do poeta, fugindo de ilações indo direto aos fatos e à vida.   É, por fim, uma poética de fim de século, despertada da turbulenta noite ditatorial.

               O poeta Torquato Neto, nesse poema que aí vai, caracterisa seu tema.  Olhem só:

                                               COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
 
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredo dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
 
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
 
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas horas do fim.
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VHCarmo.