quinta-feira, 31 de março de 2011

O deputado fascista e seu discurso.

                        O deputado Jair Bolsonaro tem exibido impunemente a sua obsessão nazista em todos as suas manifestações públicas. O parlamentar por várias vezes subiu à tribuna da Câmara para pregar golpe de estado e um regime de exceção.     Se excede em ofender os negros e os homossexuais, manifestando um racismo raivoso e um preconceito agressivo.
                              Esse tipo de discurso tem  valido ao deputado seguidas eleições à Câmara Federal e  para outros cargos políticos seus filhos que adotam a mesma linha  fascista.          Facções nazistas que ainda subsistem, infelizmente, em nossa sociedade e até dentro das nossas forças armadas – da qual Bolsonaro declara ser o porta-voz – elegem esses monstros. Para agradar essa gente ele se esmera nos seus pronunciamentos racistas e homofóbicos. Já disse em alto e bom som: EU SOU DEFENSOR DA TORTURA”.        ATÉ QUANDO?!
                                A resposta à  Preta Gil é mais um dos seus pronunciamentos nojentos que, afinal, vão sendo perigosamente  tolerados, embora repetidos sempre e em público.       
                            Já é hora de extirparmos do nosso meio estes monstros que tanto mal fazem ao país.   Da Camara dos Deputados e do Ministério Público, tão zelosos em episódio sem tanta gravidade, se espera que atentem para a ação deletéria desse deputado hitlerista.
                            Lamentável, porém, é que alguns políticos se coloquem à sombra de monstros  deste tipo para galgar posições e se elegerem.
                             O deputado Bolsonaro quer reviver os tempos obscuros do regime ditatorial e tentar banir das mentes desavisadas  o horror nazista.

VHCarmo.

domingo, 27 de março de 2011

E a Lei da Ficha Limpa; como fica?

                                    O perigoso caminho da judicialização da política mostrou mais uma vez sua face. Ninguém de bom senso pode admitir que o homem leigo das ruas possa compreender a decisão do STF sobre a chamada  Lei da Ficha Suja.  É, deveras, difícil, pois entre 11 Ministros 5 votaram pela prevalência da lei.      Então a divergência se mostra relevante.
                                 Não há dúvida que a lei em causa tem raízes especiais, pois nasceu da iniciativa direta do povo, prevista na Constituição. É indiscutível que cada um e todos aqueles que a assinaram tinham como certa a sua imediata aplicação. A ninguém podia ocorrer a hipótese do estabelecimento de condições especiais para sua aplicação, pois isto significaria seu condicionamento prévio.
                                 A passagem pelo poder legislativo da iniciativa popular era de mera homologação e para formalização em lei, sem que se admitisse mudança e imposição de condições de sua aplicabilidade que viesse a alterar o seu conteúdo e  sua destinação imediata.
                                É altamente defensável, portanto, a opinião de que esta lei não é uma mera lei eleitoral como a vigente, ou seja, não veio para disciplinar as condições formais de procedimentos com vista aos pleitos, em si, prevista no artigo 16 da Lei Maior. A constituição naquele dispositivo cogita expressamente do “processo eleitoral”.
                             A Ficha limpa, sem dúvida teve objetivos diferentes. A sua destinação visou tornar mais ético e honesto o exercício do mandato da representação legislativo, impondo condições pessoais,  em caráter geral e universal, fora do alcance meramente processual/eleitoral do dispositivo constitucional.
                             Não há - “data vênia” - que se falar  no caso em prevalência da norma constitucional, posto que não se verifica sequer conflito  entre as duas normas. Cada dispositivo visa matéria distinta. 
                               De notar que, a rigor, a vigente legislação eleitoral infraconstitucional se submete ao artigo 16 da CF e aplica-se, repita-se, no “processo eleitoral” propriamente dito,e também  visando ao cidadão que pretenda se candidatar a um mandato eletivo, exigindo-lhe “condições prévias pessoais e materiais”, localizadas portanto no passado, que podem, se ocorrerem,  excluí-lo da pretensão de participar em determinada disputa eleitoral.            Até por esse aspecto é questionável a decisão majoritária do Excelso Pretório.
                               Essa decisão do STF, que veio à luz a fórceps, se choca, a toda evidência, com a inteligência – a “mens legis”- da lei da Ficha Limpa que, inquestionavelmente, veio para extirpar a tolerância com os portadores de condições impeditivas que os seus dispositivos nomeiam, sem cogitar da temporalidade de sua aplicação, por se tratar de introdução de novos dispositivos de natureza substantiva.
                                É intuitivo, também, que a “mens legilatoris”, ou seja, a intenção do legislador - no caso o povo diretamente – não era produzir um mandamento legal, firmado por milhões de cidadãos, que ficasse sujeito a se submeter a uma regra de temporalidade inserta num dispositivo constitucional de natureza processual.
                 A decisão é irrecorrível, mas é lamentável.

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Como fica o Legislativo ?
                                 Por outro lado, o legislativo brasileiro  precisa se  autorespeitar e não se submeter às seguidas e problemáticas intervenções do poder judiciário para julgar questões que o próprio poder, que guarda a representação do povo e dos Estados, pode e deve estabelecer, pois a aplicação dos princípios constitucionais tem que estar na raiz da votação de todas as leis.
                                  O inconformismo daqueles parlamentares que se julgam prejudicados e levam as questões, mais das vezes irrelevantes, ao judiciário, vai tornar o STF autorizado a dar a última palavra sobre tudo o que for votado, desfigurando os demais poderes da República, principalmente o próprio legislativo.
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Declaração infeliz.
                           A recente declaração do Presidente do Supremo Tribunal Federal, César Peluzo, revela a que ponto lastimável chegou a questão da judicialiazação da política. Ele pleiteia, absurdamente, uma emenda constiitucional  que permita a análise prévia da constitucionalidade das leis pelo STF,  antes da sanção presidencial.
                           A ser adotado este procedimento singular, estaríamos frente a uma alteração da ordem e do equilíbrio dos poderes da República e estaria criado um superpoder, interposto entre o legislativo e o executivo, derrogando normas pétreas da Constituição Federal.
                         Resultaria, indiretamente, na limitação ou a supressão do direito de veto presidencial, um dos pilares do regime democrático republicano.
                     
                    Com essa declaração do Ministro parece que estamos chegando à beira da insanidade.

VHCarmo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ligeirinha - A proteção assassina...

                          Este escriba observou , aqui neste espaço, que a proteção prometida ao povo líbio era mais uma agressão a esse próprio povo, e constitui uma violência, como sempre, promovida pelos EEUU e seus comparsas. É o colonialismo ressuscitado nos tempos atuais, por meios destruidores. É a tentativa de apropriação total das riquezas dos paises africanos, principalmente o petróleo. É mais uma guerra covarde onde se despejam bombas sobre um pais pobre, mirando alvos civis, destruindo lares, hospitais, escolas, assassinando civis indefesos que, criminosamente, dizem proteger.
                         A agressão é tão insólita que até o povo americano em 40 cidades, saiu às ruas para protestar, com o decisivo apoio da ANSWER que reúne milhares de associações civis nos EEUU. O slogan veiculado dizia ironicamente “Bombardeando a Líbia para salvar a Líbia” e “Parem de bombardear a Líbia”.
                        A Rússia, por seu Primeiro Ministro, denominou a invasão como “cruzada mediaval” e a China, por seu embaixador permanente na ONU, Li Baodong, declarou que “A China nunca esteve a favor de recorrer à violência nas relações internacionais” e reprovou energicamente a agressão.
                            Argentina, Bolívia e Equador, por seus Ministros das Relações Exteriores, manifestaram a sua indignação contra os ataques que, segundo declaram, visam o Petróleo e sequer foram tentados os meios diplomáticos.
                          O Conselho Mundial da Paz (CMP) afirmou em nota distribuída no Domingo – dia 20 – “sua veemente condenação à agressão imperialista iniciada contra a Líbia”.
                           O Brasil ficou solidário com as manifestações contrárias à agressão, depois de ter acompanhado no Conselho de Segurança da ONU  a China, a Índia, a Rússia a Alemanha que não endossaram os ataques.
                           O ex-presidente Lula reafirmou de modo claro o que todas as pessoas minimamente informadas sabem:
                      “ Essas invasões só acontecem porque a ONU está enfraquecida. Em vez de mandar aviões para bombardear a Líbia, a ONU deveria ter mandado um um representante para negociar a paz.    Sou solidário com a posição do Brasil que se absteve no CS contra a agressão. Essas invasões só acontecem porque a ONU está enfraquecida”.
                          Olhem amigos o que a mídia ocidental tenta esconder e minimizar. Uma pesquisa nos órgãos de comunicação não comprometidos com a agressão insólita contra a Líbia, apura-se o que vai aí transcrito, abaixo, em resumo.

                                Coalizão dos EUA ataca Líbia com mísseis e mata mais de 100 civis.

                                    Sob o pretexto de “proteger civis”, EUA, França e Inglaterra já explodiram, desde o dia 19, hospitais, ônibus, casas, carros particulares, estradas, aeroportos, pontes e a residência do líder KadafiA operação “Alvorecer da Odisséia” assassinou, em três dias se-guidos de ataques, mais de 100 civis líbios e feriu centenas – inclusive bebês e mulheres -; atingiu dois hospitais e uma clínica cardiológica; destruiu ônibus, automóveis e casas; devastou estradas, pontes, aeroportos civis e até uma aldeia de pescadores; e incendiou um oleoduto e vários depósitos de combustível.
                                   A residência de Kadafi no bairro de Bab el Azizia, na capital, que Reagan bombardeou em 1986, voltou a ser destruída 25 anos depois por míssil disparado de submarino inglês. Além de Trípoli, já foram bombardeadas Benghazi, Zuwarah, Sirta, Tarhuna, Misrata, Maamura, Jmeil, Sebha e outras cidades. O ataque, encabeçado pelos EUA, França e Reino Unido, começou na véspera de completar oito anos de invasão do Iraque, ex-Operação Tempestade no Deserto, rebatizada por Barack Obama como “Novo Amanhecer”.
                                                                  B-52
Não foi apenas o governo líbio que denunciou o banho de sangue desfechado a partir de porta-aviões e submarinos norte-americanos, ingleses e franceses, e inclusive por bombardeiros de longo alcance B-2 desde os EUA. A Rússia denunciou que “ataques contra alvos não-militares [isto é, contra civis] nas cidades de Trípoli, Maamura e Jmeil”. Como consequência – acrescentou o porta-voz da chancelaria russa, Aleksandr Lukashevich, “morreram mais de 48 civis e mais de 150 ficaram feridos”. Ainda segundo a Rússia, “um centro de cardiologia ficou parcialmente destruído e estradas e pontes foram atingidas” pelos bombardeios. Em três dias, a carnificina já chegara a mais de 100 civis e centenas de feridos, o que reforçou a condenação, ou oposição aos bombardeios, da China, Índia, Brasil, Alemanha, Turquia, União Africana e muitos países latino-americanos. Um quadro tal que o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, que articulara a proposta de “uma zona de exclusão aérea sem tropas terrestres”, se viu forçado condenar no domingo dia 20 os bombardeios. “Era para proteger civis, não para matar mais civis”, admitiu, para, no dia seguinte, se dizer “mal interpretado”. Além dos EUA, França, e Reino Unido, outros satélites mandaram seus aviões e navios para a agressão à Líbia, como a Espanha, Canadá, Bélgica e Dinamarca, além do protetorado do Qatar. A Itália “sobrevoa mas não dispara”. Por causa da oposição da Alemanha e Turquia, segue emperrada a manobra para que a agressão passe a ser assumida, formalmente, pela Otan.
                                                        FUNERAL COLETIVO
Só no primeiro informe dos raides aéreos divulgado pelo Pentágono, 112 mísseis de cruzeiro Tomahawk “contra 20 alvos”; por sua vez a França deixava seu rastro de sangue e bombas na estrada para Benghazi e outros pontos do país. A televisão líbia, que exibira imagens de pessoas hospitalizadas após o bombardeio aéreo, mostrou também um funeral coletivo em Trípoli das vítimas civis da agressão estrangeira. “O tio de um bebê de três meses, uma menina, ficou parado diante do recém-cavado túmulo, coberto com algumas rosas”, descreveu o correspondente na capital do jornal “China Daily”. “O tio, Muhamad Salim, relatou que o ataque aéreo que atingiu a casa do bebê também feriu sua mãe”. O jornal chinês registrou como o funeral coletivo se transformou em uma manifestação contra o agressor estrangeiro, com uma multidão percorrendo as ruas da capital, acompanhada de milicianos que disparavam para o alto. “É isso que eles chamam de democracia? Isso não é senão a matança de gente inocente, bebês, gritou uma jovem, enquanto outros protestos espocaram e irromperam convocações para a guerra de libertação”. No sábado dia 19, a televisão líbia denunciou a investida da força de agressão estrangeira contra a cidade natal de Kadafi, Sirta, a 600 km da capital. “Vocês viram aquele lugar [o aeroporto da cidade]. É um aeroporto civil. Foi bombardeado e muitos morreram”, disse aos correspondentes estrangeiros o porta-voz do governo líbio, Mussa Ibrahim. “Também foram bombardeados portos”. Na segunda-feira dia 21, os ataques foram contra Sehba, cidade a 750 km que, para a mídia imperial, é um bastião da tribo Guededfa, a mesma de Kadafi. Nem mesmo um pequeno povoado de pescadores, a 27 km da capital, e sem qualquer importância militar, foi poupado.

VHCarmo.

terça-feira, 22 de março de 2011

Agressão ou proteção? O povo líbio agradece.

                 Na mesma linha deste escriba  e com maior realce, naturalmente,  o Zé Dirceu em seu blog (texto que abaixo transcreve) analisa a agressão à Líbia, engendrada pelas potencias ocidentais comandadas pelos EEU e as suas decorrências  imediatas.                 
                   Numa hora destas, abram-se parentesis,   causa perplexidade que sendo o presidente negro amricano detentor do prêmio nobel da paz,  inicie mais uma aventura militarista dos USA e tente justificá-la como ato de proteção  ao povo líbio.  Fica claro que o Presidente não reune poderes para alterar a ação agressiva - de nítido caráter geopolítico -  de seu país.        
                   Soube-se, hoje pelo noticiário,  que os EEUU estão querendo se livrar da ação direta, passando a usar a OTAN e os aliados europeus para comandar o trabalho 
                   Aconteceu, como seria fácil de imaginar, a transgressão dos limites estabelecidos pelo Conselho de Segurança da ONU para a operação, pois os  "aliados" promovem   um ataque violento contra o território líbio, atingindo a população civil.  Até  a servil Liga Árabe está protestandao contra a operação transgressora bem como a China, a Rússia e o Brasil.
                      Enquanto isto a repressão violenta contra o povo desarmado  nos paises árabes e do norte da África prossegue, como se nada houvesse. 

                        Vejam o texto:
                       Enquanto a Europa descobre o tamanho da enrascada em que se meteu , prossegue a ocupação militar do Bahrein pelas forças armadas da Arábia Saudita e do Qatar, com inteiro respaldo e apoio dos EUA.
                         Mas, esta invasão e a violenta repressão às manifestações de protesto e rebeliões no Iêmen e na Síria não encontram, nem na mídia nem nos governos ocidentais, o mesmo repúdio e apoio que a oposição teve na Líbia.
                          As oposições no Marrocos e na Argélia continuam lutando sozinhas e a repressão só aumenta com dezenas de mortos em todos esses países. A pergunta que mais ouvi aqui na Europa é: e agora? Mas, ninguém tem a resposta.
                         Sensação é de embarque em aventura militarista.
                          Fica a sensação de que uma nova aventura militarista e geopolítica norte-americana foi iniciada sob o manto humanitário da defesa da população civil e dos direitos humanos sem que as consequências tenham sido devidamente avaliadas.  
                           E fica claro que os invasores só têm essa "preocupação" em relação à Líbia, governada por um inimigo dos EUA. Nenhuma potência preocupa-se em proteger as populações civis e os direitos humanos nos outros países conflagrados.      
               Na Líbia (e nos outros países árabes e do Oriente Médio) cada governo e país atuou segundo seus interesses - os dos EUA, derrubar o presidente Muamar Kaddhafi, impecilho a que eles assumam o controle do petróleo líbio.
                 Alguns destes países, inclusive, há anos vinham mantendo relações especiais com Kaddhafi. Nem vamos longe: são os casos da França, do presidente Nicolas Sarkozy, da Itália, do premiê Sílvio Berlusconi, e do próprio governo norte-americano, cuja secretária de Estado, Hillary Clinton, há não mais que dois anos declarava que Washington queria estreitar relações com o regime líbio._______________________________.

      Acrescente-se que o filho do Kadaffi declarou à mídia inernacional (diga-se Reuters)  que a Líbia financiou a campanha eleitoral do Sarkozzy e deu-lhe dinheiro.    
                           O Presidente francês tem razões de sobra para comandar as agressões e saltou à frente ao  reconhecer os rebeldes cujo comando não  se identifica até agora.  Os aviões franceses foram os primeiros a atirar mísseis contra a Líbia.        

VHCarmo.

domingo, 20 de março de 2011

Que regime querem impor à Líbia ?

                      É profundamente preocupante a ação agressiva das potências ocidentais contra a Líbia. A gente já comentou neste espaço que o problema líbio não encerra nenhuma semelhança e afinidade de propósitos com os movimentos insurgentes nos paises árabes do Oriente Médio e do Norte da África.
                        Naqueles paises o povo nas ruas e praças estão desarmados e sofrem forte repressão, principalmente no Iêmen e no Bahren onde atuam as forças da Arábia Saudita, aliada preferencial dos EEUU.     Alí as potências ocidentais desconhecem a proteção das populações que estão sendo massacradas pelos ditadores e monarcas.
                        Na Líbia, diferentemente, os chamados  rebeldes têm por objetivo derrubar o governo do ditador Kadaffi, mas não têm qualquer ligação com movimentos populares e, estranhamente, desde logo obtiveram o apoio ocidental.
                        Os rebeldes, usando claro oportunismo, iniciaram um movimento armado e ocuparam algumas cidades estratégicas da Líbia, ligadas à indústria petrolífera. Em nenhum momento a mídia mundial explicitou a origem do movimento, suas raízes e seus objeivos. Kadaffi desde logo denunciou a interferência da França, dos USA e seus aliados ocidentais ( com a Nato e a CIA).   A França, país que mais se empenhou para a adoção das medidas de violação, por sinal, tem uma dívida imensa com a Líbia de Kadaffi.      O  filho do ditador ameaçou revelar algo não bem explicado e  pessoal contra Sarkozy. A coisa ficou no ar.
                     Embora invoquem que estariam agindo em favor do povo líbio para protegê-lo, as forças, ora chamadas de “aliadas”, lançam ataques indiscriminados - com armas poderosíssimas - contra a população das cidades. É evidente que estão assassinando indiscriminadamente, atingido muito mais a população que dizem proteger do que as chamadas força de Kadaffi que refluíram ao anúncio da agressão indiscriminada. Os habitantes não têm como se proteger dos mísseis poderosos , lançados sobre o território líbio.
                    Nesse episódio, a interferência das potenciais ocidentais visa claramente seus interesses geopolíticos na região, mesmo porque os rebeldes jamais revelaram a suas intenções e projetos e, certamente, não lutam pela democratização do país. O que fica evidente é a intenção de derrubar o ditador, naturalmente em favor da dominação externa que ora os apóiam.  Essas mesmas potências “mui amigas” dos ditadores que ora estão sendo contestados pelos seus povos arabes, apoiava também e até bem pouco tempo o ora sanguinário Kadaffi a quem recebiam em seus palácios.

                         Transcrevo, abaixo, o texto altamente esclarecedor do Professor e sociólogo Gilson Caroni Filho, que impõe uma séria reflexão sobre a questão. Embora um pouco longo, deve ser lido.

                                       Líbia e o DJ do Império.
                               Passadas duas décadas, e tendo vivenciado o que entrou para a história como Doutrina Bush, uma lição não pode ser esquecida pelas forças progressistas. Ainda mais agora, quando, a pretexto de “conter a barbárie de um ditador”, EUA, França e Inglaterra lançam mísseis na Líbia: o imperialismo encurta tempos e espaços.
Gilson Caroni Filho.

                  Ao começar a ofensiva militar contra a Líbia, as potências mundiais referendaram a nova estratégia estadunidense de manutenção de hegemonia global. Hoje é improvável que a Casa Branca queira se envolver diretamente em novo confronto militar. Talvez nem precise. Pouco a pouco, os Estados Unidos vêm conseguindo o aumento da cooperação internacional para alcançar seus objetivos geopolíticos. Sem os riscos de isolamento que marcaram a agressão imperialista ao Iraque e Afeganistão, a ação bélica no país árabe é amparada por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Os sonhos de um mundo multipolar sofrem um desvio histórico de tal monta que não é exagero atentarmos para uma perspectiva internacional de extrema gravidade.
Nos anos 1920, os norte-americanos dançavam o “charleston” e diziam que eram "os anos loucos", enquanto nas ruas de Chicago, gangsteres italianos e irlandeses se enfrentavam à bala. Na Líbia, o guerrilheiro Omar al-Muktar, o "leão do deserto", lutava contra o fascismo italiano e, na Nicarágua, Augusto Sandino, o "general dos homens livres", combatia os marines do capitão Frederick Hatsfield. Muktar foi enforcado em 1931 e Sandino fuzilado em 1934. O “terrorismo” estava sendo contido.
Mais de meio século depois, Líbia e Nicarágua foram associadas por algo mais do que aquelas gestas antiimperialistas, quase simultâneas. O artífice dessa ligação foi o então presidente Ronald Reagan para quem Muamar Kadafi era o "cão raivoso" do Oriente Médio e o comandante Daniel Ortega "um capanga com os olhos de figurinista".
Em 14 de abril de 1986 foi realizado um ataque norte-americano a Trípoli, Bengazi e a outras três cidades por 18 bombardeios que levantaram vôo de bases na Grã-Bretanha, e 15 caças estacionados em porta-aviões pertencentes à 6ª Frota dos Estados Unidos no mar Mediterrâneo. A operação foi justificada como uma retaliação a um atentado em 5 de abril, em uma discoteca alemã, que teria matado 4 pessoas, deixando um saldo de 200 feridos. Na época, como sempre, Washington alegou possuir provas “irrefutáveis" da participação de terroristas líbios no atentado, ainda que não tivesse apresentado nenhuma.
Simultaneamente, a CIA, com o apoio da imprensa centro-americana, difundia a existência de comandos árabes realizando ações terroristas em território hondurenho, a partir de bases cedidas pelo governo sandinista. Como destacou o sociólogo Roberto Bardini, “ao tomarem conhecimento da alarmista campanha da mídia e da adoção de fortes e ostensivas medidas de segurança em Honduras, alguns observadores calcularam que tudo não passava de uma operação psicológica que teria quatro objetivos: justificar represálias militares contra a Líbia, demonstrar que a Nicarágua emprestava seu território para exportar o terrorismo, comprovar a existência de uma conexão Trípoli-Manágua. e, principalmente, conseguir que o Congresso aprovasse a destinação de US$ 100 milhões aos "contras".”
O que Reagan conseguiu com a agressão à Líbia? Um isolamento internacional sem precedentes. Ficou reduzido ao apoio da então primeira-ministra inglesa, Margaret Thatcher, e do governo israelense. Desde a guerra do Vietnã jamais se tinha presenciado uma onda tão forte de hostilidade aos Estados Unidos. Definitivamente, o pop dos anos 80 não tinha o mesmo poder de encantamento do charleston.
Passadas duas décadas, e tendo vivenciado o que entrou para a história como Doutrina Bush, uma lição não pode ser esquecida pelas forças progressistas. Ainda mais agora, quando, a pretexto de “conter a barbárie de um ditador”, EUA, França e Inglaterra lançam mísseis na Líbia: o imperialismo encurta tempos e espaços.
O Império é criterioso quando se trata de resgatar o que lhe parece ser seu fundo de quintal. A tentativa de modificar a nova ordem política da América Latina é o que move os passos de Obama na região. Transformar assimetrias em impossibilidades e mudar o perfil da política externa brasileira são os imperativos da vez.
Ao declarar que "nosso consenso foi forte e nossa decisão é clara. O povo da Líbia precisa ser protegido e, na ausência de um fim imediato à violência contra civis, nossa coalizão está preparada para agir e agir com urgência", o presidente dos Estados Unidos deixa evidente que, em nome do “hegemon”, está pronto para misturar sem dó nem piedade o hit radiofônico “Closer”, do “rapper Ne-yo”, com um “mash-up” tribal da Madonna para "Miles away". Espera-se que a pista, quase sempre lotada de ingênuos ou servis, repila com veemência os apelos do "DJ" do império.

Lula acertou na mosca. Não é muito difícil adivinhar quem veio para o almoço.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
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VHCarmo.




sexta-feira, 18 de março de 2011

Ligeirinha (nem tanto) é um conto.

                                 Quando a noite salva...
                                        ( conto)
Esses acasos acontecem. Estava eu a andar pelo calçadão de Copacabana, bairro que se tornou um cálido abrigo das pessoas da terceira idade no Rio de Janeiro. Ponto de encontro; ponto de conhecimento; lugar de conversa, de conversa, quase sempre, para passar o tempo. Os menos cuidadosos falam da velhice, coisa que os passantes repudiam. Quem caminha  ali se diz vivo e muito vivo; nada de velhice.
Esses acasos acontecem disse eu  acima e vou contar o mais recente: uma conversa e um passado comuns.
Quase não dava para conhecer o Jorge Guidon. A velhice, às vezes, torna as pessoas tão diferentes que só pequenos detalhes os identificam principalmente quando a distância no tempo é grande. Havia mais de 40 anos que não nos víamos. Nem eu, nem ele, desde logo, nos reconhecemos. Minha dúvida foi quebrada quando identifiquei uma mancha azulada que ele tinha no queixo. Estava lá; era ele, o dançarino. Seu nome de guerra  ‘‘Guidon, o Chê’.    Guidon pelo sobrenome e Chê porque ele era gaúcho de Dom Pedrito.
Rimos juntos de nossa logenvidade. Nos pusemos a lembrar da época em que freqüentávamos a noite dos cabarés da Lapa, dos “rende-vous” dos fins de noite; dos leitos macios das nossas amiguinhas livres nos casarões centenários, lá para os lados da Praça Cruz Vermelha e da Rua Henrique Valadares. Eu sem nenhum dom especial e ele um exímio bailarino e o predileto das “meninas”. Poupo-me agora de lembrar o que esse companheirismo de juventude e aquela boemia gostosa representaram para nós; todos que me lêem podem imaginar.
Reconhecidos: o abraço demorado, forte e terno, abriu caminho às confidências. Nos vimos pelas últimas vezes quando os nossos doces cabarés e  leitos noturnos da Lapa se tornaram pesados e a dança, a música e o canto, perderam a espontaneidade, por força da vigilância policial do regime ditatorial que então se instalara.
Descida a cortina escura da Ditadura Militar sobre o país, recolhi-me ao anonimato conveniente, carregando a minha angústia e perdi de vista o amigo Guidon, aquele que acabara de encontrar, ali, em frente o mar de Copacabana; no Posto 6.
A minha vida, um tanto sem graça, contei-lhe num só e rápido relato; me casara, vivera na Europa por alguns anos foragido, me separei daquela que me parecia eterna companheira e envelheci no Rio. Aposentado, como a maior parte daquela gente ali passante, me tornei um solitário caminhante do calçadão.

Assim, meio querendo dizer que nada acontecera de muito importante na vida dele, pareceu-me querer, no entanto,  que eu lhe indagasse sobre algo. Foi então que lhe falei do Chê das noites mundanas.
                             Foi o desate para a sua história.
                          Devo explicar: Guidon , além de bailarino e professor de dança, era capitão pára-quedista do Exército, instrutor de saltos e preparador físico, por isso era mesmo muito forte, dir-se-ia, lembrando Nelson Rodrigues, que ele tinha uma “saúde de vaca premiada”. Diga-se, no entanto, que, pelo menos para mim, ele era apenas “o bailarino” e companheiro de boemia.
                         - “Sabe o que me salvou companheiro? Foi a dança!. Eu conto pra você"; foi dizendo com aquele sotaque gaúcho que não o abandonara.
Jorge Guidon pôs-se a me contar:

                         Ainda morava no Bairro de Fátima naquele pequeno apartamento que você conheceu. Era numa noite de sábado, aí pelas nove. Fizera todo o preparativo para agüentar a divertida, mas cansativa, dança noturna que se aproximava. Tomei um banho, meti-me num terno claro, pois a noite estava calorenta. Me lembro, ainda, que andei tateando as minhas gravatas e escolhi uma bem colorida com motivos francesas, acho até que tinha a imagem da Torre Eiffel desenhada. Me perfumei discretamente e, como ainda tinha cabelos naquele tempo, presumo que os tenha penteado.
                         Quando afinal ia abrindo a porta para sair, alguém me obstou e com um tranco me empurrou de volta para dentro da sala. O inopinado da ação me impediu uma reação. Atrás daquele homem vinham dois outros.     Era um convite para eu ir com eles à Polícia do Exército (PE), na Rua Barão de Mesquita e, com um “chega-pra-lá” nada amistoso, me disse o primeiro homem: -"você está preso". Tentei dizer-lhes sobre o meu compromisso da noite. Os homens riram um riso debochado.     Explicações, nem ver. Foi-me apontado o jipe do exército que estava lá fora na rua. Com mais alguns pequenos e “delicados empurrões”, os três militares, cuja patente já nem me lembro mais, me atiraram ao veículo. Quis lembrar-lhes que eu também era oficial do Exército e eles fingiram não me ouvir, embora eu insistisse e aos berros.
                            Chegamos na Polícia do Exército. Fui então encaminhado a uma sala grande e mandado sentar frente a uma mesa enorme, ao canto, e esperar.  Depois de uns dez minutos entrou um Coronel – um tal de Comandante Fernandinho (posteriormente eu soube que era temido por suas tendências fascistas), envergava seu uniforme de serviço. Sentou-se à mesa à minha frente. Mostrou-se, inicialmente, cortês e passou a indagar-me sobre as coisas mais corriqueiras: sobre a minha patente – eu estava vestido para a noite - sobre a minha atividade militar e até, de modo sub-reptício, sobre a minha vida particular. Descartei de informar-lhe sobre minha vida familiar, embora insistisse. Ameaçou alterar-se mas, em seguida, conteve-se.
                   Comecei a perceber então  que, por trás daquela aparente gentileza, haviam outras intenções escondidas. Veio a pergunta reveladora:
                                    -"'Você conhece José Maria Gontijo?"
Eu me lembrei, então, que morei em Realengo com o Zé Maria, um bom amigo gaúcho de Porto Alegre, que tinha idéias de esquerda e que pertencera ao Partido Comunista Brasileiro. Isto tinha sido na época da minha chegada ao Rio; havia mais de 10 anos, por volta do ano de 1954, e já nem mais me lembrava dele. Fui direto na minha resposta:
                    - “Conheçi mas já não o vejo há mais de 10 anos”.
                            Naquele mesmo instante – como se fora coisa previamente combinada - penetrou na sala um jovem tenente e, contrariando a praxe militar de respeito ao superior, partiu agressivamente em minha direção, e tentou me intimidar.         Assim, meio sem quê nem porquê foi falando, sempre agitado e em voz alta:
                - "Pode contar tudo! a gente já vem te seguindo, não adianta esconder nada".
Num esforço para não estimular a violência do tenentinho arrogante , ali em frente ao Coronel, observei:
                                - “Se você já sabe tudo Tenente,  o que eu devo contar?”.
Usei um tom duro e o Coronel Fernandinho percebeu o entrevero que se armara entre nós e interviu, dirigindo:-se a mim:
                    -“Não, não.. vamos falar como gente: você pode até ser útil pra nós".
Esse “pra nós”, não me agradou e fui dizendo incontinenti:
                        - “Meu Coronel meu lugar é no treinamento de pára-quedistas, missão que desempenho há muito tempo no Exército e tenho o respeito do meu Comandante”.
                        O diálogo terminou ali. Fui conduzido ao xadrez, de terno, gravata colorida e perfumado.
                         Cerca de 10 dias depois, já uniformizado – trouxeram-me um uniforme e as patentes – me conduziram ao mesmo Coronel. O militar já não se mostrava educado como antes e foi perguntando raivosamente:
                   - "Quais as testemunhas que você tem para provar que não está metido na subversão? ".
                        - “A minha atividade que tenho fora do âmbito militar é na noite, Coronel, sou professo de dança!. As moças que dançam comigo me conhecem bem”.
 Em seguida nomeei três delas, evitando, dar nomes de colegas militares para não os constranger e expô-los àquela violência.
                           Fui conduzido de novo à prisão, ali fiquei mais uns dez dias, fui, então,  advertido a não me comunicar com ninguém, mas me deixaram – na verdade – no Corredor frente às celas todas ocupadas. Por ironia naquelas celas estavam presos alguns chineses de uma missão comercial vinda ao Brasil que tentavam se comunicar, entre eles, aos gritos na sua língua que soava – aos os meus ouvidos -, como um barulho desconexo. A advertência fora perfeitamente inútil.
                   Pela manhã de uma segunda-feira – alguns dias depois – , acordado do colchão em que dormia no corredor, fui conduzido à sala grande, onde estava o impertinente e subserviente jovem tenente. Ele foi logo dizendo:
                  - “Elas estão aí; vão lhe ver e reconhecer, senão você vai ver o que vai lhe acontecer; disse ameaçadoramente.
                       Vieram as três amiguinhas, as minhas  melífluas dançarinas com as quais eu convivia nas noites, mas cujos nomes somente conhecia pelos chamados “nomes de guerra”. A vida que elas levavam não lhes permitia usar o nome civil e eu não os sabia.  Bateu-me, naturalmente, o medo: será que elas confirmariam a nossa intimidade, frente àquele aparato investigativo?. Eu não poderia exigir delas a coragem para reconhecer um preso, principalmente naquela época em que reinava a violência e logo numa repartição da famigerada Polícia do Exército.
                   Entrei na anti-sala trêmulo.   As três juntas – ao me ver - correram em minha direção, exclamando:
                         “Oh, este é o Chê, nosso gaúcho dançarino querido...”
Depois de tentar arrancar das minhas meninas qualquer informação contra mim, e não conseguindo, o tenentinho se desconcertou e, em seguida foi chamar o Coronel.
                               - “Este é o nosso pé-de-valsa, Comandante, é o Che”, disseram as três a uma só voz indagando; “o que há com ele?”
                                    Elas, simplesmente, não sabiam o meu nome verdadeiro e acabavam de me salvar daquela situação aflitiva e ameaçadora, chamando-me, carinhosamente,pelo meu apelido de boêmio: "o Chê".                      Voltamos ao salão e o Oficial maior me disse:
                              - “Você está solto; pode ir!. Mas vai ficar sob nossa vigilância e não diga a ninguém do que se passou aqui; para  ninguém, absolutamente!”.
                               - “Coronel, já que estou solto, vocês têm o dever de me levar ao meu quartel”.
O oficial encarou-me com certa surpresa e disse:
                           - “Você tem razão!'   E, virando para o tenentinho – que a esta altura estava  ainda desconcertado pelo ocorrido – lhe disse:
                                  "Tome uma viatura e leve o Capitão ao quartel”.

                               Fui bem recebido no meu quartel e inventei desculpas pelas minhas ausências – hoje já nem me lembro quais foram aquelas desculpas e  sua utilidade  – e retomei minha atividade.
                               Por algum tempo, o Cooronel, meu Comandante, insistia em ter uma conversa particular comigo. Eu fui me descartando dele, evitando o contato. Somente quando lhe indaguei se aquela impertinência era uma ordem; ele me disse que era: aí fui até ele, na sala do Comando. Queria saber detalhes do acontecido comigo; já soubera da minha prisão.         Fui direto, mais uma vez::
                                        -“Comandante, estou proibido de falar nesse assunto”.
O homem ficou possesso.
                                    Daí em diante, nunca mais treinei oficiais de qualquer patente nos saltos de pára-quedas, só me direcionavam recrutas e os aviões mais velhos em serviço. Me sentia marginalizado.
                                  Ainda depois de reformado, até 1985, fiquei impedido de viver livremente, sem as suspeitas de estar sendo vigiado.

                                  Ah, companheiro, nunca me esqueci das minhas “dançarinas” cujos nomes verdadeiros eu também nunca soube. Nas noites que se seguiram à minha libertação, os leitos das madrugadas das minhas amiguinhas me pareciam mais macios e aconchegantes.

                         O  Jorge Chê Guidon se despediu emocionado. Apertamo-nos com outro abraço forte e juramos que, daquele dia em diante, iríamos nos encontrar mais vezes no cálido calçadão de Copacabana.
 VHCarmo.  - Fev.2011.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ligeirinha- Visita e visitas...

                           A visita do Presidente dos EEUU ao Brasil se reveste de importância extraordinária, pois se dá num momento em que a mídia mundial reconhece a chegada do Brasil nos foros internacionais sustentado por sua emergência entre os paises em desenvolvimento.
                           Tendo ultrapassado como potência econômica o Reino Unido e a França, o nosso país atinge ao 7º. Lugar no mundo desenvolvido e caminha celeremente para chegar ao 5º. Lugar.
                            Embora muitos dos nossos patrícios contaminados por um pessimismo endêmico – síndrome talvez do colonialismo - continuem inconformados, a realidade é que essa visita tem caráter de reconhecimento da nossa atual  importância.
                           A gente transcreve, abaixo, as observações de jornalista americano no texto “Obama tentará recuperar a influência dos EUA na América Latina” - sobre o significado da visita ao Brasil. Quem sabe, ao lê-lo, desperte nos pessimistas o orgulho que faz bem, que ajuda a caminhar para frente e eliminar os restos de pobreza e nos levar ao patamar maior de uma nação justa e solidária.
OLHEM O TEXTO:
                               Obama tentará recuperar influência dos EUA na América Latina.

De Diego Urdaneta (AFP) –

WASHINGTON — O presidente Barack Obama tentará recuperar a influência americana na América Latina em sua primeira viagem regional de cinco dias por Brasil, Chile e El Salvador, um giro cheio de simbolismo político e com pouca essência, segundo analistas.

Obama, em seu segundo ano na presidência, encontrará uma América Latina com várias democracias sólidas, que pôde enfrentar a crise econômica mundial e com crescentes ligações comerciais com países como China e Índia, que tiraram os Estados Unidos de áreas onde antes dominavam.

"Há um reconhecimento de que os Estados Unidos já não têm a influência que tiveram", afirmou Michael Shifter, presidente do centro de análise Diálogo Interamericano, durante um debate.

"A pergunta com essa viagem é se os Estados Unidos serão capazes de superar os temas que os impediram de ser a peça mais importante do jogo, sobretudo na América do Sul", estimou.

Obama partirá na sexta-feira na viagem que o levará a Brasília, Rio de Janeiro, Santiago e San Salvador, quando ainda goza de alta popularidade na América Latina, e quase dois anos depois de uma primeira viagem ao México e a Trinidad e Tobago, durante a Cúpula das Américas.

Um dos problemas que Obama tem nas mãos é o fato de que em vários dos temas mais importantes para a região, como migração, luta antidrogas e comércio, não tem mais coisas a mostrar.

"Os Estados Unidos não estão em posição de oferecer grandes projetos de cooperação com a região", informou Kevin Casas-Zamora, analista do Brookings Institute.

A viagem terá "muito simbolismo político e escassa essência", afirmou.

Obama teve ultimamente uma agenda cheia, internamente com a progressiva hostilidade da oposição republicana, e externamente com as rebeliões no norte da África e Oriente Médio, e o terremoto no Japão, tanto que a Casa Branca teve de confirmar a viagem nesta terça-feira.

Não é surpresa então que "nos últimos dois anos, a agenda americana para a América Latina teve um certo abrandamento", disse Casas-Zamora.

A etapa mais importante da viagem é o Brasil, onde "buscará acabar com as múltiplas tensões surgidas nas relações" com um país que adquiriu relevância mundial, estimou Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano.

Obama teve divergências com o Brasil sobretudo no tema nuclear iraniano, apesar de também ter se chocado com o país pela política em relação a Cuba e no golpe de Estado em Honduras, mas a presidente Dilma Rousseff, mais pragmática que seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, está abrindo uma oportunidade de aproximação, segundo os analistas.

"O Brasil já não é um país emergente. Já emergiu, e os Estados Unidos e o Brasil devem aprender a se tratar em um nível diferente", disse Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do centro Woodrow Wilson.

Obama também prevê fazer um discurso em Santiago para assentar as bases das novas relações com o continente. Mas os países latino-americanos estarão mais atentos ao que ele vai dizer no Brasil, porque será o termômetro que mostrará se as políticas para a região "mudaram ou não", disse Hakim.

O presidente americano fará escala no Chile para destacar os progressos políticos, econômicos e sociais chilenos como um exemplo na região, indicaram os analistas.

E sua escala em El Salvador será dominada pela batalha contra o crime organizado e o narcotráfico.

As restrições orçamentárias americanas lhe impedirão de comprometer mais recursos para a região, mas certamente oferecerá uma "maior coordenação regional (...) que inclui Colômbia e México como atores cruciais" na luta antidrogas, disse Casa-Zamora.

Além disso, nesta viagem se beneficiará da fragilidade da campanha anti-americana do governo venezuelano de Hugo Chávez e seus aliados, opinou Hakim.

Obama evitará referir-se a Cuba e Venezuela e outros países antagonistas e focará em países com projetos exitosos, concluiu Shifter.
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                                           Por fim a gente há de lembrar que outras visitas de Presidentes americanos ao Brasil induziam expectativas pessimistas, quando os nossos governantes se colocavam numa posição subalterna e se apressavam a reafirmar sua dependência da política e influência americanas, sobretudo, comprometendo os nossos interesses econômicos. De lembrar a presteza do governo FHC para aderir ao Consenso de Washington que tanto prejuízo nos deu ao alienar (ou doar?) nossas empresas publicas e na tentativa de nos colocar a reboque dos interesses americanos.  Por milagre nos salvamos da ALCA.

                             Viva a diferença!

VHCarmo.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Ligeirinha de hoje (14.03.2011) é um conto ....

                                                        A Magistratura.


                                                         ( conto)

                      “ Texto de ficção. Alguma analogia com fato real será mera coincidência?”.

                         O rapaz era mesmo dotado de uma inteligência privilegiada. Era daqueles a quem se costuma atribuir um alto QI. Nicolas vivia no seio harmonioso de uma família de classe média de Cascadura; mulato, filho de uma mãe branca e de um pai negro. Estudioso, além de inteligente. Os cursos fundamental e médio fizera com distinção no Colégio Artes e Instrução, antiga escola suburbana por onde passaram ilustres personagens da cidade do Rio de Janeiro. Na Universidade, na Faculdade Nacional de Direito, sobressaiu-se no estudo das letras jurídicas, francamente elogiado pelos mestres.
                         Desde menino o Nicolas tinha uma verdadeira obsessão: haveria de ser juiz; dizia para quem quisesse ouvir – “eu vou ser Juiz”. O pai, Camilo, advertia o filho das dificuldades de ingresso na magistratura. Além da natural complexidade do concurso, pesava contra ele a cor, dizia o pai. Era mulato escuro com muita honra, mas, teria que enfrentar o preconceito contra os negros no concurso, ainda que disfarçado.
                           No Tribunal do Estado do Rio, como de resto nos demais tribunais, juizes negros são raros e, normalmente, os poucos e raros não ascendem à segunda instância, não se tornam nem desembargadores, nem ministros nas instâncias superiores. Ao alerta do pai ele, enfaticamente, respondia

- “pai, eu vou enfrentar todas as dificuldades; eu quero ser juiz e vou ser, já me imagino vestindo a toga”.

                                No primeiro concurso programado pelo Tribunal, após a sua formatura no qual tinha  précondições concorrer, o Nicolas se inscreveu. Estudou com afinco e, para assegurar-se contra algum risco, freqüentou um curso de atualização em matérias nas quais se julgava menos preparado
                               A prova escrita lhe pareceu fácil, tal o preparo que tinha. Conferido o gabarito, errara apenas uma questão cujo valor era meio ponto. A nota máxima era 10 e o Nicolas ficou com 9,5. Era esperar, então, a prova oral e o chamado teste de impressão pessoal. Eufórico Nicolas já se antevia presidindo uma audiência, prolatando uma sentença.
                          O dia da prova oral, como soe ser sempre, enche-se o salão nobre do Tribunal de interessados e parentes para assistir as provas. A banca de desembargadores e procuradores estava, naquele dia, composta da mais fina flor dos operadores do direito.
                          É bom que se diga que a prova oral tem sido a oportunidade em que se exerce o preconceito, não só o da cor, mas também da origem do candidato. Diz-se, maldosamente nos corredores do foro que esses concursos são seletivos, ou seja, neles se selecionam os candidatos que vão perpetuar as castas que compõem os quadros da Magistratura. . Ao exame das listas dos magistrados que aparecem nas revistas dos Tribunais se podem verificar nomes familiares em profusão. Avô Ministro, filho Desembargador, neto juiz, por ai afora.
                         O Nicolas era tão brilhante que superou tudo isto; não foi possível embaraçá-lo, por mais difíceis que fossem as questões que lhe foram propostas pela banca. Diga-se de passagem: houve entre os assistentes uma certa estupefação. “O negro é bom, mesmo”, comentava-se em voz baixa, com admiração.     
                      Para a aprovação faltavam, apenas, os testes de impressão pessoal, sempre feitos numa espécie de clausura pelos magistrados examinadores e, sem platéia. Seria a última barreira a ultrapassar pelo rapaz.
                     O Nicolas não passou pelo teste; foi reprovado e, como sempre nesses casos, as razões não foram comunicadas ao examinado. Apenas um dos examinadores aproximou-se dos pais do Nicolas – que o esperavam lá fora da sala - e se disse constrangido pelo resultado; quase como que pedindo desculpas; foi só.
                    Aquele foi um dia de consternação para a família do rapaz; o pai e a mãe, que tanto temiam por aquele momento, de tudo fizeram para amenizar a profunda decepção que lhes invadiu. Durante dias inteiros Nicolas se manteve calado, num canto de seu quarto, com o olhar fixo em um ponto indefinível; algumas lágrimas, às vezes, rolavam de seus olhos.
                        O mulato escuro  se sentiu mais negro do que nunca e nunca mais abriu um livro. Depois de algum tempo sumiu da casa dos pais. Camilo o procurou por todos os locais previsíveis em que pudesse estar; não o encontrou. Além da decepção os pais passaram a sofrer a ausência do filho querido. Como ele,  num determinado momento, haviam achado possível o sonho de vê-lo de toga.

                         Alguns anos se passaram. Depois de uma batida policial na Favela de Manguinhos, os jornais anunciaram em manchete: – “Preso o traficante Nick”, e com o subtítulo: “o bandido mais perigoso e mais procurado das favelas do Rio de Janeiro”.
                       Camilo ao ver na televisão aquele homem não conteve o choro, abraçado à mãe, viram o filho negro algemado, ele que sonhara um sonho impossível: o de ser juiz.

VHCarmo. ( Março de 2008).

sexta-feira, 11 de março de 2011

Líbia, Kadafi e a intervenção.

                                  A verdadeira guerra civil que se instalou na Líbia é objeto das mais variadas interpretações encontráveis em toda mídia mundial. O que distingue, no entanto, esse movimento é a ausência de um respaldo popular desarmado como o ocorrido, até aqui, nos insurgentes da Tunísia, Egito, Iêmen, Argélia e de outras nações árabes.
                                    Kadafi detém não só a força militar organizada, treinada e armada, como também apoio da maior parte do povo líbio. Isto diferencia uma nálise da questão líbia.
                                 A oposição insurgente - que iniciou um movimento recorrendo às armas - apresentou-se, como um núcleo e um comando difusos, com lideranças, em muitos casos, sem qualquer ligação política com o povo e desarticuladas entre si.         No embalo inicial logrou alguns êxitos que, aos poucos, vãos se perdendo, principalmente por falta de apoio popular, armamento moderno e a ausência imediata de apoio externo efetivo.
                             A oposição na Líbia, em síntese, optou por uma guerra civil, mas não cuidou de pavimentá-la com apoios internos, nem políticos, nem religiosos.
                             A história da ascensão de Kadafi na Líbia remonta à revolução que liderou e derrubou a monarquia. Instalou, então, um governo de cunho popular e socialista que promoveu, inclusive, a nacionalização de suas riquezas, ou seja principalmente da sua maior riqueza: o petróleo. Por um largo período a liderança de Kadafi foi duramente contestada no ocidente  por sua aproximação, então, com a União Soviética e os paises socialistas.
                             O governo saído da revolução promoveu a melhoria das condições do povo líbio inclusive das tribos ali existentes, tornando o Kadafi um líder fortemente apoiado pelo povo. Fator que, apesar de tudo, o socorre até hoje.
                               A relativamente recente guinada do líder Kadafi para a direita e sua adesão ao neoliberalismo, o levou à aproximação dos centros do capitalismo, quando de ditador passou a ser chamado de Presidente e foi recebido na França, nos EEUU e em vários paises ocidentais, inclusive aqui no Brasil por FHC.  Os paises ocidentais passaram a negociar amplamente com a Líbia, grande exportador de petróleo.
                            A diferença apontada inicialmente neste texto, entre os movimentos dos outros paises árabes e a Líbia, gera nos paises centrais do capitalismo uma questão intrincada, vez que não se esboça naquele país, sequer um arremedo de comando do movimento insurgente a propiciar, pelo menos inicialmente, um processo de transição; com a queda de Kadafi, cada vez mais improvável.
                          Os pronunciamentos de alguns líderes da oposição, nestes últimos dias, denotam um arrefecimento e uma necessidade de recuo na tentativa de organizarem-se. Mustafha Gherani, um dos pretensos comandantes, foi enfático:
“Nós nos encontramos num vácuo. Em vez de nos preocuparmos com um governo de transição, nos preocupamos com a necessidade de segurança, quais são as necessidades mais urgentes das pessoas e para onde a revolta está seguindo. As coisas estão indo rápidas demais”.
Todos os recursos da guerra moderna foram cortados aos insurgentes, principalmente a comunicação.
“Precisamos de apoio, seja ele militar ou não, e pedimos ajuda”, declarou outro líder da rebelião Abdel-Hafidh Ghoga.
                        As lideranças religiosas também não aderiram à rebelião armada; o líder muçulmano Arqip Adem foi explícito: “Não há comunicação entre os grupos de oposição e nenhuma liderança”.
                       Nota-se claramente que falta ao movimento a arregimentação do povo e a preparação bélica que, neste caso, a oposição julgou ter - e não tinha. Por outro lado, há mais gente do povo no lado do governo populista de Kadafi.
                      Paira sobre a questão Líbia a possibilidade de intervenção dos EEUU ou da OTAN no país. Acontece que a intervenção, a esta altura, seria de êxito discutível e, provavelmente, não encontraria apoio interno na Líbia, acirrando uma luta fratricida.
                       Tanto americanos como europeus hesitam em intervir, mesmo porque as recentes intervenções em outros paises (Iraque, Afeganistão, Sudão e outras) redundaram em fracasso e altos custos econômicos e políticos, inclusive de colocar em evidência  o problema do petróleo. A França que enfrenta grave crise interna tentou sair na frente, para aparecer no cenário diplomático, mas Sarkozy já recua.                              
                                Instala-se a expectativa; quem viver verá.

                            Em resumo é essencial em qualquer movimento libertário a presença do povo, quando motivada por suas lutas e conquistas, sob pena de submeter o país a interferências externas que resultam em humilhação, supressão da soberania e das liberdades democráticas.

VHCarmo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mais um pouquinho de Carnaval ...

                             Terminado o carnaval, o observador é conduzido a reflexões sobre a natureza desse importante evento sociocultural neste momento.
                              Os mais velhos se lembram que Carnaval no país, no passado, era sinônimo de alegria popular. Este escriba, num certo tempo, cismava com aquilo que ele supunha, erroneamente, ser “uma alegria com hora marcada”. “Chegado o carnaval vamos ser felizes”, repetia sem, no entanto, aprofundar a análise. Era um erro, o carnaval é das mais expressivas e autênticas  manifestações populares.
                               Nehuma alegria poderia, a rigor, explodir em uma “hora marcada” se ela não existisse previamente. Se não fosse imanente no seio da população em determinadas condições históricas.
                              A alegria do carnaval se vincula estreitamente, também, à situação econômica e sociocultural do povo num determinado momento. É maior ou menor segundo os fatores objetivos que influem na vida de cada um dos indivíduos. Na rua se encontram, na festa carnavalesca, gente de todas as classes sociais. Há uma simbiose profundamente democrática em que o caráter de um povo se mostra como uma certa e rara uniformização.
                               Sem nenhum ufanismo se afirma que o Carnaval do Brasil é único e que não há igual em todo mundo. Tornou-se uma festa tipicamente brasileira. Não é atoa que fomos, por muito tempo, alcunhados de O País do Carnaval.
                             Povo na rua, multidões alegres, dançando, vestindo fantasias e cantando canções populares é, certamente, uma manifestação de caráter profundamente democrático. Nos blocos esquecem-se os sacrifícios e a rudeza da rotina da vida. Os blocos carnavalescos encontram seu espaço de evolução no território politicamente livre, sem restrições às expansões dessa alegria.
                                    No negro período da ditadura militar e nas restrições econômico/financeiras do neoliberalismo, além da exclusão da alegria pela repressão e penúria de recursos a que foi relegado, o povo se afastara das ruas.            A alegria se ausentara e a sua presença na rua era uma ameaça o sistema.
                                      A exibição carnavalesca, tornou-se formal naquele período, permanecendo restrita aos guetos dos sambódromos, válvula de escape permitida e até incentivada, por ser evento controlável, sem oferecer perigo ao “status quo” então vigente.
                                      O carnaval de rua retomou, agora, as suas origens e raízes que estavam fincadas na alma do povo a espera de vir à tona, afastada a coerção e a pobreza que o continha.
                                    Mas o que importa neste momento é manifestar a imensa alegria que invade a gente ao ver o povo alegre nas ruas, sem repressão, num belo espetáculo de consumo e afirmação cidadã.
                                Não há dúvida: a volta do Carnaval de Rua é mais uma conquista democrática do povo brasileiro.

VHCarmo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Olha o Carnaval aí, minha gente!

                        Há uma íntima ligação entre o ressurgimento do carnaval de rua, principalmente no Rio de Janeiro, e o crescimento da nossa economia e a inclusão social que se vem mantendo.
                        É notável a resposta popular à melhoria das suas condições de vida. Na capital fluminense, e porque não dizê-lo, em todo o país o carnaval de rua tinha, praticamente, se extinguido. No Rio onde era mais tradicional, com raízes na grande população negra, e ao surgimento do samba, em passado recente já não se viam mais os desfiles dos blocos populares.
                  O carnaval durante muito tempo passou a se circunscrever aos desfiles de escola de samba e aos bailes reclusos nos clubes para privilegiados.  Era o reflexo da situação de penúria em que se debatiam os mais pobres  que são, sem dúvida, os promotores dos blocos.
                     É entusiasmante ver agora o ressurgimento do carnaval de rua. Neste carnaval é incalculável o número de blocos, em vários bairros, desde a mais elitista Ipanema/Leblon aos longínquos subúrbios, o povão está na rua. Até os tradicionais desfiles matinais de blocos voltaram às ruas.  Milhares de jovens mal raia o dia, assomam às ruas fantasiados (outra coisa que voltou foi a fantasia), para curtir os blocos onde reinam a alegria, as alegorias, o bom humor e as inevitáveis charges tão características do povo carioca.
                      É gratificante, emocionante mesmo, ver o espetáculo da alegria do povão e o consumo inevitável das benesses de uma nova onda de fartura.

                  A ocupação deste espaço hoje é bem exígua, pois está na hora de a gente ir desfilar num bloco lá nas Laranjeiras. Não se pode chegar atrasado... “au revoir”...

VHCarmo.

domingo, 6 de março de 2011

Alarmismo da inflação....

                                      Não há duvida: o alarmismo da mídia em relação a inflação obedece interesses inconfessáveis e de difícil detecção. Os jornalões, desde meados de janeiro, vêm alarmando a população, prognosticando um descontrole da inflação, como se fora algo inevitável e trágico.
                                       Embora as autoridades do governo venham tranquilizando o povo de que estaria tudo sobre o controle e se gestando uma reversão de tendência pela ocorrência de uma política específica e pela reação da economia com o ingresso da nova safra, os jornalões insistem, ainda hoje, em prever o pior. Como sempre trazem para amparar suas teses furadas os “especialistas” sabujos.
                                       Pois bem, os órgãos encarregados de monitorar o processo inflacionário, inclusive a Fundação Getúlio Vargas já anotam o declínio da inflação, e o que melhor, declínio  focado na baixa dos preços dos alimentos, significativo porque atinge os mais pobres.
                                       Por singular coincidência, a alta dos alimentos é o aspecto sempre mais explorado pela mídia para alarmar a população. Nas Tvs são correntes as entrevistas nos supermercados de pessoas que estariam, estranhamente, insatisfeitas com os preços; tudo para inquietar o distinto público.
                                    A gente, até por falta de tempo em que o carnaval nos consome e para se estender na compreensão devida desse assunto, a gente transcreve, abaixo, um texto esclarecedor.

                                      É interessante ler e refletir.

                                       A alta menos expressiva dos preços dos alimentos em fevereiro foi a grande responsável pela desaceleração da inflação percebida por famílias de baixa renda - classe que destina 40% de seu rendimento a essa área de despesas, afirma a Fundação Getulio Vargas (FGV). Os alimentos passaram de uma alta de 1,32% em janeiro para 0,05% em fevereiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 - (IPC-C1).
                                     A desaceleração contribuiu para que o indicador da FGV subisse 0,32% em fevereiro, após ter alta de 1,40% no mês anterior. "De dezembro para cá os preços dos alimentos começaram a apresentar algum alento", afirmou o economista da FGV André Braz.
                                   Segundo ele, descontando os alimentos in natura, que tradicionalmente sobem nesta época do ano por questões climáticas, os gêneros alimentícios passaram de uma alta de 1,35% em dezembro para queda de 0,11% em janeiro e de 0,47% em fevereiro.
                                 As chuvas fortes que atingiram algumas partes do País contribuíram para que os alimentos in natura ficassem mais caros. Hortaliças e legumes, por exemplo, subiram 13,09% em janeiro e 3,05% em fevereiro. Mas Braz destacou que a inflação de alimentos já não é tão forte quanto parece, pois há itens mais próximos à mesa do consumidor que estão até mesmo em deflação. "Alimentos que tiveram altas expressivas em 2010 agora estão devolvendo o aumento. As carnes, por exemplo, subiram 28,37% em 2010 e parte disso ainda voltará para o consumidor."
                            Com isso, segundo Braz, é possível que os alimentos apresentem deflação em março.
                             Braz lembrou já existir uma expectativa de pressão inflacionária sobre os alimentos no mundo em 2011 por causa de uma reduzida oferta mundial, estoques em baixa e condições climáticas desfavoráveis. Milho, trigo e soja podem continuar subindo e pressionando a cadeia de alimentos derivados deles. Em sentido contrário ao dos alimentos, o item despesas diversas pressionou a inflação para cima. Nesta conta, diz Braz, o destaque fica com cigarros e jogos lotéricos. "É a inflação dos vícios", brincou ao lembrar que os três itens acumulam altas acima da inflação nos últimos 12 meses.
                            Cigarros passaram de 0,09% em janeiro para 2,68% em fevereiro, acumulando alta de 8,45% em 12 meses, enquanto o IPC-C1 no mesmo período foi de 6,79%. Jogos lotéricos passaram de 2,67% para 9,36%, com alta de 12,28% em 12 meses. A inflação do carnaval também está pesando para as famílias de baixa renda. A refeição em bar subiu 1,76% em janeiro, 1,97% em fevereiro e ficou 10,68% mais cara nos últimos 12 meses.
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  vhcarmo.