quinta-feira, 27 de março de 2014

O estelionato da agência de classificação S&P.


É de se indagar o que pretende uma agência internacional (S&P) ao classificar , sem nenhuma base, uma queda na classificação de risco do Brasil, na situação em que se encontra a economia brasileira. 

Por traz disto evidenciam-se interesses inconfessáveis de natureza financeira.  É também de  notar-se que essa classificação externa aparece ao mesmo tempo em que internamente no país  - em ano eleitoral -  a mídia e a oposição promovem um terror (falso) sobre a nossa economia. Vaticinam uma crise da economia sem qualquer evidência na realidade. Dispensam-se, criminosamente,  de prová-la. 

Como afirma o ilustre economista da UNICAMP  Gonzaga Belluzo, isto é um verdadeiro estelionato. 


Olhem só a entrevista abaixo:


Deu no Estadão.

 

Que significado isso tem? Isso é coisa de estelionatários', afirma Belluzzo.

 

Belluzzo acredita que mercado deve ser pouco afetado por causa da baixa credibilidade das agências de risco

25 de março de 2014 | 2h 06

p. Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S.Paulo

O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Luiz Gonzaga Belluzzo classificou de "estelionatária" a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) de rebaixar a nota do Brasil de BBB para BBB-. "O que vem a ser isso, essa decisão das agências? Que significado isso tem? Isso é coisa de estelionatários. Eles, na verdade, participaram de um estelionato na crise de 2008."
Na avaliação de Belluzzo, haverá um "tremelique" no mercado, mas pouca coisa deve mudar por causa da baixa credibilidade das agências.
A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estado.
Como o sr. analisa a decisão da agência de rebaixar o Brasil?

Eu acho que as agências de risco não têm nenhuma credibilidade depois da crise de 2008. Elas é que deveriam ser rebaixadas. Como se pode acreditar numa agência de risco que deu nota AAA a um pacote de créditos sem que soubessem o que tinha dentro? O que eles alegaram agora? Que piorou a situação de endividamento da economia brasileira? Mas qual é a nota que elas (agências) dão aos Estados Unidos e à França?

A decisão foi injusta, então?

A dívida brasileira é de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), a dívida líquida de 30%. O Brasil teve superávit todos os anos, caiu um pouco agora, para 1,9% do PIB. Mas ainda assim somos um dos poucos países com superávit. O que vem a ser isso, essa decisão das agências? Que significado tem? Isso é coisa de estelionatários. Eles, na verdade, participaram de um estelionato na crise de 2008. É inacreditável ter que dar um opinião sobre uma coisa tão evidentemente inexpressiva, todo mundo acredita na S&P, na Moody's, mas esse pessoal das agências nem formação econômica decente tem.

Qual o impacto que essa decisão pode trazer para o mercado?

Vai mudar muito pouca coisa. Eu acho que a reputação delas (das agências) não justifica uma mudança muito importante. Vai ter, claro, uns tremeliques aí, mas nada definitivo.

Onde estarão esses sinais?

Talvez você tenha alguns tremeliques no mercado de ativos porque isso afeta um pouco a expectativa dos agentes.

O governo tentou melhorar a comunicação com o mercado. A tentativa foi em vão?

Me parece que essa decisão de rebaixar estava tomada há algum tempo, mas o efeito vai ser muito passageiro. Como o Brasil continua com grau de investimento, vai haver um pouco de turbulência e depois as coisas voltam ao normal. Outra coisa: no Brasil, quando a inflação mostrou um pouco de ímpeto, o BC imediatamente elevou a taxa de juros, mas enfim, não há o que fazer. Estamos sob a observação desses estelionatários, vai se fazer o quê? Como uma pessoa honesta pode acreditar nas avaliações deles ao longo dos anos 2000 até a crise? Se você ler o relatório do Congresso americano, feito depois da crise, você vai ver que as referências ao comportamento das agência eram casos de mandar para a cadeia. Eles burlaram a confiança dos investidores, de todo o mundo.


______________________________     VHCarmo. 



sexta-feira, 21 de março de 2014

MAIS UM CONTO (é o algo mais)...



 
                                          No Mercado das Flores.   
                                                       conto
                                   
       (Este é um texto ficcional, qualquer semelhança com fato real será mera coincidência).

                       Era uma sexta-feira e Manoel Torres, àquela hora da manhã de um dia de primavera, em 1969, já se encontrava sentado no ônibus da linha 249, a caminho do trabalho.   Saia de casa sempre pelas sete horas.   Seu emprego no Mercado das Flores era dedicado à Contabilidade dos comerciantes,  à seleção das plantas e rosas para distribuição matinal  e marcação de preços.
                    Manoel ia pensando sobre a sua vidinha de tijucano.  Fizera 50 anos, sem festas, sem emoção.  Recebeu alguns telefonemas de parabéns; de alguém reclamando por festa; mais nada. A vida não lhe fora particularmente propícia para momentos felizes, ia pensando. Também não podia se queixar; nunca passara necessidade.  Filho único, seus pais portugueses, já falecidos, eram pessoas de classe-média e puderam lhe dar escola, educação e encaminhá-lo na vida; se não caminhou mais deveu-se  à sua própria acomodação.   Tinha onde morar, pois eles lhe deixaram o apartamento de dois quartos da Rua dos Araujos, na Tijuca. O que ganhava no Mercado das Flores dava para sobreviver com dignidade. 
                           Os últimos fios de cabelo que manejava para cobrir o alto da cabeça caíram pouco antes do aniversário, sobrando-lhe, apenas, outros poucos ao lado das orelhas e sobre o pescoço.  Agora, além de cinquentão, se sentia um careca. Aquilo lhe dava uma certa tristeza.  Nada lhe doía mais, porém, do que a vida sem emoções, rotineira e, até certo ponto vazia que levava; mas se conformava com isto.  
                           No pequeno escritório  do Mercado onde fazia as contas e controlava seus papéis, mal cabia uma escrivaninha, dois armários e duas cadeiras.  Na verdade lhe sobravam - para quebrar a monotonia - as discussões diárias sobre futebol e assuntos rotineiros do dia-a-dia, nos boxes de venda das flores no entorno do Mercado, que  percorria no desempenho de seu trabalho. Se detinha, mais das vezes,  em frente ao Box do Constantino, um mulato forte que fazia ali o trabalho mais pesado, e  que era mais amigo dele e   residia  também na Tijuca.
                     Manoel fazia uma restrição nas suas discussões:
                      “-jamais falar sobre política”.  Dizia mais: 
                     - “não, não gosto de política porque ela divide as pessoas" e acrescentava com certa ênfase: 
                         -“nesta ditadura militar que a gente vive, é melhor mesmo se manter calado".
                     “-não nasci para ser revolucionário”, quero viver em paz”.

Torres, o nome pelo qual Manoel era mais  conhecido no Mercado, gostava mesmo era de passear por entre as ramagens e flores e se habituara a sorver o perfume que delas emanavam, isso lhe bastava.
Aquele local perfumado tem história  e o contador gostava de lembrá-la.    A praça do Mercado das Flores que, a partir de 1918, leva o nome de poeta,  Olavo Bilac que a amava, nasceu pela demolição do prédio do Tesouro,  existente no local onde funcionava a repartição fiscal do Segundo Império, ligando a antiga Rua dos Latoeiros - hoje Gonçalves Dias - que ali terminava, à Rua Buenos Aires - antiga do Hospício - por um beco estreito, era o Beco do Fisco.  Por muitos anos povo ainda chamava a praça e o mercado  de "o Beco do Fisco”. Por duas vezes o Mercado foi restaurado: no governo Epitácio Pessoa, pelo prefeito Carlos Sampaio e mais recentemente tomou a configuração atual projetada pelo famoso arquiteto Sérgio Bernardes.                     
                     Manoel Torres se casara cedo, aos 23 anos e, prematuramente, ficou só.    A mulher não suportou a convivência sem graça que tinham e se divorciaram. Ele até achou bom; falava, para quem quisesse ouvir, que não tinha mesmo vocação para ficar amarrado a uma mulher.  Sua ex-mulher nem despesas lhe deu, pois em seguida arranjou outro casamento.  “– O defeito é meu”,  ele confessava.
                           Naquela manhã de sexta-feira, com a perspectiva   do Domingo em que iriam jogar no Maracanã o seu  Vasco da Gama, justamente contra o seu maior rival o Flamengo,  Manoel antevia uma tarde menos monótona;  já estava  com o ingresso comprado.
                        Na segunda-feira seguinte, o Constantino estranhou que ao chegar no Mercado, já pelas nove horas carregando sua carrocinha de flores, não encontrou Manoel.  “-Ele não faltaria sem avisar; sem sequer telefonar”.    Resolveu esperar um pouco. Às 10 horas ligou o telefone para a casa do amigo; ninguém atendeu.
 Já era meio-dia, quando decidiu ir procurar  Torres.      Constantino sabia que ele morava sozinho e receou que pudesse ter acontecido alguma coisa grave com ele.    Foi-se para a Tijuca.                                     
                       Subiu ao terceiro andar do velho edifício da Rua dos Araújos, e encontrou a porta do apartamento aberta; notou sinais de arrombamento.  Penetrou devagar e encontrou tudo em seus lugares, apenas, no quarto, a cama estava desarrumada.  Não havia sinais de roubo. Ficou, inicialmente, sem saber o que fazer, depois desceu ao térreo e procurou Seu Miguel, dublê de porteiro e faxineiro que, àquela altura, fazia limpeza nos corredores do prédio.  O homem se mostrou assustado.  No princípio recusou-se a falar.  Depois assediado  foi dizendo, meio trêmulo:

                     – “olha, me pediram pra não falar; “calar o bico”.  Por favor, não diga a ninguém que eu falei, mas levaram o homem encapuzado e algemado; tinha um carro preto parado aí fora. Empurraram Seu Manoel pra dentro e se foram.  Pelo amor de Deus, eu não vi nada!”.

                            Constantino correu à Delegacia Policial da Tijuca e lá não encontrou Manoel. Um investigador de plantão, sendo informado da forma como Torres fora preso e levado, foi logo dizendo que aquilo era coisa do Exército.  “– o homem deve estar na Barão de Mesquita, 425”

                              Naqueles tenebrosos tempos da ditadura militar, havia em todas as pessoas um certo medo de envolvimento com os militares, por isso Constantino resolveu procurar um advogado para tentar  localizar o Torres, e  não se expor .
                         Dito e feito; passados dois dias, o causídico escolhido comunicou  que localizara o Manoel no DOI-CODI, na Rua Barão de Mesquita, 425; fora preso por ato de subversão contra o regime.  Provavelmente seria solto no dia seguinte ao meio-dia, após a devida apuração.      O advogado combinou com Constantino e ambos foram esperar o Manoel, à porta do quartel na hora marcada.  O amigo amargurado não se conformava com o motivo da prisão.   Para ele o contador não estaria metido em subversão, haveria algo errado; logo ele se indagava? .
                        Os militares foram pontuais, ao meio-dia, apareceu um sargento à porta do quartel e confirmou que Manoel estava saindo; seria conduzido para sua residência.  Com efeito, pelo portão lateral apontou, então, uma ambulância; era o veículo que ia  conduzindo o preso à casa.  Foi negado pelo militar, delicadamente, seguir qualquer acompanhante no veículo.  A ambulância partiu; o advogado e Constantino foram acompanhando num táxi.  
                            Na Rua dos Araujos, o Manoel Torres foi retirado da maca, onde se encontrava deitado, levantou-se e foi entregue aos dois que já o esperavam claudicante e  andando com dificuldade.   O militar que conduzia o veículo passou à mão do advogado uma folha de papel onde estava escrito que Manoel fora objeto de um lamentável engano, o homem que procuravam era um seu homônimo; não era ele.  O papel entregue não tinha sequer assinatura, nem timbre do Exército. .
                             Em 5 dias de prisão no DOI-CODI  Torres perdeu 7 quilos e acumulou várias lesões no corpo e na auto estima.   Fora torturado, sem saber por que.   
Constantino levou o amigo para um hospital onde permaneceu internado em recuperação física e mental por mais de vinte dias.  

                              Passado algum tempo - cerca de dois meses - Manoel Torres, já recuperado, desapareceu do emprego e de seu apartamento da Rua dos Araujos e  nunca mais foi visto no seu Mercado das Flores.
                             Soube-se, depois de alguns anos, que ele teria sido assassinado na Guerrilha do Araguaia.   Até hoje não foram localizados os seus restos mortais. 
                                                        
                                                                VHCarmo.
                                                              Março de 2010.
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quarta-feira, 19 de março de 2014

Joaquim Barbosa de "saia justa "...


 

                    É agora que a gente vai ver até onde vai esse falso Sultão Barbosa, vítima de um complexo ainda não revelado pela medicina que varia entre o de  megalomania e  da síndrome da cor, envolvendo, por sua vez,  o complexo de  inferioridade comummente manifestado pelo seu contrário.  

                          Alguns  o definem como uma pessoa má, simplesmente.

                   Hoje no entanto, há  um quase consenso de que o Joaquim Barbosa é doente mental, cabendo apenas um pronunciamento clínico-médico e, quem sabe? , um impedimento pelo Senado?.

                      Ninguém em sã consciência pode admitir que um Ministro ouse confessar ter agido com dolo em um julgamento.  O Sultão o fez, inclusive em altos brados, perante a Corte que mal  preside.

                      É agora que ele vai ter, mais uma vez, a oportunidade de confessar às claras ou indiretamente a sua atuação criminosa.  O processamento das ações penais chamadas de "mensalão"( do PT e do -PSDB)  vai faze-lo   definir.

                O  texto da  Najla Passos, na Carta Maior, que  este humilde blogueiro transcreve abaixo, mostra isto de modo claro

Olhem só:

Mensalão do PSDB coloca Joaquim Barbosa contra a parede

Embora o relator já tenha concluído seu voto sobre a ação penal 536, o presidente do STF não colocou na pauta de votação desta semana o que fazer com ela.





Najla Passos                                                                                                                

Brasília - A batata quente da ação penal 536, o chamado “mensalão do PSDB”, está assando nas mãos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, mas ele ainda não sabe o que fazer com ela. Na última quarta (12), o ministro relator da ação, Luís Roberto Barroso, afirmou à imprensa que concluiu seu parecer e gostaria de discuti-lo com a corte o mais rápido possível. O presidente do STF, entretanto, não a incluiu na pauta desta semana. Ele já deve prever que, qualquer que seja a decisão do tribunal, ele sairá perdendo.


O caso se refere às denúncias de um suposto esquema de corrupção armado em Minas Gerais para beneficiar a reeleição do então governador, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998. Apresenta inúmeras similaridades com o chamado “mensalão do PT”, já julgado pela corte, embora tenha ocorrido só cinco anos depois, em 2003. Envolve, inclusive, alguns personagens em comum, como os publicitários Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, apontados como os operadores do esquema tucano, e já condenados pela participação no petista.


O impasse ocorre porque, apesar das similaridades evidentes entre os casos, o STF agiu com dois pesos e duas medidas. Os réus do “mensalão do PT” foram todos eles julgados pelo STF, inclusive os que não tinham o chamado foro privilegiado e, por isso, deveriam ter tido direito ao duplo grau de jurisdição, em instâncias diferenciadas. Já o processo do mensalão do PSDB foi desmembrado: as denúncias contra réus sem mandato eletivo foram remetidas para a justiça mineira. No STF, só sobrou o processo contra o único político ainda em exercício de mandato: o próprio ex-governador que, até fevereiro deste ano, atuava como deputado federal pelo PSDB.


Em fevereiro, porém, para escapar dos holofotes de um julgamento no STF, ele acabou renunciando e, portanto, perdeu a prerrogativa do foro privilegiado.  Na época, o relator da ação condenou a manobra. “O STF tem reagido um pouco quando considera que tem havido algum tipo de manipulação da jurisdição. Não estou fazendo nenhum tipo de juízo de valor, mas é um dois elementos a serem considerados", disse Barroso aos jornalistas.


Foi o que ocorreu, por exemplo, no caso do ex-deputado Natan Donadom, eleito pelo PMDB de Rondônia, que, em 2010, um dia antes de ir a julgamento pelo STF, decidiu renunciar ao mandato para que o processo fosse reencaminhado à 1ª instância. A corte, porém, decidiu mantê-lo e o condenou à prisão. Em 2007, porém, ocorreu o contrário. O então deputado Ronaldo Cunha Lima, do PMDB da Paraíba, renunciou ao cargo cinco dias antes do julgamento e seu processo foi transferido para o tribunal inicial. Ele acabou morrendo, em 2012, sem acertar suas contas com a justiça.


Nos dois casos, Barbosa votou pela competência do STF para julgar os ex-deputados. Perdeu e ganhou, mas manteve a coerência. Agora, a situação é outra. Desgastado com a esquerda por conta das arbitrariedades cometidas durante o julgamento da ação penal 470, o ministro precisa manter o apoio que conseguiu da direita e da imprensa que a serve se quiser, de fato, se dedicar à carreira política. E isso, claro, inclui arrumar uma desculpa jurídica plausível para beneficiar Azeredo, como a corte já o fez ao desmembrar o processo do ‘mensalão do PSDB’ e retardá-lo ao máximo. 


Entretanto, a estratégia pode significar também um certo desgaste com a opinião pública. Ficará impossível disfarçar o tratamento diferenciado dispensado a petistas e tucanos. Será como uma confissão final de que este novo STF rigoroso e impassível com a corrupção de que ele é garoto-propaganda não existe para todos, mas apenas para réus provenientes do campo popular. E este também não é o perfil desejável para um pretenso candidato que tem como principal bandeira a moralidade política.
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VHCarmo. 


domingo, 9 de março de 2014

Um pequeno poema (é o algo mais).

É a velha estória: somente nascidos poetas podem  encadear seus versos?  Perfilhar-se a uma escola poética, enclausurar-se em regras consagradas seria  um imperativo para versejar?.  Atrever-se  a   fazer um poema, sem o hermetismo dessas regras, seria um atrevimento?  Este escriba às vezes se atreve, pois não se vê  como poeta.
 
 Aí vai um pequeno poema solitário, sem maternidade e paternidade conhecidas.
                                               


                                             Pôr do sol em Ipanema.

No largo horizonte desse fim de dia
o sol se põe sobre a minha tristeza,
sulcando o espelho de um
mar de fogo.
 
Da calçada dura que aos meus pés arde
ternuras cálidas
  indiferença frias.
 
Olhando esse sol na sua bruta inteireza
sinto, incrédulo, neste breve
morrer da tarde
a emoção e a frieza
num estranho e mal iluminado jogo.
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VHCarmo (do livro Memórias  - A Vila do Capivara)


sábado, 8 de março de 2014

Um conto (é algo mais no bloguinho do Hugo)


                                                Confidência
                                                    ( conto)
                                    
                               - Olha Josias, eu nunca falei daquele acontecimento para ninguém, nunca.  Como envolveu a figura do meu pai, Moisés, que você bem conheceu e que tinha prestígio aqui na Freguesia de Santa Rita da Meia-pataca, sempre evitei contar o que aconteceu.   Agora que me aproximo do fim -- ora amigo, já completei 85 anos -- acho que não mais vale a pena  conservar este silêncio respeitoso que mantive  por tão  longo tempo.  Nem sei se isto valeu a pena, talvez me doesse passar a outros aquilo que considerava um segredo.  De qualquer forma agora ele me pesa e deste peso quero me livrar, pois tenho pra mim que não seria bom enterrá-lo definitivamente com a minha morte.  De posse dele você fará o que lhe aprouver depois que eu entregar minha alma a Deus.
               - Você há de me perguntar o porquê do meu silêncio até aqui; eu lhe explico: tive receio de constranger e fazer sofrer pessoas  ligadas ao fato. Agora me sinto mais livre, pois quase todos morreram e os que ainda restam vivos foram preservados. Veja o que se passou:            
 - Meu pai era dono da Fazenda do Degredo, nesta Freguesia; a propriedade lhe viera por herança dos meus avós. Ali plantava café, que era a cultura mais lucrativa naquela época.   Nasci e cresci em meio aos eitos da plantação.  Ali cresceram comigo os meus irmãos mais novos: o Juca e a  Marina,  sob o manto de proteção de meu pai e de minha mãe, dona Carmela.  Tínhamos como horizonte próximo as nossas montanhas em cujas encostas vicejavam os arbustos do café, com suas folhas verdes, ponteados pelos frutos vermelhos. Na frente da casa grande, caiada de branco, com cinco janelas de folhas inteiras pintadas de azul e varanda, a porta se abria para o extenso pátio de secagem em frente.   Eu já era um rapaz, então.  Fizera o curso fundamental no grupo escolar da Freguesia e passei a tomar conta da roça, juntamente com meu pai.
               -- Nunca mais estudei, amigo Josias.  Você se foi, virou doutor eu fiquei na lavoura.  Não me arrependo.  Era o meu destino.  Hoje, daqui desse alpendre, contemplo estes pastos nus, por onde pasta nosso gado, e às vezes  sonho com  o cafezal; parece que ainda estou vendo o balanço cadenciado das folhas verdes  dos arbustos enfileirados morro acima, tocados pela brisa constante  que soprava tangenciando o espelho da água do ribeirão Capivara,  lá embaixo.
                  Meu pai, Moisés, era homem da roça, mas sensível, criado na Fazenda do Degredo onde nasceu e morreu, como lhe disse, jamais se embruteceu naquela rude lida.     Tinha uma invulgar coragem e forças físicas, atirando-se às tarefas mais pesadas, da colheita e, parecendo se deleitar com o rolar dos grãos no grande pátio de secagem.  Ele suava comigo e os empregados, sob o sol e, às vezes, na noite entrada.
                   Acostumou-nos, porém, às suas ausência periódicas. Assim, sem aviso e sem que se percebesse seus preparativos, num belo dia, geralmente pelo outono, após a colheita e o ensaque dos grãos e de maneira repentina, amanhecia com sua bagagem pronta, beijava o rosto da minha mãe, afagava a cabeça dos filhos e se encaminhava pela estrada na direção do Rio Pomba.  Partia para um destino por nós desconhecido.
                    Na primavera, quando os frutos começavam a amadurecer vermelhando-se, sem qualquer aviso ele chegava de volta à Fazenda.   Trazia pequenos presentes para todos e roupas; perfumes e bijuterias para minha mãe que se enchia de emoção, risos e felicidade.   Meu pai também aparentava estar feliz por regressar.  Não dava qualquer explicação para sua ausência; era uma estranha rotina.  Eu não tinha coragem de me manifestar ou de fazer perguntas. Minha mãe se mantinha reservada e jamais comentava.   A vida prosseguia.  Na minha cabeça eu achava sempre que cada uma delas seria a sua última viagem. Ele, simplesmente, se mantinha calado.   A sua ausência causava a nos todos uma certa tristeza; minha mãe fazia tudo para que a gente não percebesse seu indisfarçável sofrimento. Mulher forte tocava comigo a lides da roça. A certeza da volta do pai nos consolava.
                       Era estranho o procedimento da minha mãe: não lamentava a partida e se alegrava com a volta.
                         - Josias, quando eu completei 30 anos e já estava casado com a Marília, resolvi que deveria desvendar o mistério das ausências do meu pai.   O Maneco, agente da estação da estrada de ferro, se recusou a dizer-me se lhe vendia bilhetes; negava mesmo com veemência saber para onde ele se dirigia. Era um direito dele; eu não insistia.  Andei indagando daqui e dali e acabei desistindo.
                         No fim do verão de 1946, numa tarde calorenta, lá vinha o Murilo de Barros, pela Rua de Baixo, no centro da Vila, montado no seu inseparável cavalo baio.  Ao me avistar acenou para que eu parasse; precisava falar comigo, gritou. 
                      –Você, Josias, conheceu o Murilo: era miudinho de cabelo cor de fogo, filho do antigo curandeiro da Freguesia, o Seu Ricardo de Barros.   Achei estranho abordar-me. Saltou lépido da cela ao chão e fomos, os dois, a um canto da calçada.
                          -Precisava mesmo encontrar você; foi dizendo, aguçando minha curiosidade.  
                            -Olha rapaz, estou chegando de São Felix, onde fui negociar um gado; uns garrotes para engorda lá que os campos aqui na Lavra andam secos.  Mas, eu quero mesmo é falar-lhe do seu Moisés.                 
                Do meu pai?     – “É, de seu velho”.
            Murilo começou num tom assim meio reservado:
         -“ passando pelo centro da Vila de São Felix, a uma certa distância, vi seu pai, seu Moisés; estava acompanhado de uma senhora e de dois meninos.  Achei estranho e evitei que ele me visse.     Perguntei ao Fazendeiro que ficou lá com meus garrotes se conhecia aquele homem.   Foi logo dizendo: seu Moisés é conhecido de todo mundo aqui em São Felix, tem uma fazendola lá para os lados de Paroquena, mas não sai desta Vila, tem negócios aqui.   É um homem de bem, tem dois filhos com Dona Mariquinha, sua mulher, filha de família tradicional de São Felix, os Almeida.  O homem tem um costume estranho que as pessoas comentam; ele se ausenta por longos períodos da sua roça e de seus negócios, sumindo no mundo. Depois, sem mais aquela, volta.  O pessoal já se habituou com isto.   Não estendi o assunto. 
                      -Amigo Josias, você não pode imaginar o que eu senti ali, naquele instante. O Murilo até ficou preocupado, pois tive uma ligeira tonteira e ele me amparou.  Depois quis me dizer mais alguma coisa, mas eu não quis ouvir.  O velho estava ausente, àquela altura.
                    Meu pai chegou, logo após, numa manhã cinzenta na Fazenda do Degredo; despejou dos alforjes as roupas e os presentes de costume. Minha mãe, emotiva, deixou uma lágrima escorrer pelo rosto enquanto se jogava nos braços do velho.  Ele beijou meus irmãos, abraçou-me afetuosamente e foi logo indagando sobre as plantações e o gado. Não tive coragem de dizer-lhe do que soubera.  Nunca o disse.                     
                         As ausências do meu pai se prolongaram ainda por alguns anos. 
                       -Você agora, Josias, além de mim, é o único a saber disto, pois o Murilo  faleceu  e jamais revelou.      Minha mãe morreu sem saber, ou se sabia, jamais falou sobre o assunto. Nunca tive coragem de abordá-la.    Meus irmãos não sabem que nós temos mais dois irmãos em São Felix, espero lhes contar um dia.                   
                      Meu pai faleceu na Fazenda do Degredo, aos 85 anos.    
                      Um homem e uma mulher, desconhecidos na Vila de Santa Rita da Meia-pataca, compareceram aos funerais e ao sepultamento de Moisés no velho cemitério do Mato Dentro, verteram algumas lágrimas e se foram, em silêncio, sem que se lhes soubesse o destino.                  
                                -Amigo Josias, eu me sinto aliviado por lhe contar o acontecido.                                   
                                                VHC (maio de 2009).

domingo, 2 de março de 2014

Breve e despretensiosa reflexão sobre a economia do país.


Breve reflexão sobre a economia do país.

O PIB brasileiro de 2,3% do ano  2013, que foi o terceiro maior do mundo, teria  surpreendido a  mídia golpista?
Aqueles que vêm lendo e acreditando nas notícias sobre a economia brasileira publicadas  nos jornalões e nas revistas golpistas,  agora podem constatar como foram inescrupulosamente enganados.
Publicavam-se, até então, notícias terrificantes em que se dava ênfase à estagnação do país e, embora algumas escassas observações em contrário, estávamos à beira da recessão, com o descontrole orçamentário, a disparada da inflação...(não ousaram falar em desemprego, mas acenaram que ele viria..).
Os candidatos oposicionistas à Presidência já antegozavam um fracasso e já vinham propondo em seus discursos eleitorais uma nova economia para o país que, porém,  jamais esclareceram qual seria.  Aliás, vêm prometendo sempre que explicarão depois.  É de se aguardar?
 Nota-se que os candidatos da oposição,  eles também,  parecem ter sido enganados  pelos "especialistas" de plantão na mídia. Sequer foi noticiado um PIB dessa dimensão, principalmente em um mundo em crise.
De repetir aqui o brilhante jornalista Paulo Henrique Amorim, na sua "Conversa afiada": "A mídia pretende substituir o IBGE pelo IBOPE".
Evidencia-se, nesse episódio, a precariedade do discurso dos candidatos da oposição à Presidência que  se tornaram dependentes da mídia que, por sua vez, não tem qualquer compromisso com a verdade. Nesse vai-e-vem as pesquisas, mesmo as mais generosas do IBOPE e da Data-Folha, não lhes pode devolver a credibilidade e lhes vê fugir a esperança.
É um jogo perigoso que fatalmente vai levar a oposição - como no passado - ao desespero e a usar métodos reprováveis no embate eleitoral,  mediados pela mesma mídia que ora lhes ilude.
 Apelarão, certamente, para o viés religioso, para o "denuncismo udenista", para o ataque sem prova da honra das pessoas e dos costumeiros ''dossiês".   Quem não se lembra da discussão extemporânea  sobre o aborto e a enchente de "dossiês" contra o sempre inocente Serra?  e  até os apelos ao Papa?
Certamente saberão, como sempre, se eximir de explicar as suas derrotas eleitorais.  Mas o povão não esquece.
A oposição talvez  - quem sabe? - lucraria mais em trazer ao debate questões importantes para o país, para o seu povo, para a sua posição internacional de quinta potência econômica mundial  e  sua soberania, pois esse  povo evoluiu na defesa de seus interesses e a oposição continua a usar esse métodos antigos e reprováveis.  ______________________________ 
VHCarmo.

 

 

sábado, 1 de março de 2014

"O SANSÃO DE TOGA..."

Aqui mesmo, em novembro do ano findo, este modesto blogueiro sustentou que o Ministro Joaquim Barbosa manifestava ser portador de doença mental. Seria um megalomaniaco? seria portador de um irremediável complexo de inferioridade, manifestado por sua pemanente defesa irritadiça de seus entendimentos na Corte e fora dela?  seria, afinal, por sua negritude?
 Vai, aí abaixo, as palavras escritas então por esse blgueiro  que servem de introdução ao texto do jornalista FRANCISCO DE ASSIS  que o declara psicopata.
 
Olhem só:


"Joaquim Barbosa (maldade ou doença?)"
Aos poucos vai se formando um consenso de que o Ministro Joaquim Barbosa não é uma pessoa normal e sofre de alguma doença mental que o faz desprezar as regras mínimas de convivência com o seu meio, produzindo, a todo momento, atritos e procedendo sem escrúpulos seguidas infrações das leis e do direito.
Alguém já o acoimou de mau. Mas, há nele uma área de cometimentos que se situam entre a maldade e a doença.
De qual sofreria?
Quando a prática de atos de maldade, como neste caso, passa ao largo do conhecimento e vulnera a legalidade, instala-se a dúvida: seria propriamente maldade ou uma doença mental que o conduz a essa amoralidade?
O Ministro JB perdeu a noção da ética e do comportamento que o cargo lhe obriga, vislumbrando-se nele um evidente desequilíbrio mental.
A sua agressividade para com os seus pares e para com o público em geral e a manifesta conduta acusatória quando deveria ser o julgador equilibrado, como compete primordialmente a um magistrado, acrescenta a evidência de uma patologia que, de qualquer forma, já deveria ser objeto de pesquisa pelo STF. e seus médicos.
O Supremo Tribunal Federal vem sendo assim vítima de acentuado desprestígio provocado por seu próprio presidente, a esta altura com repercussão internacional.
Não há menor dúvida que se apercebendo do desequilíbrio do Ministro - patológico ou não - a mídia conservadora vem-se utilizando dele para promover os seus desígnios políticos, ou seja, a desestabilização do governo popular do Partido dos Trabalhadores. (Victor Hugo do Carmo).
 
O QUE FAZER COM O PSICOPATA JOAQUIM BARBOSA

O Sansão de Toga do STF prestes a encarar sua Dalila. Poderia cortar a toga no Carnaval, o que seria bem apropriado para a farsa que chefiou no Supremo. Não terá coragem para tanto. Ao contrário, adiará até o último momento, 31 de março ou Primeiro de abril, datas também apropriadas, em especial a última. Pois aí ou se destogará ou será devidamente destogado.
O quê fazer contra um sujeito repugnante como este juiz ?

Desde que não cometa, até lá, algum ato golpista contra a democracia, deixa que este idiota psicopata fale as baboseiras que quiser, até o prazo limite que dispõe para decidir o que fazer da vida: relaxar de vez os poucos escrúpulos que porventura ainda tenha e virar candidato em algum partido de mentirinha, ou continuar enojando o Supremo, tornando-o sede de um partidinho de mentira.

E então, tomar as atitudes necessárias.

A se manter no STF, para tentar o golpe contra a democracia, colocá-lo sob suspeita e até levá-lo a impeachment, impedindo-o de atentar contra o processo eleitoral em curso, utilizando ditatorialmente o seu cargo (alguma dúvida quanto a isto ?).

Ou, uma vez que tente emporcalhar tal processo como candidato, com base na utilização vergonhosa e asquerosa que fez da Justiça como plataforma política, questionar no Supremo este jogo sujo, inclusive no que diz respeito ao abjeto privilégio de juízes e militares terem prazos menores para se filiarem a partidos políticos e se candidatarem, violando flagrantemente o princípio constitucional de que "todos são iguais perante a lei". Coisa que, aliás, deve ser feita de qualquer forma, já tendo em vista os diversos casos de "coleguinhas" que tentarão este salto triplo carpado.

 
Francisco de Assis