sábado, 26 de abril de 2014

Algo mais é um conto... Sá Clara


Este conto, ficção escrita sobre um fato real, embora seus personagens tenham sido criados pelo Autor, pretendeu revelar a ambiência da Vila do Capivara ao fim do século IXX e princípios do século XX com a importância da Igreja Católica e o incipiente jogo político então vigente.   A Vila naquele tempo vivia um período de reltiva prosperidade com a lavoura de café. 

                                        SÁ CLARA.   
               Quando o padre Cota morreu de velhice,  depois de mais de 50 anos na paróquia de São Francisco de Assis da Vila do Capivara, instalou-se na pequena povoação um clima de expectativa.  Quem viria substituir o velho sacerdote, se indagava.   Por algum tempo, para missa dos Domingos, vinha celebrar o pároco da vizinha Cachoeira  Alegre; para as demais celebrações, batismo, casamento e  bênçãos    ou eram adiadas ou dependia do prestígio pessoal do interessado para   convocar  um padre de fora.   As encomendações dos defuntos, mais das vezes, eram dispensadas e recitada, apenas, uma oração, puxada por algum membro da Liga Católica.  Tudo isto causava séria contrariedade  aos católicos que, praticamente, constituíam a quase  totalidade do povo da Vila.   
 O vigário era uma referência local assim como o Juiz de Direito.  Aliás, a Paróquia e a Comarca já iam completar cem anos e   cogitou-se até, através do prefeito, Seu Antonino, fazer uma reclamação ou melhor um pedido ao Bispado da Diocese em  Leopoldina para preencher a falta, ressaltando a necessidade de um pároco nas comemorações.     Passado mais de um ano do falecimento do padre Cota, aproximando-se o centenário,  correu notícia na Vila de que fora  nomeado um novo pároco.    Soube-se também que era um italiano e  que vinha de Cataguazes onde fora vigário de uma das paróquias daquela cidade.    Instalou-se um  alvoroço no meio das Beatas, das Filhas de Maria e principalmente das velhas da Irmandade do Coração de Jesus e dos homens da Liga Católica.
 Era preciso preparar  uma recepção condigna ao novo pároco; arrecadar fundos para  mandar limpar a Matriz, dar um jeito na casa e  no salão paroquiais  e, quem sabe,  adquirir paramentos novos, pois o padre Cota, já muito velho, se descuidara da renovação das vestimentas e das toalhas que cobriam os altares, sem contar a limpeza, que seria necessária, das imagens dos Santos, inclusive a do Padroeiro.       Soube-se afinal -- e a notícia chegou trazida  pelo sacristão Zé Caolha  que fora a Leopoldina – que  o novo pároco iria chegar  dentro de 30 dias.  Era preciso correr.  
A lembrança deixada pelo padre Cota na Vila era de um verdadeiro santo e venerável ancião que, além das atividades religiosas, funcionava como conselheiro familiar e político.  Quase nada se fazia ali sem que o velho padre fosse ouvido.    Isto aumentava a expectativa em torno do novo pároco.   O Prefeito, afinal, foi comunicado. 
Chegou carta do Bispo, informando o dia da chegada do novo  vigário.  Caia num Sábado e no Domingo  ele já  celebraria pela primeira vez a missa na Matriz.  O nome do novo vigário era  Giovani Benedictus  e, como já se propagara  na Vila, tratava-se de um italiano havia muito tempo radicado no Brasil.   De fato, o padre viera da Itália ainda adolescente e ingressara no Seminário de Mariana, estimulado pela religiosidade da mãe     A carta não esclarecia  qual  o transporte  que  o vigário se utilizaria para chegar.   Este pormenor atrapalhou um pouco o preparo da recepção pois não se  pôde  saber, previamente,  o exato local onde  posicionar  a  Lyra, a  banda de música  que ira tocar quando o novo pároco penetrasse na Vila.     A questão foi resolvida pelo maestro Zé Messias, músico negro muito respeitado por seus conhecimentos.  Dividir-se-iam: uma parte dos músicos iria para a estação de estrada de ferro e a outra  para entrada da estrada  de  Cataguazes.
 Embora, às pressas, tudo foi  ultimado a tempo.   Bem que as imagens dos Santos não foram lá tão bem limpas: tirou-se, apenas, a poeira quase secular que as cobria.       O dia aprazado chegou, afinal.  Desde cedo a Banda de Música dividida se postou nos  dois pontos  combinados.   As Irmandades com o seu pessoal devidamente vestido com suas opas, fitas e insígnias, juntamente com o prefeito, o Delegado de Polícia, vereadores e demais autoridades se colocaram ao pé da Ladeira que conduz à Matriz.  O restante do pessoal se acotovelava atrás do grupo principal.  Lá estavam o Leontino, negro  da cabeleira de algodão,  conhecido  andarilho, pois tinha o hábito de ir até a Capital e de lá voltar seguindo os trilhos da estrada  de ferro, o Januário, mulato  meio lunático, que a molecada perseguia aos gritos  pelas  ruas e o  Brazinho latoeiro com seu vasto bigode.      Era gente de todos os recantos inclusive vinda das fazendas e dos sítios distantes.   A Vila do Capivara parece que ali estava toda. Muitas pessoas assomavam das janelas da casas da Ladeira e da Rua do Dó.    Por ali o padre haveria de passar.  
O trem misto que vinha de Cataguazes tinha horário de chegada às nove horas da manhã.    Estava tudo pronto antes das nove.      O trem chegou com atraso de 20 minutos e logo que penetrou a plataforma da Estação  a  parte da Banda que ali estava, pelo sim ou pelo não, pôs-se  a  tocar um dobrado festivo.    Parado o comboio, desceram algumas  pessoas, inclusive uma mulher bem morena de meia idade com uma mocinha um pouco mais  clara, desconhecidas no local; pareciam mãe e filha.   Nada do Padre.      O maestro Messias que palpitara a chegada pelo trem, vendo-se frustrado,   convocou os músicos a se apressarem e se dirigiram para a estrada   a se juntar aos  outros que lá estavam. 
 Eram 11 horas, o sol quente  de fim de primavera iluminava a copa das árvores e os raios  desciam filtrados  até o chão  de terra batida, quando despontou  por trás da Prefeitura, onde desembocava a estrada na Vila,  uma  Baratinha  Ford preta, levantando o pó do caminho.   A Banda de Música, já  então completa e regida pelo maestro Messias, irrompeu  com o mesmo dobrado.   Era o padre Benedictus que chegava. O veículo vinha conduzido por um  mulato de cara comprida e dentes muito alvos que se mostravam num sorriso luminoso.  O sacerdote vinha ao lado. Teria no máximo uns quarenta  e cinco  anos.   Rosto típico de italiano da Calábria,  de   ângulos  retos, cabelos negros  meio caídos sobre a testa larga,  nariz afilado.  Elegante, metido numa Batina pretinha reluzente.     Viu-se que não esperava aquela recepção tão calorosa e se mostrou emocionado, esboçando um sorriso simpático.       O carro foi indo bem devagar pela rua,  a banda tocando  atrás.   Chegaram juntos ao pé da Ladeira e  ao ver os membros  das Irmandades e aquele povão,   cercando o caminho,  o padre  mandou parar o auto e desceu se dirigindo às Autoridades ali postadas, se apresentando.  Uma mocinha das Filhas de Maria adiantando-se  trouxe-lhe  um buquê  de flores silvestres  e,  tendo a Banda parado de tocar o dobrado,  os  presentes começaram a entoar  um hino religioso, o “Queremos Deus...” acompanhados pelos instrumentos da Lira.
Depois, discursou o Prefeito, Seu Antonino,  que expressou a satisfação do Povo da Vila do Capivara pela sua chegada  desejando-lhe  felicidades e  uma longa permanência.   Falou o Delegado sobre amenidades e a paz que ali reinava  e o representante  da Liga Católica da importância que representava a sua missão. O padre agradeceu a tudo muito comovido.     O cotejo se dissolveu aos poucos, o Prefeito subiu ao veículo junto com o pároco e se dirigiram  à Casa Paroquial, ao lado da Matriz, onde os esperavam o sacristão Zé Caolha que iria servir de guia  e  mostrar-lhe os próprios da paróquia de que ia tomar posse.             
                            A mulher morena que descera do trem e a mocinha que com ela vinha se encontraram na plataforma da estação com a Sá  Conceição, moradora do  Mato Dentro. Tomaram um velho auto, a frete, e se foram com suas malas  para o aquele lugar que abrigava, naquela época,  a gente  pobre  da Vila   e as  mulheres da chamada vida fácil.
                        As moças Filhas de Maria, acostumadas com a  velha figura do  padre Cota  sentiram até uma certa  alegria de ver aquele homem bonito e cheio de vida que acabava de chegar.  Às mulheres de meia-idade  e  às  mais velhas, da Irmandade do Coração de Jesus,  causou um certo desconforto;  lhes parecia que aquele moço não encarnava a figura respeitável de um pároco.    Aos homens, da Liga Católica,  a questão pareceu indiferente, pelo menos  naquela ocasião.   
                            Vida que segue. O Padre Benedito -- assim simplificaram logo o seu nome -- aos poucos foi tomando o seu lugar não só na paróquia como também na vida da Vila.       Era um homem envolvente.  Pregava bem e, embora com leve sotaque italiano, seus sermões eram apreciadíssimos.  Discorria sobre os evangelhos e fazia deles ilações bem humoradas e espirituosas.  Espírito aberto, era adepto  das idéias progressistas em voga naquela primeira metade do século XX, período marcado pela  industrialização do país e o surgimento organizado da classe operária,  e  do Partido Comunista.    O Padre fazia rodar na sua velha vitrola, que o acompanhava sempre, as operas italianas e cantava árias inteiras na sua agradável voz de tenor. Aos poucos foi introduzindo uma forma nova no trato dos paroquianos. Era gentil, comunicativo e se aproximava das pessoas  humildes.   Passou a promover reuniões beneficentes no salão paroquial, não só com os homens, mas também com as  mulheres, sobretudo , com as moças às  quais se mostrava sempre muito à vontade.  Apesar de tudo, a lembrança do falecido  padre Cota, permanecia forte, principalmente entre as Beatas, na Irmandade do Coração de Jesus e na velharia da Liga Católica. 
                             A maledicência do povo da Vila começou a aflorar. Ao Padre Benedito lhes parecia faltar aquela circunspecção a que estavam habituados no falecido padre Cota.   Para muitos as missas na  Matriz  se tornaram  festivas demais, pois o padre  arranjara de  as acompanhar até com músicas profanas.      A sua intimidade com as moças incomodava àquela gente preconceituosa.   A rapaziada foi atraída para Igreja, pois gostava do jeito moderno do pároco.             Grassou no lugar, porém, uma desconfiança quanto à fidelidade do padre aos   votos de castidade.   O pessoal da Liga Católica em sua maioria  fazendeiros e sitiantes  -- os mais hipócritas  -- se pôs a investigar secretamente a vida íntima  do padre.  Julgavam-no, além de mulherengo, propagador de idéias “estranhas”.   Um deles foi até a Cataguazes a  pesquisar  a vida pregressa do vigário.                   
           A mulher que desembarcara do trem  no mesmo dia da chegada do padre, chamava-se Sá Clara, a moça  era a Nilzinha.   Elas foram aos poucos se enturmando com o pessoal da  Vila que as olhava,  no entanto,  com uma  certa desconfiança. Custava admitir a sua presença constante nas reuniões do salão paroquial, coisa que o pessoal do Mato Dentro jamais se atrevera fazer.  Intrigava a todos, principalmente aos mais conservadores, terem elas chegado na Vila no mesmo dia que o padre Benedito desembarcou.    Para piorar o mal-estar, a mocinha aparecia sempre toda  pintada, de vestidinhos justos com decotes generosos,  mostrando seus belos seios; de saias curtas exibindo  as belas  pernas e coxas  bem  torneadas.   O Padre Benedito, por outro lado,  não conseguia esconder  seu carinho pela moça e a atenção que dispensava a Sá Clara.
                               A Nilzinha se pôs a namorar  o Juca Bem Bem,  freqüentador assíduo do rancho onde morava a moça.   Lá ia jogar a víspora com a  rapaziada boêmia.   O moço era casado e conhecido como o  galanteador das damas”.  A situação se complicou, pois o Juca era o tipo que os hipócritas daquela sociedade atrasada não toleravam.       O namoro parecia não agradar também ao padre.                 
                                De simples rumores, a ligação do pároco com a  Sá Clara e  a  Nilzinha  passou a ser encarada com desconfiança.     Alguém que se manteve  covardemente no anonimato  espalhou a notícia de que o pároco freqüentava o rancho da Sá Clara pelas madrugadas.   Teria sido visto de lá saindo. Apareceu logo depois  um panfleto de autoria também anônima,  colocado nos bancos da Matriz, antes da missa do Domingo, dizia entre outras coisas  que a moral religiosa da Vila estava em perigo.  Instava que o Prefeito deveria tomar as providências junto ao Bispado, embora não indicasse quais as medidas pretendidas.   Inferia-se, logicamente, que se cogitava do afastamento do vigário.
                     O padre Benedito continuava, no entanto, a captar a simpatia das moças e dos rapazes e de muito mais gente.  A igreja floria.  As reuniões se amiudavam e a  assistência  social se tornou efetiva.   A opinião sobre o pároco ficou  dividida.    A Liga Católica e a Irmandade do Coração, em sua maioria compostas de pessoas mais velhas, manifestavam uma indisfarçável  má vontade  com o  vigário, pois se julgavam os guardiãs  da moral da Vila.  A gente jovem cada vez gostava mais dele. A coisa foi-se agravando.  De problema restrito passou a fato importante no lugar. 
                O vigário parecia não tomar conhecimento  da situação; ia vivendo sua vida. Comprara um belo cavalo baio, encarregando o sacristão Zé Caolha de o tratar no pasto de São Francisco.    O animal reluzia o pêlo do bom trato e o padre fazia uma bela figura  nele montado, com arreios e selim revestidos com adornos  de prata. Abandonou até a baratinha na garagem.   Diga-se de passagem: se mostrava um tanto imprudente pois  era visto a cavalgar, de dia, pelas ruas do Mato Dentro.   Dizia-se que ia visitar os paroquianos mais pobres.
            Nem bem fizera um ano da posse do padre na paróquia e a sua situação já estava se tornando insustentável.  A divisão ficou bem nítida.  Os conservadores das Irmandades se mostravam inconformados com o comportamento do vigário.  Era, para eles, demasiado moderno e já não tinham dúvida de suas ligações com a Sá Clara e a Nilzinha, embora não apresentassem prova concreta.  As Beatas chegavam a ver na mocinha  a cara do vigário.   Avançavam nas suas suspeitas e já diziam à boca pequena que se tratavam de mulher e filha do padre.
                          Por mais que pretendesse fingir que não percebia a situação, o pároco  já tinha motivos para se  preocupar. 
                Como sempre soe acontecer nesses casos,  a relação entre as duas correntes, que  assumia um viés político, veio a  pender para a  radicalização.   Uma comitiva dos conservadores foi  ao Prefeito e ao presidente da Câmara;  pleiteava  daquelas autoridades interferir  junto ao  Bispo para afastar o padre Benedito da paróquia.   A corrente contrária, ao tomar conhecimento do ocorrido, se  organizou em comitiva e se dirigiu às mesmas autoridades  se manifestando  pela permanência do padre.
                               Os anticlericais cujo núcleo na Vila provinha da imigração italiana, inclusive com um pequeno número de anarquistas, se reuniam na barbearia do Ribeirinho, um judeu português muito considerado no lugar.   Seu estabelecimento ficava na Rua Direita  ali tomaram uma decisão contraditória: engrossaram,  por unanimidade,  a posição dos conservadores.     Configurou-se, então, aquilo que sempre  acontece:  os extremos se tocaram.   Esmeravam-se em explicar sua decisão, mas não convenciam.  Julgavam-se revolucionários e estavam apoiando a direita   hipócrita; não dava para entender.
                    Político é sempre político, mesmo naquele povoado perdido entre as montanhas onde o tempo escoava manso e vagaroso como o ribeirão capivara que banhava o vale.      Nem o presidente da Câmara nem o Prefeito deram declarado apoio a qualquer das correntes; ficaram encima do muro.   “Era preciso conversar. Tomar uma decisão democrática”.  Lembravam que a Vila ficara muito tempo sem vigário fato que  não podia se repetir.  Por sugestão de um dos vereadores, representante do Distrito de Cisneiros  foi combinada uma reunião  entre os legisladores, as duas partes e o Prefeito.   Haveriam de chegar a um ponto comum.    A reunião se daria daí a  alguns dias,  no próprio plenário da Câmara dos Vereadores na Praça  do Foro. 
Discussão acalorada e tentativa de acomodação dos políticos.    Foi do Prefeito o que parecia uma solução e, em princípio, as duas partes  se puseram de acordo.   Sugeriu o edil fazer uma  votação, mas  a consulta seria de modo indireto, ou seja, os votantes teriam que se manifestar  contra ou a favor da permanência da Sá  Clara e sua filha no Mato  Dentro e na Vila do Capivara.   Contra elas poder-se-ia alegar procedimento escandaloso  e exercício da caftinagem.  Uma forma de não envolver o padre e o bispado.   “Ora, afastadas as mulheres, desapareceria o motivo de tanta celeuma”  afirmou o Prefeito. 
 A solução conquanto violentasse a consciência de alguns presentes  foi,  aos poucos, admitida por ambas as correntes.  Não ficou bem claro, qual seria a fórmula a adotar para obrigar as mulheres a abandonar a Vila.   Outra dificuldade se apresentou: era preciso definir quem  teria o direito de votar.  Após mais algum debate chegou-se a um consenso:   votariam, além dos políticos , os membros das  Irmandades das Filhas de Maria, dos   Congregados Marianos, do Coração de Jesus e  da Liga Católica.   Foi lembrada a dificuldade de se reunir  tanta gente.  A solução foi logo encontrada, as duas partes indicariam, cada uma, cinco representantes e junto com os Vereadores e o Prefeito formariam o colégio votante.    Tudo acertado, exigiu-se de todos manter reserva sobre o acordo. 
A votação se daria, no Domingo seguinte.   O que,  também,  não ficou bem  claro é se , na hipótese de vencer a corrente pró vigário, isto  implicaria ou não no reconhecimento da sua ligação com a   Sá Clara e a Nilzinha.   Mais discussão. Venceu a hipocrisia reinante: neste caso admitir-se-iam  as mulheres integradas na vida  paroquial e seriam  esquecidas as ligações com o pároco.  Não se falaria mais no assunto.
                      O Padre Benedito continuava a se manter alheio.  Se sabia da trama, fingia que dela não ter conhecimento.   Era visto sempre rodeado dos jovens -- moças e moços-- os cabelos esvoaçantes caindo descuidados sobre  a testa larga.  Continuava a cavalgar pelos bairros da   Vila o seu ginete baio; a batina recolhida entre as pernas, a calça de zuarte exposta.   Ia ao Santo Antônio, à Rua do Sapo,    Rua de Baixo e ao Banco Verde. Visitava os Distritos, as Fazendas e Sítios. Conversava alegremente na porta das lojas da Rua Direita e no boteco do Benedito.  Não deixava de ir ao Mato Dentro onde, apenas, evitava de ir à noite.   Era uma simpatia só.     Inegavelmente tinha a preferência da maior parte das pessoas.     Isto, no entanto, não lhe bastava para o sucesso da votação secreta que iria definir, de certo modo,  o seu destino.  
 Em lâmina municipal se revelava ali o jogo duro da direita conservadora e a alegria festiva e  irresponsável da esquerda jovem.  Doía às moças e rapazes, designados a votar,  que pudesse o vigário ser  vítima de  uma traição.    Sobretudo não viam escândalo algum na relação do vigário com a Sá Clara e  muito menos com a Nilzinha que era muito simpática, muito  dada e se fizera integrar ao grupo deles.  Afinal nada se provara e se havia algo era muito escondido.
                       A Vila do Capivara, àquela época,   ostentava ainda uma certa prosperidade  advinda da cultura cafeeira.   A movimentação da colheita nas fazendas  o embarque do café nos trens da estrada de ferro produziam um intenso movimento de pessoas, embora sazonal,  inclusive de estranhas ao lugar, quebrando, às vezes, a tranqüilidade habitual.     O Mato Dentro era o local onde muita gente se reunia, então, as noites de diversão, com a sanfona tocando, a cachaça  rolando e as raparigas  livres esbanjando o seu charme, principalmente nas noites dos Sábados  para as dos Domingos.   Os fazendeiros hipócritas da Liga Católica se deitavam  com suas amantes, esquecidos da moral que pregavam lá fora.       Instalou-se ali também o assunto máximo da Vila, o destino do padre Benedito.   As “meninas” a serviço do amor manifestavam sua simpatia pelo padre.  A rapaziada freqüentadora era ligada ao pároco.       Os fazendeiros, hipocritamente, saiam de fino pela noite,  sem  defender a sua opinião.
                   O dia da eleição chegou.  Tudo foi feito para despistar os curiosos.  Os escolhidos se reuniram à noite, quando a Vila já adormecera.   Os votantes se trancaram no velho prédio da Câmara. Aos debates que se prolongaram até a madrugada seguiu-se a votação.  O dia primaveril vinha raiando quando a comissão apuradora  proclamou o resultado.   O Padre Benedito vencera.     A velharia não se conformou com o resultado; a rapaziada e as moças vibraram.    Foram levar ao padre o resultado na casa paroquial e daí partiram para o Mato Dentro que se engalanou em manhã festiva com a Sá Clara e a filha.    O Prefeito recusou a impugnação tentada pelas Irmandades.   “O que fora combinado tinha que ser respeitado”.
                        A direita conservadora da Vila, inconformada, começou a  maquinar um golpe contra a decisão democraticamente tomada e a qual se comprometera respeitar.   Os vencedores da votação inebriados pela vitória festejada sequer perceberam as sujas manobras dos adversários.     Um fazendeiro da ala mais reacionária, sem que fosse percebido, se foi para Leopoldina  queixar-se ao Bispo, forçando uma decisão episcopal.         Guardião da moral católica e de claras tendências conservadoras,  o Bispo  não foi difícil de ser  convencido pelo emissário.  Demais, as relações do padre com a cúria não era das melhores.    O Bispo decidiu remover o padre Benedictus da Vila do Capivara.      A decisão foi comunicada por meio de carta, ao estilo pastoral, ao  pároco com cópias ao Prefeito  e ao presidente da Câmara.   A moçada que ganhou,mas não levou, sabendo da infeliz notícia,    organizou passeata —com bandeiras vermelhas e cartazes com dizeres candentes – e  percorreu toda a Vila a protestar, mas nada adiantou. O Bispo era a autoridade maior nos assuntos eclesiásticos.    
                    Com profunda tristeza o padre Benedito se preparou para deixar a Vila.  Vendeu o seu belo cavalo baio: arrumou, com a ajuda do Zé Caolha,  seus pertences na Baratinha  e na manhã  seguinte daquela em que recebeu a ordem episcopal, tomou seu veículo para sair do lugar em direção a Cataguazes.   Antes quis dar uma volta pelas ruas para  despedir-se de seus amigos que  eram muitos.  Notou-se até uma certa tristeza nas pessoas que ficaram neutras na disputa  e reprovavam o golpe sujo dos conservadores.    Quando, por fim se dirigiu à estrada, as moças, os rapazes e o pessoal do Mato Dentro  seguiram a baratinha, aplaudindo o padre , até quando ela  se perdeu  na última curva, levantando o pó da estrada.    Muitos chegaram às lágrimas.  
                     O trem misto que ia para Cataguazes tinha horário de  partida da Vila  às  quatro horas da tarde.  Naquele dia partiu da Estação com 20 minutos de atraso. Pouca gente subiu ao comboio.   Duas mulheres pegaram o trem, com suas malas: uma   morena, de meia idade  e uma mocinha  que pareciam mãe e filha.
                         Passado pouco tempo notou-se  a ausência da Sá Clara e da Nilzinha, no Mato Dentro  e na Vila de São Francisco do Capivara.   
                           
                            V. Hugo – Outubro 2003.
 

 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

UM POEMA (é o algo mais).

               

 

Na oportunidade em que este blogueiro foi , mais uma vez, visitar sua cidadezinha encantadora, onde nasceu, voltou-lhe à mente esses versinhos feitos num dia de saudade e esquecidos em algum lugar.  Como sempre são versos sem quaificação literária, mas que brotaram num daqueles momentos ternos de lembrança da terra natal, a "minha Palma". 

 

 

A volta. 

Quando eu voltar pra minha terra

vou bater nas portas  dos  amigos
vamos juntos pra  Rua do Ouro  beber
na concha da  mão a água  da Fonte
do Cigano
 
Quando eu voltar pra minha terra
vou  correr pelos pastos verdes
atrás dos cavalos alados
espantar os passarinhos
voar  sem rumo contra o céu
de palha
 
vou subir furtivo a torre da Matriz
tocar nos sinos as matinas
ouvir os sons se espalhando no fundo
subindo  as paredes de safiras
do meu vale
 
vou viver, de novo,  do amor as  primícias
nas choças cobertas
de sapé
 
Quando eu voltar pra minha terra
vou arrancar do peito esta saudade
vinda do exílio a que me condenaram.
 
Ah!  quando eu voltar pra minha terra
tomara que não seja tarde demais.
 
VHC – fev.2005.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Defender a Petrobrás é preciso...


              O que se esconde atrás do discurso da oposição.

O neoliberalismo que levou os países da América do Sul, especialmente o Brasil, a Argentina e o Chile, à severa crise dos anos noventa, persiste como projeto das classes conservadoras, principalmente em nosso país.

Os  atuais movimentos políticos da oposição conservadora, embora revestidos de uma pretensa modernidade, se ligam aos princípios neoliberais centrados principalmente na desregulação geral da economia e a consequente ausência do Estado do jogo econômico e político (o Estado mínimo).

O governo de Fernando Henrique que sucedeu às primeiras medidas para a implantação neoliberal por  Collor de Melo,  mergulhou inteiramente no ideário neoliberal e não o fez sem declará-lo e com o ostensivo apoio da potência hegemônica, cujo "Consenso de Washington"  era a cartilha a seguir.

O   sociólogo Emir Sair vê  de maneira irrefutável o caráter do governo tucano ao analisar:

"Quando  disse que ia "virar a página do getulismo" na história do Brasil, FHC revelava a consciência clara de que os Estado regulador, protetor do mercado interno, indutor do crescimento econômico, que garantia os direitos sociais e promovia a soberania externa era um obstáculo frontal ao modelo neoliberal. Buscou desarticulá-lo, reduzindo-o ao Estado mínimo, a favor da centralidade do mercado. Desregulamentou a economia, abriu o mercado interno, promoveu a precarização das relações de trabalho, privatizou o patrimônio público a preços mínimos, submeteu a política externa às orientações dos Estados Unidos".

Continua o sociólogo:

"Depois da estabilidade monetária, o impulso ao  programa neoliberal terminou, após três crises, sempre com empréstimos e acordo de ajustes do FMI, a economia brasileira entrou em profunda e prolongada recessão da qual só  sairia no governo Lula. Fracassou o projeto que havia pregado que a estabilidade monetária, por si mesma, geraria modernização econômica e distribuição de renda.    O neoliberalismo no Brasil promoveu dois fenômenos centrais, ambos negativos, a financeirização da economia e a precarização das relações do trabalho".  ( Emir Sair : Construção da hegemonia pós-liberal).

A atualidade desta citação soa, como um verdadeiro alerta.  O mesmo Fernando Henrique Cardoso que jamais desertou de seu pensamento neoliberal e seus seguidores continuam a pregar a doutrina que, por sinal, além da crise em nosso país,  levou à recessão os países centrais do capitalismo que lutam para adotar outros caminhos.  

Até pela dificuldade natural de proclamar de modo claro o seu ideário os nossos neoliberais, principalmente os do ninho tucano, fazem ressurgir no período pré-eleitoral o denuncismo udenista e acenam com o moralismo centrado no combate à corrupção como pedra de toque para abrir caminho a um sucesso que, felizmente, se afigura duvidoso.

 Não lhes importa causar danos ao país, ao pregar um falso discurso de advento de crise econômica no país e  obscurecer a sua real  ação exitosa do Governo Petista no enfrentamento da crise geral do capitalismo, instalada desde 2008.

Os nossos retardatários neoliberais  se omitem na  análise da atuação  positiva do governo, quanto às relações de trabalho, a criação de empregos, os investimentos em infraestruturas, os programas socioeducativos, as garantias dos direitos sociais e a soberania do Brasil.

Esse ataque covarde desencadeado contra a  Petrobrás pela oposição se reveste de um certo cinismo, posto que esses neoliberais nunca negaram que pretendia e pretendem a alienação  da empresa em favor das  petrolíferas estrangeiras.  As suas juras atuais são falsas nelas não se devem acreditar, pois a alienação da Petrobrás faz parte essencial de seu ideário.

Sob o  pretexto de combater a suspeita de corrupção que atingiram funcionários e/ou dirigentes da empresa no passado - investigação promovida pela própria empresa e pela Polícia Federal - o que querem, verdadeiramente, é desprestigiar a Petrobrás, atingir o seu precioso patrimônio material e de credibilidade que não só reside em seu permanente e comprovado sucesso, como também no amor que o povo brasileiro lhe dedica como sua construção histórica.

Impõe alertar aos bem intencionados sobre essa perversa e impatriótica ação desencadeada pela Oposição com a sempre suspeita participação da mídia conservadora.

Defender a Petrobrás é preciso!

______________________________VHCarmo.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sobre a entrevista do ex -Presidente Lula..

 A longa e preciosa entrevista de Lula.

Na longa entrevista – como sempre notável – dada pelo ex-presidente Lula  aos chamados “blogueiros sujos”, ontem dia 8.04, se pôde aquilatar o quanto este homem está ligado aos interesses maiores do nosso país e particularmente aos do seu povo mais necessitado.

Com efeito, o foco principal da entrevista é o Brasil e o seu povo.  O entrevistado conhece como ninguém esse país e os meandros da política e da “politicagem” aqui e alhures.  

Por outro lado, é de se exaltar, o respeito que manifesta, e que de fato pratica, para com seus aliados e até com seus adversários políticos.   O ex-presidente não desfila opiniões de cunho pessoal sobre estes últimos, a não ser quando responde àqueles que nominalmente o citam ou o atacam pessoalmente. 

Embora não mereça sempre de seus adversários o mesmo tratamento preocupa-se em analisar a suas opiniões e até, em certos casos, concordar com algumas delas ou, discordando, toma-las por base do desenvolvimento de sua argumentação contrária.  Jamais foge do enfrentamento e à discussão.

A quantidade de dados que Lula sustentou na sua argumentação é simplesmente notável e relevante, pois apoiada em fontes declaradas, confrontadas e indiscutíveis.

A repercussão de suas declarações ensejaram ao observador, até àqueles não muito atentos, um fenômeno que se constitui como o vício, dos mais reprováveis, da nossa mídia, ou seja, faltar com a verdade dos fatos ou  esconde-la.   A gente cita um exemplo: os jornais nesta manhã lançam a idéia que Lula teria afirmado que seria ele o candidato do PT. à presidência e já manifestara na entrevista que discordava do governo Dilma.   É ver as manchetes e o uso maroto de entrelinhas e destaques separados do texto.

Pois bem, para quem assistiu a entrevista não restou dúvida que o  ex-presidente não será candidato.  E por que ?    Ora, iniciada a entrevista e antes de permitir quaisquer perguntas dos blogueiros ele se adiantou e afirmou: “não serei candidatado”.   Ainda mais, ele pediu aos presentes que o ajudassem a frear a expansão daquilo que chamou de “boato” e que, ao seu juízo, visava a incompatibiliza-lo com a Presidenta Dilma.    Repita-se: é ver as manchetes dos três jornalões deste dia 9/04/2014.

Este escriba não pretende analisar a longa entrevista de mais de três horas, que se encontra integralmente na Internet, no Blog   “Conversa afiada” do  jornalista Paulo Henrique Amorim,  mas importa chamar a atenção  para o que Lula, em resumo, falou sobre a economia do país  em face da veiculação do  discurso pessimista da mídia,  ajudada até por suspeitos analistas financeiros  internacionais e ele estabeleceu – com singela simplicidade – comparações  inafastaveis.
Lançou as perguntas que se impõem; indagou: falar-se em crise  econômica  no Brasil quando se tem mais 380 bilhões de dólares de reservas no Tesouro; uma das mais baixas dívidas internas do mundo (não dolarizada); quando se tem uma taxa de desemprego em torno de 4,5%, tida como de pleno emprego, tudo em confronto com o resto da economia mundial mergulhada em crise  e com mais de 60 milhões de trabalhadores desempregados?   Indagou mais: falar-se em crise quando o nosso PIB em 2013 somente foi superado pelo da China ?.

Não se vai repetir mais dados proferidos pelo ex-presidente, mas ressalta mencionar a questão das “profecias” suspeitas do FMI exibidas hoje nos jornais, anunciando com igual pessimismo o rumo de nossa economia, prevendo, sem mais aquela,  a baixa do PIB do ano em curso, cujo primeiro trimestre aponta melhora em quase todos os índices?  O FMI faz a felicidade da mídia conservadora e satisfaz as oposições carentes de discursos e, sempre, a ajuda a exercer a  “urubulogia”  eleitoreira.    O Fundo Monetário sempre foi para o Brasil uma espécie de inimigo cordial que controlava no passado os passos do governo liberal do FHC.

Quando o ex-Presidente Lula fala as bases da oposição e da mídia tremem.

 VHCarmo.


sábado, 5 de abril de 2014

Uma reflexão necessária...


Reflexão necessária. 

Aqui mesmo  já se comentou aquilo que pareceu a este modesto blogueiro uma desfaçatez do candidato à Presidência, Aécio Neves, e de seus seguidores.

O motivo foi o ocorrido na sua Reunião com alguns empresários poderosos e  antigos gestores econômicos e políticos neoliberais, realizada há poucos dias.

A presença do ex-presidente Fernando Henrique, um expoente confessado da doutrina neoliberal, selou o pensamento ali exposto com uma espantosa sinceridade, uma vez que sustentaram uma pretensão nitidamente antipopular como expressamente exposta pelo candidato.

Em suas palavras aspeadas  no noticiário o candidato se propõe a tomar medidas "IMPOPULARES", mesmo que isto lhe represente a impossibilidade de uma reeleição,  na hipótese de que vier a ser eleito.

Impõe analisar o que representa para o nosso país, no estágio em que se encontra, a adoção de tais medidas de caráter nitidamente neoliberais  que impõem ser devidamente esclarecidas   posto que genericamente sustentadas pelo candidato. 

 O quê e quais seriam as tais medidas "impopulares"?.

Inicialmente não se pode descartar  o que está incluído na sua própria expressão vocabular, ou seja, o que é impopular é   basicamente contra o interesse do povo, no mínimo ensejando seu prejuízo, ou seja, medidas que lhe subtrairiam direitos e vantagens  comparativas de que gozam no presente estágio da política econômica. O candidato não é suficientemente claro relativamente a  quais seriam os possíveis resultados positivos das medidas para o povo atingido.

Da posição em que se coloca e que se evidencia pela presença na propalada Reunião de próceres da classe dominante, fica claro que  Aécio nãolhes propõe medidas prejudiciais a seus interesses, mas, pelo contrário, a garantia deles com o benefício das tais medidas "impopulares" prometidas.

Quais seriam as medidas "impopulares" a serem adotadas?  Como se disse: ele não as discriminou, mas ficaram entendidas pela seleta plateia de ex-ministros do governo Fernando Henrique, banqueiros e empresários, especialmente aqueles ligados ao mundo financeiro ser algo que lhes proporcionarão vantagens,  em detrimento do interesse "popular".    Não há como entender de modo diverso o discurso do candidato.

Na ação "antipopular", contida na promessa de Aécio, o alvo,  omitido explicitamente, seria os chamados "gastos sociais" e a expansão do consumo das classes mais pobres do povo (popular),  aliás este último fator vem sendo proclamado por seus pares como sendo provocador de crise; crise  até aqui  não identificável. 

O cerne da doutrina neoliberal sustentada pelo candidato é  a liberação da regulação da economia pelo Estado, em favor das atividades financeiras e  da especulação bem como, e concomitantemente, a contenção dos  gastos com programas sociais e a valorização dos salários inclusive do salário mínimo. Admite-se até, com a adoção dessas medidas, promover  uma taxa maior de desemprego em prol do desenvolvimento; o que é uma contradição em termos.

É claro que o discurso do neto de Tancredo  Neves foi  bem entendido pela seleta plateia presente.   O que é intrigante, no entanto, é que a grande mídia conservadora não só veicula esse discurso como procura envolver-lhe em uma capa progressista atribuindo-lhe uma via de progresso econômico.

No Brasil, país emergente, ainda se permite a proposição como esta sustentada por Aécio Neves que vêm em claro descompasso com a realidade revelada pela crise do neoliberalismo que atingiu de modo cruel as populações mais pobres dos países centrais da economia capitalista, já considerada a sua segunda e maior crise.

Pois bem, aqui um candidato à presidência parece desconhecer a história recente e a apresenta como seu grande promotor ninguém mais, nem menos,  do que Fernando Henrique Cardoso um dos  cultores mais impertinentes das teorias liberais que implementou no seu governo e que levou o país, sob o jugo do FMI, quebrar três vezes e aumentar de forma alarmante a pobreza de seu povo.

A pregação da oposição e de seu candidato, como se vê,  vem centrada na tese do chamado Estado mínimo, ou seja, na adoção de    medidas de liberação  de modo que "a administração pública tenha então por missão não mais servir o conjunto da sociedade, mas fornecer bens e serviços a interesses setoriais e a clientes-consumidores, ao risco de agravar as desigualdades entre os cidadãos e entre as regiões do país" (palvras de Ali Kazancigl , diretor da Divisão de Ciências Sociais da Unesco que aqui são apropriadas).

Finalmente, questiona-se até que ponto os participantes da Reunião pretendem influenciar, ou enganar, o grande público?

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VHCarmo.

 

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

FHC, Aécio e suas proposições reacionárias ...

 

O que admira é a desfaçatez dessa gente.  O que dizem e o que pregam é simplesmente o retorno de tudo aquilo que infelicitou o país e o empobreceu no seu governo neoliberal. Manifestam sua indignação contra o “consumo”, mas não é contra o consumo de sua classe e dos ricos que presuntivamente os apóiam.  Não, segundo eles o fato de os pobres estarem consumindo é causa do atraso do país, aliás um atraso  que só eles vislumbram e promovem em seus discursos.

 Por outro lado parecem acreditar que o povo se ilude com esse discurso de pessimismo terrificante também usado pelos colunistas chamados de “urubólogos” dos jornalões e revistas.   

 

Parecem – e aparecem nas fotos -  navegar num sonho ruim; com Armínio Fraga e com a figura ridícula de seu mestre FHC que fez o Brasil vender a sua soberania ao FMI e tem a “cara de pau” em pregar “mudanças”.

 

Essa é “entourage” do néscio Aécio, no dizer do velho  Cesar Maia, não vai às Favelas e onde tem povo e voto, prefere ameaçar os pobres com “medidas impopulares”.  

 

O Tijolaço publicou os textos abaixo transcritos aqui neste bloguinho que vale a pena ler.

 

Olhem só:

 

O “novo” Aécio é a volta do Brasil de sempre. O da senzala social. 2 de abril de 2014 | 09:21 Autor: Fernando Brito      ilhafiscal

A “coluna social” de Monica Bérgamo, na Ilustrada da Folha de hoje é um retrato sem retoques do que representa Aécio Neves.
Representa Fernando Henrique Cardoso, nada mais, nada menos.
Leia.
É uma visão dantesca do Brasil que, tomara, tenha ficado sempre para trás.
O Brasil governado para o capital.
Não para o povo.
Não para “os que votam como o estômago”, como diz o banqueiro André Esteves.
Esta gente que tem o estranho desejo de comer todo dia, desatenta ao fato de que sempre foi preciso que passasse fome para que os salões do nosso capitalismo brilhassem.
“Esgotou (-se) a capacidade de crescer pelo consumo (da população).”
É como se dissessem: “chega, você já tiveram o que merecem, acabou o recreio, voltem para a senzala social”.
Sonham com a “reconquista” do Brasil, porque não querem o povo brasileiro como parceiro de seu sucesso, mas como uma massa de servos de seus empreendimentos.
Uma elite que não se emenda, que nem mesmo tendo visto do que este país é capaz quando é um só, não aceita os pobres, os negros, os mestiços, o povão senão ali, nas caras telas de Di Cavalcanti penduradas na parede da mansão.
Eles são lindos assim: imóveis, passivos, decorativos.
“Estou preparado para as decisões necessárias, por mais que sejam impopulares”, garante Neves, e um empresário traduz: aumentar as tarifas públicas.
Não o dirá aos que votam com o estômago, mas que importa? Pois se podem ser deixados sem comer, o que é deixá-los sem saber? Eles não estão aqui, senão nos servindo canapés e não entendem o que se diz.
Não vão saber, como não saberão que será vendido o que sobrou do período Fernando Henrique e o petróleo que depois dele se encontrou.
Os negros, os mulatos, os pobres dos quadros de Di Cavalcanti tudo ouvem, porém, nas paredes da mansão.
Fugiriam das telas, se pudessem, para dizer aos seus iguais, de carne e osso o que dizem os “sinhôs”.
Não podem, mas nós podemos.
O que se vai enfrentar nas eleições não é uma decisão sobre o futuro.
É um fantasma do passado.

Aécio: estou preparado para decisões impopulares

Mônica Bergamo
No pequeno púlpito montado na sala de jantar de sua casa, tendo como fundo uma parede com quadros de Di Cavalcanti, João Doria Jr. chama Aécio Neves para falar à seleta plateia de empresários que foram ao encontro com o presidenciável tucano. “Um jovem amigo. Um dos mais valorosos nomes da política brasileira. Ele é o novo!”
Os convidados, que já tinham aplaudido os governadores Geraldo Alckmin, de SP, e Antonio Anastasia, de Minas, voltam a bater palmas.
Mas é quando Fernando Henrique Cardoso é anunciado que o público realmente se empolga.
Empresários como José Luiz Cutrale, maior produtor de suco de laranja do mundo, André Esteves, do BTG Pactual, Guilherme Leal, da Natura, e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, se levantam para aplaudir aquele que, segundo Doria, é um “exemplo de homem público”, “de ser humano”, “de brasilidade”, “de estadista”. E o grande fiador da candidatura de Aécio.
Antes de ceder o microfone, Doria fala dos 50 anos do golpe militar. “Viva a democracia!”, afirma. E todos, em uníssono: “Viva!”.
FHC se diz “sem palavras”. E inicia um breve discurso de apresentação de Aécio.
Lembrando seu próprio governo, acena com a possibilidade de reformas numa eventual gestão do tucano mineiro. “O reformador só é aplaudido depois de muito tempo.” O Brasil precisa de um novo rumo, segundo ele. “E não dá para mudar com as mesmas pessoas. O cachimbo deixa a boca torta.”
Antes de falar, Aécio chama Armínio Fraga, presidente do Banco Central no governo FHC, para ficar ao seu lado, sinalizando que ele terá papel primordial na condução da economia em seu eventual governo. “Ninguém tem o time que nós temos”, diz o mineiro. “Vou anunciar aos poucos quem estará comigo. Esse time dará confiança ao mercado.”
Aécio segue: “Eu conversava com o Armínio e ele me perguntou: Mas é para [num eventual governo] fazer tudo o que precisa ser feito? No primeiro ano?’. E eu disse: Se der, no primeiro dia’”.
“Eu estou preparado para tomar as decisões necessárias”, diz. “Por mais que elas sejam impopulares.” Num outro momento, repete: “Se o preço [das medidas] for ficar quatro anos com [índices de] impopularidade, pagarei esse preço. Que venha outro [presidente] depois de mim”. Sua ambição, diz, não é ser querido. E sim “fazer o maior governo da história do país”.
O tucano não detalhou que medidas seriam essas. Um dos empresários disse à Folha: “Ele está querendo dizer que vai reajustar tarifas. Não dá mais para empurrar com a barriga, como o governo [Dilma Rousseff] está fazendo, por populismo”.
Começam as perguntas. O banqueiro André Esteves diz que o país vive numa “armadilha do baixo crescimento”, em que se “esgotou a capacidade de crescer pelo consumo”. “Temos que investir” e, para isso, o governo tem que despertar “a confiança”.
Horacio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp, pergunta como o presidenciável fará sua mensagem chegar “aos que votam com o estômago”, referindo-se aos beneficiários de programas sociais do governo. Jorge Gerdau pede que ele se comprometa a não aumentar a carga tributária.
Depois de responder a todas as perguntas, Aécio Neves se despede com uma brincadeira: “Se tudo der errado, eu tenho um craque para entrar em campo”. Ele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
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