sexta-feira, 11 de maio de 2012

UM MOMENTO DE POESIA (é algo mais).


O poeta  João Cabral de Melo Neto  se inclui entre aqueles que na poesia pátria se notabilizou pelo esmero do verso, pela mistura delicada entre a busca  estética que embeleza, no cânone brasileiro,  e a realidade do tempo e da natureza.   O poema que aí vai transita entre a perfeição formal e a narrativa poética do existir e do tempo.
Olhem só:
TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto.

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisa sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe outro grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã),  que plana livre de armação.
A manhã, toldo de  um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
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 VHCARMO.

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