O
poeta João Cabral de Melo Neto se inclui entre aqueles que na poesia pátria
se notabilizou pelo esmero do verso, pela mistura delicada entre a busca estética que embeleza, no cânone brasileiro, e a realidade do tempo e da natureza. O poema que aí vai transita entre a
perfeição formal e a narrativa poética do existir e do tempo.
Olhem
só:
TECENDO
A MANHÃ
João
Cabral de Melo Neto.
Um
galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisa
sempre de outros galos.
De um que apanhe
esse grito que ele
e o lance a
outro; de um outro galo
que apanhe outro
grito que um galo antes
e o lance a
outro; e de outros galos
que com muitos
outros galos se cruzem
os fios de sol
de seus gritos de galo,
para que a
manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo,
entre todos os galos.
2.
E se encorpando
em tela, entre todos,
se erguendo
tenda, onde entrem todos,
se entretendo
para todos, no toldo
(a manhã), que plana livre de armação.
A manhã, toldo
de um tecido tão aéreo
que, tecido, se
eleva por si: luz balão.
____________________________________________________________
VHCARMO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário