quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ainda o dilema da oposição ...

                                   O período pós-eleição, que ora vivemos, suscita indagações e perplexidades. Não há uma discordância importante entre os que estudam, sem partidarismos, a nossa política de que o país vive uma carência de discursos oposicionistas baseados em uma posição ideológica conservadora respeitável.
                                    O fim da era do neoliberalismo que foi soterrado por sua falência, principalmente nos paises centrais do capitalismo com reflexos em todo o mundo pela crise corrente, fez esgotar as posições ideológicas caras à direita nos paises emergentes  e especialmente aqui no Brasil.
                                     Uma via alternativa à ocupação da centro/esquerda no comando do nosso país pelo PT e partidos aliados, não foi tornada viável pela oposição, certamente por falta de uma matriz histórica do pensamento conservador que, à época do neoliberalismo dominante, se deixou soterrar pela influência externa, extrapolando seu discurso em defesa de uma posição subalterna do Brasil, em relação às potências hegemônicas do capitalismo, promotoras daquela ciranda financeira cuja bolha estourou.
                                   Ao ter que confrontar nas últimas eleições o quadro existente na política do governo Lula que promoveu outro ideário, ou seja, a gradativa desvinculação da dependência externa estrita, a promoção da distribuição de renda, a primazia do consumo interno e o investimento na infraestrtura como motores do crescimento econômico, a oposição teve nítidas dificuldades para se e posicionar eleitoralmente.
                                  Além, do patrocínio da mídia que se esforçou, ao exagero, na promoção do candidato da oposição com os seus chamados “factóides” e escândalos fabricados, a permanência ideológica e econômica dos setores da agroindústria pressionados pelas reivindicações da democratização da terra, (a reforma agrária), restou à oposição o concurso de alguns setores da classe média e o seu candidato foi ao segundo turno na carona da candidatura Marina, até hoje nem bem explicada e de quase nenhum ganho institucional e partidário.
                                   A questão que desafia a oposição, frustrado o seu apelo à mídia e aos discursos moralista, racista e com veso separtista e religioso, é constituir um núcleo coerente para tentar veicular um discurso e prática  consentâneos com o momento político e social que o país atravessa, sob o risco de permanecer à margem do processo.
                                   De lembrar que o PSDB, partido hegemônico da direita neoconservadora, não teve sequer condições de fazer uma prévia eleitoral, por falta de arregimentação de filiados e, no último momento, teve que arranjar às pressas um inexpressivo candidato a vice na chapa presidencial de 2010.
                                Se considerada a votação geral na última eleição, o partido mais importante da esquerda, o PT, foi o grande vencedor do pleito acumulando a maior votação geral, elegeu mais deputados federais, estaduais e senadores, cinco governadores com os 10 que concorreu, além da Presidente. Fato relevante, também, é que, em São Paulo, reduto do serrismo, no segundo turno das eleições, a candidata do governo acresceu mais de um milhão e setecentos mil votos.
                                 Tudo isto, afinal, impõe uma reflexão, como dito acima, pois o país tem carências sérias no funcionamento do sistema eleitoral que propiciam um desvirtuamento dos ideais republicanos e democráticos; de justiça distributiva reclamando uma reforma tributária e, afinal, da remoção dos vários gargalos que obstruem o nosso desenvolvimento econômico e social.
                                       Para tanto é essencial o funcionamento das instituições democráticas e a existência de uma oposição comprometida com o país,desvinculada dos métodos condenáveis tais como os admitidos na última eleição com o concurso da mídia golpista. É uma questão de sua sobrevivência e uma forma de aplainar os caminhos do desenvolvimento do país.

                                      A propósito e por oportuno, este escriba transcreve abaixo as observações do ilustre jornalista e sociólogo Marcos Coimbra, expendidas no texto sob o título
                                                   
                                                      Dilemas tucanos.

                                       Neste início de ano, o PT e os partidos da base aliada estão mudando, procurando ajustar-se à realidade do governo Dilma. O modo como funcionaram nos últimos anos e se relacionaram com o Planalto não se coaduna com os novos tempos. O descompasso mais visível acontece com o PMDB.
                           Na oposição e, especialmente, no PSDB, a necessidade de transformações é ainda maior. Nada mais natural, após a terceira derrota consecutiva para Lula e o lulismo. Se o governismo, bem-sucedido nas urnas, é obrigado a se renovar, o que dizer das oposições?
                          O principal partido oposicionista tem que contrariar aquilo a que nos acostumamos a ver como sua natureza mais profunda. Depois de ter ficado famoso por sua dificuldade de tomar decisões, por sua incapacidade de sair “de cima do muro”, ele agora tem que explicitar suas diferenças e contradições.
                             Sem vida partidária real (como ficou claro em 2009, quando não conseguiu fazer prévias entre seus filiados por sequer saber quantos são), tudo no PSDB se resolvia “en petit comité”. Na sua história, ficaram famosas algumas cenas, como a escolha do candidato presidencial em 2006, decidida na mesa de jantar de um luxuoso restaurante em São Paulo, presentes quatro pessoas.
                            Hoje, a tendência quase atávica que os tucanos têm de evitar o dissenso não se sustenta mais. Seu medo do confronto interno terá que ser superado, pois não enfrentá-lo é o caminho certo para um novo fracasso em 2014.
                            O fulcro do problema é o serrismo, o pequeno, mas loquaz grupo de seguidores do ex-governador José Serra. Como tem um espaço desproporcional na chamada “grande imprensa” e conta com a simpatia de jornalistas nos principais veículos, acaba parecendo maior do que é. Os serristas são poucos, mas fazem barulho.
                               Apesar de seu pífio desempenho na eleição (pois foi pior que Alckmin no primeiro turno e só chegou ao segundo pegando carona em Marina), Serra quer ser a liderança maior e o candidato natural do PSDB à sucessão de Dilma. Acha que pode repetir a trajetória de Lula: de tanto tentar, acabar chegando à Presidência.
                                Sonhar é um direito de todos, mas não faz sentido querer que o conjunto da oposição se submeta a projetos pessoais, com chances de sucesso remotas (para dizer o mínimo). As figuras lúcidas do partido percebem que a carreira política do ex-governador acabou.
                                  A esse núcleo serrista se agregam outras correntes tucanas igualmente presas ao passado, nenhuma capaz de representar uma opção nova para o Brasil. Seu expoente mais ilustre é Fernando Henrique, que, quando fala da presidenta, insiste em um discurso de rejeição invejosa que perdeu a graça e a inteligência.
                                  Quem não é serrista no PSDB não tem escolha: ou se submete ou assume publicamente sua discordância. Em outras palavras, contraria o típico peessedebismo de deixar as coisas andar para ver como ficam.
                                   No fundo, isso é bom para o PSDB, ao obrigá-lo a se manifestar sobre o que pretende. Melhor a discordância exposta ao sol que o consenso falso. A briga de uns contra os outros sempre existiu em surdina.
                                   Esta semana, um episodio até cômico ilustra os dilemas tucanos. É pequeno, mas revelador.                                  O PSDB tem, agora no início de fevereiro, seu tempo de propaganda partidária do semestre. É uma janela sempre importante e, agora, ainda mais, por ser a primeira oportunidade de reencontro do partido com a grande maioria da população, somente atingível pela televisão.
                                O natural seria aproveitá-la para aquilo que os marqueteiros chamam reposicionamento. Seria uma boa hora para mostrar-se com a identidade que o partido adotará nos próximos quatro anos.    Pois bem, pela insistência do serrismo em protagonizar o programa, o resultado é que ninguém o estrelará. Nem Serra, nem Aécio aparecerão, e só seu presidente e FHC poderão ser vistos. Ou seja, a cara do PSDB continuará a ser a de sempre.
                                   Até quando o PSDB estacionará em impasses desse tipo? Quando é que a maioria vai mostrar à minoria que seu tempo passou?
(Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi)
 
VHCarmo.


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Onde foi parar meu afilhado? (conto).

                                                   A gente da rua.
                                                       -E o meu afilhado ?

                                O Comprido estava sempre lá. O meu afilhado já não aparecia fazia tempo. A mulher, que o Roberto apontava sempre como sua companheira, às vezes aparecia, paílda e esquálida.                     Eu relutava em perguntar-lhes. Intimidade com mendigo é um negócio difícil.  Não por eles; por nós mesmos. Eles que me dissessem o que havia com o Roberto  quem, afinal, assumira comigo uma certa simpatia recíproca, nomeando-me seu padrinho. Todos ali sabiam.   
                                A mulherzinha mulata, olho de coruja, que faz intermináveis abdominais e parece ter coluna de seda, estava lá, também,  todo o dia ao cair da tarde, sempre no mesmo lugar, sentada sobre a grade do buraco do Metrô.       Já lhes contei que, estranhamente, ela ora pede, ora  recusa esmola. Só não deixa de me olhar com aqueles olhos  puxado pros lados e embaçados. Ela também não me disse nada.
                                              Criei, em mim,  uma espécie de ansiedade que me tornava   imperativo perguntar pelo meu afilhado, mas me faltava coragem.
                                          A última vez que eu o vira ele  estava semimorto, ferido no sobrolho; a boca dilacerada, espumando de cachaça. Não teve ânimo sequer de esboçar o habitual sorriso triste. A catinga emanada do seu corpo escuro tornara-se mais insuportável, como se isto fosse possível.
                                               - “V. está bem ?  Perguntei-lhe então.
                                      -"Que nada, meu padrinho, tô fudido. Levei um tombo, foi a cachaça que me empurrou. Fiquei uns dez dias internado no hospital do Campo de Santana". Ainda tentou sorrir...
                                           - "E aí, tá melhor agora, cara?
                                            “ Sei lá, padrinho; já não tenho forças pra pedir esmola, nem apetite pra comer”.
                             "-Te cuida Roberto!"; falei e desci rápido  as escadarias do Metrô como para me livrar de  um triste pressentimento.    
                                Afinal, num dia desses eu  criei coragem. O Comprido estendia a mão à beira da calçada, junto da estátua do centenário da Independência. O cheiro de mijo, subia-lhe pelo corpo magro e penetrava pelo meu nariz inflado, mesmo assim persisti. Saquei uma moeda e, enquanto a colocava na mão dele, fiz a pergunta  que havia  tanto tempo estava engasgada:
                                        -“E o Roberto, Comprido?.
                                          "O seu afilhado?
                                         - “É.. é.
                                    “Ele tava bebão e tomou um tombo na rua, ali perto da Biblioteca; bateu com a cabeça no meio-fio e morreu, dois dias depois, no Souza Aguiar. Foi recolhido e jogado na vala comum no emitério do Caju; este é o destino da gente que vive nas ruas”. O Comprido falava e ria, sem a menor compulsão.
                                       “Já até fui  até lá botar uma vela no meio das outras na intenção dele”.
                                       A morte do companheiro do lupem e da  miséria parecia ser, para ele, coisa corriqueira; teanto que não lhe vi nos olhos, nem na cara macerada qualquer sinal de emoção.  Virou-se:
                                     - “É meu companheiro, seu afilhado se foi!”.
                                       Eu que sou, confesso, movido por emoção e não resisto às lágriamas,  não pude me conter e o Comprido notou. Virou-se pra mim:
                                         -“Meu amigo, não chore por ele, pode atrapalhar a subida da sua alma pro céu”. E tornou a rir seu riso sem dentes.
                                                 VHCarmo - (outubro de 2007).

                           Este pequeno conto ( texto ficcional) complementa um anterior com o título "Meu afilhado", do meu livro de contos "Complexo do Alemão & outros contos".
 25.01.2011.
VHCarmo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O super poder do STF e o desequilíbrio dos poderes da Rupública.

                             A gente já abordou aqui este tema, mas é bom voltar a ele: é a judicialização da política e o desequilíbrio institucional que provoca entre os poderes da República. Os Tribunais superiores e, particularmente, o Supremo Tribunal Federal, têm assumido um papel que não lhes é atribuído pela Constituição Federal.
                              O poder mais afetado pelas seguidas intromissões do STF é o poder legislativo. Como é de comum sabença, o Supremo está adstrito, e quando suscitado, a se pronunciar sobre a constitucionalidade de determinada lei, de sua interpretação e de outras questões, sempre na moldura rígida da Constituição Federal.
                            O que está ocorrendo, no entanto,  é uma nítida usurpação dos poder legislativo e mesmo da sua livre representação popular (Câmara) e dos Estados Federados (Senado). Chega-se ao absurdo de pautar-se pelo prévio pronunciamento dos onze homens do STF sobre a competência legislativa e sobre os caminhamos para a interpretação de artigos constitucionais pendentes de regulamentação cuja competência é exclusiva do legislativo processar.
                               Chegou-se, perigosamente do ponto de vista institucional, a seguidos e já usuais pronunciamentos individuais e antecipados de Ministros sobre determinadas questões políticas e fáticas que teriam posteriormente que ser decididas no plenário do Tribunal, sem que tais pronunciamentos não tenham implicado em suspeição do Ministro que antecipou seu voto e  influenciado numa decisão antecipada ou, até, na inviabilização do julgamento no pleno do STF., inibido pelo pronunciamento prévio.
                              Por outro lado, o Supremo tem admitido julgar fora dos princípios constitucionais, a pretexto de regulá-los, como afirmado, tentando, também, pautar as iniciativas do poder executivo na proposição de projetos de lei,  pronunciando-se, sem ser suscitado, ao arrepio das normas constitucionais
                            O caso Battisti é emblemático. Exercendo prerrogativa exclusiva do poder executivo e tomada, no caso, pelo Ministro da Justiça, Tarso Genro, foi-lhe concedido ao italiano status de refugiado. Em seguida o STF, em julgamento de duvidosa constitucionalidade, anula o refúgio e decide que a palavra final é do Presidente da República, decisão com respaldo de norma constitucional. Foi, sem dúvida, a confirmação da soberania do país que concede o refúgio; aparentemente não havia mais nada a discutir. O Presidente exerceu o seu múnus e concedeu a permanência em consonância com o decidido.
                             Aí se iniciou a inversão de poderes: o presidente do STF , César Peluso, decidiu e determinou que o italiano continue preso, sem invocar qualquer permissivo constitucional e numa atitude totalmente discricionária e sem base legal. O magistrado mandou, pasmem!, desarquivar o processo e, mais uma vez numa inadmissível inversão da norma, avoca ao Supremo o poder, para em nova Sessão a ser realizada após o recesso, novamente deliberar sobre a sua decisão tomada anteriormente, que dera a última e exclusiva palavra ao Presidente sobre o refúgio.
                              O que a gente discute aqui é o procedimento legislativo e constitucional e não o mérito consistente na culpa, ou não, do italiano nos fatos que motivaram a sua condenação na Itália e sua fuga. Isto é outra coisa.
                             Vejamos, em resumo, como fica a soberania do país. Após usar sua prerrogativa de determinar ou negar o refúgio, o Presidente poderá ser, eventualmente, desautorizado e submeter-se o caso a uma nova interpretação da decisão do próprio Tribunal que lhe outorgou o direito discricionário de determinar , ou não, o refúgio.
                               Por outro lado, a próxima decisão a ser emanada poderá ter – se for o caso - um caráter de revogação de decisão anterior que já produziu os seus efeitos, ou seja, já concedeu o status de refugiado a Battisti,  pelo Presidente.
                              É de se indagar, em face de tudo isto: como fica a segurança jurídica das decisões do SupremoTribunal? Sendo Instância final,  não pode estabelecer uma controvérsia sobre decisão já tomada pelo seu Plenário e, como se diz no jargão jurídico : configurada como “coisa julgada” ou “pacificada”.
                               Esse é o retrato cabal da exercerbação do poder STF, extrapolando os limites da própria constituição que o Órgão tem por principal destinação manter, submeter-se  e observar.
                               Infelizmente este não é um caso isolado, o STF tem se colocado acima da lei e da constituição.
VHCarmo. 

sábado, 22 de janeiro de 2011

"A HUMANIDADE PRECISA DO BRASIL..."

                                     A incursão, embora ligeira de apenas 28 dias, em Belém, Cuiabá e Cáceres (Pantanal), faz a gente ver ainda mais nitidamente aquilo que distingue a civilização que se vai gestando e explodindo no Brasil, pacífica, eclética e rica de cultura absolutamente nova no mundo.
                                      É o amálgama de que já falava em 1823 José Bonifácio; o povo novo dos trópicos, definido por Darcy Ribeiro. Tudo isto nesse país continente, detentor da maior e inestimável quantidade de água doce do planeta e do doce clima temperado. Amálgama, significa aqui um verdadeiro conceito químico, usado para combinação de metais que cria um novo metal; uma nova cultura, diferenciada.
                                     Esse amálgama, também lembrado por Jorge Mautner, desafia as construções culturais de todo o mundo. Este intelectual, parceiro de Gilberto Gil e Vinícius de Morais, chega a afirmar que                 “A palavra de ordem mundial é ser como o Brasil”.
                            Jorge Mautner fala:
                               “Basta lembrar que foi um eflúvio poético nosso – do poeta Vinícius de Morais – que fez a mãe do Obama perceber que podia se casar com alguém de outra etnia. Vinícius poeta branco mais negro do Brasil, colocou a Grécia ali no morro carioca e, negra, na escola de samba, em Orfeu do Carnaval. Quando a mãe do Obama assistiu ao filme ficou enlouquecida. Nunca tinha pensado em se casar com um homem de outra etnia. Três dias depois conheceu um filósofo do Quênia em uma conferência em Washington. Eles se casaram e tiveram o Obama. Depois quando o Obama foi entrevistado pela primeira vez na candidatura à presidência norte-americana, perguntou ao jornalista: Você é de onde ? Brasil. Aí ele disse:”Pois, eu também sou brasileiro”. Depois quando o Itamaraty foi se apresentar ao candidato, ele disse que era baiano. É isso. Todo mundo quer ser brasileiro”.
                            “Como a arte é a alma do Brasil, os pontos explodem em todas as direções: cultura tradicional, contemporânea, teatro, música, dança...”
                                   (Em entrevista no Almanaque de Cultura Popular-ano 12.n. 140).
                                 É claro que a preservação da continuidade dessa cultura e a formação desse amálgama que se projeta no tempo são uma construção histórica que se vem desenvolvendo no embate árduo, e às vezes desigual, entre as forças populares, as etnias mestiças (o povo novo) contra a resistência de parte da classe dominante branca, herdeira remota do colonialismo que, embora em número menor, detém poder econômico, político e, sobretudo, força destrutiva.
                                     Viajar pelo Brasil é sentir na carne o calor dos trópicos, a imensidão das águas do norte; os mares, a poesia sertaneja e o agreste do nordeste,  a rudeza natural do centroeste, a mistura instigante do contemporâneo e a sua modernização no sudeste inflada pelo AfroRegae e os sambas. No sul elegante da maior influência de ritos importados, modificados e abrasileirados, pulsando de poesia. É geografia, história e cultura.
                                      Impõe preservar nossa cultura e desatar o nó da pobreza, extraindo dela a riqueza interior, a sua alegria da qual nosso país é a imensa reserva no mundo.
                                  “A humanidade precisa do Brasil não apenas para comer, para tomar água, mas para viver no nosso espírito. Para se sentir otimista...” para, afinal, espalhar no mundo um tanto essa nossa reserva de alegria e vida.
                                   O país vive um momento mágico em que se projeta no mundo como exemplo, em busca do topo das economias mundiais e da eliminação da pobreza. Só assim começamos e continuaremos ser respeitados.
VHCarmo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Como vai a Globo?

                 Quando se discute a regulação da comunicação social no país, surgem sempre argumentos contrários dos setores monopolistas, aqueles  que detém em todo o território nacional os principais veículos de comunicação. Ora, coincidentemente, estes detentores mantém o discurso conservador e, não só, se contrapõem a todas as tendências divergentes como também à sua democratização.    Procuram confundir o publico, alegando cerceamento da liberdade de  expressão que é coisa completamente diversa, para assim garantir o monopólio da comunicação e veiculação de notícias e impedir sua livre interpretação.  
                As principais e poucas redes monopolistas sempre obstruiram a criação de TVs e rádios  autenticamente  regionaise até jornais, controlando, segundo seus interesses políticos e comerciais, toda a veiculação de notícias, colocando-as aos seus serviços, mutilando-as ou omitindo-as.     As redes de comunicação, no Brasil, em nítida vulneração da Constituição Federal, se encontram sob o comando de políticos (ocultos ou não ?), em sua maioria esmagadora,  de líderes politicos regionais, e na sua maior parte, conservadores e oligárquicos, sob o patrcício desses grupos.  
                  As últimas eleições exibiram, na mídia, de forma  devastadora, o controle dos meios de comunicação pelos  grupos que se opunham à continuação do projeto promovido pelo governo Lula.  A criação de  factóides  e dossiês;  o desvio da discussão para temas religiosos e o uso de mentiras, falsos escândalos e manipulação foram uma constante dos meios de comunicação naquela oportunidade.  A rede Globo com sua TV e filiadas, não abriu espaço para uma discussão séria e foi seguida pelas outras redes e pelos jornalões, criando um ambiente totalmente  artificial e distante da realidade, procurando promover a candidatura da oposição. 
                      Apesar disto, a mídia foi a grande derrotada das eleições e pela terceira vez consecutiva. 

                     É claro que já se nota um certo desgaste desses grupos, principalmente da  rede Globo de TVs. rádios e jornais.   Há fatores  sociais, econômicos, financeiros e políticos que se movimentam, apesar da tentativa de controle dos meios de comunicação. É urgente a regulação e a democratização da comunicação no Brasil.
                     
                        A gente transcreve, abaixo, este sugestivo texto que vai nessa direção.  



Por Rodrigo Vianna (jornalista).
 
                                       Altamiro Borges, aqui, e Paulo Henrique Amorim, aqui, destacam fatos que demonstram a decadência da TV Globo.
                                              O texto de Miro mostra que o Faustão – em crise de audiência (e de faturamento?) – demitiu a banda de músicos. E que o “Fantástico” enfrenta a pior crise de sua longa história. O Paulo Henrique relata como a audiência do “JN” encolheu em dez anos: o jornal apresentado por Bonner perdeu um de cada quatro telespectadores de 2000 para 2010 – são números oficiais do IBOPE.
                                      São fatos. Não é bom brigar com eles. Mas é bom analisar esse proceso com cautela.

                                         Quando entrei na TV Globo, em 95, o “JN” dava quase 50 pontos de audiência. Era massacrante. O “Globo Repórter” dava perto de 40 pontos.
                                      Em 2005/2006, quando eu estava prestes a sair da emissora, o “JN” já tinha caído pra casa dos 36 ou 37 pontos (havia dias em que o jornal local conseguia mais audiência do que o principal jornal da casa) e o “Globo Repórter” se segurava em torno de 30 ou 32 pontos (programa que desse menos de 30 abria crise, era preciso sustentar a marca dos 30).
                                       Esse tempo ficou pra trás. O “JN” já caiu pra menos de 30 pontos. E o Globo Repórter hoje patina em 24 ou 25 – dizem-me.
                                     O “Jornal da Record” dobrou de audiência. Em São Paulo chega a 10 pontos, em outros Estados passa dos 12 ou 13. Nas manhãs, a Globo e a Record (com o SBT um pouco atrás) brigam pau a pau. E a Record vence em muitos horários matutinos, há meses. Aos domingos, a Globo também sofre. A grande jóia da coroa da emissora carioca é o horário nobre durante a semana: novelas+ JN. Nesse caso, os números revelam que o domínio da Globo se reduz, ainda que de forma lenta.
                                 Muita gente espera o dia em que a Globo vai passar por uma hecatombe e deixará de ser a Globo. Acredito que isso não vai acontecer: a queda será lenta, negociada, chorada…
                                A Globo poderia ter quebrado ali pelo ano 2000. No primeiro governo FHC, Marluce (então diretora geral) tivera duas idéias “brilhantes”: tomar dinheiro emprestado, em dólar, para capitalizar a empresa de TV a cabo do grupo; e centralizar as operações numa “holding”. Ela acreditou nas previsões do Gustavo Franco e da Miriam Leitão, de que o Real valeria um dólar para todo o sempre! Passada a reeleição de FHC, em 98, o Brasil quebrou, veio a crise cambial e a Globo ficou pendurada numa dívida em dólar que (de uma semana pra outra) triplicou.
                                 A dívida era da TV a cabo mas, como Marluce e os geniais irmãos Marinho tinham centralizado as operações na holding, contaminou todo o grupo. A Globo entrou em “default”. Quebrou tecnicamente. Poderia ter virado uma Varig. Mas conseguiu (sabe-se lá com quais acordos e pressões políticas) equalizar a dívida.
                                 Quando saiu da crise, em meados do primeiro mandato de Lula, a Globo (o jornalismo) estava já sob os auspícios de Ali Kamel – o Ratzinger. Ele conduziu a empresa para a direita: contra as cotas nas universidades, contras as políticas de combate ao racismo (“Não somos racistas”, diz), contra o Bolsa-Família. O grande público não percebe isso de forma racional. Mas (mesmo que de forma despolitizada) sente que a Globo ficou contra todos os avanços sociais dos últimos 8 anos. Lentamente, foi-se criando uma antipatia no público. Ouve-se por aí: a Globo não fica do lado do povão.
                                 Não é à toa que um fenômeno novo surge nas grandes cidades, como São Paulo. Nas padarias, restaurantes populares, pontos de táxi, era comum ver televisores ligados sempre na Globo. Isso há 7 ou 8 anos. Acabou. De manhã, especialmente, a programação da Record e do SBT (e às vezes também dos canais a cabo) entra nas padarias, ocupa os lugares públicos.
                                    Essa é uma mudança simbólica.
                       Mas é bom não brigar com outro fato: boa parte do público segue a ter admiração e carinho pela progamação da Globo. E há motivos pra isso, entre eles a qualidade técnica. A iluminação, a textura da imagem, o cuidado com o bom acabamento. Tudo isso a Globo conseguiu manter – apesar de muitos tropeços aqui e ali.
                                  Fora isso, apesar de toda crítica que façamos (e eu aqui faço muito) ao jornalismo global, é bom não esquecer que na TV da família Marinho há sim ótimos profissionais, gente séria que tenta (e muitas vezes consegue) fazer bom jornalismo.
                                  Esse capital – qualidade técnica – a turma do Jardim Botânico tem conseguido manter. O que não ajuda: a política editorial, adotada por exemplo durante a posse de Dilma. Ironias desmedidas, falta de compreensão do momento histórico e uma arrogância de quem se acha no direito de “ensinar” como Dilma deve governar. A seguir nessa toada, a decadência será mais rápida…

E o que mais pode entornar o caldo por lá? Grana.

                                A Globo tem custos altíssimos de produção. Quem conhece de perto o Projac diz que aquilo é uma fábrica de boas novelas e minisséries, mas também uma fábrica de desperdício. Empresa familiar, que cresceu demais. Cada naco dominado por um diretor, como se fosse um feudo. Até hoje a Globo conseguiu manter essa estrutura porque ficava com uma porção gigante das verbas públicas de publicidade (isso mudou com Lula/Franklin) e com uma porção enorme da publicidade privada: o BV – bônus em que a agência é “premiada” pela Globo se concentrar seus anúncios na emissora – explica em parte essa “mágica”; outra explicação é que a Globo detem (detinha!?) de fato fatia avassaladora da audiência.
                          Com menos audiência, as agências (ou as empresas anunciantes, através das agências) podem pressionar para que o valor dos anúncios caia. Se isso acontecer, a Globo vai virar um elefante branco. Impossível manter aquela estrutura verticalizada se a grana encurtar.
                                            Qual o limite que a Globo suporta? Difícil saber. Mas dispensa da banda do Faustão é um indicador de que a água pode estar subindo rápido.
                                             Outro problema sério: o risco de perder a transmissão do futebol, ou de ter que pagar caro demais para mantê-lo.
                                              Tudo isso está no horizonte. E mais: a entrada das teles no jogo. O Grupo Telefônica, por exemplo, fatura dez vezes mais que a Globo. Como concorrer? Só com regulação do mercado, assegurando nacos para os proprietários nacionais.

                                           Ou seja: a Globo – que é contra a regulamentação (“censura”, eles bradam) por princípio – vai ter que pedir água, vai ter que negociar alguma regulação pra conter os estrangeiros. E aí pode entrar também a regulação que interessa à sociedade: critérios para concessões, e também para evitar o lixo eletrônico e os abusos generalizados na TV. Regulação, como em qualquer país civilizado. Até aqui a Globo tentou barrar esse debate. Mas vai ter que aceitá-lo agora, porque ficou mais frágil.
                                             De minha parte, não torço pra que aconteça nenhuma “hecatombe”, nem que a Globo quebre. Mas para que fique menos forte, e que o mercado se divida.

                                    Parece que é isso que está pra acontecer. Seria saudável para o Brasil.
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VHcarmo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Estamos voltando

                             Do hotel em Cuiabá, esperando a hora de ir para o aeroporto, para voltar ao Rio.
                   
                          A viagem foi boa, em que pese a um certo improviso da gente que, afinal, não tem lá tanta experiência com esssa região. A gente, no entanto,  vai levando uma belíssima lição.
                         Sem falso patritotismo, sem ufanismos exagerados, mas todos aqueles que possam devem vir ao norte, à Amazonia, ao pantanal. Aqui é um Brasil completamente diferente daí do sul, não só do ponto geográfico e geológico. A primeira sensação que a gente tem tanto do Delta do Amazonas, como aqui desse pantanal imenso tem uma só palavra que ocorre: GRANDEZA. Um mumdo de água, uma mundo de floresta, uma variedade humana de cara indígena, negra e branca.
Um dia que os deuses me movam a escrever, vou tentar transmitir a sensação boa que essa viagem proporcinou.
vhcarmo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Cuiabá - Cáceres e pantanal... Mato Grosso.

                             A sensação que assalta a este escriba à vista do Rio Paraguai, em Cáceres, é de uma novidade marcante, superando o já previsto por tudo que a gente lê, desde criança, sobre o centroeste amazônico brasileiro e a região do pantanal. O calor aqui é algo palpável, concreto, como uma invasão no corpo através de toda pele e de um certo enebriamento, uma morna inconsciência só superada por aqueles que aqui vivem. Será preciso viver para compreender , aprender o calor e realizar como aqui se realiza.
                             Mas é instigante e diferente: é o Brasil, em uma de suas múltiplas faces. Mato Grosso vive um boom de desenvolvimento. Aportaram aqui no último ano mais de 2,200 empresas vindas de outros estados, investindo pesadamente. A pecuária matogrossense bateu recorde histórico no ano de 2010.       E que povo bonito  tem nesssa região!: com seus erres e “aspiradas" da linguagem, mas todos falando a mesma lingua portuguesa.   O "bugrês" de alguns vem de caras  boliviananas, aportadas e  vindas até das frias e longinquas cordilheiras. Todos integrados, porém, nesse coração grande do  nosso país.                
                               Velejando nessas imensas curvas do Pântano, povoadas de pássaros e animais esse modesto escriba se põe a pensar na afirmação histórica do nosso povo nesta fronteira, afastando os espanhoes para bem longe do Tratado das Tordesilhas.
                                  A gente continua armazenando na mente e no coração tudo que é dado ver. Essa região amazônica deveria ser para todos brasileiros como a  sua Meca a ser visitada pelo menos uma vez na vida.
VHCarmo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Numa nação assim é facil ser patriota...

                          Estamos em Cáceres às margens do Rio Paraguai, nesse maravilhoso país. Depois de Belem , Brasília, Cuiabá, a gente está armazenando muitas coisas boas dessas regiões tão distantes para nós que vivemos aí no sul.  Depois eu conto ao meu modo. Aqui também é maravilha, tanto da natureza como do povão. Este texto é apenas para que os meus seguidores, declarados ou não,  não se esqueçam deste modesto escriba.
VHCarmo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

"Patria amada, salve, salve..."

                         Estar no local onde se realiza a história faz a diferença. Nem a chuva impediu o entusiasmo e a emoção do povão. Houve um momento em que só o coração estava quente. Duas faces da mesma emoção um da entrada outro da saída. Ela, a Dilma, triunfante e portadora da esperança outra face a do grande Lula que terminou nos braços do povo; daquele povo que o ama. Tudo muito lindo, talvez o calor de todos aqueles corações estivesse mais presente do que o frio incômodo da chuva.
                         É de se refletir nesse momento que o motor original de tudo isto está na assenção dos humildes ao foro da gente política; tornado o demiurgo da história.
                          A gente continua a sonhar porque o sonho vem amparado na realidade que vem sendo plantada ao arrepio da mídia e dos preconceituosos e odiosos que não acreditam no país.

                             Tudo nos leva a esperança e a certeza da grandiosidade dessa “pátria amada”.

VHCarmo.