Olhem só:
Marcos Coimbra
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também
é colunista do Correio Braziliense.
30.04.2012 10:17
O julgamento do mensalão.
Quando os historiadores do futuro fizerem o balanço da época em que
vivemos, é bem provável que sobressaiam coisas às quais hoje não damos nenhuma
importância. É quase impossível dizer quais serão. Alguém perceberia, em 1960,
nos trabalhos de um obscuro engenheiro da Rand Corporation, a semente da
internet?
O que, do presente, entrará para a história? De tudo que achamos
importante hoje, o que, no futuro, permanecerá significativo? Ninguém sabe.
Mas há um consolo: é fácil perceber o que se provará irrelevante. Em
tudo – na vida social, nas artes, na ciência, na tecnologia – não é complicado
enxergar o desimportante.
Também na política. E se há um candidato ao troféu de maior não evento
deste período de nossa vida política, seu nome é “o julgamento do mensalão”.
Quem lê a dita grande mídia brasileira tem a impressão oposta. Fica com a
sensação de que se trata de uma coisa fundamental. Que é a mais transcendental
de todas as que temos em nossa agenda.
Isso só se acentuou depois que a CPI do Cachoeira se tornou inevitável. A partir daí, os
principais veículos de nossa indústria de comunicação, seus editorialistas,
colunistas e comentaristas, decretaram que o “julgamento do mensalão” seria a
prioridade.
Exigem que seja logo, que conclua pela culpa dos -acusados e reclamam
punições exemplares. Têm consciência de que, juridicamente, o caso é frágil,
mas não se importam: afirmam que a “opinião pública” clama por uma “resposta
firme”. E que o STF tem a obrigação de atendê-la. E que o ministro que titubear
na condenação é fraco – para dizer o mínimo.
O que querem do julgamento? Simples – e errado – seria dizer justiça. Na
democracia, essa só aparece ao final, depois que o rito judiciário é
integralmente cumprido. Nunca antes.
Admitamos, por hipótese, que o STF resolva pela absolvição de todos ou
alguns dos acusados – o que, pelas provas coletadas contra eles, não seria
surpresa. Estará nossa mídia disposta a aceitar o julgamento como justo? Ou,
como já condenaram todos por antecipação, a decisão será questionada e
ridicularizada?
É possível que ela se sinta “representante” e “guardiã do povo”, em seu
nome exigindo justiça. O problema é que nada sustenta a tese. A sociedade não
dá qualquer mostra de que deseja que ela exerça tal papel.
O “julgamento do mensalão” não quer dizer nada para a vastíssima maioria
do País. Ela nem sequer sabe que está por acontecer. É claro que existe uma
militância oposicionista na sociedade, que se agita e reivindica rigor no
julgamento. Só que é pequena. Quando, por exemplo, tentaram encher as ruas de
“indignados”, ficou claro que são poucos.
Que vitória política terão os adversários do governo e do “lulopetismo” se os
acusados forem condenados? Isso alteraria a avaliação largamente favorável dos
oito anos de Lula e dos quatro de Dilma, que começaram bem, aos olhos da
população? Isso mudaria o favoritismo de ambos – pois Lula e Dilma lideram com
imensa vantagem as pesquisas – para vencer as eleições de 2014? O “julgamento
do mensalão” não vai reescrever o passado ou modificar o futuro da política
brasileira.
A campanha para que aconteça já e para que redunde na condenação de
todos os acusados nada tem a ver com a ideia de justiça. Não responde a anseios
reais da vasta maioria da sociedade. Nada altera de concreto em nossa política.
É por isso que seu significado no longo prazo é tão limitado.
______________________________________________________________ VHCarmo.
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