Mais uma vez questionam-se as pesquisas políticas. As
recentes manifestações que trouxeram às ruas milhares de jovens e propiciaram
também a chegada, à sua ilharga, de pequenos, mas ferozes predadores e ativistas da extrema direita, ensejaram,
por sua vez, o aparecimento de números e opiniões um tanto imprevisíveis
nas pesquisas.
Há, em relação, às pesquisas em geral uma fé quase religiosa pelo que não se
consideram seus erros. No entanto,
as suas conclusões muitas vezes apresentam um coeficiente muito alto de
erros, contrariando a mais intuitiva lógica
e a real previsibilidade.
Isso tem ocorrido pela natural falta de uniformidade das
técnicas adotadas e pelos diversos Institutos de Pesquisas e interesses que não escapam
às suas tendências ideológicas e políticas.
Por outro lado, a
escolha seletiva de pessoas e locais da pesquisa seria essencial para sua
autenticidade maior. No caso sob análise – pesquisas no curso das manifestações
- não se colheram a opinião da zona rural e nem a dos pequenos Municípios de
menos de trinta mil habitantes do país.
Este público traduziria em termos gerais 40% dos índices de opinião a
serem apurados.
Sob este aspecto já
se manifestaram vários especialistas na
matéria.
Em que pese ao afirmado não se pode negar a utilidade das
pesquisas que mesmo sob influências notórias, tendem a não perder de todo a sua
credibilidade.
Não a toa que os maiores acertos das pesquisas eleitorais são
aqueles que se publicam muito próximo
das eleições, contrariando, muitas vezes, os resultados de um longo curso de
pesquisas anteriores.
Dois exemplos recentes foram constatados nas eleições da
Presidente Dilma e de Fernando
Haddad. Este último até bem perto do pleito – a dois meses se tanto
- tinha números em torno de 3% dos votos
e veio vencer as eleições. Dilma estaria empatada com Serra (Data-folha) havia,
então, pouco mais de um mês para o pleito e ele era apontado na pesquisa da Folha como
provável vencedor.
Afronta, de certa forma, a lógica do observador isento que
também em pouco menos de um mês, sob os efeitos das passeatas, a cotação
pessoal da Presidente Dilma tenha despencado 26 pontos percentuais, mesmo
porque, os protestos se disseminaram com diversas pletoras e poucas invectivas pessoais.
As justificativas não mereceram credibilidade, não só
em relação à Presidenta até mesmo aos demais pré-candidatos. Tais buscas de
opinião restaram duvidosas. A ver. O
futuro se encarregará disto.
Sobre o assunto a
gente transcreve abaixo as abalizadas análises do Sociólogo e Pesquisador Marcos Coimbra, na Revista Carta Capital, produzidas logo após a publicação das pesquisas em foco.
Olhem só:
As pesquisas
pós-manifestações
Tudo considerado, Dilma mantém-se favorita. Ela caiu, mas
seus adversários efetivos não subiram
por Marcos Coimbra — publicado 28/07/2013 10:08 identificava de Dilma Rousseff foi intensificado e acelerado
pelas manifestações de junho.
Na recente safra
de pesquisas uma única coisa interessa: o que dizem a respeito da sucessão
presidencial. O demais é secundário. Ou melhor, só é relevante por seus efeitos
sobre essa questão fundamental.
Se não tivéssemos uma eleição daqui a pouco mais de um ano
e se a presidenta não fosse candidata, perguntas sobre a avaliação do governo e
de políticas seriam de relevância menor.
Todas concordam
que Dilma Rousseff caiu do patamar onde estava até o início de junho. Naquelas,
obtinha, no voto espontâneo, perto de 25%. Nas novas, minguou para 15%.
No chamado voto estimulado, ficava entre 50% e 58%, a
depender dos adversários. Nas de agora, mal chega a 35% nas simulações de
primeiro turno e vai, no máximo, a 42% naquelas de segundo.
É preciso lembrar que a predisposição a votar na presidenta
estava em queda de março para junho. No voto espontâneo, fora de 35% para 25%,
e caíra de 60% para 50% na estimulada. Ou seja, suas chances de vitória tinham
se reduzido, apesar de permanecerem elevadas.
Nas atuais, a queda foi bem mais expressiva. O desgaste que
se identificava foi intensificado e acelerado pelas manifestações de junho.
O que parece é que Dilma sofreu uma perda considerável de
intenção de voto pelo fato de os cidadãos terem ido às ruas se manifestar e não
pela preexistência de uma elevada insatisfação com ela ou com seu governo. Em
outras palavras, as manifestações foram causa e não consequência do tamanho e
do tipo de descontentamento retratados hoje pelas pesquisas (e que se reflete
no despencar de suas chances, para usar a palavra que tanto alegra a “grande
mídia”).
De um lado, o fato de elas eclodirem e receberem imensa (e
favorável) cobertura dos meios de comunicação fez com que tivessem o que a
sociologia chama de “efeito demonstração”. Mesmo quem tinha uma insatisfação
“aceitável” passou a achar que devia “indignar-se”, ainda que não soubesse
exatamente contra o quê.
Mas a
razão primordial para as
manifestações cumprirem esse papel foi o seu impacto na elevação da sensação de
insegurança dos brasileiros comuns. E o que a provocou foi a visualização da
violência em estado bruto nas principais cidades do País.
Nenhum governo
resiste à repetição diária de cenas de mortes, sangue, tiros, quebra-quebras,
depredações, incêndios. Durante três semanas, exatamente entre as pesquisas de
junho e julho, foi ao que a sociedade brasileira assistiu na televisão, viu na
internet, ouviu no rádio, leu em jornais e revistas.
Em outras palavras, o que de fato atingiu a avaliação do
governo (com um consequente impacto na intenção de voto em Dilma) não foi o
“lado bom” das manifestações, tão louvado pela mídia, das moças e rapazes a
cantar o Hino Nacional enrolados na bandeira, mas seu “lado negro”, dos
“baderneiros” e “arruaceiros”. Em relação xifópaga, um usou o outro.
Mas, se é verdade que Dilma desceu, é também verdade que
nenhum de seus adversários efetivos subiu. Apenas Marina Silva teve desempenho
positivo.
Ao comparar a performance de Aécio Neves e Eduardo Campos
nas pesquisas de junho e julho, vemos que no voto espontâneo ambos permaneceram
estacionados: o tucano em 4% e o pernambucano em 1%. No estimulado, Aécio tinha
14% e lá ficou. Eduardo obtinha 3% e passou a 4%.
Cresceram Marina (turbinada pela simpatia dos ricos) e o
não voto, o agregado daqueles que disseram branco, nulo, nenhum ou não saber.
Quando se considera apenas a indecisão, os resultados de julho foram iguais
àqueles de junho, com 5%. O que poderia ser considerado voto de rejeição, a
soma de brancos e nulos, dobrou, ainda que ficasse em menos de 20%.
Tudo considerado, Dilma mantém-se favorita, até pelo fato
de essas pesquisas a flagrarem no que deve ter sido seu pior momento. Permanece
à frente, tem a seu favor o tempo, a inércia da reeleição e, como mostram as
pesquisas qualitativas recentes, continua a contar com a torcida de muitos que
acham cedo para julgá-la.
E a única candidatura que cresceu foi de alguém que a
maioria da população vê com simpatia, mas sem condições de se sentar na cadeira
de presidente. Muita gente admira Marina, mas poucos ficam confortáveis ao
imaginá-la no cargo.
Quanto a fabricar alguém de última hora, a chance é
pequena, mas não pode ser descartada. Em 1989, por exemplo, a um mês da
eleição, a direita inventou a candidatura de Silvio Santos.
Terá outra na algibeira para 2014?
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VHCarmo.