Esta volta ao soneto, depois de algum tempo ausente, não implica em distanciamento deste escriba da forma poética por excelência. O soneto, como já disse, adere-se ao emotivo na métrica greco-romana à rima árabe. Milagre de síntese, contida em espaço predeterminado.
O Emílio de Menezes, tido e havido como poeta livre e irreverente, nem por isso se afasta da magia do soneto. Ei-lo em
NOITE DE INSÔNIA
Este leito que é meu, que é o teu, que é o nosso leito,
onde este grande amor fluiu, sincero e justo,
e unimos, ambos nós, o peito contra o peito,
ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto;
este leito que aí está revolto assim desfeito,
onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto,
na ausência do teu corpo a que ele estava afeito,
mudou-se, para mim, num leito de Procusto!...
Louco e só! Desvairado! - A noite vai sem termo
e estendendo lá fora, as sombras augurais,
envolve a Natureza e penetra o meu ermo.
E mal jugas talvez, quando, acaso te vais,
quanto me punge e corta o coração enfermo
este horrível temor de que não voltes mais.
_______________________________
Emílio de Menezes, Curitiba, PR (1867/1918) VHCarmo.