sexta-feira, 29 de abril de 2011

William e Kate os continuadores da Monarquia - Reflexões

                                  O casamento na família real inglesa, do príncipe Willian com a plebéia Kate, revestido de toda a pompa, circunstância e beleza, na cerimônia na Abadia de Westminister, nos leva a uma reflexão sobre a grandeza, hipocrisia e a miséria humanas.
                                 Naquela solenidade invocou-se, do início ao fim, o nome de Deus e do Senhor Jesus, evocando-se as lições de amor, fraternidade e respeito ao próximo deixadas pelo mestre. Elevaram-se cânticos dos diversos corais.      A emoção e as perorações religiosas emanaram de vários cantos da Abadia.  Foi um belo espetáculo que se estendeu às ruas de Londres.
                                  A história do império Inglês, no entanto, deixou e deixa na humanidade um triste rastro de violência e sangue derramado de inocentes. Sem a menor dúvida, até o advento dos EEUU, o império britânico se destacou como o poder mais violento e sanguinário da história da humanidade; a mensagem religiosa da nobreza ficou restrita, um tanto, às Ilhas britânicas.
                                      Nas colônias inglesas mantinham-se regimes altamente repressores. Na África, na Ásia e em todos os lugares aonde chegaram os colonizadores britânicos, portadores da mensagem cristã, qualquer protesto era reprimido pelas armas contra pessoas desarmadas e indefesas, sacrificadas pela sua brutalidade.
                                     A África do Sul, com o apartaide, sofreu a intervenção mais discriminatória e sanguinária da história onde a maioria negra era massacrada pela minoria branca inglesa. Na pátria de Mandela o povo, dançando nas ruas, era metralhado pelos piedosos cristãos ingleses. Na Índia e na China os colonizadores britânicos emasculavam os mandatários locais com a introdução do vício do ópio e mantinham, com a violência armada, a fome e a miséria do povo.
                                       Perdida hegemonia para os americanos os ingleses passaram a coadjuvantes da violência contra povos indefesos. Ainda há pouco, nos anos 50 do século findo, na luta do povo egípcio, para se livrar do protetorado britânico, as forças imperiais reprimiam os patriotas a bala e muitos iam tombando mortos nas ruas e praças.  O Egito não esqueceu.
                                       Sob o manto potetor da OTAN e da NATO os ingleses participaram dos massacres na Bósnia e na Servia.  Agora mesmo, nesses dias, os aviões ingleses e seus navios bombardeiam a Líbia indiscriminadamente, matando civis, destruindo habitações, hospitais e palácios, ultrapassando o determinado pela iníqua resolução do Conselho de Segurança do ONU.
                                       Enquanto isto na Abadia de Westminister, em pompa,  fala-se de amor ao próximo, da misericórdia de Deus e do evangelho, “em nome do pai, do filho e do espírito santo; amém".
                                        Esse discurso cristão se reveste de uma enorme hipocrisia e nada tem a ver com o verdadeiro sentido da pregação do mestre. A pompa contrasta com a manjedoura onde nasceu o filho de Maria e de um Carpinteiro. A violência nada tem a ver com a misericórdia e o amor que Jesus pregou, cujas palavras se repetem, impunemente, na Abadia iluminada.
                                         Quando será que a humanidade deixará de ser hipócrita? Quando deixará de usar as palavras de Deus, do Senhor Jesus e dos livros sagrados para justificar genocídios?
                                         Esqueçamos tudo isto, por momentos, para festejar William e Kate, continuadores da sagrada monarquia inglesa.                                Mas que Deus nos livre dela.

VHCarmo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Algo mais é um conto...

                                       Um sentido para a vida.


                                                   (conto)

                                      A festa do aniversário de 85 anos do Seu Everton foi linda. Parecia até festa de criança, com balões coloridos, mesa farta de salgados e doces, bebidas e, a animar, as músicas antigas de sua preferência. Um dos filhos, o Germano, fora buscar, nos sebos, velhos discos-vinil de Orlando Silva, Francisco Alves, Aracy de Almeida e de tantos outros que o velho sabia até de cor as letras das músicas. Filhos, filhas, netos e bisnetos numa só algazarra festiva. O Everton iluminava-se num sorriso complacente, um misto de alegria e tristeza; melhor dizendo uma certa melancolia na expressão, por traz do riso.
                                    Cantaram-se os parabéns, trocaram-se efusivos abraços, sufocando o velho de “cabelos cor de prata”, parafraseando a canção popular. Repito: foi muita linda a festa.
                                   O velho Everton fora meu primeiro chefe no meu primeiro emprego no Rio de Janeiro, na velha Rua do Costa, nos idos dos anos 40 do século passado. A amizade e a consideração pessoal, transcendendo à autoridade de chefe, nos uniram durante grande parte de nossas vidas. Estava ali presente à festa de seus 85 anos. Ele me intimara a comparecer sob o risco brincalhão de “acabar nossa amizade”.
                                    Terminada a festa, esvaziada a sala, apagada parte das luzes a casa voltou à costumeira intimidade. Meu velho amigo pedira para eu não sair logo, queria me falar algo. Sentado na sua cadeira de balanço na penumbra das cortinas de um canto de janela, encetou um discurso que me calou de forma profunda. Diga-se, antes de narrá-lo, que o Everton fora sempre um homem cheio de vida, de muitos amigos, festeiro, carnavalesco e amante das belas mulheres. Apesar de estar bem para sua idade, me parecia portador de uma certa angústia como deixara transparecer no curso da festa. Mas vamos ao seu discurso.
                              Disse-me o velho amigo:

“Sempre se saúda efusivamente a idade das pessoas, principalmente quando chegam aos 80 anos, sobrevivendo. Você viu quanta alegria se espalhou por esta sala, mas a rigor, na mente de todos e de cada um há a certeza de que outras festas como esta, dentro em pouco, não mais se repetirão. Você há de me perguntar: como, se o amigo não tem certeza da morte, ou do fim ?. Digo-lhe: a única certeza que não tenho é da data; da proximidade, que é inexorável, não me posso livrar".

-Deixa disso Everton, espanta esta tristeza.

                                 –“ Não é bem tristeza que tenho; é a angústia que me dá a exata dimensão da morte que, para mim, se afigura como uma derrota. Tive longos dias de felicidade, alguma tristeza e agora esta certeza da aproximação do fim. Os dias me parecem cada vez mais longos na minha solidão e a falência física, de que tenho consciência, me atormenta. Às vezes penso que a morte será a verdade da vida, mas um recôndito desejo de viver me anima. Dos meus amigos, à volta, restam poucos; a grande maioria já se foi premiada, pois o viver lhes poupou a angústia da velhice. Amigo, a idade, para mim, significa uma perda e a consciência de não ter compreendido, apesar dos anos, o sentido da vida. Para terminar este desabafo que você, tão pacientemente, escutou, digo-lhe que hoje compreendo aqueles que , por cansaço, se despediram voluntariamente da vida, admirando-lhes a coragem que me falta".
                                   Terminado o discurso amargo do velho amigo, me despedi dele emocionado e andei vagando pelas ruas noturnas de Copacabana, não conseguindo sequer formar um juízo de tudo o que ouvira, tarefa que deixo para aqueles que ora me lêem.
                                   A madrugada fria me fez mergulhar também num sem sentido.
                           
                                                   VHCarmo ( Abril de 2008).

VHCarmo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Algo mais é poesia...

Hoje quantas horas.

                                                                       Pablo Neruda.

Hoje quantas horas vão caindo
no poço, na rede, no tempo,
são lentas mas não tiveram descanso,
seguem caindo, unindo-se
primeiro como peixes,
depois como pedradas ou garrafas.

Lá em baixo entendem-se
as horas com os dias,
com os meses,
com lembranças confusas,
noites desabitadas,
roupas, mulheres, trens e províncias,
o tempo se acumula
e cada hora
se dissolve em silêncio,
se esfarela e cai
ao ácido de todos os vestígios,
a água negra
do avesso da noite.



                                                                    (Do livro “Últimos poemas (O mar e o sino) )


VHCarmo.

domingo, 24 de abril de 2011

Reflexões sobre o momento político e a oposição...

                                              O jornalista, cujo texto vai aí em baixo transcrito, é um dos poucos que não tentam mistificar, nem  minimizar a situação, que ora se configura no panorama político do país, para ocultar as dificuldades da oposição. As últimas manifestações dos principais líderes da oposição com destaque para Aécio Neves e Fernando Henrique demonstram que ela, a oposição, tem urgente necessidade de encontrar um caminho, um rumo a seguir, pois não só a realidade sóciopolítica do momento a afasta do povo, como não tem sabido definir o que entende por povo, passando a estabelecer distinções entre as camadas da população, estigmatizando-as como portadoras de determinadas ideologias em conflito. Essas idéias não fazem jus ao político mineiro nem ao Príncipe dos Sociólogos que se dizem socialdemocratas.
                                              A mobilidade  das classes sociais produzida pelo crescimento econômico do país não autoriza a esses analistas (LÍDERES) determinar que as camadas do povo ora em ascensão irão engrossar diretamente o eleitorado elitista, assumindo o seu ideário político conservador.
                                              É evidente que esta idéia mecanicista não tem raízes na realidade. É bem sabido que o advento de uma posição de destaque do Brasil no cenário mundial por força do seu desenvolvimento, vem tendo como conseqüência visível o isolamento político das elites internas portadoras das idéias vindas do colonialismo e adeptas do neoliberalismo que, de certa forma, reproduzem as idéias que nos conduziriam à periferia do capitalismo.    Isto foi tentado e abandonado pelo povo, por sua maioria.
                                           O discurso desses líderes oposicionistas está distanciado, portanto, da dinâmica da realidade e tem conduzido a oposição partidária, internamente, a uma desintegração. Talvez, nesse momento, a oposição esteja carente de uma liderança mais moderna que adote métodos mais consentâneos com a realidade objetiva do Brasil, ou seja, com a busca de sua maior projeção internacional e a remoção dos restos de pobreza, como pretende a Presidente Dilma.

                             É sugestivo o texto que segue, de Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi e colunista da Revista Carta Capital.

                               A Crise dos Partidos de Oposição

                             Os partidos de oposição vivem um momento complicado. Tanto o PSDB, quanto as legendas menores atravessam dificuldades internas. Nas suas relações com a opinião pública, nenhum alívio. Tampouco nesse front as coisas vão bem.
Essa dura realidade contrasta com o discurso de suas principais lideranças após a eleição do ano passado e mesmo no início deste.
Quem não se lembra de como saudaram os “43 milhões de votos” de Serra na disputa presidencial? Ou a conquista de 10 governos estaduais, contados os do PSDB e do DEM?
Parecia que a derrota de Serra era uma vitória. Quem olhava os mapas coloridos que os grandes jornais publicaram, em que os estados azuis, onde ele venceu, pareciam sobrepujar os vermelhos, onde Dilma se saiu melhor, ficava com a impressão que o resultado era outro.
Os analistas e comentaristas ligados à oposição ajudaram a difundir a ficção de que os resultados da eleição “até que não foram tão ruins”.
Achavam que ela tinha revelado que o “Brasil oposicionista” era grande, muito maior que se imaginava. Grande e dinâmico, pois Serra tinha vencido na maior parte do Brasil moderno e educado. E, em muitos dos principais estados, governadores tucanos ou do DEM haviam derrotado candidaturas do PT e de outros partidos governistas.
Se o Brasil fosse mesmo assim, seria de esperar que Dilma enfrentasse grandes dificuldades em seu relacionamento com a sociedade. Com quase um eleitor oposicionista para um simpático ao governo, ela viveria uma realidade muito diferente daquela que Lula experimentou.
Os altos índices de popularidade a que nos acostumamos não se repetiriam.
Passaram-se os meses e nada disso aconteceu. O exército formidável de eleitores oposicionistas se dissipou. Nada sugere que sobreviva.
Nas pesquisas de opinião divulgadas de março para cá, Dilma não só mostrou estar com altas taxas de aprovação, como superou os números que o próprio Lula alcançava na mesma altura de seus dois mandatos.
Para tristeza de quem apostava que ela seria uma decepção, o que estamos vendo crescer é a parcela que se surpreende favoravelmente com ela.
Em retrospecto, parece claro que o tamanho do “Brasil oposicionista” estava superestimado. Consequentemente, que o sentimento pró-governo (e pró-Lula) era maior que a votação obtida por Dilma.
Por razões que têm a ver com nossa cultura política e seu culto às personalidades, Serra teve mais votos que o oposicionismo real que existe no país. Ele inchou por que as pessoas relutaram em conferir o voto a alguém que conheciam há pouco, por mais que respeitassem e estivessem satisfeitas com quem a indicava.
Na raiz dos problemas atuais da oposição está a constatação de que suas bases diminuíram. Como diria Fernando Henrique, ela não consegue falar com “o povão” e tem que ir à cata das “novas classes médias”, sabe-se lá o que sejam.
O mais grave é que não são só esses seus dilemas. A eles, somam-se crescentes dificuldades internas.
As mais óbvias são do DEM. O que dizer de um partido (cuja origem remota é a velha Arena, que já foi saudado como o “maior partido do Ocidente”) que não consegue resistir ao ataque de um político do calibre de Gilberto Kassab? Que desmilingue ao ouvir o canto de sereia do PSD?
E o PPS? Talvez seja o preço a pagar pelo personalismo de sua direção e a falta de coerência de um ex-partido comunista que virou destino para políticos de qualquer convicção. Mas sua crise ameaça ser igual à do ex-PFL, seu companheiro atual de militância.
Quanto ao PSDB, o problema é o de sempre, a relutância em escolher o caminho que pretende seguir. O serrismo continua a puxar o partido para trás, insistindo em uma sobrevida sem perspectivas. É um afogado que se debate e ameaça levar os outros para o fundo.
FHC está certo quando diz que as oposições precisam se reinventar. O problema é como fazê-lo com o que lhes resta.
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VHCarmo.


domingo, 17 de abril de 2011

Algo em poesia...

Com licença poética.

Adélia Prado.
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Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

- dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

Já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem .

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Do livro  "Os cem melhores poemas do séuculo".

sábado, 16 de abril de 2011

DOIS ASSUNTOS E UMA CONTRADIÇÃO....

                                    
          1.                   Há dois assuntos em pauta na mídia e nos jornalões, em especial, que demonstram uma irremediável contradição.
                              O primeiro assunto, e mais importante, é o da visita feita à China por nossa presidente Dilma. É inegável o sucesso da incursão à China e os efeitos positivos que foram obtidos, tanto nos ganhos comerciais e de investimentos como no importante aspecto político, com relevância na política externa.
                              Se de um lado a Presidente vem trazendo na sua bagagem importantes acordos comerciais e de investimentos no Brasil, de outro lado pontificou a política externa não alinhada e a participação importante do nosso país nos organismos internacionais como o BRICS e o G 20.
                              Esta viagem demonstra, sobretudo, o prestígio alcançado pelo país que nos governos anteriores a Lula figurava sempre em posição subalterna, sem nenhuma influência maior no cenário externo.       
                      O inegável sucesso dos governos do PT levou o país ao patamar atual de influência na política externa. Não há como negar, o mundo reconhece.
                            Entre os investimentos importantes é de se ressaltar o que vai ser promovido pela Foxconn chinesa, gerando no Brasil não só emprego em torno de 100 mil postos, como a aplicação de cerca de 12 bilhões de dólares no projeto que produzirá alta tecnologia no setor da informática. Será, segundo o projeto, erguida uma cidade num local ainda a ser escolhido, para ser implantado  que importa, sobretudo, em transferência de tecnologia.

               2.              O outro assunto é, lamentavelmente, o comportamento da mídia em relação ao pífio pronunciamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
                              Poucos comentaristas produziram, até aqui, uma crítica isenta sobre o assunto abordado pelo sociólogo.  Na sua maioria desfilam a chamada louvação basbaque, daqueles que querem, apenas, fazer o jogo oposicionista, ou quem sabe, posar-se de privilegiados interpretes de um bestialógico pseudo intelectualizado.            São ausentes, no entanto,  quanto a viagem da Presidente.
                             Esse escriba já deu aqui  neste espaço a sua opinião, discutível ou não, é a sua análise do pronunciamento do FHC que, em princípio, lhe pareceu longo, tedioso e mal escrito. O seu conteúdo discutível se situa no seu  manifesto "abandono  ao povão” como orientação para a oposição. Os jornalistas sabujos e os chamados “especialistas” de plantão descobriram algo que a gente não consegue vislumbrar.            De quem o defeito ?
                                Mas, o que impõe aqui, e é o objetivo deste texto, é apontar a contradição da mídia em geral em relação aos  dois assuntos, como acenado no início deste texto.

                              Enquanto a Presidente Dilma brilha na sua viagem à China e projeta-se, inequivocamente, como figura de proa na política externa do país no mundo, a mídia cobre modestamente esse assunto. De fato, a viagem mereceu muito poucas manchetes, mas o pronunciamento do FHC agita a mediocridade dos nossos “especialistas”, descobrindo nele até algo que ele não quis dizer, nem pregar. Tudo por efeito de uma interpretação intelectualoide.
                               Normalmente, em qualquer parte do mundo, os jornais, revistas, tvs e a mídia em geral dariam destaque á uma viagem como esta, de um Presidente. e que tantos dividendos positivos trazem ao Brasil.                    Mas, não, o Príncipe dos Sociólogos e seu apagado texto se tornaram a grande descoberta de um gênio que aponta o caminho para a oposição acabar com a “era Lula”, como crê ter acabado com a “era Vargas” : "abandonar o povão".
                                A pergunta que fica no ar: qual o interesse que move a mídia e os “especialistas”, colocando em primeiro plano e como relevante o bestialógico fernandista ?
VHCarmo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ligeirinha: Mais uma sobre o FHC - só pra terminar esse assunto.

                                        Não é bom a gente prolongar esse assunto.  Fernando Henrique, o príncipe dos sociólogos, afinal, foi Presidente da República. Não fez um bom governo, mas todo mundo sabe o motivo; foi porque ele se enveredou pelo caminho errado do “deus mercado” e entregou a sua alma ao neoliberalismo do Consenso de Washington e se conformou com um papel secundário para o Brasil.                      Enganou-se, porém não estava sozinho, juntamente com ele muitos políticos e economistas, em seu entorno, foram até às últimas e funestas conseqüências no neoliberalismo. Muitos ainda professam, até hoje, a fé neoliberal em que  pese à crise em curso no centro do  mundo capitalista.
                                O imperdoável, no entanto, é esse esforço que ele faz para projetar uma imagem que não confere com o que fez, faz e diz.  E, até aqui, não tem sequer a coragem de esclarecer se já resgatou a sua alma do jugo do ideário neoliberal.
                                Sob esses aspectos é significativo o texto produzido pelo veterano e grande jornalista Mauro Santayana.         O jornalista aborda, entre eles, um aspecto da personalidade do Fernando Henrique que escapava a este escriba, ou seja, a sua presunção de sabedoria.

                               Tudo bem, vamos ao texto do Santayana que vai mais longe e é muito interessante:

O desprezo pelos pobres.     
                          O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é um dos brasileiros mais bem sucedidos de sua geração. A natureza e o lar concederam-lhe inteligência que boas escolas e um grande mestre da sociologia, Florestan Fernandes, aprimoraram. Filho de honrado chefe militar, que a memória nacional respeita, Fernando viveu uma juventude favorecida. Mas parece não ter aprendido muito com o pai que, tendo acompanhado de perto a ascensão do nazismo, optara pelo lado esquerdo da estrada.
                            Muito cedo, a sua elegância verbal conquistava os interlocutores. Jânio Quadros de tal maneira ficou fascinado pelo jovem sociólogo que incumbiu José Aparecido de convida-lo para o Conselho Nacional de Economia, então o mais importante órgão consultivo do governo. Anos depois, com sua língua afiada, Aparecido explicava por que Fernando Henrique declinara do convite: “era muito pouco para ele”.
                             É provável que, com sua astúcia, tenha pressentido a brevidade do histriônico arrivista, e, precavido, preservado o futuro. Em uma coisa, todos os que convivem mais de perto com o ex-presidente, concordam: sua postura, onde quer que esteja, é a de um chefe. Ele não conversa: expõe; não pergunta: adianta sua posição sobre o tema em pauta. É, sempre, o professor e o líder. É difícil imagina-lo apenas aluno. Não nasceu para aprender, mas, sim, para ensinar.
Lembro-me da confidência que me fez, certa vez, o grande Josafá Marinho: Fernando só aparecia no plenário do Senado por alguns minutos, para justificar a presença. Não tinha paciência para ouvir seus pares. Na realidade só ouvia um único orador, com atenção: ele mesmo. Não obstante, quando estava inscrito, mandava avisar a todos os senadores, para que o fossem ouvir.
                              A sorte o levara ao Senado, como suplente de Franco Montoro – que, ao eleger-se governador, deixou vaga a cadeira. A mesma sorte o ungiu, quando o presidente Itamar Franco, ao descuidar-se da velha cautela montanhesa, escolheu-o como sucessor. Na presidência, confirmou a sua personalidade. Várias vezes demonstrou desapego ao povo brasileiro. Transferiu para as massas o próprio sentimento, ao qualificar o brasileiro comum como fascinado pelo estrangeiro e, surpreendeu a intelligentsia nacional, ao citar Weber e estabelecer uma ética particular para os governantes. Fomos, para ele, um povo de capiaus, o que levou Jô Soares a apresentar-se em seu talk-show, no dia seguinte, de chapéu de palha. Mesmo aposentado compulsoriamente antes dos 40, classificou como vagabundos os aposentados por tempo de serviço.
                                 Suas atividades não são as de um ex-presidente. Ele quer liderar a oposição. É assim que já emitiu várias encíclicas, como a última, em que aconselha a esquecer o povão e investir na classe média. Como se os setores conscientes da classe média, que influem, pudessem se esquecer do desemprego, das privatizações, e da humilhação diante do FMI. Os pobres, ele pontifica, já foram “comprados” pela política assistencialista do governo, e serão fiéis à sucessora de Lula, por isso não merecem atenção, nem cuidados.
                                 Falta-lhe a capacidade de ver o Brasil como um todo, o que é comum a muitos políticos de São Paulo. O Brasil que eles conhecem não vai além da periferia da grande cidade, que, a contragosto, visitam em vésperas eleitorais
                              Ninguém deve estranhar a posição do ex-      . Ele mantém a sua coerência. A oposição, de resto moderada, que fez ao regime militar, era a de um homem cheio de talentos, que o golpe enviara para o exílio. Para ele, as circunstâncias especiais que o conduziram à Chefia do Estado eram naturais: naquele momento, e em seu próprio juízo, Itamar não poderia encontrar outro. Ele era o príncipe. Não devia ao mineiro a indicação. Devia-a ao seu auto-avaliado saber, que ele quer usar hoje para, sem mandato, liderar a oposição. Resta saber se se curvarão diante de sua grandeza.
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Em tempo: Transcreve-se umas frases do ex-presidente operário:

“- Não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão.”

E mais:
                         " O Brasil já teve político que disse preferir o “cheiro de cavalo ao do povo”, referindo-se a uma célebre frase do general João Batista de Oliveira Figueiredo, presidente durante o regime militar. Agora, afirmou Lula, tem ex-presidente “que fala que é preciso não ficar atrás, esquecer o povão”.
                                   “- O povo não aceita mais oposição vingativa, com ódio, negativista. O povo brasileiro quer gente que pensa no Brasil. A oposição quer que tenha desgraça para poder ter razão.”

VHCarmo.








quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Príncipe dos sociólogos exagerou...

                                     O extenso artigo escrito pelo nosso Príncipe dos Sociólogos ( FHC), sob o título,  “O papel da Oposição”, é uma longa peça e de difícil leitura. Chegar-se ao seu fim é uma tarefa tediosa.
                                     Não há no texto uma coerência que enseje ao leitor perceber em sua inteireza qual a mensagem  principal que verdadeiramente  veicula e qual a ligação possível entre seus muitos tópicos. Aí uma das razões do tédio, além da extensão do texto.
                                    Demais disso, a sua ideologia do caminho que vai indicar à oposição – e que parece ser intenção do autor expor – se diversifica de tal maneira que não permite ao leitor fazer um juízo de valor, tais os pontos contraditórios em que se apóia.
                                    A parte relativa à memória histórica recente, colocada como preâmbulo no texto, trunca-se no momento em que FHC passa a marginalizar a contribuição de outros atores na retomada das regras democráticas concluídas em 1985.
                                    Por outro lado, afirmar que era mais fácil para a oposição “fincar estacas” contra o autoritarismo (entenda-se a Ditadura Militar) do que, na atualidade, contra as esferas do “poder lulista” na vigência das regras democráticas, é, evidentemente, um pensamento  absurdo e uma impropriedade do ponto de vista daquilo que de fato aconteceu, e uma comparação esdrúxula que não faz jus à cultura do nosso Príncipe.                        Isto, segundo FHC, estaria acontecendo 35 anos depois.
                                    Daí, dessa simplificação, o Príncipe dos Sociólogos passa a um ataque progressivo contra tudo o que foi realizado no período Lula, excepcionando aquilo que foi herdado do seu reinado. Os demais e eventuais êxitos, que não admite inteiramente, seriam fruto, apenas, da propaganda do governo, da mídia e da distribuição de benesses aos pobres.
                                    Fernando Henrique Cadoso poupa a Presidente Dilma de suas críticas em respeito ao escasso do tempo de seu governo.                                  
                                     A mixórdia que é a análise do Príncipe sobre o Governo Lula e o PT, chega a ser risível. Quer ele dar a entender que houve por parte de ambos o abandono do ideário socialista e uma conversão ao capitalismo selvagem. Um “adeus às armas”. Tudo  “para enganar os trouxas” (expressões literais do Príncipe).
                                    Prossegue FHC com uma defesa, de certa forma acanhada, de suas privatizações, pretendendo, n o entanto, transferir para elas o mérito do crescimento econômico do país e do conseqüente êxito do lulismo”. Não faz por menos.
                                  Não é propósito deste escriba analisar pormenorizadamente todos os itens, porém o que parece ser a intenção basilar do artigo do Príncipe é de traçar normas da conduta para a oposição, aliás é essa a intenção contida no título do seu texto.
                                Qual é a orientação, então? “Definir o público a ser alcançado”, afastar a pretensão de atrair as camadas populares, o “povão (literalmente), os movimentos sociais, os sindicatos, a sociedade organizada e investir pesado na classe média, principalmente na emergente classe C que não estaria, ainda, maculada pela febre lulista e setores não organizados, porém arregimentados na comunicação via internet (TI) e seus facebooks, tuwiter, etc.    Propõe como exemplo os levantes nos paises árabes, num rasgo de entusiasmo pela indicação surreal e da comunicação midiática para atuar contra um governo que, segundo ele, cultiva o “modo Hitlerista de governar”( também literalmente) .
                               Embora, sem respeito à ordem dos tópicos, assinale-se, aqui, que o Príncipe dos Sociólogos comete um forte ataque ao poder legislativo, usando 10 parágrafos de seu longo texto. Chega a usar termos chulos e atribuir aos parlamentares defeitos e culpas que, absolutamente, não têm. Esquece-se, levianamente, dos serviços prestados à Democracia pelo poder legislativo, centrando no detalhe da corrupção como se esquecendo que dela se serviu amplamente para governar e reeleger-se.
                         Conclusão: o artigo do nosso Príncipe dos Sociólogos, além de longo e tedioso é um texto mal redacionado e concretizado, fato que expõe de modo enfático a indigência de nossa oposição que conta FHC como seu principal líder.
                         É de se considerar que as demais e principais liderança de seu partido se manifestaram contra o abandono do povão, embora vagamente apóiem as demais colocações. Até o outro líder manifesto do PSDB, o Senador Aécio Neves, expôs sua contrariedade quanto à orientação do FHC e não concorda com a orientação de afastar o povão das pretensões do PSDB.

                                      A oposição vem sofrendo enormes desfalques, inclusive com a iminente liquidação do DEM e a revoada de deputados e políticos do PPS e de outros partidos para o PDS do Kassab.   O indefectível Roberto Freire já se mandou para o STF para tentar barrar o PSD.                                                           
                             O texto do Príncipe dos   Sociólogos veio a agravar a situação da oposição, pois colocou a nu as suas tendências elitistas conhecidas, mas sempre ocultadas.
                             Até o PPS, pelo mesmo ex-comunista e atual direitista, deputado  Roberto Freire, se pronunciou contra àquilo que ele chama de pronunciamento infeliz do Príncipe.




VHCarmo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ligeirinha: A decepção - se chama - Obama.

                                 A gente se lamentou, aqui neste espaço, que o fracasso do Presidente Barack Obama que se desenha em cores fortes, não é bom, de nenhum modo, para os paises emergentes e sobretudo nos faz mergulhar num clima de incertezas.
                                 Por outro lado, a ação agressiva dos setores mais conservadores – e por porque não dizê-lo! reacionários – da política norte-americana, ameaça até mesmo os interesses do povo que o elegeu e a economia do país do norte..
                                 O Presidente Lula, num de seus rasgos de premunição disse a Obama, no início da gestão dele,  que não queria “estar na sua pele” e disse mais que, como ele, Lula, Obama não tinha o direito de errar. Infelizmente hoje se constata que ele errou gravemente.
                                 As condições nas quais assumiu o poder, precedido de uma campanha eleitoral extremante popular em que a sociedade norte-americana, talvez pela primeira vez, participou ativamente e levou um negro à presidência, esperava-se dele um atuação histórica, condizente com as promessas eloqüentes dos palanques e as reservas históricas que foram superadas. 
                                    Deu-se o contrário, o Presidente Obama se tornou presa fácil dos setores agressivos da direita norte-americana no Partido Republicano e em setores de seu próprio partido.
                                    Tendo o mundo capitalista mergulhado na crise de 208, ao invés de agir como Roosevelt em favor de seu povo, Obama cuidou de proteger os setores que produziram a bolha financeira e que ora o agridem e, ao que tudo indica,  querem inviabilizar a sua reeleição.
                                   Não há necessidade de citar mais uma vez a quebra das inúmeras  promessas eleitorais, por parte do Presidente: todo mundo sabe; mas é significativo assinalar como ele foi capaz de atingir níveis tão medíocres de atuação, sem sentir que suas posições não lhe renderiam nenhum lucro político e que, por outra parte,vieram para macular indelevelmente a sua trajetória. Contentar os seus inimigos não os fizeram vir para o seu lado.
                                    Não obstante, vale lembrar das suas promessas de paz, que se tornaram, em realidade, medidas de guerras e agressões aos paises pobres da África e do Oriente médio para a sustentação da cambaleante geopolítica do império americano e o assalto às suas riquezas. 
                                      O orçamento de 2011 foi bloqueado pelas forças contrárias a Obama e aprovado, apenas, algumas horas antes do término do prazo fatal que, se ultrapassado, levaria os EEU a uma crise institucional. A aprovação do orçamento, no entanto, resultou de um acordo precário celebrado entre as partes, com um mínimo de concessões por parte da oposição e sob a complacência de parte do partido do governo.

                              Sob o título “Tio Sam respira por parelhos”, texto de roda-pé, escrito pelo Jornalista e Professor Antônio Luiz M.C. Costa, na Revista Carta Capital desta semana, pouco antes da aprovação do orçamento, coloca a nu a grave situação em que se encontra o Presidente Barack Obama.

                              A gente transcreve, abaixo, um pequeno trecho:
“A intransigência dos republicanos ameaça o próprio funcionamento do governo dos Estados Unidos”.

Apesar da necessidade de um mínimo de consenso sobre a gestão da economia em momento tão crítico para o país e o mundo, fazer o governo Obama fracassar continua a ser a prioridade do Tea Party, ao qual o Partido Republicano se deixa assimilar e os democratas não sabem fazer frente.

“Projeto de longo prazo, nem pensar. A proposta do líder republicano da Comissão de Orçamento da Câmara, Paul Ryan, se levado a sério, é um ruptura radical com o estado de bem-estar social legado pela era Roosevelt.

O governo Obama não ousa pagar na mesma moeda, expor a farsa e defender a sua própria visão do futuro com clareza. Aflito por apoio da mídia e empresários para a reeleição e na vã esperança de acordos sobre reformas fiscais, da saúde e previdência, teme um confronto direto com a oposição".

                           Além da proposta inovadora que Obama acenou ao seu povo na campanha eleitoral, a sua condição de negro é, sobretudo, algo que inovou e talvez não estivesse nos cálculos das correntes conservadoras dos EEUU, sendo uma das razões  da sua oposição atual.
                              O fracasso de Obama deve causar um efeito negativo muito sério no grande eleitorado negro que o consagrou e alimentar o racismo que ainda subsiste no povo norte-americano. Demais,  frustra uma esperança que chegou a encher os corações e as mentes pelo mundo a fora.                      Que pena !

VHCarmo.

domingo, 10 de abril de 2011

Ligeirinha: REFLEXÃO SÕBRE A NOVELA " AMOR E REVOLUÇÃO".

                               Não se fizeram esperar as críticas, tentando, até ,de certa forma, ridicularizar a novela do SBT. Foi a toada de todos os cadernos especiais do jornalões neste Domingo, 10.  A crônica, talvez menos furiosa, foi a do jornal Folha de São Paulo, assinada por Fernando de Barros e Silva.
                               Embora o comentarista anote, com razão, a falta de obediência ao calendário da atuação repressiva que, efetivamente, veio a se tornar mais aguda depois dos dias inicias do golpe militar, os críticos, em geral, omitem um fato que é digno de realce, ou seja, que o enredo exibe, pela primeira vez na TV, o grau de violência e irracionalidade com que atuou o regime de então e o apoio do governo americano (Operação “Brother son”). Isto é omitido em todos os comentários, embora envolvesse até a nossa soberania.
                                A introdução no enredo da nivela de uma “estória” amorosa, enseja críticas e os críticos acham fora do objetivo, rompendo, segundo eles, a unidade do discurso teatro televisivo. É razoável o argumento, mas há algo muito importante relegado a segundo plano e omitido pela análise dos “experts”, como exibição das cenas explicitas do martírio dos torturados que passam em branco nos textos que, também, evitam comentar sobre os depoimentos das vítimas sobreviventes que se exibem ao fim dos capítulos da novela.  
                               A Folha de São Paulo, por sinal, foi o jornalão que deu partida no processo violento da repressão à época, quando foi criada a OBAN, em suas dependências, sob as bênçãos da família Frias, do Governador de São Paulo Abreu Sodré e, entre outras personalidades presentes as polícias estaduais paulistas e, por parte do Exército, o General José Canavarro Pereira.      A OBAN - “Operação bandeirantes” – foi a gestora e promotora, a primeira organização repressiva e violenta do regime militar que pretendia se ramificar, também, pelo Cone Sul, onde paises também estavam sendo oprimidos por golpes de estado, então promovidos pela CIA.
                                        Há fortes indícios de que a OBAN foi criada com a ajuda e orientação norteamericana. Os veículos do jornalão Folha de São Paulo eram cedidos aos militares e policiais do DOPS paulistas que os usavam para encobrir e facilitar com a clandestinidade a violência.
                                        Por ter sido pouco eficiente - no entender do regime – apesar do terror que desencadeou, a OBAN, foi afastada pelas forças armadas, que criaram em substituição os antros de tortura e morte dos CODI-DOI, e sua atuação de terror, espalhados pelo país, com sedes e comando em São Paulo e no Rio de Janeiro.
                              A  criação do órgão mais conhecido por DOI-CODI visou, principalmente “a necessidade de coordenação entre os diversos órgãos, integrando-os e fazendo-os convergir os esforços de todos para o bem comum”, conforme ironicamente foi publicado pelo governo militar na imprensa da época.
                               A novela do SBT pode não ter mostrado um certo rigor técnico e cometer erros em relação à época exata da ocorrência dos fatos mostrados, mas tem sido, até aqui, profundamente elucidativa e educativa, principalmente para as gerações que não viveram aquela triste e tenebrosa quadra da nossa história.       Quem gosta de história recente do Brasil deve ver a novela  e, se for o caso, formar seu juízo crítico, afastando-se dos comentaristas comprometidos com a mídia.
                      O depoimento das vítimas que a novela apresenta ao final dos capítulos é, a um tempo, doloroso e instrutivo. Por outro lado, uma coisa é escrever sobre os instrumentos usados na tortura e morte e outra coisa é vê-los em execução, ou seja sendo utilizados por aqueles monstros treinados, como a novela mostra com incrível verossimilhança.
                             A reprodução fidedigna das imagens das torturas, dos aparelhos e dos carrascos treinados pela CIA, embora chocantes conferem autenticidade aos depoimentos dos torturados que se seguem.

                              Finalmente, positivo e altamente relevante é o fato de uma emissora de TV com respeitável audiência como o SBT ter a coragem de exibir esta novela sob esse tema que, por tantos anos, a mídia – que ajudou a repressão - escondeu e minimizou.

VHCarmo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A OEA não sabe de nada,,,

                                  Se há algo que incomoda a gente é essa notícia insólita que a OEA pela CIDH – Comissão Internacional de Direitos Humanos - vem de “lembrar” sobre direitos humanos no Brasil, em relação à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
                                  Inicialmente:  não se pode levar a sério uma instituição que desconhece o assunto no qual se mete a dar aconselhamentos.             A afirmação de  que não teria havido estudo dos impactos ambientais e humanos no Xingu, é simplesmente lamentável para uma Comissão que pretende ter um mínimo de credibilidade.
                                 A construção da Usina está sendo submetida aos órgãos competentes e aos interessados há cerca de 8 (oito) anos. Embora seja obra mais do que necessária ao crescimento do país, o Governo cumpriu religiosamente todas as condicionantes.
                                 Há a considerar que em todo mundo se buscam fontes de energia limpa e há poucas fontes energéticas mais limpas, e menos custosas, do que as hidroelétricas. A alternativa de termoelétricas a carvão e a gás, é altamente poluidora e a energia nuclear está posta em questão após o trágico desastre no Japão.
                               De lembrar que esteve no Ministério do Meio Ambiente  a ínclita candidata Marina Silva, agora no Partido Verde, participando durante a maior parte do tempo da discussão sobre os impactos ambientais e humanos para a construção da usina. É um atestado de isenção.
                                O impacto humano na região foi discutido com as populações indígenas e não indígenas que serão atingidas pelo lago, ao contrário do que afirma o irresponsávelmente a OEA.
                               Inicialmente o lago seria bem maior, mas em obediência às reivindicações dos ribeirinhos e à preservação, passou a 56  mil K2.e as  suas opiniões manifestadas através de suas lideranças foram acatadas.
                                    Omite-se que no Xingu não há somente populações indígenas e que estas já se encontram aculturadas, em sua quase totalidade,  e vêm sendo objeto de ações sociais, há muito tempo,que lhes proporcionaram acesso ao consumo conspícuo da civilização que se expande para o norte. Seus membros falam nossa língua portuguesa. O programa “Luz para Todos” já chegou por lá e com ele os aparelhos elétricos como o rádio e a televisão que os colocam em contato com o seu mundo que é o Brasil, pois são brasileiros. O fim de alguma  civilização reclusa dos índios não será novidade com Belo Monte. Ao contrário, a usina propiciará trabalho e dignidade àquelas populações que são lembradas, apenas, para servir de instrumento político. A usina não vai privá-las de suas tradições, apenas vai propiciar-lhes uma vida mais digna e sua ascensão social no seu espaço que será preservado.
                                           Fica claro que Belo Monte envolve interesses de facções políticas que, por razões nunca bem explicadas, são contra a construção e usam os argumentos os mais estranhos e incoerentes; esses grupos devem estar, ao que tudo indica, por trás dessa indevida intromissão da CIDH. Não há muito tempo esses grupos  tiveram a ousadia de trazer ao Brasil um cineasta americano badalado para vir, à beira do Xingu, fazer campanha contra a usina. É de se indagar: qual o interesse que o move? Algum artista brasileiro seria tolerado nos EEUU para fazer campanha semelhante?  Entrar em assuntos internos do país?
                                        Em boa hora, e sem se intimidar, o Itamaraty, respondeu ao órgão da OEA que as suas insinuações são “precipitadas e injustificáveis”.
                                    Como se sabe, os EEUU fazem parte da OEA e não se conhece nenhum pronunciamento, ou aconselhamento da CIDHA, dirigidos àquele país que é, inquestionavelmente, um Estado terrorista e o que mais transgride os direitos humanos. Haja vista a Lei Patriótica, as históricas invasões de paises pobres da América, o cerco a Cuba, a manutenção da prisão, sem lei, de Guantânamo, sem contar o massacre de populações em suas guerras imperiais por  todo o mundo. 
                                     A OEA ainda não tomou conhecimento da importância do Brasil. É lamentável, pois até o Obama já a proclamou.
                                      Não é a toa que se tem afirmado a inutilidade da OEA que, durante muitos anos, serviu, apenas, aos US para manter sob seu jugo os paises pobres da América. Os nossos foros mais próximos, agora, são o MERCOSUL , o UNASUL e os demais órgãos que reúnem nossos demais irmãos da América do Sul.
VHCarmo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O LAMENTÁVEL PRONUNCIAMENTO DE AÉCIO NEVES.

                                 Após a intensa expectativa criada pela oposição na Câmara e as trombetas sonantes da mídia, sempre tão competente para promover a oposição, o discurso do Senador Aécio foi decepcionante.
                                 Esperava-se um pronunciamento de Estadista – com E maiúsculo - , o que se viu e ouviu – perante uma Casa cheia – foi um discurso vazio de conteúdo e pleno de ataques ao governo e ao Partido dos Trabalhadores. Vale dizer que Aécio não trouxe ao público nada de novo. Seu discurso poderia ser escrito e pronunciado por qualquer um de seus acólitos. Acontece porém que Minas não aplaude qualquer um; os mineiros têm uma tradição de refinamento político quando se trata do Brasil.
                                Esperava-se algo novo; algo na direção de metas para o país e um discurso sereno sem ódios e queixumes. Em suma: palavras de um Estadista.
                                Foi o contrário, as palavras do Aécio não desmereceriam o caviloso Serra; foi algo parecido aos pronunciamentos daquele; o mineiro, como Serra,  manifestou um desprezo lamentável ao verdadeiro sentido dos acontecimentos históricos que trouxe escritos no seu papelório desfolhado na tribuna.
                                Não apoiar a eleição indireta que elegeu Tancredo foi um dos erros atribuído ao partido. Esqueceu-se o nobre Senador que o Partido dos Trabalhadores iniciou e esteve à frente das duras lutas pelas “diretas já” que mobilizaram o povo e colocou sua posição firme contra aquela conciliação por cima, das elites com os militares, que manteve o povo à distância, povo que estava mobilizado. As consequências daquela conciliação sem povo ainda estão aí.
                              A eleição indireta veio a propiciar a saída da ditadura mas ficaram marginalizadas as forças populares e progressistas e a conciliação das elites veio a desencadear os governos Sarney, Collor e Fernando Henrique, levando, por fim, o país a seguir o breviário neoliberal que tantos danos nos causou. Em resumo, o país foi jogado no engodo do “Consenso de Washington”, com o abandono da inclusão social, aumentando a pobreza e ensejando as privatizações criminosas. Foram mais de 100 bilhões de ativos, sem retorno. Foi adotado o neoliberalismo mais cruel.
                                   O passado que deve doer no Partido dos Trabalhadores, não é pelo que afirma o Senador, mas por não ter tido, então, a capacidade de incluir no pacto civil/militar as esperanças do povo sofrido e das camadas progressistas do país.
                                   Não resta ao Partido dos Trabalhadores nenhum arrependimento quanto à posição que sustentou então.
                                  O Senador martelou mais uma das cantilenas que a oposição sempre apresenta como um trunfo, embora seja discutível: o Plano Real.
                                 Convém refletir: a inflação vitimava todos os paises da América do Sul – sem exceção – e a cúpula do capital financeiro mundial e Wall Street, em particular, por isso mesmo, se encontrava sem parâmetros para exercer sua natural dominação dos mercados. A inflação galopante privava os paises de moeda cujo valor pudesse ser até escriturado. Os bancos se debatiam com as correções diárias dos valores monetários.
                                   Simultaneamente em todo aqueles paises foram lançados programas idênticos ao Plano Real, portanto atribuir-se o mérito do plano a  qualuqer governo é meia-verdade;  a coisa veio de fora.
                           Como ficou o Partido dos Trabalhadores na questão? Não confiou plenamente na solução vinda de fora e acolhida pelos economistas cujas tendências alienígenas e entreguistas eram, e são ainda, evidentes e conhecidas.
                             O que ocorreu depois veio a confirmar as dúvidas e suspeitas do PT. As correções do Plano Real para torná-lo eficiente dependiam de medidas a serem tomadas a seguir e não foram implementadas.
                                  A reeleição do FHC, extraída do Congresso por força da corrupção de seus membros (  Aécio omite essa parte), dependia da manutenção da chamada âncora cambial - fetiche a ser removido logo - porém, se removida, seria fatal para a eleição do FHC.          Foi mantida e o homem se elegeu. A correção veio tardia, embora logo após a eleição, produzindo a maior fuga de capitais do país, enriquecendo banqueiros e levando nação  à uma das três crises sérias do péssimo governo tucano.
                                   O que ocorreu veio a dar razão aos receios do PT. O Senador, se fosse mesmo um Estadista, teria se ocupado a explicar os reais motivos pelos quais a oposição petista se colocou, não contra, mas não deu apoio ao plano nos moldes engendrados pelo governo de então, sob comando externo.
             A oposição e o seu partido (PSDB) continuam, ou não, neoliberais e privativistas ? O Senador foge do tema elogia as privaizações.
                          Apesar de fugir do assunto o Senador deixa nas entrelinhas de seu papelório desfolhado na tribuna que é contra o Estado ter influência na Vale, embora seja uma empresa estratégica para o país. Vocifera contra a interferência quando sabe - ou devia saber – que as ações da Vale pertencem em grande parte ao BNDES e aos Fundos de Pensão das Estatais.
                            De lembrar aqui, por oportuno, que o fato de governo deter ações da Vale, sob sua influência,  impediu, por ocasião da crise recente, a demissão de 25 mil trabalhadores que era quanto a Cia. já cogitava jogar ao desemprego. As medidas anticíclicas implementadas pelo governo comprovaram a razão de Estado. Sem esquecer a atuação dos bancos públicos.  O Aécio passa ao largo de questões tão importantes, Aliás, a opoisção mantém as causas de  interesse do povão bem longe de seu ideário.
                             Para não alongar mais essa análise impõe, afinal, lembrar que há no discurso do Aécio uma enorme incoerência, pois ao atacar tão irresponsavelmente o Partido dos Trabalhadores, “esquece-se” que o povo brasileiro acaba de dar uma demonstração cabal de seu amor ao partido. Elegeu a Presidenta; elegeu a maioria dos deputados, grande número de Governadores e Prefeitos e, juntamente com os seus aliados, mais que dobrado o número de seus senadores, conseguiu a maioria esmagadora do Senado.  O governo Lula termina como o mais bem avaliado da história pelo povo.
                                         Acresça-se que a oposição e especialmente o seu maior partido o PSDB, foi apoiada, nessas eleições, praticamente pela unanimidade da mídia e juntamente com ela promoveu a mais violenta baixaria que se conheceu até aqui no processo eleitoral brasileiro, visando a eleger o Serra. O PSDB, apesar disto,  diminuiu seus quadros e o DEM está sendo liquidado.
                                    Esperava-se muito mais de Aécio Neves; muito mais mesmo. Esperava-se um Estadista e veio um opositor medíocre. Afinal ele vem de Minas Gerais, Estado que tem demonstrado uma fina sensibilidade política na história do País. Isto torna mais grave a sua mediocridade.
                                    Terá ele outra chance? O tempo dirá.

vhcarmo.



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tempo oportuno para esse poema...

DRAMA DE CONSCIÊNCIA.

Se eu pudesse fugir
ao paladar amargo desse destino
que devora meus dias
pela borda da nossa história,
talvez não precisasse
varrer a varanda depois do crime.

Mas é que eu não sei ficar de fora
vendo sangue derramar na panela.

Eu não sei contemplar cardápio
e pedir língua de homem assada.

Nem sei esconder as lágrimas
atrás dos óculos
na hora triste do velório.

E se vocês pensam que sou perfeito
eu digo: não!

Eu também quebro pratos ao lavar a louça
e às vezes esqueço de regar as plantas.

Mas o que não admito de ninguém
é ficar sentado em cima do esqueleto
de algum sorriso humano.
_______________________________

Poeta Ricardo do Carmo.
do livro "Amor de consumo".

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A decepção OBAMA...

                                           A recente visita do Presidente Obama leva-nos a uma reflexão. A palavra mais adequada para definir a atuação do presidente no seu governo é: decepção. Como afirma o jornalista e professor Antônio Luiz C. Costa em seu magnífico texto na Revista Carta Capital, de 19 de março, sob o título “A tragédia do homem certo a quem coube se eleger para governar o país errado”, Obama traiu os seus compromissos da campanha eleitoral.  
                                        De fato, ele iniciou por “esquecer-se” da promessa de tornar civilizada a questão relativa aos prisioneiros de Guantãnamo, em Cuba que, como se sabe não têm o mais mínimo direito de serem submetidos à Justiça, nem mesmo a militar, pois no dia 7 de março passado, revogou seu próprio decreto que suspendia os julgamentos dos presos  por tribunais militares. Muitos daqueles presos sequer foram acusados formalmente de qualquer crime. A gente lembra que a promessa do Presidente era peremptória: iria fechar a famigerada prisão.                  Nada.
                                     A subserviência de Obama a Wall Street foi lqastimável e impediu qualquer medida para aliviar a população pobre do peso da crise financeira de 2008/2009, ainda em curso. As medidas implementadas foram todas para salvar os agentes financeiros e o desemprego e a pobreza  aumentaram sensivelmente no país mais rico do mundo.
                                      O Presidente Obama “está à mercê das chantagens da oposição até para manter o governo funcionando, semana a semana, dada a recusa dos Republicanos a aprovar o orçamento de 2011” (LA..M.C.Costa).
                                  A eleição de meio de mandato foi desastrosa para suas intenções de reeleição.
                                   A mais badalada de suas vitórias no parlamento, a da Reforma da Saúde, corre sério risco de esvair-se, pois, já a oposição e mesmo o seu partido passaram a atacá-la e  a contestam no judiciário aonde juizes vêm se manifestando contra ela.   Aliás, vários Estados vêm se recusando a cumpri-la. Dificilmente essa reforma vai se manter.
                                   A sua pregação pacifista na campanha eleitoral – afinal ele obteve o Nobel da Paz - se esfumaçou e os US cada vez mais mergulham em guerras de agressão injustificadas perante seu povo, dirigidas contra paises indefesos em favor da sua geopolítica imperialista. É o caso do seu apoio decisivo na agressão ao povo Líbio, a pretexto de protegê-lo, intenção que até os paralelepípedos da minha rua sambem que é mentirosa.
                                   A tolerância e mesmo a desídia com que Obama tratou a tragédia do vazamento de petróleo no Golfo do México, foi mais uma demonstração de sua fraqueza e a Britsh Petroleum, saiu-se quase intacta de uma dos maiores acidentes poluidores, por vazamento de óleo,  ocorridos no mundo até então, por culpa da empresa.    Anteriormente o mesmo Obama suspendera as cautelas que eram exigidas à BP, para exploração no Golfo e deu no que deu.
                                   Seria exaustivo continuar a declinar o rosário das decepções que Obama causou a todos nós, mas sua fraqueza política é alarmante. A submissão do Presidente a Hillary Cliton é humilhante. Ela o desautoriza a todo instante e, sabe-se, que a família Obama nem sequer foi convidada para o casamento da filha dela. 
                                 A comparação feita pelo jornalista Antônio Luiz é válida: a direita brasileira neoliberal obrigou Lula a se desdobrar para manter-se no governo e reeleger-se, mas ninguém pode afirmar que ele, de algum modo, curvou-se aos poderosos e jamais perdeu a sua dignidade. Nada o impediu, afinal, de cumprir os dois mandatos e sair do governo com a maior aprovação da história política do Brasil.

VHCarmo.