quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O PRONATEC é medida essencial à promoção do crescimento...

                                      O ensino técnico profissional, por muito tempo, foi abandonado no Brasil, devido ao baixo desenvolvimento e a estagnação da indústria, em virtude das políticas neoliberais adotadas pelos governos anteriores. Agora vêm exigindo do governo e, especificamente do Ministério da Educação, medidas amplas para suprir a exigência de quadros técnicos profissionais, de nível médio, principalmente na indústria que está, inclusive, solicitada a promover a infraestrutura necessária à aceleração do crescimento.
                                      Claro que outras áreas da economia também exigem a promoção profissional devido à comunicação de todos os setores implicados no desenvolvimento do país. A carência de mão de obra especializada tem que ser suprida com uma certa urgência e isto já provocou medidas que  vão sendo implementadas pelo Ministério da Educação.
                                           A par dos já propagados incentivos ao ensino técnico de nível superior universitário, o governo está promovendo essas medidas anunciadas e é esclarecedor o pequeno trecho abaixo da entrevista do Ministro Fernando Haddad à  Revista Carta Capital.

Olhem só:

Lançado em outubro pelo governo federal, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec) toma como base as mudanças introduzidas no sistema de ensino durante o governo Lula (2003-2010) e traz diversas inovações estruturais para a expansão da educação profissional no País. Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Fernando Haddad sobre a proposta, após o evento de CartaCapital e Carta na Escola sobre os desafios do ensino técnico no Brasil.

CartaCapital: Pelas suas informações, o País está passando por uma revolução no ensino técnico. Como o senhor resume a atuação do ministério?

Fernando Haddad: Estamos vivendo um momento novo na educação profissional no Brasil com o Pronatec. Ele tem como pressupostos alguns movimentos feitos no governo Lula, que são pilares do programa, e ao mesmo tempo o programa dá impulso e inova em outras dimensões.

CC: Quais são esses pressupostos?

FH: Em primeiro lugar, a revogação do dispositivo que impedia a expansão da rede federal de educação profissional. Só isso bastaria para mexer com as entranhas da educação profissional no País.

CC: As novas unidades estão no mesmo nível educacional das tradicionais?

FH: Se nós levarmos em conta o perfil do corpo docente, hoje ele é muito diferenciado. O planode carreira é o mesmo. É evidente que nós resolvemos enfrentar desafios, que foi ir para regiões de baixa renda. Estamos oferecendo ensino de qualidade para a população de baixa renda. Só a título de exemplo, as cidades do G-100, cidades com mais de 80 mil habitantes e menos de 1 mil reais de arrecadação per capita por ano, estão todas contempladas pelo plano de expansão. Estamos realmente indo onde a rede nunca esteve. A rede estava concentrada nas capitais e nos grandes centros e hoje estamos levando a rede para todas as mesorregiões e microrregiões do País. O segundo pressuposto foi a reforma do sistema “S”. Sobretudo no Senac, chegamos ao cúmulo de não ter mais cursos gratuitos. Aquilo que era a marca do sistema “S” na década de 1970, a educação gratuita para o trabalhador, saiu de cena.

CC: Quanto é o porcentual sobre a folha de pagamento que as empresas pagam ao sistema “S”? Quanto isso soma?

FH: São 2,5% sobre a folha. A ordem de grandeza (das contribuições) é de 10 bilhões de reais anualmente. E, paradoxalmente, apesar de a arrecadação ter crescido exponencialmente durante
o governo Lula, os cursos gratuitos não ressurgiam. Daí fomos para a negociação, o que gerou uma polêmica enorme, mas nossas teses foram vencedoras.

CC: Qual é o terceiro pressuposto?

FH: É a reestruturação do ensino médio estadual. Estamos destinando 1,8 bilhão de reais de recursos federais para investimentos em adaptação, ampliação, reformas e construções de escolas técnicasde nível médio nas redes estaduais.

CC: Quais são as inovações do Pronatec?

FH: A primeira delas foi desonerar os encargos trabalhistas e previdenciários sobre os investimentos das empresas em formação profissional, que era uma reclamação recorrente dos empresários. A segunda foi estender o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) para cursos técnicos e profissionalizantes, além de permitir que os empresários tomem recursos à mesma taxa que é oferecida aos estudantes, que é de 3,4% de juros ao ano, uma taxa fortemente subsidiada. A terceira inovação foi condicionar a concessão do seguro-desemprego à frequência nos cursos profissionalizantes. Há muitos trabalhadores que estão recebendo pela segunda, terceira, quarta e até quinta vez o seguro-desemprego, o que denota que há uma questão de formação que prejudica esses trabalhadores de maneira a fazer com que eles voltem a ser beneficiários.
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VHCarmo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

OS ARTISTAS IGNORANTES QUE SERVEM AO "PATRÃO".

                                      OS ARTISTAS IGNORANTES A SERVIÇO DO "PATRÃO".
                                 
                     O  que causa uma certa estranheza é  ver aqueles artistas que o povão gosta e que, na sua maior parte, procede das classe média e pobre, se deixarem usar pelo reacionarismo da Globo que se excede nessas posições antipatrióticas. Como se viu aqui nesse bloguinho a Globo exerce censura diuturna na comunicação, distorcendo, omitindo e usando, para isto, os jornalistas inescrupulosos e, porque não dizê-lo, ignorantes e mal intencionados.
É triste o espetáculo daqueles artistas a falar de coisas de que não entendem e de fatos e dados que ignoram para servir o patrão e, quem sabe, a troco de uns míseros tostões.

Olhem aí abaixo, uma por uma, as respostas àquela estupidez.
  (O texto é um pouco longo mas, destroça a maldade).

RESPOSTAS AO VÍDEO DE ATORES GLOBAIS SOBRE BELO MONTE.

1. Belo Monte vai alagar parte da floresta Amazônica:

O lago de Belo Monte terá 503 km2 (não 640), só que 228 km2 já estão na área do leito do próprio rio Xingu, sendo que o restante na maioria são áreas já antropizadas, ou seja, já foram desmatadas por criadores de gado, agricultores e comerciantes de madeira ilegal ao longo dos anos, desde a implantação da Transamazônica, no início da década de 1970. Portanto o desmatamento é reduzido se comparado ao que vamos evitar com o empreendimento, uma vez que após a implantação, todo entorno do lago, chamado de Área de Preservação Permanente, de cerca de 28.000 hectares (280km²) será preservado pelo mesmo.

2. Vai alagar o Parque Nacional do Xingu.
Não, o Parque Nacional do Xingu fica a 1.316 km abaixo da usina, portanto não há como ser afetado.

3. A usina vai gerar 1/3 de sua capacidade.
Isso se ouve reiteradamente e trata-se de uma falácia! É normal em empreendimentos hidrelétricos e de quase todas as fontes de geração de energia, ter uma capacidade de geração e um fator de potência, ou seja o quanto dessa capacidade será possível gerar em média em um ano. No caso de Belo Monte, de uma capacidade instalada de 11.233 MW ela vai gerar 4.571 MW médios, ou seja 41% (e não 33%).
Esse número é o suficiente para abastecer 40% do consumo residencial de todo o País. Ao longo de sua elaboração, o projeto de aproveitamento hidroelétrico de Belo Monte foi profundamente modificado, com vistas a restringir os impactos que poderia acarretar ao meio ambiente e à população da região. A área de inundação foi reduzida em 60% em comparação com o projeto inicial, isso diminuiu a geração média de energia, mas foi importante para a diminuição do impacto.
A título de comparação, enquanto a média nacional de área alagada é de 0,49 km² por MW instalado, a Usina de Belo Monte deverá contar com uma relação de apenas 0,04 km² por MW instalado. Isso sim pode ser considerado um fator de definição de um bom aproveitamento, o quanto alaga para a quantidade de energia que vai gerar, e no caso de Belo Monte é muito bom.
Trata-se, portanto, de um empreendimento estruturante para a política nacional de expansão da geração de energia, trazendo uma contribuição importante para que a energia elétrica disponível para a sociedade brasileira nos próximos anos satisfaça o imperativo da modicidade tarifária e da segurança energética. . Da energia que será produzida por Belo Monte, 70% destinam-se ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e apresenta o segundo menor valor dentre todos os empreendimentos elétricos dos últimos 10 anos (R$ 78,00/MWh).
Uma das questões paradoxais é o fato da usina receber – do mesmo grupo de atores – dois tipos de críticas distintas e opostas, ou seja, a usina desrespeita totalmente o meio ambiente e os direitos dos índios, e a usina não é eficiente, por só aproveitar parte do potencial do rio. Ora, há duas maneiras de se construir uma usina. Basear-se exclusivamente no critério de eficiência, onde teria que dispor de um lago enorme, como era o projeto original de 1980, alagando regiões amplas. Optou-se por um sistema energeticamente menos eficiente – o de geração de energia em cima da correnteza do rio, denominado a fio d’água – justamente para privilegiar questões ambientais. Ou seja, a usina não é tão eficiente com a média das hidrelétricas do Brasil (na faixa de 50%) justamente em respeito a questões sociais e ambientais.

4.Mas essa energia vai beneficiar apenas as grandes indústrias multinacionais, como mineradoras e fabricas de alumínio.
Também não é verdade, toda a energia gerada por Belo Monte será conectada ao Sistema Interligado Nacional, portanto irá gerar energia para todo o país.

5. Para onde irão os índios e os ribeirinhos?
Essa pergunta não procede! Nenhum índio sairá de suas terras por causa do empreendimento. Os índios na região hoje vivem em situações de extrema vulnerabilidade, ameaçados e às vezes mortos por madeireiros ilegais, com pouca assistência de serviços públicos que eles também necessitam.
Com o empreendimento, serão implantados diversos programas de apoio e proteção às comunidades indígenas em um programa que está sendo discutido com eles. Querem vender a idéia (inclusive internacionalmente) de que os índios vivem em um paraíso longe da civilização, mas isso não é verdade na região, basta ir lá para constatar.
Na fase de apresentação e debate do projeto foram realizadas 41 reuniões documentadas em áudio e vídeo. Os estudos etno-ecológicos abrangem medidas para mais de 2.000 indígenas distribuídos em 28 áreas.
Como resultado destes encontros, foi implantado um programa emergencial de atendimento às comunidades, além de uma ação de comunicação específica visando melhor integrar as ações com as aldeias da região. Além disso, um programa perene está em curso levando em conta os componentes de Saúde e Segurança, Programa de Livre Acesso, Programa de Monitoramento e Manejo da Flora, Plano de Comunicação e Interação Social, Programa de Educação Patrimonial, Programa de Educação Ambiental, e Plano de Saúde Pública. O total de recursos destinados pela Norte Energia para questões indígenas chega a R$ 17 milhões.
Quanto aos ribeirinhos, os que serão deslocados poderão optar por várias formas de realocação e terão todo apoio técnico, social e financeiro para continuarem suas vidas e terem condições de desenvolverem-se. Segundo a própria licença ambiental, todos devem aprovar as áreas de realocação, que devem ser próximas de onde viviam e permitir que mantenham sua atividade.
Também é importante saber que quase 7.000 famílias vivem hoje na cidade de Altamira em palafitas nos igarapés em condições sub-humanas. Todas essas famílias serão realocadas para condomínios habitacionais com toda infra-estrutura adequada a não mais de 2 km de onde estão hoje. Aproximadamente, 18.000 pessoas, receberão casas em locais próximos, totalmente urbanizados com saneamento básico, postos de saúde, escolas e locais de lazer. Tudo isto vai ocorrer antes do final de 2014, quando está previsto o enchimento do lago.
6. Não precisamos da energia de Belo Monte? Por que não fazem usinas eólicas ou solares?
Claro que sim, precisamos dessa energia! Hoje você, eu e todos os que estão no vídeo temos a felicidade de termos acesso à energia elétrica e vários equipamentos eletrônicos em casa, mas ainda há brasileiros que não tem acesso à energia e uma classe baixa que está ascendendo e tem o direito de querer conquistar as mesmas coisas. Além disso, já se sabe que sem energia garantida e a custo razoável não há como instalar novas indústrias e serviços para gerar emprego, renda e o país se desenvolver, ou seja, não há saída sem investimento em geração de energia. Por isso, especialistas afirmam que necessitamos de 5.000 MW por ano de energia adicionada ao sistema. Não é possível fazer isso exclusivamente com energia eólica e solar. O Brasil tem investido muito nessa área, a cada ano novos empreendimentos de geração eólica têm sido adicionados ao sistema, o PAC hoje contém 218 empreendimentos que totalizam mais de R$ 22 bilhões de investimentos e mais de 5,6 mil MW de potência instalada. Desse total já foram concluídos esse ano 216 MW e outros 628 já estão em obras. O planejamento do setor é que até 2020 teremos mais de 4% da nossa matriz vinda dessa fonte, em 2010 representava apenas 0,4%. Mas essa fonte tem um limite para ser explorada, apenas alguns estados brasileiros têm regime de vento que permita viabilizar a geração, além do que, não venta todo o ano, portanto ela é complementar. A energia solar ainda tem um custo muito alto, embora novas tecnologias estejam sendo desenvolvidas.
Estamos ainda investindo em térmicas à biomassa, que pode chegar a 10% da matriz em 2020, mas como podemos ver, essas fontes não serão suficientes e precisamos da energia hídrica, que o mundo todo nos inveja por termos um grande potencial a explorar. As demais alternativas são térmicas a óleo e gás, emissoras de gases que afetam a camada de ozônio e nucleares, que como se sabe, vários países estão em processo de desativação.
Qualquer fonte de energia tem seu impacto e sua região de aplicabilidade. No caso da energia eólica para se aproveitar esse potencial de Belo Monte, necessitaríamos instalar cerca de 6.330 aerogeradores, de 3 MW cada, ocupando uma área de 470 km², ou seja pouco menor daquela ocupada por Belo Monte (503 km²).

7. Belo Monte vai inundar o Parque Nacional do Xingu?

Belo Monte não vai inundar qualquer terra indígena e muito menos o Parque Nacional do Xingu, pois este se situa a 1.300 km a montante da barragem, quer dizer rio acima, e não há qualquer possibilidade física desse Parque ser afetado pela Usina e muito menos alagado.

8. Vão gastar 26 bilhões no projeto? Tudo isso? Quem vai pagar?

Os custos de um grande projeto de infra-estrutura são realmente altos, mas os projetos de geração de energia são elaborados com muita responsabilidade e o Brasil tem hoje uma das maiores tecnologias em hidrelétricas do mundo. O “Project Finance” de Belo Monte, ou seja, o projeto que estrutura seu financiamento foi analisado por diversas instituições financeiras sérias, como por exemplo, o BNDES e grandes empresas nacionais do setor de energia. O projeto será financiado em maior parte pelo BNDES e quem será o responsável pelo pagamento desse empréstimo é o empreendedor, a Norte Energia. O consumidor pagará apenas a conta de energia elétrica, ao longo dos 35 anos de concessão, com a certeza de ter um dos mais baixos custos de eletricidade praticados no Brasil. Essa tem sido a melhor forma de viabilizar projetos de infra-estrutura em todo o mundo, um empreendimento que é financiado, mas se paga através do fornecimento dos serviços que gera.Belo Monte é sim, um empreendimento viável também economicamente.
9. Quem foi que disse que hidrelétrica é energia limpa?
Todo mundo! As fontes de energia que não emitem gases na atmosfera são consideradas limpas, portanto energia nuclear, por exemplo, é considerada limpa. Energias renováveis são aquelas que não consomem recursos naturais como petróleo, gás ou urânio (no caso da nuclear). A energia de fonte hídrica é considerada limpa e renovável, pois não emitem poluentes nem consomem recursos, mas precisam ser implantadas com todo o cuidado para fazer com que as regiões onde são construídas fiquem melhores e não pior depois de sua implantação.
O Brasil tem uma das mais rigorosas legislações ambientais do mundo, para se ter uma idéia, no caso de Belo Monte, a licença ambiental determina ao empreendedor um grande número de ações que compõe o Plano Básico Ambiental – PBA, composto por 14 planos, 5 programas e 86 projetos. Além disso, o Governo Federal está realizando algo inédito na região que engloba os 11 municípios da área de influência indireta do empreendimento, o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu, que terá R$ 500 milhões investidos pelo empreendedor, além de recursos dos Governos Federal e Estadual avaliados em R$ 2,5 bilhões. Esse plano está sendo discutido com representantes da região como prefeitos, trabalhadores, rurais e urbanos, empresários, pescadores, indígenas e outros.
Por isso é que insistimos que para posicionar-se em relação a esse grande empreendimento é necessário conhecer o projeto, seus números, ouvir especialistas e principalmente os moradores da região que na sua maioria tem se manifestado a favor. O Brasil, o estado do Pará e a região do Xingu não abrirão mão de buscar o seu desenvolvimento econômico e social com sustentabilidade.
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VHCarmo.


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Direito de ver ... que é subtraído ao público.

                                  O virtual monopólio dos meios de comunicação no Brasil, através de pouquíssimas empresas, importa, como bem frisa o texto abaixo, além de distorções opinativas para favorecer seus interesses de facção política e econômico-finaceira, atuam também, para garantir suas conveniências imediatas, de forma a privar o grande público do conhecimento de fatos e ocorrências ao omiti-los para garantir aqueles mesmos interesses.
                                  Os nossos jornalões e Revistas (em sua maior parte) exercem uma verdadeira censura, não dando curso a opiniões contrárias ao seu ideário. Fato notório e curioso,  pois convocam sempre os "especialistas" que nunca divergem deles.
                                  Atualmente, ao ler notícias nos Jornalões e Revistas ou tomar conhecimento delas pelas TVs., a gente não pode ter a certeza de estar recebendo a informação correta e que  elas não sofreram a interferência dos redatores sabujos na sua formulação e na forma de sua exibição.
                                É de lembrar aqui  o jornalista Mino Carta que não se cansa de afirmar que o Brasil é o único país no mundo onde o jornalista chama o patrão de companheiro.
                                O texto abaixo focaliza, de modo particular, a atuação específica das TVs. que exercitam a censura prévia dos noticiários, os mutila e os deixa de exibir.
                         É interessante ler:

                                            Direito de ver.

Se a censura oficial deixou de existir, a empresarial cresceu de forma assustadora. Hoje quem impede o brasileiro de saber muito do que ocorre no país e no mundo são os grandes grupos de comunicação. Mostram um recorte da realidade produzido segundo seus interesses e escondem o que não lhes convêm.

Laurindo Lalo Leal Filho

Publicado originalmente na Revista do Brasil (Novembro, 2011).

Quem viveu a ditadura militar no Brasil sabe o que é censura. Jornais publicavam poemas e receitas de bolo no lugar dos textos cortados pelos censores. Nas redações temas proibidos estavam nos murais para nenhum jornalista tocar naqueles assuntos. Felizmente isso acabou e o Estado agora é responsável pela garantia da liberdade de expressão.
Mas se a censura oficial deixou de existir, a empresarial cresceu de forma assustadora. Hoje quem impede o brasileiro de saber muito do que ocorre no país e no mundo são os grandes grupos de comunicação.
Mostram um recorte da realidade produzido segundo seus interesses e escondem o que não lhes convêm. Como são poucos, com orientações editoriais semelhantes, a diversidade de notícias e de interpretações da realidade desaparecem.
Em política e economia a prática é diária. Basta ver o alinhamento do noticiário com os partidos conservadores e a exaltação da eficiência do mercado. Na televisão, a censura vai mais longe e chega até ao esporte.
De disputas esportivas, quase todas as competições foram sendo transformadas em programas de televisão, subordinados aos interesses comerciais das emissoras.
Tornaram-se produtos vendidos por clubes e federações às TVs que, em muitos casos, compram e não transmitem os eventos, só para evitar que os concorrentes o façam.
Há um caso exemplar ocorrido em Pernambuco. Enquanto a Rede Globo transmitia para o Estado jogos de clubes do Rio ou de São Paulo, a TV Universitária local colocava no ar as partidas do campeonato estadual.
Claro que estas despertavam maior interesse, elevando a audiência da emissora. A Globo, sentindo-se incomodada, comprou os direitos de transmissão do campeonato para não transmiti-lo, retirando do torcedor local o direito de ver o seu time jogar.
Quando passamos do regional para o global a disputa fica ainda mais acirrada, como vimos com o recente duelo travado entre Globo e Record em torno dos jogos Panamericanos de Guadalajara.
Salvo em raros momentos, a emissora da família Marinho nunca deixou de ditar a pauta esportiva nacional. Além das transmissões de eventos, seus noticiários foram sempre contaminados por exaustivas coberturas das competições.
Quantas vezes o Jornal Nacional dedicou mais tempo à seleção de futebol ou a uma corrida de carros do que a assuntos de relevante interesse político ou social?
Com a ascensão da Record o quadro mudou. E o Pan do México ficará na história da televisão brasileira como o momento de ruptura do monopólio das transmissões esportivas no país.
Se há o lado positivo da entrada de um novo ator em cena, há a constatação de que o direito de ver segue sendo usurpado do telespectador.
No caso da Globo, seus decantados “princípios editoriais”, segundo os quais “tudo aquilo que for de interesse público, deve ser publicado, analisado, discutido” foram, outra vez, ignorados.
Nos primeiros dias de disputa o Pan não existiu para a Globo e, depois, ficou restrito a míseros segundos no ar. Na concepção da emissora, por serem transmitidos pela concorrente, deixaram de ter “interesse público”.
Por outro lado a Record não fez por menos e de olho na audiência, em muitos momentos, não transmitiu os jogos – e só ela podia fazer isso – para manter no ar sua programação normal.
Frustrou inúmeros telespectadores que num domingo foram em busca do Pan e se viram diante do Gugu.
A aplicação das leis de mercado, sem controle, ao mundo da TV é a causa desse desconforto. Não há como mudar a situação sem a interferência do Estado, colocando algumas regras para proteger o telespectador.
No caso específico do futebol, o governo argentino resolveu o problema comprando os direitos de transmissão dos jogos do campeonato nacional, passando a transmiti-los em sinal aberto pelo Canal 7, a emissora pública do país. Não é uma boa ideia para começar?

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

VHCarmo.

MOMENTO DE POESIA....

Psicologia da composição (excertos)
João Cabral de Melo Neto.

A Ledo Ivo.

II

Esta folha branca

me prescreve o sonho,

me incita ao verso

nítido e preciso.


Eu me refugio

nesta praia pura

onde nada existe

em que a noite pouse.


Como não há noite

cessa toda fonte;

como não há fonte

cessa toda fuga;


Como não há fuga

Nada lembra o fluir

do meu tempo, ao vento

que nele sopra o tempo.

III

Neste papel

pode o teu sal

virar cinza;


pode o limão

virar pedra;

o sol da pele,

o trigo do corpo

virar cinza.

(Teme, por isso,

a jovem manhã

sobre as flores

da véspera).


Neste papel

logo fenecem

as roxas, mornas

flores morais:

todas as fluídas

flores da pressa;

todas as úmidas

flores do sonho.



(Espera por isso,

que a jovem manhã

te venha revelar

as flores da véspera).
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VHCarmo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Os "Indignados" e as eleições na Espanha...

                                  Os movimentos sociais na Espanha, em face da grave crise econômica e política que o país atravessa, se concentraram no chamado “Movimento dos “Indignados”.
                                 Os protestos reuniram milhares de pessoas em todo país, especialmente nas suas cidades mais importantes, na indignação contra o caos econômico ao qual a Espanha foi lançada dentro da União Europeia e na chamada Zona do Euro.
                                É inquestionável que as origens da crise que se estende por todos os paises europeus, resultou da adesão ao neoliberalismo e da conseqüente desregulação do sistema financeiro, produtor das chamadas “bolhas financeiras", por sua vez, resultantes da alavancagem e da ação criminosa dos bancos e ataques especulativos contra a economia do país.
                              Ao Movimento dos Indignados faltou uma estruturação e uma bandeira política determinada e objetiva. Sua direção difusa veiculava a sua  própria desvinculação dos  partidos políticos e o seu afastamento das lideranças sindicais, tornando esse discurso também dispersivo e sem resultados práticos como ora se constata.
                                 A esquerda da Espanha no governo socialista entrou nessa crise como ‘Pilatos no Credo’. Por mais que se aplicasse na solução da problemática econômica, faltaram-lhe os meios, pois a crise veio através da contaminação dos mercados no Velho Mundo e dos EEUU. Os socialistas espanhóis se tornaram, assim, as maiores vítimas políticas da crise da Europa e da moeda (o Euro) que atingiu a Espanha.
                              Nas eleições programadas para esse Domingo (20/11) estão sendo  eleitos 350 membros do parlamento e 208 senadores. A previsão, ora confirmada, foi uma vitória esmagadora da direita, que passa a ocupar a chefia do governo por seu candidato direitista Mariano Rajoy.
                             Com a eleição se reforçarão as medidas recessivas e de agravamento do desemprego que é o maior da União Europeia, ( 23%), atingindo de modo mais acentuado os jovens; tudo em obediência aos organismos internacionais, o Banco Central Europeu e o FMI que comandam o processo, dito de resgate. 
                                 A  esta altura uma reflexão: se a direita e suas políticas recessivas neoliberais levaram à crise, como entender que essa mesma direita vai solucioná-la. Gerald Celente economista e analista social do Instituto de Pesquisas Trends não faz por menos: prevê um mergulho da Europa no fascismo que ressurge com ameaças mesmo de guerra que ele chama da grande guerra do século XXI.
                                Olhem o comentário exibido num jornal espanhol, antes do desastre da esquerda que se avizinhava ( e se confirmou) e a participação na eleição dos “Indignados”:

                              Efeito “indignados”.
Na véspera da eleição, o movimento popular dos “Indignados”, que tem promovido grandes mobilizações do país desde maio, clamou a população para votar com “consciência crítica”, considerando a possibilidade da opção dos votos nulos (mas não a abstenção e os votos brancos).
Indignados chamara a atenção para um voto com "consciência crítica".
Para Lohbauer, essa atitude do movimento impediu que ele tivesse um peso majoritário nessa disputa – o que acarreta em deixar as coisas como estão.
O grande problema desse movimento é a falta de uma bandeira política. (...) Sem isso, esses movimentos perdem força. As pessoas acham que podem [mobilizar politicamente] sem posição organizada, mas não dá. Os”Indignados" não tiveram influência, eles só transformam a situação mais tensa e distante do mundo político, porque os indignados também são contra qualquer representação política organizada. Nessas condições, fica impossível propor um modelo alternativo ao vigente”.
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Observação: no Brasil onde a oposição se esfacelou, a mídia tenta - à evidência - promover e apoiar tipos de movimentos como os dos Indignados espanhois.  Felizmente o nosso país ostenta uma forte mobilização em torno dos meios institucionais e uma firme direção de seu governo central, frustrando a ação daqueles grupos midiáticos.
VHCarmo.


sábado, 19 de novembro de 2011

Um momento de poesia...

NA BOCA.
Manoel Bandeira.

Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
Ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
-Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados.

Dorinha meu amor...
Se ela fosse bastante pura iria agora gritar-lhe como o outro:
(- Na boca! Na boca!
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VHCarmo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A reconquista da Rocinha pelo PHA...

                             Este escriba não pode se furtar de transcrever esse texto, aí abaixo, do PHA que, de uma forma gostosa, faz a gente pensar sério naquilo do que é capaz o ESTADÃO.  A esta altura e considerando que o fato se deu no Rio,  a matéria do jornal transcende à uma "coisa antiga" e já em desuso: o bairrismo paulistano.  Como se vê, para exercitar sua verve, o jornal  nem sequer se vale de dados  reais e parece que, por estar "tão longe" de São Paulo, a Rocinha é algo desconhecido pelo Jornalão.
Olhem  só:
Redação Conversa Afiada.

A reconquista da Rocinha e o preconceito do Estadão
Publicado em 13/11/2011.
  
Como previsto, a reconquista do território nacional da Rocinha neste domingo foi um sucesso.
Foi a demonstração de que uma Política de Segurança é possível.
O narco-trafico não controla mais a Rocinha, como controla capítulos do território do México.

É impossível acabar com o consumo de cocaína, porque, ali mesmo, embaixo da Rocinha, em alguns dos prédios mais elegantes do Rio, e ainda mais para o Sul, provavelmente há consumidores de cocaína.
(Provavelmente, em São Paulo se consome mais cocaína do que no Rio, já que em São Paulo se consome mais tela-plana, vinho Malbec e aspirina infantil. Mas, como se sabe, no PiG (*), o Rio consome mais cocaína que São Paulo.)
Como diz o Secretário Beltrame, traficante sem território é menos traficante.
Um sucesso.
E, dessa vez, o cinegrafista da Globo não merecerá um Emmy.
O Nem foi preso antes; não pode fugir.
(Preso e conduzido como um escravo a caminho do pelourinho, apesar da súmula-vinculante do Ministro Marco Aurélio de Melo.)
Apesar do retumbante sucesso, o Estadão insiste que foi um retumbante fracasso.
Por exemplo.
“Sobram criminosos (sic) e começa a faltar território para o domínio aberto (sic) no Rio em áreas mais distantes, nas quais as UPPs são apenas (sic) promessas (sic).”
Esses bancos credores que controlam o Estadão …
O Estadão tratou da reconquista do território da Rocinha na pág. C1, com todas as tintas do preconceito.

A começar pelo título: “Invasão da Rocinha vai abalar maior empresa do crime organizado no Rio”.

Preconceito 1) : não é invasão nem foi.
Preconceito 2), embutido na generalização.
A Rocinha é muito mais do que a sede da “maior empresa do crime organizado no Rio”.

De boca de fumo rentável nos anos 1980, a favela se tornou nos últimos anos uma das grandes produtoras e vendedoras de droga.”

A “reportagem” não oferece um fato, um número que comprove quaisquer das afirmações.

Nem sobre a Rocinha nos anos 80, nem de hoje.

É um exercício ficcional, com verniz de informação.

Quem tem a contabilidade do Nem ?

Onde está o balanço da “Nem S/C Ltda”, assim como os balanços transparentes do Estadão ?

A Rocinha não é um antro de drogas !
Nem nunca foi.
Pergunte ao Bradesco.
Vá aos portais da Rocinha, aqui e aqui, e comprove a suspeita do Estadão: “aquilo” é um antro” !
Preconceito número 3: sobre o “crime organizado”.

Estadão diz que a Rocinha vai abalar a “maior empresa do crime organizado do Rio”.

Este ansioso blog se permite discordar.

O “crime organizado” da Rocinha não chega nem perto, segundo a Polícia Federal, quando era Republicana, a duas inequívocas manifestações de “organização de crime”.
Na Operação Chacal, a PF Republicana achou os discos rígidos do banco Opportunity e denunciou a instituição e seus dirigentes como membros de uma facção do “crime organizado”.
A Operação Satiagraha, também do tempo em que a PF era Republicana, achou uns discos rígidos na parede secreta do dono do banco Opportunity e botou ele e a família na cadeia.
Tanto o banco Opportunity (que só é banco no nome) quanto a parede falsa ficam à beira mar no Rio.

Como a Rocinha.

E sobre eles, o Estadão, ah !… o Estadão !

A elite paulista do século XIX, que sobrevive, toda arranhada, no Estadão, parece ser da tese que “crime” só se organiza quando tem pobre, preto e …
Viva o Brasil!
                          Paulo Henrique Amorim.

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VHCarmo.



terça-feira, 15 de novembro de 2011

A baixaria da Folha já começou...



                                 Já foi lançada pelos jornalões paulistas a campanha eleitoral para prefeito da cidade de São Paulo e sua correpondente baixaria. A primeira medida da mídia é tentar eliminar o candidato do PT para abrir caminho aos seus neoliberais.    A Folha de São Paulo já tomou partido.
                                      Embora haja ainda um enorme caminho pela frente  a mídia cogita inviabilizar o Ministro Haddad.  E já começa atacando forte. É sinal, no entanto, que há uma possibilidade grande de o candidatado do PT emplacara Prefeitura. Este é o lado positivo do jogo que pode favorecer o petista. A baixaria, mais das vezes, dá resultado contrário ao esperado. O passado recente confirma.
                          O que causa espécie, obviamente, é a qualidade do discurso dos jornalões e seus sequaases que vivem a pregar “democracia” e não têm o mínimo de ética, produzindo esse discurso “neofascista” e agressivo que se verá abaixo.
                            Este escriba transcreve o texto, aí abaixo, que dispensa comentários. Olhem só como age o Jornalão Folha de São Paulo:

PT paulista (e nós tb) se prepare vem chumbo pesado por aí. PIG (FSP) já começou a colocar as manguinhas de fora.
                           Haddad foi para o tronco.
Autor:
Sergio Saraiva

Creio que aqui todos já tomaram conhecimento desta frase:“Não se pode tratar a USP como se fosse a cracolândia. Nem a cracolândia como se fosse a USP.” É do ministro Fernando Haddad criticando a ação da PM na USP.
O sentido dela é óbvio, na cracolândia existe um grave problema de tráfico de drogas a céu aberto e a policia limita-se a mantê-lo circunscrito a determinado perímetro em nada incomodando os traficante; na USP estudantes sofreram revistas sistemáticas até que alguém fosse flagrado com um reles cigarro de maconha, então foram tratados como bandidos. A inversão é tão gritante que a própria Folha de São Paulo, que em editorial passado preconizava o uso da força contra os "maconheiros vagabundos", no editorial de hoje começa a recuar. Porém há um contrabando no texto que deixou-me preocupado.
Que a Folha zomba da inteligência de seus leitores é fato conhecido, mas costuma fazê-lo com certo cuidado. Quando parte para a zombaria descarada é porque já mandou às favas os pruridos de consciência.

Vejamos o trecho do editorial "A polícia e a USP" de hoje, 14/11.

O mote é o recuo da Folha em relação aos estudantes da USP: "PM tem problemas mais graves a resolver que revistar jovens, universitários ou não, à procura de pequenas quantidades de maconha".

Porém, lá pelas tantas a Folha assaca contra nós esta pérola:

"Foi particularmente infeliz, sob este aspecto, a frase do ministro da Educação, Fernando Haddad, segundo o qual "a USP não é a cracolândia". É difícil afastar a impressão de que, com isto, sugeria-se existir uma carta branca para a PM reprimir como bem entendesse os miseráveis dependentes do crack no centro de São Paulo, cabendo, ao contrário, mesuras especiais à "gente diferenciada" que frequenta o campus do Butantã."
                           Toma-nos por tolos o editor?
Não, está marcando uma posição. Pouco importa se torce ou não o sentido da frase de Haddad.
Seria o caso de mais uma vez bradarmos Quousque tandem abutere, Folha, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?.
Até quando, enfim, ó Folha, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a tua audácia desenfreada se gabará de nós?

Mas não nos enganemos, é o jogo bruto contra Hadad que começou.
Logo ao lado um texto de Melchiades Filho me espantou pela agressividade.
Alguns trechos de "Dispensa de classe":
"Remanescentes do governo Lula, Lupi e Haddad faz tempo são nomes certos na lista dos que sairão.
Tanto faz Lupi se declarar à presidente. O amor não é correspondido.
Já a educação aparece na lista das prioridades do governo e dos assuntos caros à presidente".
Por isso, é acintoso que Haddad venha usando o horário de trabalho para sua agenda pré-eleitoral. (imagino que Melchiades esteja sugerindo a marcação de cartão de ponto pelo ministro. É ridículo, mas é Melchiades).
Na semana passada, enquanto o MEC divulgava de modo acanhado o censo do ensino superior e ainda lidava com implicações judiciais de mais uma fraude no Enem, o ministro cuidava de criticar a atuação da PM "tucana" na USP e se empenhava nos conchavos para unificar o PT em torno de sua candidatura. ( ele acusa o político Haddad de fazer política)
Mas um governo alinhado a esses novos parâmetros, pautado pelo bom senso, tampouco pode acolher um ministro concentrado em projeto político pessoal. Renúncia, licença ou reforma, Haddad precisa sair. (o jornalista lembrou-me Carlos Lacerda)
Haddad precisa sair, descaradamente assim.
Se não é arrogância é desespero. As eleições de 2012 começaram, a Folha ainda não sabe a quem quer, mas já sabe a quem não quer.
Preparemo-nos para mais uma campanha de baixarias.
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VHCarmo.

Um momento de poesia...

Poema dos  astros.
Deste humilde blogueiro.

Sobre escolhos e luzes
vindos do fundo  do universo pardo,
como fecho azul de espumas,
me esquivo no sonho,
bobulhando em ezimas.
envolvem estrelas anãs
e gangantas profundas
e negras
de outros mundos
arrancados do livro
que leio esta manhã sem sol,
agasalhado de angústias.
Seguem indiferentes os universos. 
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Do livro "Memórias - A vila do Capivara".Edit. 2000.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Editorial para ser lido e propagado...



                                         O consagrado jornalista Mino Carta, com justa indignação, analisa a reação estranha da nossa imprensa em relação à doença que acometeu ao ex-Presidente Lula e à pessoa dele, análise veiculada no Editorial da Revista Carta Capital da última sexta-feira, ainda nas bancas. Impõe dar curso às suas candentes palavras que ensejam, mais uma vez, uma séria reflexão sobre a atuação da mídia que, sem regulamentação, se permite ultrapassar os limites do bom senso e do respeito devido às pessoas em geral  e, particularmente, a um ex-Presidente que saiu do governo com aprovação inédita de seu povo.
                            
        Olhem só:


                        Efeitos da pregação midiática.

No princípio era e é a mídia. A primazia vem de longe, mas se acentua com o efeito combinado de avanço tecnológico e furor reacionário. De início a serviço do poder até confundir-se com o próprio, um poder ainda medieval de muitos pontos de vista, na concepção e nos objetivos.

Ao invocar o golpe de Estado de 1964, os editorialões receitavam o antídoto contra a marcha da subversão, obra de pura fantasia, embora os capitães do mato, perdão, o Exército de ocupação estivesse armado até os dentes. Marcha da subversão nunca houve, sequer chegou a Revolução Francesa. Em compensação tivemos a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.
Há tempo largo a mídia cuida de excitar os herdeiros da Casa-Grande ao sabor de pavores arcaicos agitados por instrumentos cada vez mais sofisticados, enquanto serve à plateia, senzala inclusive instalada no balcão, a péssima educação do Big Brother e Companhia. Nem todos os herdeiros se reconhecem como tais, amiúde por simples ignorância, todos porém, conscientes e nem tanto, mostram se afoitos, sem a percepção do seu papel, em ocasiões como esta vivida pelo presidente mais popular do Brasil, o ex-metalúrgico Lula doente. E o estímulo parte, transparentemente, das senhas, consignas, clichês veiculados por editorialões, colunonas, artigões, comentariões.

Celebrada colunista da Folha de S.Paulo escreve que Lula agora parece “pinto no lixo”, cuida de sublinhar que “quimioterapia é dureza” e que vantagens para o enfermo existem, por exemplo, “parar de tomar os seus goles”. Outra colunista do mesmo jornal, dada a cobrir tertúlias variadas dos herdeiros da Casa-Grande, pergunta de sobrolho erguido quem paga o tratamento de Lula. Em conversa na Rádio CBN, mais uma colunista afirma a culpa de Lula, “abuso da fala, tabagismo, alcoolismo”. A cobra do Paraíso Terrestre desceu da árvore do Bem e do Mal e espalhou seu veneno pelos séculos dos séculos.

Às costas destas miúdas aleivosias, todas as tentativas pregressas de denegrir um presidente que se elegeu e reelegeu nos braços do povo identificado como o igual capaz de empenhar-se pela inclusão de camadas crescentes da população na área do consumo e de praticar pela primeira vez na história do País uma política externa independente. Trata-se de fatos conhecidos até pelo mundo mineral e, no entanto contestados oito anos a fio pela mídia nativa. E agora assistimos ao destampatório da velhacaria proporcionado pelo anonimato dos navegantes da internet, a repetirem, já no auge do ódio de classe, as tradicionais acusações e insinuações midiáticas.
Há uma conexão evidente entre as malignidades extraordinárias assacadas das moitas da internet e os comportamentos useiros do jornalismo do Brasil, único país apresentado como democrático e civilizado onde, não me canso de repetir, os profissionais chamam o patrão de colega.

Por direito divino, está claro. E neste domínio da covardia e da raiva burguesotas a saraivada de insultos no calão dos botecos do arrabalde mistura-se ao desfraldado regozijo pela doença do grande desafeto. Há mesmo quem candidate Lula às chamas do inferno, em companhia dos inevitáveis Fidel e Chávez, como se estes fossem os amigões que Lula convidaria para uma derradeira aventura.
Os herdeiros da Casa-Grande até mesmo agora se negam a enxergar o ex-presidente como o cidadão e o indivíduo que sempre foi, ou são incapazes de uma análise isenta, sobra, de todo modo, uma personagem inventada, figura talhada para a ficção do absurdo. De certa maneira, a escolha da versão chega a ser mais grave do que a própria, sistemática falta de reconhecimento dos méritos de um presidente da República decisivo como Lula foi. Um divisor de águas, acima até das intenções e dos feitos, pela simples presença, com sua imagem, em toda a complexidade, a representar o Brasil em tão perfeita coincidência.


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VHCarmo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A corrupção e a política (reflexão)...

                                    Em nenhum momento a mídia brasileira considera a problemática que envolve a corrupção no país de maneira integral, ou seja, como um problema sistêmico. No Brasil a mídia tem historicamente um tratamento, em relação ao funcionamento das instituições, não como sendo estas instrumentos essenciais da democracia institucionalizada, mas algo que ela pode vulnerar em prol de interesses circunstanciais e ocasionais.
                                     Tendo se apoderado de instrumentos poderosos de formação de opinião, por força da falta de regulação e democratização do setor, a nossa mídia tem sido politicamente partidária. Movida por interesses de facções e daqueles necessários à manutenção do “status quo” que lhes garante esse enorme poder que  ela  usa para atingir a própria estrutura do regime democrático. Esse trabalho é executado com a costumeira violência e sem o respeito mínimo às regras do direito, sob o falso manto da liberdade de expressão.
                                     Muitas vezes, no passado, a mídia brasileira esteve envolvida em golpes de estado e com a ruptura do regime democrático, inclusive apoiando abertamente o autoritarismo e a supressão das liberdades democráticas na República.
                                        Esses procedimentos golpistas da mídia recrudescem com a proximidade dos pleitos eleitorais nos quais ela adota aliados e inimigos, beneficiando aqueles e atacando estes pelos meios mais sórdidos de comunicação a seu dispor.
                                      O atual surto de “combate à corrupção” desenvolvido pelas Revistas e pelos Jornalões, esgota-se na tentativa de afastar políticos do poder e estigmatizar a classe política perante a opinião pública. Alcançado este objetivo, limitado por sua natureza, as investigações sobre as denúncias de corrupção param, até, de serem noticiadas. Os denunciados passam a ser penalizados sem julgamento institucional, condenados pela imprensa. O serviço é concluído com êxito no interesse midiático é o que importa.
                                    Como “combatente da corrupção” a mídia não propõe algo que possa minimizá-la institucionalmente. Exemplo disso é o apoio que sustenta em favor da manutenção do sistema político que ora se quer aperfeiçoar no legislativo. A mídia defende aquilo que é a maior fonte de corrupção, ou seja, o financiamento privado das campanhas eleitorais e, por conseqüência a manutenção da vinculação dos políticos com seus financiadores e o sistêmico Caixa 2,  com o afastamento de outros setores da opinião pública.
                                      Bom lembrar, para ressaltar o caráter partidário da mídia, que durante o governo anterior do PSDB, quando os  seus interesses  foram plenamente atendidos pelo poder, não vieram a público quaisquer “escândalos” de corrupção, embora tenha sido aquele triste período neoliberal o que mais corrompeu o processo político brasileiro após a Ditadura, até mesmo com comprometimento claro do legislativo com a tese da reeleição e o silencio, e mesmo o apoio, sobre as criminosas alienações do patrimônio público.
                                         Este escriba transcreve abaixo um pequeno e sugestivo trecho de um texto da socióloga e jornalista Maria Inês Naciff, sobre o mesmo problema. Olhem só:

"O apoderamento da imprensa é ainda maior. Se, de um lado, a pauta expressa seu imenso poder sobre a política brasileira, ela não cumpre o papel de apontar soluções para o problema. Não existe intenção de melhorá-lo, de atacar as verdadeiras causas da corrupção. Apesar da imensa caça às bruxas movida pela mídia contra os governos, em nenhum momento essa sucessão de escândalos, reais ou não, incluíram seriamente a opinião pública num debate sobre a razão pela qual um sistema inteiro é apropriado pelo poder privado, inclusive e principalmente porque não se questiona o direito de apropriação do poder público pelo poder privado. A mídia tradicional não fez um debate sério sobre financiamento de campanha; não dá a importância devida à lei do colarinho branco; colocou a CPMF, que poderia ser um importante instrumento contra o dinheiro ilícito que inclusive financia campanhas eleitorais, no rol da campanha contra uma pretensa carga insuportável de impostos que o brasileiro paga.
Pode fazer isso por superficialidade no trato das informações, por falta de entendimento das causas da corrupção – mas qualquer boa intenção que porventura exista é anulada pelo fato de que é este o sistema que permite à imprensa capturar, para ela, parte do poder de instituições democráticas devidamente constituídas para isso".

Extraído da “Carta Maior”
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domingo, 6 de novembro de 2011

Até onde chega o ódio...

    Este escriba pretendia esccrever algo sobre o ódio que vem sendo destilado por órgãos da imprensa e, particularmente, por certos colunistas em relação ao Presidente Lula, nessa oportunidade em que ele foi vitimado e luta contra um cancer.  Lendo o texto abaixo, de Maria Inez Naciff,  achou por bem transcreve-lo, pois ele esgota o assunto com incrível propriedade.  Olhem só:        

Guia de boas maneiras na política. E no jornalismo.

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso.

A cultura de tentar ganhar no grito tem prevalecido sobre a boa educação e o senso de humanidade na política brasileira. E o alvo preferencial do “vale-tudo” é, em disparada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por algo mais do que uma mera coincidência, nunca antes na história desse país um senador havia ameaçado bater no presidente da República, na tribuna do Legislativo. Nunca se tratou tão desrespeitosamente um chefe de governo. Nunca questionou-se tanto o merecimento de um presidente – e Lula, além de eleito duas vezes pelo voto direto e secreto, foi o único a terminar o mandato com popularidade maior do que quando o iniciou.
A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso. A campanha que se espalhou nas redes sociais pelos adversários políticos de Lula, para que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS), é de um mau gosto atroz. A jornalista que o culpou, no ar, pelo câncer que o vitimou, atribuindo a doença a uma “vida desregrada”, perdeu uma grande chance de ficar calada.

Até na política as regras de boas maneiras devem prevalecer. Numa democracia, o opositor é chamado de adversário, não de inimigo (para quem não tem idade para se lembrar, na nossa ditadura militar os opositores eram “inimigos da pátria”). Essa forma de qualificar quem não pensa como você traz, implicitamente, a ideia de que a divergência e o embate político devem se limitar ao campo das ideias. Esta é a regra número um de etiqueta na política.

A segunda regra é o respeito. Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeito à maioria. Simples assim. Lula, mesmo sem mandato, também o merece. Desrespeitar um líder tão popular é zombar do discernimento dos cidadãos que o apoiam e o seguem. Discordar pode, sempre.

A terceira regra de boas maneiras é tratar um homem público como homem público
. Ele não é seu amigo nem o cara com quem se bate boca na mesa de um bar. Essa regra vale em dobro para os jornalistas: as fontes não são amigas, nem inimigas. São pessoas que estão cumprindo a sua parte num processo histórico e devem ser julgadas como tal. Não se pode fazer a cobertura política, ou uma análise política, como se fosse por uma questão pessoal. Jornalismo não deve ser uma questão pessoal. Jornalistas têm inclusive o compromisso com o relato da história para as gerações futuras. Quando se faz jornalismo com o fígado, o relato da história fica prejudicado.

A quarta regra é a civilidade. As pessoas educadas não costumam atacar sequer um inimigo numa situação tão delicada de saúde. Isso depõe contra quem ataca. E é uma péssima lição para a sociedade. Sentimentos de humanidade e solidariedade devem ser a argamassa da construção de uma sólida democracia. Os formadores de opinião tem a obrigação de disseminar esses valores.

A quinta regra é não se deixar contaminar por sentimentos menores que estão entranhados na sociedade, como o preconceito. O julgamento sobre Lula, tanto de seus opositores políticos como da imprensa tradicional, sempre foi eivado de preconceito. É inconcebível para esses setores que um operário, sem curso universitário e criado na miséria, tenha ascendido a uma posição até então apenas ocupada pelas elites. A reação de alguns jornalistas brasileiros que cobriram, no dia 27 de setembro, a solenidade em que Lula recebeu o título “honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, é uma prova tão evidente disso que se torna desnecessário outro exemplo.
No caso do jornalismo, existe uma sexta regra, que é a elegância. Faltou elegância para alguns dos meus colegas.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um conto...para distrair.

                                         O CELIBATO DO PADRE JOÃO.

                              Desde menino João Antônio apresentava inclinação à instabilidade de comportamento. Então, com 10 anos, se mostrava ligado às coisas do espírito, aí entendidas como uma precoce tendência à religiosidade, talvez provocada pelo ambiente familiar. Como caçula de 5 irmãos, sendo três outros homens, uma irmã e, com a mãe, eram todos ligados à religião católica como membros atuantes das Irmandades do Coração de Jesus e de Maria, exibindo nas missas e demais prédicas religiosas a suas fitas vermelhas, azul e as medalhas.
A Vila de São Felix, no Estado do Rio, interiorana e conservadora onde viviam, induzia à religiosidade, sobretudo como uma forma de inserção no meio social que ocorre nas pequenas comunidades e como uma forma de posicionamento de classe. O pai um pequeno sitiante se dividia entre a roça e a vila..
Aos doze anos João já insistia em fazer a “primeira comunhão” e estranhamente exibia atitudes piedosas, extremando-se em decorar e proferir orações, até complexas, ao levantar pela manhã, nas refeições e ao deitar. À vezes, de joelhos e em voz alta, proferia suas orações, comovendo, por sua precocidade, a mãe devota, dona Djanira. O pai, seu Fortunato, que não era lá muito religioso, embora respeitasse a prática da mulher e dos filhos, achava aquelas atitudes do menino um tanto extemporâneas. A mãe viu logo no adolescente a vocação sacerdotal, Era melhor esperar um pouco que o filho manifestasse sua vontade livremente, opinava o pai.
Prevaleceu a influência materna. O menino, talvez, mais induzido pela mãe do que por seu desejo, passou a manifestar-se como vocacionado ao sacerdócio. Iria ser padre e mirava, como exemplo, o pároco, padre Bendito, com sua figura elegante, esguia, cabelos a esvoaçar, desfilando na vizinha Vila do Capivara, às margens do ribeirão, montado no seu cavalo baio e, mais ainda, ao celebrar os sacramentos, no altar, com as belas vestimentas douradas e de variadas cores da liturgia.
O pai Fortunato, precavido, tentou demover o adolescente da pretensão. Achava que ele estaria movido pelos estímulos da mãe e não pesara devidamente o que representava a carreira eclesiástica. Foi capaz de chamar-lhe a atenção para aquilo que reputava uma questão importante a ser considerada pelo rapazinho. Disse-lhe:
- Olha filho, padre não pode se casar e constituir família.
Não quis falar, diretamente, em voto de celibato, pois o jovem logo se informaria disso e julgou então não ser oportuno.
Não houve quem removesse do adolescente aquilo que a mãe achava ser vocação à vida religiosa.
Para encurtar a narrativa, cumpre dizer que o João Antônio foi para o Seminário, quando completou treze anos.
Com passar dos anos começaram a afluir, naturalmente, no rapaz, os hormônios e, como é comum, nessa época ele sentia, já no Seminário, os apelos masculinos. Sabia que deveria sublimá-los e, no “noviciado”, até um tanto hesitante, firmou, perante, os seus superiores eclesiásticos, com as solenidades costumeiras, os chamados “votos de religiosos”, inclusive o de castidade. Seria um celibatário dali para frente, ele que até então não tinha provado o sabor do sexo.
João Antônio Mendonça se ordenou padre católico aos 22 anos. Era, então, um jovem belo e saudável. Com sua tez morena, alto e forte, olhos cor de mel e cabelos castanhos lisos e fartos, estava pronto para o amor carnal que renunciara.
Padre tão cedo, foi nomeado pároco para a Vila do Capivara em Minas Gerais, na divisa do Rio, bem perto da sua São Felix.
Exposto ao contato diuturno ao sexo oposto, o jovem padre haveria de enfrentar uma dura luta para manter-se fiel aos “votos de castidade”.
Além do questionamento em sua mente confusa, João Antônio via-se cercado, como era natural, pelo assédio das mulheres, principalmente das mocinhas que, entre elas, lamentavam aquilo que achavam “um verdadeiro desperdício”. Um belo rapaz como ele não podia ficar fora do namorico, do amor e de um casamento.
Nelsa Bertolini era uma daquelas mocinhas, nem tão mocinha, pois já ia pelos 20 anos, amadurecendo um belo tipo de mulher feita, morena e, sobretudo, com um rosto formoso, olhos claros e um corpo sensual, delineado por um belo busto e a delicadeza da cintura milimetricamente proporcional à bunda e às pernas bem torneadas. Filha única dos italianos Giulia e Humberto Bertolini, este leiteiro na Vila. A moça era mesmo uma graça, mas, até então, rejeitara vários pretendentes.
Quando padre João Antônio chegou à vila, Nelsa pôs-se a admirar o jovem padre e não soube esconder a sua atração por ele, brotando logo no seu coração uma sensação nova nunca antes sentida. Mostrava-se a ele faceira como sabia fazer com a sua delicada natureza feminina.
Padre João logo que viu Nelsa e sua faceirice sentiu, também, algo estranho: uma sensação que, bem depressa, invadiu a sua mente, o seu coração e fez afluir os seus hormônios masculinos de uma forma nova. Já não dormia sossegado, tinha abluções noturnas e, às vezes, com relutância se punha a masturbar e ver fluir o sêmen inútil, estimulado pelo pensamento voltado para Nelsa.
O questionamento sobre o celibato passou a tomar a mente do jovem padre. Passou a considerar a impropriedade do voto de castidade em si; a ilegitimidade de sua imposição e, mesmo, a sua validade. Considerou que tinha aceitado fazer o voto sem saber, então, de seu verdadeiro alcance e agora passara a considerá-lo, confrontando-o com sua evolução física e a atração que passou a sentir pelas fêmeas. Assim achou questionável a sua submissão ao juramento. Obedecer ou não, foi a questão que passou à sua cogitação.
O voto de castidade não tinha volta, mas o que custaria a ele, João Antônio, a desobediência? se interrogava. Pesava-lhe, por outro lado, considerar a origem divina do voto, fato que logo descartou pois passou a duvidar daqueles padres superiores que o receberam e o testemunharam. Teriam eles legitimidade para impingi-lo e de onde provinha essa legitimidade? se indagava. A resposta a essa indagação, sugeriu que o voto seria imposto pela Igreja de Cristo. Ora, pensou o padre João: a qual a entidade teria conferido à Igreja esse poder de imposição? Andou pesquisando os livros santos; no velho e no novo testamento nada encontrou que a autorizasse. Concluiu, com um certo alívio, que o voto que proferira nada valia, pois, além do mais, não tinha nem origem divina. Lembrou, como definitivo em suas elucubrações, que todos, ou quase todos, os discípulos e apóstolos de Cristo foram casados. Por fim concluiu aliviado que a privação do sexo era antinatural.
Padre João Antônio, livre de questionamentos pessoais, depois desse longo raciocínio, deixou dominar-se pela paixão por Nelsa. Entregou-se sem reserva. Ela, com seu apurado instinto feminino, percebeu e ambos passaram a um mútuo encantamento. Nada é mais forte que o amor de dois jovens, nem mesmo um voto de castidade.
Embora os encontros daqueles jovens fossem inicialmente bem disfarçados e às escondidas, a imprudência filha dileta daqueles que amam e irmã gêmea da vontade de se exibir, revelaram-se aos olhos curiosos, principalmente das beatas da Vila do Capivara. Com a revelação veio a maledicência e o exagero. Ele mirava-se no exemplo do padre Benedito, antigo pároco da vila que, segundo as mesmas beatas, teria mulher e filha, vivendo na bairro do Mato Dentro, local no qual viviam “as meninas da vida livre” e “as amantes”, nem tanto ocultas, de ricos fazendeiros da região.
Nelsa, filha de Humberto que era ateu e que viera de Florença com fama de anarquista, não valorizava um possível impedimento do padre; nem cogitava da questão. A família dele não frequentava a Matriz.

Nelsa e João se atiraram à paixão mútua sem condicionamentos.

Padre João Antônio era um pároco zeloso e não descuidava de seus deveres. A paróquia prosperava e com a assistência social, promovendo contato com as pessoas mais pobres, sustentava o prestígio do padre. Apesar de tudo, o rapaz tinha um alto sentido de amor ao próximo e respeito a Deus. Celebrava com compulsão os ofícios religiosos e era muito simpático a todos paroquianos.
A convivência entre o divino e o profano – se amor fosse de fato profano – não poderia sobreviver tranqüilamente. O amor do jovem padre começou a incomodar à reinante hipocrisia da Vila do Capivara.

Domingo de Páscoa, festa da ressurreição de Cristo e a Vila do Capivara estava em festa. No Sábado de Aleluia correra tudo na forma prescrita nos livros santos, presidida pelo pároco. A missa de páscoa estava programada para as 10 horas da manhã, na Matriz e, meia hora antes, o templo regurgitava de gente vinda de todos os cantos da pequena cidade e da sua zona rural.
O padre João Antônio era esperado com a natural ansiedade do público para iniciar a missa. O pároco tardava. Quase onze horas e não chegara nem à sacristia onde o aguardava o sacristão, seu Justino.
Quem apareceu no templo, causando uma certa estranheza, foi o leiteiro Humberto Bertolini. Foi penetrando pelo interior da nave e, em frente ao altar, pedindo a atenção dos fiéis, sacou um papel e pediu licença para lê-lo e o fez em voz alta, tentando atingir a todos os presentes:
                          “Meu pai, eu e o João Antônio estamos indo embora juntos. O amor que nos liga é mais forte do que tudo. Daremos notícias oportunamente. Nelsa”.
O leiteiro que leu o bilhete, com o seu forte sotaque italiano, guardou-o no bolso e se retirou, visivelmente emocionado.
A cerimônia da Páscoa daquele ano restou sem missa na vila. Depois de orações comandadas por um prócer da Liga Católica, o povo, perplexo e aos poucos, abandonou o templo.
Aquele Domingo de Páscoa é sempre lembrado na Vila do Capivara, embora passados mais de 30 anos.

Soube-se, mais tarde, por parentes de Nelsa, que o casal estava na Bahia, em Salvador. João Antônio se tornara pai-de-santo de um Terreiro de Candomblé e ela médium-vidente de um Centro Espírita. Tiveram 3 filhos e, como num conto da Carochinha, viviam felizes...para sempre.

VHCarmo. (Dezembro de 2009).

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Referendo e George Papandreou...

                                        O Primeiro Ministro da Grécia, George Papandreou, ao exigir um referendo de seu povo para submeter-se à “ajuda” entabulada entre os líderes da União Europeia e o FMI, fez aquilo que parece o mais correto nesse momento em que essas cúpulas, que sustentaram a orgia desregulada do sistema financeiro, pretendem impor uma “ajuda” sem ouvir o mais interessado ( povo grego) e sobre o qual vão, certamente, recair o sofrimento, o gosto amargo do desemprego, do corte de salários e de aposentadorias, da miséria e da depressão.
                                         É de se indagar: e se o povo rejeitar as medidas? terá feito algo contra o seu interesse?                  Se aceitá-las: certamente não se livrará de seus efeitos danosos, mas terá exercido a sua vontade. Nas ruas de todas cidades do país, o povo grego queria ser ouvido e será.
                                         Até aqui todas as experiências do tipo de “ajuda” que se quer impor à Grécia não resultaram em solução eficiente para os paises em que foram adotadas. A América Latina só se livrou de seguidas crises, se livrando dessas ditas medidas salvadoras. O Brasil já esteve sujeito às diretrizes do FMI e de seu receituário de triste lembrança e das suas práticas neoliberais que nos impunham no passado recente e resultaram em sofrimento, pobreza e desemprego do nosso povo.  A gente não se esquece.
                                        Somente o estímulo ao consumo, a melhora do sistema de crédito e o investimento na infraestrutura levaram o nosso país à situação de estabilidade e progresso que estamos vivendo, com uma situação de virtual pleno emprego e com o Tesouro fortalecido com amplas reservas, pronto para se defrontar com a crise mundial, gerada lá fora.
                                        A Europa está sendo testada pela Grécia e é notável a coragem desse homem, George Papandreu, pois qualquer que seja o resultado da consulta ele será vitorioso, Um só homem consciente de seu mandato político faria o que ele fez: dar a última palavra a seu povo.
                                         A saída para a crise europeia se mostra complicada e nos leva à perplexidade pela sua inusitada gravidade. É seguramente a crise mais grave, não só com a atual União Europeia, como em toda a sua história em tempo de paz.  Há de aparecer um saída racional e é o que se espera, inclusive, com a ajuda do G 20 que v ai se reunir e o Brasil lidera.

VHCarmo,