Vai aí mais um poema do jovem poeta Ricardo do Carmo do seu livro "AMOR DE CONSUMO".
A poesia urbana desse brilhante poeta, na linha de Vinícius de Morais ele extrai do cotidiano a sua poética, às vezes crua e às vezes terna, num paradoxo sutilmente engendrado. Nesse tempo de poesias cifradas em palavrórios nem sonantes, curtidos pelos intelectos privilegiados, nosso poeta vai ao "chão da vida" onde toma curso a abandonada emoção e o faz com um lirismo renovado. Estes versos são seu testemunho.
OS DEUSES URBANOS
Vivemos sob a proteção
de deuses calmos
feitos de camomila e cidreira
que explodem em felicidade
nas sextas-feiras
quando o lúpulo da cerveja
se dissolve nas bocas.
São deuses antigos
de matrizes equivocadas
e filiais melancólicas,
ora internados na internet
com tanta gente
para cuidar ao vivo.
Estamos bem acompanhados
são deuses compreensíveis
que aceitam nossos tíquetes
e nossas desculpas.
Ao mesmo tempo
anjos da guarda irresponsáveis
que perdem a hora
e nos deixam na mão.
Serafins descartáveis
cujas asas recapeadas
se despedaçam na rotina do ar.
Tudo para dizer
que vivemos sob a proteção
de deuses frágeis
feitos de esperança e poluição.
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VHCarno.
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