segunda-feira, 2 de abril de 2012

OS DEUSES URBANOS - (Poema).

                               Vai aí mais um poema do jovem  poeta Ricardo do Carmo do seu livro "AMOR DE CONSUMO".
                                      A poesia urbana desse brilhante poeta, na linha de Vinícius de Morais ele extrai do cotidiano a sua poética, às vezes crua e às vezes terna, num paradoxo sutilmente engendrado.  Nesse tempo de poesias cifradas em palavrórios nem sonantes, curtidos pelos intelectos privilegiados, nosso poeta vai ao "chão da vida" onde toma curso a abandonada emoção e o faz com um lirismo renovado.  Estes versos são seu testemunho.
                      

  Olhem só:
OS DEUSES URBANOS 

Vivemos sob a proteção
de deuses calmos
feitos de camomila e cidreira
que explodem em felicidade
nas sextas-feiras
quando o  lúpulo da cerveja
se dissolve nas bocas. 

São deuses antigos
de matrizes equivocadas
e filiais melancólicas,
ora internados na internet 
com tanta gente 
para cuidar ao vivo.

Estamos bem acompanhados
são deuses compreensíveis
que aceitam nossos tíquetes 
e nossas desculpas.

Ao mesmo tempo
anjos da guarda  irresponsáveis
que perdem a hora
e nos deixam na mão.
Serafins descartáveis 
cujas asas recapeadas
se despedaçam na rotina do ar.

Tudo para dizer
que vivemos sob a proteção
de deuses frágeis
feitos de esperança e poluição.
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VHCarno. 

                                                               

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