O último quarto do século passado cuja crueza se revela, principalmente nesta "pátria amada", trouxe à poesia canto novo sem dissonâncias como enfeite, sem voos emotivos já se moda. Ligando-os à terra, despindo-os de adornos, nem por isso os versos deixaram de vergastar o tempo e a vida, buscando a "bruta mina onde o cascalho vela".
Olhem só O JANGADEIRO.
Adriano Espínola.
Jangadas amarelas, azuis, brancas,
logo invadem o verde do mar bravio,
o mesmo que Iracema, em arrepio
sentiu banhar de sonho as suas ancas.
Que importa a lenda, ao longe, na história,
se elas cruzam, ligeiras, nesse instante,
o horizonte esticado da memória,
tornando o que se vê mito incessante?
As velas vão e voltam, incontidas,
sobre as ondas (do tempo). O jangadeiro
repete antigos gestos de outras vidas
feitas de sal e sonho verdadeiro.
Qual Ulisses, buscando, repentino,
a sua ilha, o seu rosto e o seu destino.
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VHCarmo.
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