quarta-feira, 9 de março de 2011

Mais um pouquinho de Carnaval ...

                             Terminado o carnaval, o observador é conduzido a reflexões sobre a natureza desse importante evento sociocultural neste momento.
                              Os mais velhos se lembram que Carnaval no país, no passado, era sinônimo de alegria popular. Este escriba, num certo tempo, cismava com aquilo que ele supunha, erroneamente, ser “uma alegria com hora marcada”. “Chegado o carnaval vamos ser felizes”, repetia sem, no entanto, aprofundar a análise. Era um erro, o carnaval é das mais expressivas e autênticas  manifestações populares.
                               Nehuma alegria poderia, a rigor, explodir em uma “hora marcada” se ela não existisse previamente. Se não fosse imanente no seio da população em determinadas condições históricas.
                              A alegria do carnaval se vincula estreitamente, também, à situação econômica e sociocultural do povo num determinado momento. É maior ou menor segundo os fatores objetivos que influem na vida de cada um dos indivíduos. Na rua se encontram, na festa carnavalesca, gente de todas as classes sociais. Há uma simbiose profundamente democrática em que o caráter de um povo se mostra como uma certa e rara uniformização.
                               Sem nenhum ufanismo se afirma que o Carnaval do Brasil é único e que não há igual em todo mundo. Tornou-se uma festa tipicamente brasileira. Não é atoa que fomos, por muito tempo, alcunhados de O País do Carnaval.
                             Povo na rua, multidões alegres, dançando, vestindo fantasias e cantando canções populares é, certamente, uma manifestação de caráter profundamente democrático. Nos blocos esquecem-se os sacrifícios e a rudeza da rotina da vida. Os blocos carnavalescos encontram seu espaço de evolução no território politicamente livre, sem restrições às expansões dessa alegria.
                                    No negro período da ditadura militar e nas restrições econômico/financeiras do neoliberalismo, além da exclusão da alegria pela repressão e penúria de recursos a que foi relegado, o povo se afastara das ruas.            A alegria se ausentara e a sua presença na rua era uma ameaça o sistema.
                                      A exibição carnavalesca, tornou-se formal naquele período, permanecendo restrita aos guetos dos sambódromos, válvula de escape permitida e até incentivada, por ser evento controlável, sem oferecer perigo ao “status quo” então vigente.
                                      O carnaval de rua retomou, agora, as suas origens e raízes que estavam fincadas na alma do povo a espera de vir à tona, afastada a coerção e a pobreza que o continha.
                                    Mas o que importa neste momento é manifestar a imensa alegria que invade a gente ao ver o povo alegre nas ruas, sem repressão, num belo espetáculo de consumo e afirmação cidadã.
                                Não há dúvida: a volta do Carnaval de Rua é mais uma conquista democrática do povo brasileiro.

VHCarmo.

Um comentário:

  1. Victor. Fiel leitor de seus escritos,não me cansa repetir os elogios à agradável performance neles presentes, como acontece "em mais um pouquinho de carnaval". Parabéns mais um vez.

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