sexta-feira, 11 de março de 2011

Líbia, Kadafi e a intervenção.

                                  A verdadeira guerra civil que se instalou na Líbia é objeto das mais variadas interpretações encontráveis em toda mídia mundial. O que distingue, no entanto, esse movimento é a ausência de um respaldo popular desarmado como o ocorrido, até aqui, nos insurgentes da Tunísia, Egito, Iêmen, Argélia e de outras nações árabes.
                                    Kadafi detém não só a força militar organizada, treinada e armada, como também apoio da maior parte do povo líbio. Isto diferencia uma nálise da questão líbia.
                                 A oposição insurgente - que iniciou um movimento recorrendo às armas - apresentou-se, como um núcleo e um comando difusos, com lideranças, em muitos casos, sem qualquer ligação política com o povo e desarticuladas entre si.         No embalo inicial logrou alguns êxitos que, aos poucos, vãos se perdendo, principalmente por falta de apoio popular, armamento moderno e a ausência imediata de apoio externo efetivo.
                             A oposição na Líbia, em síntese, optou por uma guerra civil, mas não cuidou de pavimentá-la com apoios internos, nem políticos, nem religiosos.
                             A história da ascensão de Kadafi na Líbia remonta à revolução que liderou e derrubou a monarquia. Instalou, então, um governo de cunho popular e socialista que promoveu, inclusive, a nacionalização de suas riquezas, ou seja principalmente da sua maior riqueza: o petróleo. Por um largo período a liderança de Kadafi foi duramente contestada no ocidente  por sua aproximação, então, com a União Soviética e os paises socialistas.
                             O governo saído da revolução promoveu a melhoria das condições do povo líbio inclusive das tribos ali existentes, tornando o Kadafi um líder fortemente apoiado pelo povo. Fator que, apesar de tudo, o socorre até hoje.
                               A relativamente recente guinada do líder Kadafi para a direita e sua adesão ao neoliberalismo, o levou à aproximação dos centros do capitalismo, quando de ditador passou a ser chamado de Presidente e foi recebido na França, nos EEUU e em vários paises ocidentais, inclusive aqui no Brasil por FHC.  Os paises ocidentais passaram a negociar amplamente com a Líbia, grande exportador de petróleo.
                            A diferença apontada inicialmente neste texto, entre os movimentos dos outros paises árabes e a Líbia, gera nos paises centrais do capitalismo uma questão intrincada, vez que não se esboça naquele país, sequer um arremedo de comando do movimento insurgente a propiciar, pelo menos inicialmente, um processo de transição; com a queda de Kadafi, cada vez mais improvável.
                          Os pronunciamentos de alguns líderes da oposição, nestes últimos dias, denotam um arrefecimento e uma necessidade de recuo na tentativa de organizarem-se. Mustafha Gherani, um dos pretensos comandantes, foi enfático:
“Nós nos encontramos num vácuo. Em vez de nos preocuparmos com um governo de transição, nos preocupamos com a necessidade de segurança, quais são as necessidades mais urgentes das pessoas e para onde a revolta está seguindo. As coisas estão indo rápidas demais”.
Todos os recursos da guerra moderna foram cortados aos insurgentes, principalmente a comunicação.
“Precisamos de apoio, seja ele militar ou não, e pedimos ajuda”, declarou outro líder da rebelião Abdel-Hafidh Ghoga.
                        As lideranças religiosas também não aderiram à rebelião armada; o líder muçulmano Arqip Adem foi explícito: “Não há comunicação entre os grupos de oposição e nenhuma liderança”.
                       Nota-se claramente que falta ao movimento a arregimentação do povo e a preparação bélica que, neste caso, a oposição julgou ter - e não tinha. Por outro lado, há mais gente do povo no lado do governo populista de Kadafi.
                      Paira sobre a questão Líbia a possibilidade de intervenção dos EEUU ou da OTAN no país. Acontece que a intervenção, a esta altura, seria de êxito discutível e, provavelmente, não encontraria apoio interno na Líbia, acirrando uma luta fratricida.
                       Tanto americanos como europeus hesitam em intervir, mesmo porque as recentes intervenções em outros paises (Iraque, Afeganistão, Sudão e outras) redundaram em fracasso e altos custos econômicos e políticos, inclusive de colocar em evidência  o problema do petróleo. A França que enfrenta grave crise interna tentou sair na frente, para aparecer no cenário diplomático, mas Sarkozy já recua.                              
                                Instala-se a expectativa; quem viver verá.

                            Em resumo é essencial em qualquer movimento libertário a presença do povo, quando motivada por suas lutas e conquistas, sob pena de submeter o país a interferências externas que resultam em humilhação, supressão da soberania e das liberdades democráticas.

VHCarmo.

Um comentário:

  1. Victor. Gostei e muito de sua visualisação sobre a crise política irrompida na Líbia,que diferencia dos movimentos vitoriosos dos outros países listados, tão bem por você analisados. Firma-se cada vez mais nessa sua nova experiência jornalística, confirmando a pontencialidade inata na arte do escrever bem.

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