quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um momento de poesia...


Se há um poeta que representou melhor a fase modernista de nossa poesia este foi Manuel Bandeira. Desgarrado da tradição ainda ancorada no lirismo camonenano, Bandeira se lançou no linguajar popular de marcantes características brasileiras regionais e "popular das ruas".  De nítidas conotações nacionalistas vai ao chão de nossas caras tradições miscigenadas de brancos, negros e índios.    O poema abaixo significativamente se constitui a sua confissão modernista inicial  e a  tem,  até,  pelo título. 

Olhem só:
                                                     POÉTICA.
Manuel Bandeira.

Estou farto do lirismo cometido
do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo
(manifestação de apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar ao dicionário o (cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos  universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo o lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si (mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos  secretário do amante exemplar  com modelos de cartas e as diferentes
(maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo  difícil  e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

-Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
_____________________________________________________
VHCarmo.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário