Se há um poeta que
representou melhor a fase modernista de nossa poesia este foi Manuel Bandeira.
Desgarrado da tradição ainda ancorada no lirismo camonenano, Bandeira se lançou
no linguajar popular de marcantes características brasileiras regionais e "popular
das ruas". De nítidas conotações
nacionalistas vai ao chão de nossas caras tradições miscigenadas de brancos,
negros e índios. O poema abaixo significativamente se constitui a sua confissão modernista inicial e a tem, até, pelo título.
Olhem só:
POÉTICA.
Manuel
Bandeira.
Estou
farto do lirismo cometido
do
lirismo bem comportado
Do
lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo
(manifestação
de apreço ao Sr. Diretor
Estou
farto do lirismo que pára e vai averiguar ao dicionário o (cunho vernáculo de
um vocábulo.
Abaixo
os puristas
Todas
as palavras sobretudo os barbarismos
universais
Todas
as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos
os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou
farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De
todo o lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si (mesmo.
De
resto não é lirismo
Será
contabilidade tabela de co-senos
secretário do amante exemplar com
modelos de cartas e as diferentes
(maneiras
de agradar às mulheres, etc.
Quero
antes lirismo dos loucos
O
lirismo dos bêbedos
O
lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O
lirismo dos clowns de Shakespeare
-Não
quero mais saber do lirismo que não é libertação.
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VHCarmo.
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