terça-feira, 18 de setembro de 2012

"JUÍZO DE EXCEÇÃO NA DEMOCRACIA.."



A fase inaugurada no julgamento do apelidado Mensalão nesta segunda-feira - 17, no STF,  se extrema em longas divagações do relator no esforço de estabelecer vínculos com as primeiras fases do julgamento.  Fica claro que importa  pouco ao ilustre relator a atuação dita criminosa de cada acusado. Prossegue, portanto, um julgamento atípico em que se julga muito mais uma corrente política do que o efetivo cometimento individual do ilícito penal.  A tarefa inicial do exame da denúncia foi caracterizar  como pública a origem dos recursos financeiros que teriam irrigado um pretendido esquema de compra de votos.  De difícil caracterização incluiu-se como dinheiro público recursos provindos de uma empresa da qual o Banco do Brasil é cotista como outros bancos, a empresa Visanete. Superada esta fase, um tanto nebulosa, necessária a carimbar de público os recursos: prosseguiu-se.
   Aliás, nesta fase já não se discute a origem dos recurso correntes,  nem se fala agora em compra de votos mas em apoio do grupo criminoso aos interesses do governo que teriam recebido os tais recursos, fugindo do foco.  Os partidos, singularmente, tomam lugar principal na argumentação da sustentação da denúncia pelo Relator.
Em resumo o julgamento do Mensalão passou ao terreno estritamente político em que os partidos visados tomaram conta do palco.
Sobre este outros aspectos o ilustre advogado e professor da Faculdade Direito da PUC-SP, Pedro Serrano,  sustenta com sólida e erudita argumentação jurídica o caráter de exceção assumido pelo STF no julgamento desta ação Penal.  Excepcionadas as hipóteses permissivas da Constituição em casos de ocorrência de guerra ou grave distúrbio interno, o nosso sistema legal não cogita da excepcionalidade ora adotada pelo Supremo.  Assinalando e exemplificando com a ocorrência de golpes judiciários contra o estado de direito ocorridos no mundo, o  professor conclui:

"A influência poderosa da mídia sobre a nossa Corte Suprema no caso, por evidente, não se prende à mera lógica noticiosa. Parece claro que a mídia brasileira, cujos veículos de formas diferentes compartilham do apoio explícito ao bloco de oposição ao governo e da repulsa irracional de nossas elites ao petismo e ao lulismo, busca um fim político e não noticiosos ou moral, qual seja,  produzir uma mácula na imagem histórica do  governo Lula e do PT, matar politicamente o inimigo.
"O processo transcorre já se sabendo, aparentemente, do seu resultado, característica típica dos juízos autoritários ou de exceção. A Corte tem adotado posições de constitucionalidade duvidosas e de mudança evidente em sua recente , mais incisiva jurisprudência garantista no âmbito penal.  Alem da forma pouco "ortodoxa" como o julgamento se desenrola, conforme reconheceu o próprio ministro Ricardo Lewanddowski.
"A conclusão definitiva do caráter ou não do juízo de exceção no caso só será verificado após não apenas da decisão final, mas também pela coerência ou  não de  futuras decisões em casos semelhantes, mas que tenham atores diversos, como o do chamado "mensalão do DEM do Distrito Federal" dos crimes do bicheiro Cachoeira, e s que envolvem o governador de Goiás e aqueles do banqueiro Daniel Dantas. Para ficar em poucos exemplos."
(Revista Carta Capital - n. 715 - desta semana. Título do texto: "Juízo de exceção  na democracia.- O julgamento do Mensalão seria um exemplo dessa anomalia?".)
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VHCarmo. 

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