terça-feira, 11 de setembro de 2012

UM MOMENTO DE POESIA (é algo mais...)

Este poema é bem característico daquilo que este escriba chama de “poema urbano”, categoria que não se encontra nos manuais da crítica literária. Condiciona-lo ao seu tempo de construção e deixa-lo flutuar ao sabor de uma poética nova e descomprometida parece ser o caminho de seu entendimento.
A característica primacial da poesia do jovem Ricardo do Carmo é seu vôo largo em busca de expressões mais simples, anunciando, no entanto, complexa emotividade. Sua poética se desprende de sistemas, tornando-se atemporal num jogo entre o objeto estético e a sua textura formal.
Olhem só:

O HOMEM VIRTUAL.
Ricardo do Carmo.


Como dentro do lar
coubesse a terra toda:
navego um mar de arquivos
e mundos aparentes.

Sou de todos os lugares
menos de mim mesmo.

Eu não me concluo

e, fragmentado,
cada pedaço meu
é um inimigo.

Atravessando rios
que não molham,
chão que não piso
gente que não sinto

(lágrimas de cristal líquido),
vivo o que não vivo
como foda em fada.

E, falando nisso
minha namorada
é o meu computador.

O mouse
a extensão do meu carinho,
meu webtesão

São tantas opções de sexo
por uma masturbação perfeita
que, sobre o teclado,
minhas mãos queimam excitadas.

E gozo de vocês todos.
gozo  desse mundo
Que já não é tão grande assim
e cabe dentro do meu silêncio.

Navegando nessa nau online
persigo meu artificial destino.

Como diriam antigos navegadores:
"Navegar é preciso"

viver não é preciso.

Ricardo do Carmo – 2008.

____________________________________ VHCarmo.

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