Este poema é bem característico daquilo que este escriba chama de “poema urbano”, categoria que não se encontra nos manuais da crítica literária. Condiciona-lo ao seu tempo de construção e deixa-lo flutuar ao sabor de uma poética nova e descomprometida parece ser o caminho de seu entendimento.
A característica primacial da poesia do jovem Ricardo do Carmo é seu vôo largo em busca de expressões mais simples, anunciando, no entanto, complexa emotividade. Sua poética se desprende de sistemas, tornando-se atemporal num jogo entre o objeto estético e a sua textura formal.
Olhem só:
O HOMEM VIRTUAL.
Ricardo do Carmo.
Como dentro do lar
coubesse a terra toda:
navego um mar de arquivos
e mundos aparentes.
Sou de todos os lugares
menos de mim mesmo.
Eu não me concluo
e, fragmentado,
cada pedaço meu
é um inimigo.
Atravessando rios
que não molham,
chão que não piso
gente que não sinto
(lágrimas de cristal líquido),
vivo o que não vivo
como foda em fada.
E, falando nisso
minha namorada
é o meu computador.
O mouse
a extensão do meu carinho,
meu webtesão
São tantas opções de sexo
por uma masturbação perfeita
que, sobre o teclado,
minhas mãos queimam excitadas.
E gozo de vocês todos.
gozo desse mundo
Que já não é tão grande assim
e cabe dentro do meu silêncio.
Navegando nessa nau online
persigo meu artificial destino.
Como diriam antigos navegadores:
"Navegar é preciso"
viver não é preciso.
Ricardo do Carmo – 2008.
____________________________________ VHCarmo.
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