O texto que este escriba transcreve abaixo coloca uma
realidade política de certa forma pouco observada pelos analistas, ou seja,
sobre o atual envelhecimento ideológico da oposição no Brasil.
A nossa história
republicana, com os intervalos de governos autoritários, sempre primou por um
viés conservador em favor daquilo que se
chamou a Casa Grande da elite por
oposição à Senzala da população pobre e esquecida.
No próprio ato da
proclamação da República, à revelia do povo, e nos seus primeiros governos
pontificou a força militar por eleições pouco representativas de generais que passaram
a governar em nome das elites preexistentes no Império.
Os governos civis
que se seguiram pautaram pelo conservadorismo na política interna e na nas
relações exteriores com a subserviência às potências coloniais e neocoloniais.
A primeira
ruptura desse processo se deu com a Revolução de 1930 e o Estado Novo
Getulista. Os governos de Getúlio Vargas provocaram então, verdadeiramente, o
primeiro impulso de uma política externa tendendo a colocar o país no mundo com
opções independentes e internamente modernizar a economia através das
indústrias de base e produzir a primeira regulação das relações trabalhistas. Em resumo promovendo a primeira tentativa de integração da população pobre.
As elites iniciaram então um processo de resistência ao desenvolvimento
getulista, apoiada já, então, pela mídia que representava não só a direita
interna como os interesses das potências externas com primazia dos Estados
Unidos.
Derrubado Getúlio
inicia-se a escalada para determinar o fim de sua herança e fazer pontificar as
primeiras raízes do neoliberalismo que se instala depois com a eleição de
Collor de Melo e avança com Fernando Henrique Cardoso, que proclama o fim da era de Getúlio, liberando as relações
econômicas e de soberania em favor das potências externas e internamente
desregulando as relações de mercado e alienando o patrimônio público.
A segunda ruptura se dá com o Presidente Lula que retoma
o ideário de Getúlio sob o foco de uma nova visão que repudia o
neoliberalismo e instala políticas de soberania externa e de desenvolvimento interno
com inclusão social. Nasce com Lula o
Partido dos Trabalhadores instrumento institucional e democrático que catalisa
as novas idéias e enfrenta a dura política de confronto com a elite
conservadora neoliberal e, mais uma vez, apoiada pela mídia golpista.
O recente encontro do núcleo do PSDB para lançar, prematuramente,
a candidatura de Aécio Neves à Presidência em 2014, demonstra que a oposição
não renovou seu discurso, apesar das seguidas derrotas eleitorais. Nessa oportunidade esperava-se algo em que se
pudesse vislumbrar uma alternativa fora dos preceitos neoliberais e isto não
aconteceu. Aécio vem, segundo tudo
indica, apoiado pela mídia conservadora e com o surrado discurso neoliberal.
Levando em consideração que a ideologia neoliberal está
agonizando em todo mundo e que os governos por toda parte procuram buscar um
caminho alternativo, isto é deveras lamentável, pois o nosso país tem real
necessidade de uma oposição propositiva sem a primazia do denuncismo e do velho
moralismo udenista.
O PT, como partido que cultua a democracia interna,
estabelece em todos os níveis, com filiados e simpatizantes, discussões dos problemas políticos do país e
seus projetos de sustentação de um
governo voltado para o povo, com preferência, para os mais pobres e para a
afirmação de nossa soberania e independência do país.
O Partido dos Trabalhadores tem considerado em sua
atuação o momento atual da luta política brasileira com o seu pragmatismo ético
e responsável, estando em franco dinamismo que, por seus resultados objetivos
alcançados até aqui, tem compensado esta luta que sempre se renova e se
atualiza. Os apelos do ilustre comentarista do texto devem ser apreciados sob
foco destas luzes e enriquecem a discussão.
Da carta maior
04/12/2012
O cheiro da naftalina e o sopro progressista.
O lançamento burocrático do nome de Aécio
à sucessão de Dilma Roussef, feito por apressados tucanos nesta 2ª feira, exala
o odor da naftalina entranhada nas peças do vestuário preteridas no
guarda-roupa.Quando finalmente ascendem à luz, já perderam a sintonia com o
manequim e a estação.
Ungido no vácuo, Aécio ainda gaguejou assombrado: 'antes de candidatura, a legenda precisa de agenda'
Não sem razão. O credo do PSDB transformou-se num pé de chumbo histórico. Hoje ele pisoteia o que restou do Estado do Bem Estar Social europeu superpondo o arrocho ortodoxo ao colapso neoliberal. Apaga incêndio com gasolina
As labaredas atingiram a classe média europeia da qual o tucanato um dia considerou-se uma espécie de prefiguração tropical culta, rica, bela e cheirosa.
19 milhões de desempregados, quase 120 milhões na ante-sala da pobreza, revestem a zona do euro das cores de uma tragédia histórica feita de despejos, suicídios, fome e pobreza, em escala e virulência desconhecidas desde a Segunda Guerra.
A candidatura Aécio é isso: o choque de gestão de Alckmin algemado ao descrédito planetário da bandeira dos mercados autorreguláveis. Queira ou não, sua candidatura vestirá o que lhe resta --a camisa conservadora impregnada da naftalina udenista.
O único plano de voo tucano é a aposta no acuamento político do PT e do governo Dilma.
Depende muito de como o outro lado reagir.
A inexistência de um contraponto estruturado de mídia progressista, por exemplo --ontem e ainda hoje menosprezado pelo governo Dilma-- amplifica o alcance dessa ressurgência udenista, cuja chance de volta ao poder pressupõe nada menos que a destruição de Lula e o engessamento de sua sucessora.
Não é único flanco de um viés de complacência cada vez mais temerário.
O PT de certa forma foi uma costela emancipada da efervescência cristã-progressista semeada pela Teologia da Libertação nas periferias metropolitanas. A ela associou-se a energia sindical amadurecida nos levantes metalúrgicos do ABC paulista, nos anos 70 e 80.
Dessa simbiose de forte capilaridade emergiram lideranças e quadros que iriam catalisar segmentos egressos da luta armada, intelectuais de esquerda, cristão progressistas e democratas em geral, na construção de um novo partido socialista, libertário e ecumênico.
O êxito eleitoral fulminante associado ao revés simultâneo da ala progressista da igreja católica contribuiria para o duplo desmonte da enraizamento original pela base.
O jogo eleitoral absorvente impôs a sua lógica absolutista na vida interna do partido; o golpe conservador dentro da Igreja Católica reproduziria o mesmo vácuo nas periferias crescentemente colonizadas pela individualização evangélica.
A vitória de Fernando Haddadem
São Paulo reabre essa página da história.
A partir de São Paulo o PT pode - se quiser - renovar o arsenal de políticas públicas, ao mesmo tempo em que regenera a capacidade de organização pela base.
Seria uma demonstração de discernimento histórico da nova gestão petista, por exemplo, criar uma Secretaria de Participação Cidadã.
Sua missão democrática seria reativar a nucleação suprapartidária da cidadania em torno de questões cruciais que atormentam o cotidiano dos bairros de classe média, dos conjuntos populares e das periferias distantes.
O renascimento da participação comunitário impulsionado pelo recorte ecumênico, pavimentaria a realização de grandes conferencias municipais temáticas. Nelas, delegados de classe média e de cinturões populares pactuariam suas prioridades para São Paulo.
O processo ganharia difusão através de uma rede de mídia alternativa capaz de amplificar a mais significativa virada cultural na gestão de uma metrópole no século XXI: o protagonismo democrático de seus habitantes.
A vitalidade participativa em uma das cinco maiores manchas urbanas do planeta sacudiria a vida política do país e a letargia interna do PT.
Faria mais que isso:fomentaria um anteparo de discernimento popular com densidade capaz de resistir ao golpismo conservador que, queira ou não Aécio, deve cavalgar a sua candidatura a 2014 - se e até quando ela sobreviver à liquefação neoliberal.
Ungido no vácuo, Aécio ainda gaguejou assombrado: 'antes de candidatura, a legenda precisa de agenda'
Não sem razão. O credo do PSDB transformou-se num pé de chumbo histórico. Hoje ele pisoteia o que restou do Estado do Bem Estar Social europeu superpondo o arrocho ortodoxo ao colapso neoliberal. Apaga incêndio com gasolina
As labaredas atingiram a classe média europeia da qual o tucanato um dia considerou-se uma espécie de prefiguração tropical culta, rica, bela e cheirosa.
19 milhões de desempregados, quase 120 milhões na ante-sala da pobreza, revestem a zona do euro das cores de uma tragédia histórica feita de despejos, suicídios, fome e pobreza, em escala e virulência desconhecidas desde a Segunda Guerra.
A candidatura Aécio é isso: o choque de gestão de Alckmin algemado ao descrédito planetário da bandeira dos mercados autorreguláveis. Queira ou não, sua candidatura vestirá o que lhe resta --a camisa conservadora impregnada da naftalina udenista.
O único plano de voo tucano é a aposta no acuamento político do PT e do governo Dilma.
Depende muito de como o outro lado reagir.
A inexistência de um contraponto estruturado de mídia progressista, por exemplo --ontem e ainda hoje menosprezado pelo governo Dilma-- amplifica o alcance dessa ressurgência udenista, cuja chance de volta ao poder pressupõe nada menos que a destruição de Lula e o engessamento de sua sucessora.
Não é único flanco de um viés de complacência cada vez mais temerário.
O PT de certa forma foi uma costela emancipada da efervescência cristã-progressista semeada pela Teologia da Libertação nas periferias metropolitanas. A ela associou-se a energia sindical amadurecida nos levantes metalúrgicos do ABC paulista, nos anos 70 e 80.
Dessa simbiose de forte capilaridade emergiram lideranças e quadros que iriam catalisar segmentos egressos da luta armada, intelectuais de esquerda, cristão progressistas e democratas em geral, na construção de um novo partido socialista, libertário e ecumênico.
O êxito eleitoral fulminante associado ao revés simultâneo da ala progressista da igreja católica contribuiria para o duplo desmonte da enraizamento original pela base.
O jogo eleitoral absorvente impôs a sua lógica absolutista na vida interna do partido; o golpe conservador dentro da Igreja Católica reproduziria o mesmo vácuo nas periferias crescentemente colonizadas pela individualização evangélica.
A vitória de Fernando Haddad
A partir de São Paulo o PT pode - se quiser - renovar o arsenal de políticas públicas, ao mesmo tempo em que regenera a capacidade de organização pela base.
Seria uma demonstração de discernimento histórico da nova gestão petista, por exemplo, criar uma Secretaria de Participação Cidadã.
Sua missão democrática seria reativar a nucleação suprapartidária da cidadania em torno de questões cruciais que atormentam o cotidiano dos bairros de classe média, dos conjuntos populares e das periferias distantes.
O renascimento da participação comunitário impulsionado pelo recorte ecumênico, pavimentaria a realização de grandes conferencias municipais temáticas. Nelas, delegados de classe média e de cinturões populares pactuariam suas prioridades para São Paulo.
O processo ganharia difusão através de uma rede de mídia alternativa capaz de amplificar a mais significativa virada cultural na gestão de uma metrópole no século XXI: o protagonismo democrático de seus habitantes.
A vitalidade participativa em uma das cinco maiores manchas urbanas do planeta sacudiria a vida política do país e a letargia interna do PT.
Faria mais que isso:fomentaria um anteparo de discernimento popular com densidade capaz de resistir ao golpismo conservador que, queira ou não Aécio, deve cavalgar a sua candidatura a 2014 - se e até quando ela sobreviver à liquefação neoliberal.
Postado por Saul Leblon
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v VHCarmo.
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