terça-feira, 4 de dezembro de 2012

AÉCIO O MAIS DO MESMO...


O texto que este escriba transcreve abaixo coloca uma realidade política de certa forma pouco observada pelos analistas, ou seja, sobre o atual envelhecimento ideológico da oposição no Brasil.
A nossa história republicana, com os intervalos de governos autoritários, sempre primou por um viés conservador em favor  daquilo que se chamou a Casa Grande da elite  por oposição à Senzala da população pobre e esquecida.

  No próprio ato da proclamação da República, à revelia do povo, e nos seus primeiros governos pontificou a força militar por eleições pouco representativas de generais que passaram a governar em nome das elites preexistentes no Império.

  Os governos civis que se seguiram pautaram pelo conservadorismo na política interna e na nas relações exteriores com a subserviência às potências coloniais e neocoloniais.

  A primeira ruptura desse processo se deu com a Revolução de 1930 e o Estado Novo Getulista. Os governos de Getúlio Vargas provocaram então, verdadeiramente, o primeiro impulso de uma política externa tendendo a colocar o país no mundo com opções independentes e internamente modernizar a economia através das indústrias de base e produzir a primeira regulação das relações trabalhistas. Em resumo promovendo a primeira tentativa de integração da população pobre. 

As elites iniciaram então um  processo de resistência ao desenvolvimento getulista, apoiada já, então, pela mídia que representava não só a direita interna como os interesses das potências externas com primazia dos Estados Unidos.

 Derrubado Getúlio inicia-se a escalada para determinar o fim de sua herança e fazer pontificar as primeiras raízes do neoliberalismo que se instala depois com a eleição de Collor de Melo e avança com Fernando Henrique Cardoso, que proclama o fim da era de Getúlio,  liberando as relações econômicas e de soberania em favor das potências externas e internamente desregulando as relações de mercado e alienando o patrimônio público.

A segunda ruptura se dá com o Presidente Lula que retoma o ideário de Getúlio sob o foco de uma nova visão  que repudia o neoliberalismo e instala políticas de soberania externa e de desenvolvimento interno com inclusão social.  Nasce com Lula o Partido dos Trabalhadores instrumento institucional e democrático que catalisa as novas idéias e enfrenta a dura política de confronto com a elite conservadora neoliberal e, mais uma vez, apoiada pela mídia golpista.

O recente encontro do núcleo do PSDB para lançar, prematuramente, a candidatura de Aécio Neves à Presidência em 2014, demonstra que a oposição não renovou seu discurso, apesar das seguidas derrotas eleitorais.  Nessa oportunidade esperava-se algo em que se pudesse vislumbrar uma alternativa fora dos preceitos neoliberais e isto não aconteceu.  Aécio vem, segundo tudo indica, apoiado pela mídia conservadora e com o surrado discurso neoliberal.

Levando em consideração que a ideologia neoliberal está agonizando em todo mundo e que os governos por toda parte procuram buscar um caminho alternativo, isto é deveras lamentável, pois o nosso país tem real necessidade de uma oposição propositiva sem a primazia do denuncismo e do velho moralismo udenista.

O PT, como  partido que cultua a democracia interna, estabelece em todos os níveis, com filiados e simpatizantes,  discussões dos problemas políticos do país e seus projetos de sustentação de  um governo voltado para o povo, com preferência, para os mais pobres e para a afirmação de nossa soberania e independência do país.  

O Partido dos Trabalhadores tem considerado em sua atuação o momento atual da luta política brasileira com o seu pragmatismo ético e responsável, estando em franco dinamismo que, por seus resultados objetivos alcançados até aqui, tem compensado esta luta que sempre se renova e se atualiza. Os apelos do ilustre comentarista do texto devem ser apreciados sob foco destas luzes e enriquecem a discussão.


Da carta maior
04/12/2012

O cheiro da naftalina e o sopro progressista.  


O lançamento burocrático do nome de Aécio à sucessão de Dilma Roussef, feito por apressados tucanos nesta 2ª feira, exala o odor da naftalina entranhada nas peças do vestuário preteridas no guarda-roupa.Quando finalmente ascendem à luz, já perderam a sintonia com o manequim e a estação. 

Ungido no vácuo, Aécio ainda gaguejou assombrado: 'antes de candidatura, a legenda precisa de agenda'

Não sem razão. O credo do PSDB transformou-se num pé de chumbo histórico. Hoje ele pisoteia o que restou do Estado do Bem Estar Social europeu superpondo o arrocho ortodoxo ao colapso neoliberal. Apaga incêndio com gasolina

As labaredas atingiram a classe média europeia da qual o tucanato um dia considerou-se uma espécie de prefiguração tropical culta, rica, bela e cheirosa. 

19 milhões de desempregados, quase 120 milhões na ante-sala da pobreza, revestem a zona do euro das cores de uma tragédia histórica feita de despejos, suicídios, fome e pobreza, em escala e virulência desconhecidas desde a Segunda Guerra. 

A candidatura Aécio é isso: o choque de gestão de Alckmin algemado ao descrédito planetário da bandeira dos mercados autorreguláveis. Queira ou não, sua candidatura vestirá o que lhe resta --a camisa conservadora impregnada da naftalina udenista. 

O único plano de voo tucano é a aposta no acuamento político do PT e do governo Dilma.

Depende muito de como o outro lado reagir.

A inexistência de um contraponto estruturado de mídia progressista, por exemplo --ontem e ainda hoje menosprezado pelo governo Dilma-- amplifica o alcance dessa ressurgência udenista, cuja chance de volta ao poder pressupõe nada menos que a destruição de Lula e o engessamento de sua sucessora.

Não é único flanco de um viés de complacência cada vez mais temerário.

O PT de certa forma foi uma costela emancipada da efervescência cristã-progressista semeada pela Teologia da Libertação nas periferias metropolitanas. A ela associou-se a energia sindical amadurecida nos levantes metalúrgicos do ABC paulista, nos anos 70 e 80. 

Dessa simbiose de forte capilaridade emergiram lideranças e quadros que iriam catalisar segmentos egressos da luta armada, intelectuais de esquerda, cristão progressistas e democratas em geral, na construção de um novo partido socialista, libertário e ecumênico.

O êxito eleitoral fulminante associado ao revés simultâneo da ala progressista da igreja católica contribuiria para o duplo desmonte da enraizamento original pela base. 

O jogo eleitoral absorvente impôs a sua lógica absolutista na vida interna do partido; o golpe conservador dentro da Igreja Católica reproduziria o mesmo vácuo nas periferias crescentemente colonizadas pela individualização evangélica.

A vitória de Fernando Haddad em São Paulo reabre essa página da história.

A partir de São Paulo o PT pode - se quiser - renovar o arsenal de políticas públicas, ao mesmo tempo em que regenera a capacidade de organização pela base.

Seria uma demonstração de discernimento histórico da nova gestão petista, por exemplo, criar uma Secretaria de Participação Cidadã. 

Sua missão democrática seria reativar a nucleação suprapartidária da cidadania em torno de questões cruciais que atormentam o cotidiano dos bairros de classe média, dos conjuntos populares e das periferias distantes.

O renascimento da participação comunitário impulsionado pelo recorte ecumênico, pavimentaria a realização de grandes conferencias municipais temáticas. Nelas, delegados de classe média e de cinturões populares pactuariam suas prioridades para São Paulo.

O processo ganharia difusão através de uma rede de mídia alternativa capaz de amplificar a mais significativa virada cultural na gestão de uma metrópole no século XXI: o protagonismo democrático de seus habitantes. 

A vitalidade participativa em uma das cinco maiores manchas urbanas do planeta sacudiria a vida política do país e a letargia interna do PT.

Faria mais que isso:fomentaria um anteparo de discernimento popular com densidade capaz de resistir ao golpismo conservador que, queira ou não Aécio, deve cavalgar a sua candidatura a 2014 - se e até quando ela sobreviver à liquefação neoliberal.
Postado por Saul Leblon 
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v      VHCarmo.                     

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