O vitorioso marqueteiro João
Santana em entrevista à Folha de São Paulo, ontem, afirmou com muita propriedade que o Supremo Tribunal Federal foi vitimado
pelo excesso de exposição no julgamento da Ação Penal 470 e, com sua larga
experiência na matéria, aponta também os
malefícios e os perigos que isto representa para o regime democrático.
Este escriba selecionou
e transcreve abaixo afirmações irretorquíveis do marqueteiro sobre o problema.
Olhem só:
O sr. está dizendo que toda a exposição do
mensalão na TV se resumiu a esse impacto circunstancial?
Sim. Mas eu
gostaria de fazer uma observação adicional. Nós todos somos atores políticos e
sociais. O teatro, os ritos são indissociáveis da política e, por consequência,
da Justiça, que é um ente político. Os meios modernos de comunicação levaram
esta teatralização ao paroxismo. E o julgamento do mensalão levou ao paroxismo
a teatralização de um dos Poderes da República. O que isso trouxe de bom ou de
ruim, o tempo dirá. Mas sem querer dar conselhos, é bom lembrar uma coisa para
os ministros membros do STF: o excesso midiático intoxica. É um veneno. Se os
ministros não se precaverem, eles podem ser vítimas desse excesso midiático no
futuro. E com prejuízos à instituição.
Como?
Mesmo sendo
transparente, uma Corte deve ter um certo recato. Você já imaginou se todos os
governos transmitissem ao vivo as suas reuniões ministeriais? Se houvesse uma
câmera ao vivo transmitindo de dentro dos gabinetes do presidente e dos
ministros? Você acha que essa transparência seria benéfica ou maléfica? O
governo seria mais democrático por se expor dessa forma? Ou um governo mais
fragilizado?
Mas o sr. acha
que deve ser interrompida a transmissão das sessões do STF pela TV?
Não estou dizendo
isso. Mas apenas que os ministros, como atores, tenham a dimensão do que isso
significa. Administrar a Justiça com transparência não significa,
necessariamente, fazer um reality show. Qualquer pessoa precisa se precaver com
a atuação. Até um cirurgião, quando filmado, pode ter interferência na sua
atuação.
Como podem
sofrer os ministros do STF pela exposição extremada?
O ego humano é um monstro perigoso,
incontrolável. Toda vez que você é levado a uma superexposição sua tendência é
sempre sobreatuar. Essa é a questão central.
O sr. está
comparando o julgamento do mensalão a um reality show?
O mensalão é o maior reality show da
história jurídica não do Brasil, mas talvez do planeta. Não existe uma Corte
Suprema no mundo que tenha transmissão ao vivo. Os ministros estão preparados
para julgar. Mas estão preparados para essa superexposição? Aliás, qual é o ser
humano que está preparado para uma situação dessas? Eu costumo dizer aos
candidatos em campanha: tome cuidado quando você está ali, sob aquela luz,
porque você está exposto. Tome cuidado com a sua cabeça e sobre como reagir com
o sucesso. Se você não reagir bem à exposição midiática e ao sucesso, você pode
trazer problemas para você, para sua família e para a instituição que você
representa.
O julgamento do
mensalão teria um resultado diferente se não tivesse transmissão ao vivo pela
TV?
Às vezes, eu acho que sim. E acredito que
a transmissão ao vivo potencializou os efeitos da pressão feita pela mídia
antes do julgamento. Não estou dizendo que seja só ruim, só negativo. Mas é um
fato que precisa ser conhecido e eu como especialista em comunicação me sinto
no dever de dizer.
_____________________________
VHCarmo.
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