A história do nosso
país, cuja origem colonial marcou sua evolução, deixou sequelas indeléveis,
apesar de inegáveis avanços havidos.
Sobram ainda feridas
abertas da escravidão, da Casa Grande e
da Senzala.
A presença da raça
negra e de sua descendência mestiça, rescaldo do cativeiro é significativa na
formação cultural do nosso povo.
Herdeiros de grandes virtudes, expressas em suas crenças e artes, os
negros e seus decendentes continuam também a carregar o
ônus de sua própria história de servidão.
Paralelamente, as elites escravocratas jamais admitiram
pacificamente a integração dos negros no processo de construção de uma nação
miscigenada e socialmente justa.
Em que pese ao esforço
de camadas intelectuais, do povo, de artistas e dos negros mobilizados, as elites que
ocupam a sede do poder econômico e político, declaradamente ou não, usam de
todos os métodos para manter o "status quo", ou seja, a
distância estabelecida no estatuto discriminatório racial que professam.
A elite branca repete a
história da escravidão. Serve-se de
agentes, como àquela época, normalmente da
mesma raça negra, para lhe evitar a tarefa suja da violência na discriminação
que pretende perpetuar a qualquer preço.
Os feitores e capatazes
atuais se sofisticaram. Distanciam-se da figura desenhada por Debret, cavaleiro
montado empunhando o chicote para servir de azougue, o chapéu de abas largas, a percorrer o eito dos canaviais,
os bueiros das usinas, os buracos escuros das minas gerais na tarefa de castigar os servos negros indolentes ou revoltados.
Portadores da violência
transferida, presentes nos pelourinhos, aos carrascos negros se permitiam a pequena
esmola de penetrar a cozinha da Casa Grande, frequentar suas mucamas e mães de
leite e inclinar-se respeitoso em frente à Senhora e se humilhar a conferir com os arrogantes Senhores a eficiência de sua
tarefa suja cotidiana.
Verifica-se na
atualidade de nossa Pátria um quadro
mais sofisticado dos agentes negros das elites da Casa Grande, na lâmina e no chão da vida dos bairros pobres,
travestidos em carrascos vestem fardas de soldados mal remunerados das polícias
mais violentas, liberados para matar pobres, seus semelhantes.
São cruéis essas elites:
promovem negros a tarefas menos ostensivas, mas igualmente
violentas nos postos pouco mais elevados do aparelho repressivo, convenientemente
adestrados e corrompidos.
Mas, os agentes negros,
novos capatazes da atualidade, se
sofisticam sob o rígido controle da Casa Grande que os seleciona.
Há certos núcleos do poder que lhe são
vedados e quando não, inteiramente, são impedidos por entraves postos à sua ascensão.
Desafiador para
qualquer investigador, até por mera curiosidade, contar a presença dos negros
nos aparelhos da Justiça. Pouquíssimos
chegam à Primeira Instância, menos ainda aos Tribunais. Triste constatação é que os poucos que se
tornam magistrados investem-se no triste papel de agentes das elites racistas que os promoveram.
Com meritórias exceções,
conformadoras das regras, os agentes promovidos pelas elites na Justiça, se
tornam sofisticados capatazes, feitores na luta contras as "ações
afirmativas".
O exemplo atual mais
significativo da maestria com que a Casa Grande atuou, foi conseguir levar à
Suprema Corte o mais sofisticado modelo de feitor que lhe serve à perfeição por
ter negra a cor da pele, como na época
da escravidão.
Beijando a mão da
Senhora mídia, se inclina perante as elites golpistas, com uma sem cerimônia,
misto de vaidade e tolice: e o Ministro reina num mundo falso. O mundo familiar e íntimo de seus pares lhe é vedado. A sua cor o impede.
Antes de provocar um sentimento de revolta, o Ministro capataz
provoca um sentimento de pena, pois a história lhe reserva o destino dos que
serviram à humilhação de seus socialmente iguais, com desprezo soberbo da lei
que lhe cumpria servir.
___________________________________________
VHCarmo.
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