quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

OS NOVOS CAPATAZES....


A história do nosso país, cuja origem colonial marcou sua evolução, deixou sequelas indeléveis, apesar de inegáveis avanços havidos.
Sobram ainda feridas abertas  da escravidão, da Casa Grande e da Senzala.
A presença da raça negra e de sua descendência mestiça, rescaldo do cativeiro é significativa na formação cultural do nosso povo.  Herdeiros de grandes virtudes, expressas em suas crenças e artes, os negros e seus decendentes continuam também a carregar o  ônus de sua própria história de servidão.
 Paralelamente,  as elites escravocratas jamais admitiram pacificamente a integração dos negros no processo de construção de uma nação miscigenada e socialmente justa.
Em que pese ao esforço de camadas intelectuais, do povo, de artistas e dos negros mobilizados, as elites que ocupam a sede do poder econômico e político, declaradamente ou não, usam de todos os métodos para manter o "status quo", ou seja,  a distância estabelecida no estatuto discriminatório racial que professam.
A elite branca repete a história da escravidão.  Serve-se de agentes, como àquela época, normalmente  da mesma raça negra, para lhe evitar a tarefa suja da violência na discriminação que  pretende perpetuar a qualquer preço.
Os feitores e capatazes atuais se sofisticaram. Distanciam-se da figura desenhada por Debret, cavaleiro montado empunhando o  chicote para servir de azougue, o chapéu   de abas largas, a percorrer o eito dos canaviais, os bueiros das usinas, os buracos escuros  das minas  gerais na tarefa de castigar os servos negros indolentes ou revoltados.
Portadores da violência transferida, presentes nos pelourinhos, aos carrascos negros se permitiam a pequena esmola de penetrar a cozinha da Casa Grande, frequentar suas mucamas e mães de leite e inclinar-se respeitoso em frente à Senhora e se humilhar a conferir  com os arrogantes Senhores a eficiência de sua tarefa suja cotidiana.
Verifica-se na atualidade de nossa Pátria um  quadro mais sofisticado dos agentes negros das elites da Casa Grande, na lâmina e  no chão da vida dos bairros pobres, travestidos em carrascos vestem fardas de soldados mal remunerados das polícias mais violentas, liberados para matar pobres, seus semelhantes.
São cruéis essas elites:  promovem negros  a tarefas menos ostensivas, mas igualmente violentas nos postos pouco mais elevados do aparelho repressivo, convenientemente adestrados e corrompidos.
Mas, os agentes negros, novos capatazes  da atualidade, se sofisticam sob o rígido controle da Casa Grande que os seleciona.    

Há certos núcleos do poder que lhe são vedados e quando não, inteiramente, são impedidos por entraves postos à sua ascensão.  
Desafiador para qualquer investigador, até por mera curiosidade, contar a presença dos negros nos aparelhos da Justiça.  Pouquíssimos chegam à Primeira Instância, menos ainda aos Tribunais.   Triste constatação é que os poucos que se tornam magistrados investem-se no triste papel de agentes das elites  racistas que os promoveram.

Com meritórias exceções, conformadoras das regras, os agentes promovidos pelas elites na Justiça, se tornam sofisticados capatazes, feitores na luta contras as "ações afirmativas".

O exemplo atual mais significativo da maestria com que a Casa Grande atuou, foi conseguir levar à Suprema Corte o mais sofisticado modelo de feitor que lhe serve à perfeição por ter  negra a cor da pele, como na época da escravidão.

Beijando a mão da Senhora mídia, se inclina perante as elites golpistas, com uma sem cerimônia, misto de vaidade e tolice: e o Ministro reina num mundo falso. O mundo familiar e íntimo  de seus pares lhe é vedado. A sua cor o impede.

Antes de provocar  um sentimento de revolta, o Ministro capataz provoca um sentimento de pena, pois a história lhe reserva o destino dos que serviram à humilhação de seus socialmente iguais, com desprezo soberbo da lei que lhe cumpria servir.
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VHCarmo.



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