domingo, 4 de novembro de 2012

UM POEMA É ALGO MAIS...


O poeta, às vezes, extrapola o seu sentimento que se contém no limite dos versos e se projeta  no desencanto. É da história da poesia.
 A subjetividade, uma das marcas do jovem poeta Ricardo do Carmo, é uma forma de projetar a angústia própria do ser humano para extravasar num certo pessimismo que, no entanto  pela sua poética, transcende a simples lamúria para encantar pela forma universalista da  expressão.
Olhem só:

            Passageiro de ônibus.
                          Ricardo do Carmo
Eu sou aquele
que viaja na janela dos ônibus
prestando atenção nos homens.

Aquele que traz uma fileira
de  canções no peito
e uma paixão mordida no coração
que dói  no corpo inteiro.

Aquele que caminha caminha caminha
nas linhas de todas as mãos.

Eu sou o transatlântico de mágoas
naufragado nos olhos dos réus.
o cão vira-lata jogado na vida
feito uma margarida que deixou o galho
pra conhecer os segredos da ventania.

Eu sou a euforia sem razão
na incerteza do carnaval.

Eu sou obrigado a ser débil mental
(mas não sou),

Eu sou à noite o par do arrimo,
a flor entre a fronha e o travesseiro
no quarto do assassino.

Eu sou a timidez da manhã
varando a musculatura do cais.
Um avião de famintos
caindo sobre as colunas sociais.

Eu sou quem já não aguenta mais
o colar de danos no pescoço.
Apelo desesperado de mãe.
Quem apesar de tudo
não renuncia o murro final e vai,
fogueira acesa na goela de um dragão.
acendendo balões de versos
nas festas de Solidão.
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VHCarmo.

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