quarta-feira, 8 de agosto de 2012

UM MOMENTO DE POESIA (é algo mais).

                         Antes da ressurreição  retardatária do ultra romantismo na poesia urbana, os versos dos poemas tidos como "Cânones brasileiros", primam pela fina tessitura  e sofisticação, buscando uma pretendida perfeição formal, aquilo que se denominou "fôlego criativo". São de construção poética ligada a temas nacionais e existenciais na fase do nosso modernismo. Pontificam aí: Drummond, Cecília e João Cabral e alguns outros.  Há mulheres, além de Cecília que figuram como autoras de poemas tidos como"Cânones". Este é o caso de Henriqueta Lisboa, cujo poema "Louvação de Daniel" expressa em alto grau as características desses versos modernistas.


LOUVAÇÃO DE DANIEL


Como és belo, ó Daniel
dos bíblicos arcanos
dos vagares do pouso
de Congonhas do Campo

sob o céu constelado,
pela chuva batido,
prisioneiro da pedra
como dantes cativo,
todavia talhado
para sobrancerias.

Príncipe em terra estranha,
como outrora imperaste
sobre reis, por teu ânimo
e donaire de porte,
pela divina graça
permaneces magnífico
para as eternidades.

Mais que os outros profetas
o Alejadinho amou-te,
recompondo-te a essência
da harmonia do todo.
Dentre os blocos de pedra
pelo rolar dos tempos
receberás o orvalho
da estrela. Sol e azul
te saudarão primeiro.

Pássaro das distância
com preferência clara
pousarão no teu ombro.

Leão que outrora domaste
(mas com que destemor
numa estreita caverna!)
com submissa volúpia
bebe-te hoje os olhares
aos reflexos da lua.

Pensativo cabeça
sem orgulho, que sábia
posição escolheste
para ser e não ser!

Decifrador de enigmas
pelos desígnios do alto,
que em ti mesmo encontravas
as raízes da vida.

Não foi em vão, Daniel,
que salvaste Susana,
cavalheiro perfeito
pelas dobras do manto.

Giro em torno de ti,
Daniel. desapareço.
Prenunciando o Messias
continuas de pedra
pelas noites e os dias
passageiros e eternos.
__________________________________________________
VHCarmo.

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