Fernando Pessoa.
(Poema em linha reta – excerto)
Toda gente que conheço e fala comigo
Nunca teve um ato, nunca sofreu enxovalho
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida ...
Quem dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há nesse largo mundo que me confessa que uma vez foi vil ?
Ó príncipes, meus irmãos.
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado ,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
Eu que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
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VHCarmo.
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