sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Como se portará a classe média que atingiu 51%...

                                       Torna-se atual a discussão sobre o papel da classe média brasileira, hoje atingindo cerca de 51% da população que, como fato inédito, também conduz à reflexão sobre qual será, particularmente,  a sua influência na conformação do poder político daqui para frente.
                                      O ex-presidente Fernando Henrique em recente pronunciamento enfatiza a necessidade de sua corrente política centrar sua atenção sobre essa classe média à qual atribui papel predominante na luta pelo poder. O “príncipe dos sociólogos” chega a pregar o abandono do povo pobre ao qual confessa terem seus “comandados” perdido a influência.
                                       Em princípio os fatos não têm servido à argumentação do “mestre” pois os ganhos sociais e econômicos da classe média, a tem levado a apoiar as diretrizes do governo e ao abandono das suas teses neoliberais de triste memória.
                                       Este escriba se estende numa pequena análise que aí vai para a costumeira generosidade daqueles que prestigiam este humilde bloguinho.

                                     A CLASSE MÉDIA NO BRASIL ATUAL.

                                   Recuando aos primórdios da independência quando se romperam os laços coloniais, transferindo a gestão da política interna e da sua organização econômica, da colônia para as elites nativas, constata-se a ausência das camadas do povo no processo, bem como a sua quase nula participação na modificação consequente das relações sociais e econômicas herdadas.             Por sua escassa participação a organização interna da sociedade pouco se modificou em função da ruptura do estatuto colonial. As elites nativas, neste particular, cuidaram manter a mesma organização social herdada: com a escravidão e “a marginalização permanente da enorme massa de homens livres”.
                                 A interação histórica do povo (homens livres) com a política e a organização social vai tomar forma mais consistente com a evolução da economia e das relações de produção da ex-colônia, inclusive, com a influência da hegemonia externa transferida, então, para o império inglês.
                                  Com o impacto da evolução do país, então independente, apesar da força daquela influência externa, vai se formando gradativamente uma camada ligada aos interesses do povo livre, constituindo-se, no Brasil, em embrião daquilo que hoje é conhecido como sua classe média.
                                 Desde então esses estamentos portadores de interesses conflitantes com os das elites, vão se agrupando, porém sem homogeneidade, em torno de ideários que buscavam a transformação social e política sem, contudo, sistematizar o seu discurso.
                              Essa embrionária formação de grupos sociais e políticos, após o advento da República, não se organizaram, ainda, de forma a influenciar as decisões políticas e econômicas, permanecendo à margem na solução dos impasses surgidos das crises provocados pela evolução capitalista que se resolveram, sempre, a favor dessas mesmas elites, retardando a evolução econômica e social do país.
                                A chamada classe média atual sedimentada na evolução recente do Brasil, após os anos 30 do século vinte, tanto social como economicamente, adquiriu  um caráter próprio que a distingue da classe média clássica que, em outros paises, tiveram origens diferentes.
                                Na Europa a classe média se formou como pequena burguesia, resultante da revolução burguesa e libertária contra o absolutismo monáquico.    Nos USA pelo próprio caráter da formação histórica do país como nação, por transferência de povos da Europa tangidos pelas lutas religiosas, que se organizando no território como transplantados, formaram a base da sociedade e da economia americanas.
                                 A ação das camadas médias da população brasileira, caracterizada como classe média, tem como sua principal característica a ausência de ideologia própria, por força de sua formação histórica acima analisada.              Poder-se-ia dizer, no entanto, que, por isso mesmo, o caráter da chamada classe média brasileira seria o da sua indefinição ideológica, em virtude de seus interesses difusos. Essa observação tem conduzido certos autores (sociólogos) a negar, até, o seu caráter de classe social por lhe atribuírem essa falta de discurso e prática coletivos.
                                 Na evolução política que se desenrola em nosso país, essa classe média tem se portado de forma oscilante, ora se colocando a favor de teses conservadoras e mesmo da direita, ora integrando políticas progressistas, por vezes se dividindo entre as duas opções. Jamais teve uma atuação  e uma participação política uniforme.
                                 O que se põe atualmente em discussão é se, com o advento do crescimento dessa classe média no país, ela se tornará mais conservadora, ou seja, se colocará a nu o conservadorismo que muitos pensadores afirmam  como sendo de sua  verdadeira natureza sociológica.
                                A análise do recente posicionamento da classe média, no país, não autoriza a hipótese conservadora, posto que ela vem agindo como parte importante e indispensável na promoção política dos núcleos dirigentes, de seus objetivos e movimentos recentes, inequivocamente, de natureza progressista.             Pelo menos nos últimos 9 anos e três pleitos eleitorais, a classe média contribuiu, decisivamente, para o avanço das teses progressistas, da democracia e do repúdio ao ideário neoliberal.
Essa constatação tem base na realidade  e se confirma nas pesquisas sociais sobre a sua atuação como classe.
                                As definições pretensamente científicas que  rotulam a classe média como linha auxiliar da direita perdem, portanto,  significado frente à realidade da sua atuação no nosso contexto político atual.
                              Afinal, o que autoriza a pensar-se que a nossa classe média encarnará, em virtude seu maior peso atual, o papel de resistência ao avanço social e econômico do país ? Somente o futuro dirá , mas o passado não o autoriza.

VHCarmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário