terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um momento de poesia

O Rancho e o Rio


Eu moro numa estrada, sob o teto láctico do céu

e a lua mutante passa regularmente

para me ver.

Ao lado da minha morada desce o meu rio

que leva sonhos correntes

e carrega estrelas pela noite a dentro.



Se entro em minha casa,

meu coração fica lá fora.



Eu moro numa nuvem de algodão opalina

singrante sobre o meu rio

que corre pelos pastos nus,

flutua nas copas das árvores

e brinca na noite de vaga-lumes azuis.


Se volto à casa

minha alma fica lá fora.



Eu moro num mato denso,

deitado no solo contemplo o insondável infinito

e ouço o rumor cantante do meu rio.

O mato, em volta, transcende a aromas

de descuidadas flores silvestres.


Se me quedo em casa

meu pensamento fica lá fora.


Eu moro dentro de um ninho,

tépido aconchego de passarinho

que belisca a pele crua do rio

e no ventre de seu espelho

reflete minha imagem narscística.


 
Se corro para casa

minha vida fica lá fora.


Tenho uma morada incerta

que está fora de mim mesmo.


Dualidade da vida e do  sonho.


Indiferente, a tudo,  vai por lá meu rio,

mas nem eu sei

nem sabe ele

onde realmente é que vivo.

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Victor Hugo do Carmo – do Livro “A Vila do Capivara”.
Poema feito em São João Nepomuceno, à beira do Rio Novo em 1998, no  Rancho do primo José Foreaux...

VHCarmo.

Um comentário:

  1. Só como curiosidade: Vc me lembrou agora S J do Nepomuceno onde, em 1965, vamos jogar lá contra o time da cidade, convidados que fomos, no aniversário de morte de Heleno de Freitas. Na homenagem estivemos em seu túmulo.
    Boas lembranças também é essa sua maneira de falar de suas inspirações. Esse é o essencial!

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