O Rancho e o Rio
Eu moro numa estrada, sob o teto láctico do céu
e a lua mutante passa regularmente
para me ver.
Ao lado da minha morada desce o meu rio
que leva sonhos correntes
e carrega estrelas pela noite a dentro.
Se entro em minha casa,
meu coração fica lá fora.
Eu moro numa nuvem de algodão opalina
singrante sobre o meu rio
que corre pelos pastos nus,
flutua nas copas das árvores
e brinca na noite de vaga-lumes azuis.
Se volto à casa
minha alma fica lá fora.
Eu moro num mato denso,
deitado no solo contemplo o insondável infinito
e ouço o rumor cantante do meu rio.
O mato, em volta, transcende a aromas
de descuidadas flores silvestres.
Se me quedo em casa
meu pensamento fica lá fora.
Eu moro dentro de um ninho,
tépido aconchego de passarinho
que belisca a pele crua do rio
e no ventre de seu espelho
reflete minha imagem narscística.
Se corro para casa
minha vida fica lá fora.
Tenho uma morada incerta
que está fora de mim mesmo.
Dualidade da vida e do sonho.
Indiferente, a tudo, vai por lá meu rio,
mas nem eu sei
nem sabe ele
onde realmente é que vivo.
_____________________________________
Victor Hugo do Carmo – do Livro “A Vila do Capivara”.
Poema feito em São João Nepomuceno, à beira do Rio Novo em 1998, no Rancho do primo José Foreaux...
Só como curiosidade: Vc me lembrou agora S J do Nepomuceno onde, em 1965, vamos jogar lá contra o time da cidade, convidados que fomos, no aniversário de morte de Heleno de Freitas. Na homenagem estivemos em seu túmulo.
ResponderExcluirBoas lembranças também é essa sua maneira de falar de suas inspirações. Esse é o essencial!