Até aqui os habituais comentarios e análises sobre a crise que se abateu sobre os paises centrais do capitalismo ainda não focalizaram a questão da sua vinculação ou correlação com a rebelião popular na região da África do Norte e do Oriente Médio, em particular nos paises árabes.
A contemporaneidade dos dois fenômenos teria sido um simples acaso? Isto exige uma reflexão.
Não há dúvida que a crise iniciada em 2007/2008 teve o seu prolongamento e culminância nos dias atuais. A hipótese de vinculação, em princípio, parece estar relacionada com o real enfraquecimento das economias centrais do capitalismo e de seu poder militar de dissuasão para o exercício da dominação daqueles paises. É de se considerar como parece, nesse aspecto indicar, o recuo havido no conflito com o Irã – que parecia iminente - e a retirada dos soldados do Iraque e do Afeganistão - com um gosto amargo de derrota militar - e, por fim, a utilização do Conselho de Segurança da ONU e outros organismos internacionais para a intervenção indireta na Líbia. Aí se cuidou de intermediar o conflito que, tem o nítido caráter de proteção das fontes de energia do petróleo para a Europa. Não se pode calcular, porém, se o objetivo será alcançado, após a severa destruição promovida na infraestrutura do país, ao comando da OTAN. A Síria, de governo sem maior caráter religioso, vai sendo poupada.
Por outro lado, paralelamente ao agravamento da crise econômico-financeira, o Ocidente vem suprimindo os gastos com o financiamento das "ditaduras amigas" na África e no Oriente Médio, expondo-as às suas fragilidades perante as rebeliões populares e seus fundamentalismos religiosos em conflito pela hegemonia interna.
As tentativas de solução para a saída da crise têm-se revelado insuficientes e inadequadas e o potencial de revolta das populações sacrificadas por essas tentativas, têm, de certa forma, o mesmo caráter, embora com raízes diferentes, na velha Europa e nas ditaduras árabes, ou seja, o empobrecimento e o desemprego de grande parte do seu povo; coincidência ou não.
Além dos embates sangrentos da África e Oriente Médio, os Indignados na Espanha, os “tumultos” dos pobres na Velha Albion, os surtos do fascismo e a atuação agressiva da direita nos EEUU. parecem todos terem a mesma raiz: ou seja, a crise que se alastra, cumprindo a sua marcha cíclica já anunciada por Karl Marx como inerente ao desenvolvimento capitalista.
Um tanto da história se repete. A Grande Depressão dos anos 30 do século passado foi, sem dúvida, o detonador da 2a. Guerra Mundial e, paralelamente, da extinção do colonialismo na periferia.
O afrouxamento dos laços de dominação ora produzidos pela crise atual desencadeou, também, a insurgência na periferia contra os ditadores "amigos do Ocidente"; resta ver a direção que irá tomar.
Não à toa o esforço da propaganda para desqualificar o caráter dos “tumultos” ingleses, embora tenham – como ficou patente - os mesmos fundamentos, na situação trágica de pobreza e de desemprego de larga faixa de seu povo, provocada na Inglaterra, sobretudo, pela supressão das conquistas do chamado Estado de Bem-estar social.
O desafio que se coloca ao analista é buscar, afinal, a resultante dessa verdadeira equação crítica, porém os elementos para tanto ainda não mostram sua face de molde a propiciar certezas.
Os USA, potência hegemônica, parece ter esgotada a sua tentativa de impor, ao mundo, a sua democracia liberal e desregulada que tornou aguda a crise cíclica e enfraqueceu a sua dominação externa. Paises como a Rússia, a China e a Índia não têm, a rigor , modelos do tipo de democracia à moda liberal americana e, no entanto, avançam em sua economia com participação e inclusão social em altos índices. O Brasil, por sua vez, faz um vôo solo em termos de evolução democrática com a providencial intervenção regulatória do Estado na economia e a persistente inclusão social,. voltando-se ao seu grande mercado interno.
Renova-se a perplexidade: que mundo nos aguarda após o esgotamento de mais essa crise?
VHCarmo.
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