A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros) foi à Presidente Dilma, em Brasília, reivindicar seja ouvida para a contribuir com seus suplementos para a Reforma Política e outras que a sociedade reclama nesse início de governo.
O dirigente principal da Conferência manifestou à imprensa na ocasião que a entidade evitaria (como evitou) tocar no assunto aborto.
É, sobretudo estranhável que, depois de passado tão pouco tempo, a CNBB queira fazer apagar da memória do povo o procedimento profundamente desleal e antiético que desempenhou no período eleitoral.
Não é fácil esquecer a gravidade das ações patrocinadas pelos bispos que fizeram distribuir aos fiéis a chamada “Carta da Conferência nacional dos Bispos do Brasil” pedindo que os fiéis não votassem na Dilma Rousseff. O pretexto seria a absurda afirmação de que ela seria favorável ao aborto.
Tal procedimento encerrava uma grave deturpação da questão do aborto, pois, de sã consciência, ninguém é a favor do aborto e a posição pessoal de cada um, evidentemente, não conta. Deturpava a questão para inviabilizar candidata. A Carta omitia aquilo que se poderia até discutir, ou seja, a manutenção, ou não, do aborto como crime no Código Penal. Seria diferente e impessoal.
Como dizia, então, Dilma Rousseff: a questão se tornara, sobretudo, problema de saúde pública. A convicção pessoal de cada mulher, de cada pessoa, sobre a questão haveria de ser respeitada, seja, ou não, de fundo religioso. Colocação que não deixava dúvidas.
Demais, sabem todos, inclusive os bispos, que a prática do aborto é generalizada no país, praticada na clandestinidade e, assim sendo, penaliza as mulheres pobres que são obrigadas a usar métodos clandestinos e perigosos para a sua integridade física. A descriminalização do aborto tem sido adotada na maior parte dos paises civilizados, independentemente da religião, inclusive na católica Itália.
Tudo isto é muito simples e fácil de ser entendido, mas os bispos, de uma forma maldosa, quiseram usar a questão do aborto para barrar a candidatura da Presidente Dilma, usando-a como um subterfúgio, colocada de maneira propositadamente equivocada, para ilaquear a boa fé dos fiéis.
De lembrar aqui a baixaria implementada pela Regional SUL 1 da CNBB que, através de paróquias de Guarulhos e de outras cidades, na grande São Paulo, em homilias durante as missas e com a impressão de muitos milhares de panfletos distribuídos entre os fiéis, acusava Dilma como sendo “a favor do aborto” – iria matar as criancinhas - e sugerindo o voto na candidatura oposicionista de Serra.
Uma comitiva de bispos brasileiros foi, à época, até ao Papa que endossou de modo expresso sua opção pelo candidato brasileiro que não seria a favor do aborto. Aliás, sendo o pontífice o chefe do Estado do Vaticano, cometeu, no mínimo um ato falho, intervindo em assunto interno do Brasil que é constitucionalmente um Estado Laico.
A Presidente Dilma, durante toda a campanha eleitoral, reafirmou sua condição de católica, acabara, então, de batizar o seu neto recém nascido e, sobretudo, colocou honestamente e sem subterfúgios a questão do aborto como problema pessoal e de convicção de cada um, sendo, inquestionavelmente, um grave problema de saúde no Brasil que deveria ser encarado pela sociedade.
Afinal, ficou evidente que a questão do aborto foi inroduzida maliciosamente pela CNBB na campanha eleitoral, pois, de nenhuma forma, até mesmo quanto à sua descriminalização, pode ser discutida sem a participação efetiva da sociedade e do Congresso Nacional. Nenhum dirigente político, por si só, poderia promover a solução da questão.
Afinal, depois disto tudo, não é estranha esta visita da CNBB a Dilma, reivindicando participação?
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