sábado, 26 de janeiro de 2013

Uma antiga entrevista de Lula a Mino Carta (reflexão).


                    Breves reflexões sobre um texto.

Impõe, nesta época, em que não se agitam as campanhas eleitorais, desenvolver alguns pensamentos e reflexões sobre os partidos de esquerda e daqueles que assim se intitulam e  outros que são porta-voz  de radicalismos utópicos.
Uma das primeiras entrevistas colhidas do ex-presidente Lula, ainda líder sindical, trazida à luz em um belo texto do jornalista Mino Carta na Revista Capital desta semana, cuja leitura se recomenda,    declarações  chaves  do líder operário que, já deixavam antever, o que  o levaria a se tornar o grande político que veio a ocupar a Presidência da República.   Há ali o germe de sua iluminada carreira de homem público, ao universalizar o discurso sindical para abranger as camadas mais pobres da população como alvo de sua trajetória política futura. Mostrava-se, então, imune ao radicalismo personalista e pragmaticamente buscava o caminho que veio a seguir com inegável sucesso.

Com a fundação do Partido dos Trabalhadores e suas propostas passou a existir no país, pela primeira vez, um partido plural em que se acolheu o pensamento progressista de todos matizes, fugindo da tradição hermética da esquerda que, até então, não lograra formar um partido de massa.

É inquestionável que até mesmo o velho PCB, embora  tivesse  como meta o apoio das massas, nunca a alcançou, tornando-se sempre vulnerável ao ataque do conservadorismo e mesmo da violência da repressão.   Não à toa passou muitos anos na clandestinidade, acalentando seu sonho revolucionário. Era um partido operário com uma liderança de intelectuais de classe média.

À margem do  avanço do PT em busca do poder político, foram se despregando de seus quadros os  militantes da  extrema esquerda que aderiam ao velho discurso utópico, distanciando-se dos interesses imediatos dos extratos populares para continuar a velha pregação revolucionária de concretização sonhada e  sempre adiada.

Nesse contexto a trajetória do PT realizou-se, até aqui,  mediante  sua expansão em todos os níveis de  interesses da população. Isto o diferenciou.   Seu núcleo (chamado duro) elaborou junto a todos os seus quadros a sua meta prioritária consistente em duas vertentes principais a saber:  o resgate da pobreza iniciada com o "fome zero" e seguido com a adoção  e amplificação dos programas sociais (amplamente conhecidos) que vêm promovendo a distribuição de renda; e a outra vertente  voltada para a presença do Brasil no cenário político e econômico mundial, que tem granjeando o respeito que as políticas neoliberais haviam arruinado e vem confirmando a nossa liderança democrática  na América do Sul e entre os países emergentes.

A constatação da mudança radical do país operada sob o comando do PT já não pode ser mais contestada.  Até os mais ferrenhos adversários não se ariscam a infirmá-la. Notável a subida de contingentes populacionais para a classe  média, a eliminação gradativa da pobreza absoluta e a intensa obra de infraestrutura em curso.

À margem do processo, além da direita e seu discurso pautado pela mídia conservadora,  os partidos que se declaram de esquerda radical surgem como de real caracterização ideológica, posto que, na verdade, usam o discurso esquerdistas e a prática conservadora, descartando até mesmo as posições  do  Centro onde o pragmatismo de alguns setores conservadores oscilam entre o apoio de base aliada ao poder ocupado pelo PT e o alinhamento pontual à direita. É do jogopolítico.

O caso clássico exemplo do esquerdismo apontado  é o PSOL, partido criado quando ocorreu  o mais virulento ataque ao PT e aos seus líderes, no chamado mensalão.
Naquela oportunidade alguns membros do Partido dos Trabalhadores, talvez avaliando mal a capacidade de resistência do PT, fugiram para a nova sigla.
O destino do partido, então fundado, foi inexoravelmente conduzido para o discurso utópico e, como esperado, para  a oposição ferrenha ao PT de onde emigraram.  Esta posição da nova agremiação a levaria, como acabou levando, ao seu alinhamento - não ao centro - mas à direita.  Prevalecia, então, o que  Lula vislumbrara na citada entrevista.
Nos embates eleitorais e na discussão de medidas populares enviadas  pelo Governo ao legislativo, o PSOL sistematicamente, salvo exceções pessoais, se torna parceiro das posições direitistas e, em muitas oportunidades, comanda movimento  no sentido de  negar apoio e obstruí-las, isolando-se. Foi o caso, exemplar, da política de cotas nas Universidades e Ações afirmativas.
Nas últimas eleições presidenciais, quando seu candidato saiu da disputa no segundo turno, o PSOL dizendo-se neutro, veiculou para seus seguidores a mensagem de  que o voto para Dilma ou Serra lhe seria opção indiferente.   
Na recente eleição municipal de São Paulo, após ataques sistemáticos de seu candidato ao PT,  no segundo turno, adotando, mais uma vez,  neutralidade formal o PSOL que   recomendou aos seguidores, não descartou  o voto em Serra que como se sabe é o expoente da direita e, como sempre,  apoiado pela mídia golpista.  
O discurso contra a corrupção adotado pelo PSOL se reveste da velha sistemática "udenista", dirigindo-se sempre contra o PT e os partidos da base aliada do governo, visando a sua desestabilização, pouco importando a  veracidade das denúncias, poupando, por outro lado, os partidos neoliberais da direita.  O maior de todos os escândalos da República, a Privataria Tucana  e o mensalão tucano, jamais foram mencionados pelo PSOL e foi objeto de qualquer  sua ação no sentido de promover   envio à Justiça.
As pequenas siglas que pretendem representar a classe operária reproduzem um discurso ultrapassado e sobrevivem sem qualquer apoio popular.   Mesmo com reduzida participação, via de regra, também se colocam, paradoxalmente,  contra os programas sociais de distribuição de renda e se alinham nas votações  no Congresso e em outras oportunidades aos partidos conservadores que, em teoria, dizem  combater.

A tarefa do Partido dos Trabalhadores fundado por Lula consiste em não perder o seu foco - já delineado naquela entrevista lembrada por Mino Carta -  e por ele lutar de todas as formas, sem sectarismos e, politicamente, apoiar-se  nos seus militantes e simpatizantes bem como  nos partidos  aliados  que sustentam o governo e seus projetos.

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VHCarmo.

 

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