Breves reflexões sobre um texto.
Impõe, nesta época, em
que não se agitam as campanhas eleitorais, desenvolver alguns pensamentos e
reflexões sobre os partidos de esquerda e daqueles que assim se intitulam e outros que são porta-voz de radicalismos utópicos.
Uma das primeiras entrevistas
colhidas do ex-presidente Lula, ainda líder sindical, trazida à luz em um belo texto
do jornalista Mino Carta na Revista Capital desta semana, cuja leitura se
recomenda, há declarações
chaves do líder operário que, já
deixavam antever, o que o levaria a se
tornar o grande político que veio a ocupar a Presidência da República. Há ali o germe de sua iluminada carreira de
homem público, ao universalizar o discurso sindical para abranger as camadas
mais pobres da população como alvo de sua trajetória política futura. Mostrava-se,
então, imune ao radicalismo personalista e pragmaticamente buscava o caminho
que veio a seguir com inegável sucesso.
Com a fundação do
Partido dos Trabalhadores e suas propostas passou a existir no país, pela
primeira vez, um partido plural em que se acolheu o pensamento progressista de
todos matizes, fugindo da tradição hermética da esquerda que, até então, não
lograra formar um partido de massa.
É inquestionável que
até mesmo o velho PCB, embora tivesse como meta o apoio das massas, nunca a alcançou,
tornando-se sempre vulnerável ao ataque do conservadorismo e mesmo da violência
da repressão. Não à toa passou muitos
anos na clandestinidade, acalentando seu sonho revolucionário. Era um partido
operário com uma liderança de intelectuais de classe média.
À margem do avanço do PT em busca do poder político,
foram se despregando de seus quadros os militantes da
extrema esquerda que aderiam ao velho discurso utópico, distanciando-se
dos interesses imediatos dos extratos populares para continuar a velha pregação
revolucionária de concretização sonhada e sempre adiada.
Nesse contexto a
trajetória do PT realizou-se, até aqui,
mediante sua expansão em todos os
níveis de interesses da população. Isto
o diferenciou. Seu núcleo (chamado
duro) elaborou junto a todos os seus quadros a sua meta prioritária consistente
em duas vertentes principais a saber: o
resgate da pobreza iniciada com o "fome zero" e seguido com a adoção e amplificação dos programas sociais
(amplamente conhecidos) que vêm promovendo a distribuição de renda; e a outra
vertente voltada para a presença do
Brasil no cenário político e econômico mundial, que tem granjeando o respeito
que as políticas neoliberais haviam arruinado e vem confirmando a nossa
liderança democrática na América do Sul
e entre os países emergentes.
A constatação da
mudança radical do país operada sob o comando do PT já não pode ser mais
contestada. Até os mais ferrenhos
adversários não se ariscam a infirmá-la. Notável a subida de contingentes
populacionais para a classe média, a eliminação
gradativa da pobreza absoluta e a intensa obra de infraestrutura em curso.
À margem do processo,
além da direita e seu discurso pautado pela mídia conservadora, os partidos que se declaram de esquerda
radical surgem como de real caracterização ideológica, posto que, na
verdade, usam o discurso esquerdistas e a prática conservadora, descartando até
mesmo as posições do Centro onde o pragmatismo de alguns setores
conservadores oscilam entre o apoio de base aliada ao poder ocupado pelo PT e o
alinhamento pontual à direita. É do jogopolítico.
O caso clássico exemplo
do esquerdismo apontado é o PSOL, partido criado quando ocorreu o mais virulento ataque ao PT e aos seus
líderes, no chamado mensalão.
Naquela oportunidade
alguns membros do Partido dos Trabalhadores, talvez avaliando mal a capacidade
de resistência do PT, fugiram para a nova sigla.
O destino do partido,
então fundado, foi inexoravelmente conduzido para o discurso utópico e, como
esperado, para a oposição ferrenha ao PT
de onde emigraram. Esta posição da nova
agremiação a levaria, como acabou levando, ao seu alinhamento - não ao centro -
mas à direita. Prevalecia, então, o
que Lula vislumbrara na citada
entrevista.
Nos embates eleitorais
e na discussão de medidas populares enviadas pelo Governo ao legislativo, o PSOL sistematicamente,
salvo exceções pessoais, se torna parceiro das posições direitistas e, em
muitas oportunidades, comanda movimento
no sentido de negar apoio e obstruí-las,
isolando-se. Foi o caso, exemplar, da política de cotas nas Universidades e Ações afirmativas.
Nas últimas eleições
presidenciais, quando seu candidato saiu da disputa no segundo turno, o PSOL
dizendo-se neutro, veiculou para seus seguidores a mensagem de que o voto para Dilma ou Serra lhe seria opção
indiferente.
Na recente eleição
municipal de São Paulo, após ataques sistemáticos de seu candidato ao PT, no segundo turno, adotando, mais uma vez, neutralidade formal o PSOL que recomendou aos seguidores, não descartou o voto em Serra que como se sabe é o expoente
da direita e, como sempre, apoiado pela
mídia golpista.
O discurso contra a
corrupção adotado pelo PSOL se reveste da velha sistemática "udenista",
dirigindo-se sempre contra o PT e os partidos da base aliada do governo,
visando a sua desestabilização, pouco importando a veracidade das denúncias, poupando, por outro
lado, os partidos neoliberais da direita.
O maior de todos os escândalos da República, a Privataria Tucana e o mensalão tucano, jamais foram mencionados
pelo PSOL e foi objeto de qualquer sua ação
no sentido de promover envio à Justiça.
As pequenas siglas que
pretendem representar a classe operária reproduzem um discurso ultrapassado e
sobrevivem sem qualquer apoio popular.
Mesmo com reduzida participação, via de regra, também se colocam,
paradoxalmente, contra os programas
sociais de distribuição de renda e se alinham nas votações no Congresso e em outras oportunidades aos
partidos conservadores que, em teoria, dizem combater.
A tarefa do Partido dos
Trabalhadores fundado por Lula consiste em não perder o seu foco - já delineado
naquela entrevista lembrada por Mino Carta - e por ele lutar de todas as formas, sem
sectarismos e, politicamente, apoiar-se nos seus militantes e simpatizantes bem como nos partidos aliados que sustentam o governo e seus projetos.
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VHCarmo.
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