quarta-feira, 18 de julho de 2012

A viagem prosseguiu: São Petersburgo.

(Continuação).
                               De Helsing a São Petersburgo fomos de trem cujo conforto e pontualidade foram impecáveis. Velocidade média de 200 quilômetros horários atravessamos a fronteira da Rússia a cerca de duas horas e meia do percurso de 4 horas. Paisagem bucólica em que há muitos alagados e extensos bosques de pinho. Naqueles campos sem muita cultura agrícola visível do trem, de pinheiros e esparsas casas humildes de madeira se desenrolaram sangrentas batalhas na segunda guerra mundial, quando insuflados pelos nazistas a Finlândia atacou a União Soviética e acabou sofrendo uma humilhante derrota num inverno rigoroso.

Chegamos a São Petersburgo na velha e histórica Estação Finlândia, uma das sete estações ferroviárias da praça. Lá está ainda, frente ao jardim, à porta da Gare, a estátua de Lenin, monumento que celebra o seu retorno à Pátria para tornar-se chefe da Revolução de 1917.

Na antiga Leningrado a história está por toda parte. Cidade heróica que, na segunda guerra, resistiu ao cerco do poderoso exército alemão por 900 dias, sem se render, e teve 3/4 de seus prédios destruídos pelos bombardeios e cerca de dois milhões de mortos entre militares e civis; grande parte vitimada pela fome e doenças.
A cidade ficou por mais de dois anos sem luz, água encanada, transporte e outro qualquer serviço público. Os alimentos escassos vinham através do Lago Ladoga, enquanto este se matinha gelado no inverno, sendo sua única via precária de acesso ao resto da União Soviética invadida pelos exércitos alemães. A fome vitimava as pessoas nas ruas e os cadáveres ali ficavam insepultos a espera do degelo ou ao  fim do cerco. A cidade de Leningrado sobreviveu, virou São Petersburgo, nós pisamos o seu solo sagrado e ela continua bela. Deve a sua milagrosa resistência a disciplina e ao patriotismo de seus cidadãos.

Os valiosos tesouros da cidade de Pedro, "O Grande", foram retirados para a parte oriental da URSS,  a tempo, antes do cerco da cidade, mas os palácios de verão do Império Russo nas cercanias da cidade foram ocupados, saqueados e, ao fim,  incendiados pelos invasores alemães.

A restauração da cidade destruída é, sem dúvida, uma das maiores façanhas de um país no pós-guerra, pois cerca de 10 anos após o fim do conflito, São Petersburgo, restaurada, voltou a exibir, em sua plenitude, a sua reconhecida e merecida fama de uma das mais belas cidades do mundo.

Conhecida como a Veneza do Norte, a cidade fundada por Pedro e erguida em torno da Fortaleza Pedro e Paulo, Forte que é hoje monumento histórico em cuja igreja de São Jorge se guardam túmulos de heróis da Rússia Imperial e de seus imperadores.

Além dos muitos prédios em que se instala,  (um deles o antigo palácio de inverno),   às margens do Rio Neva  o Museu Hermitage é, inegavelmente, aquele  que tem um dos maiores acervos de pinacoteca e arte de todo o mundo; de clássicos a modernos e contemporâneos.
As igrejas ortodoxas com suas cúpulas douradas  e  interiores deslumbrantes, os monumentos erguidos aos seus heróis nas margens do rio Neva, as suas pontes decoradas, seus rios, canais, ancoradouros, lindamente decorados, encantam àqueles que, como nós, vimos de outra cultura.

A grande Avenida Neva cujas fachadas se estremam em filigranas, nessa artéria que vai do Almirantado, no Forte, até as imediações da belíssima Catedral de Santo Isac, de fato, atesta o alto grau da civilização eslava que, nem por isso, deixa de ser funcional e acolhedora.  Inegável, também,  a influência de artistas vindos do ocidente, convocados pelos Quizares.

A vitória do Império Russo na chamada Guerra do Norte consolidou a saída do império russo para o Mar Báltico.    Nos  jardins do suntuoso palácio de verão, ali erguido por Pedro “o Grande”, as fontes se ligam todas as manhãs em seus imensos espaços, sempre  às onze horas sob som de música orquestral.  Na fonte principal, em ouro, uma das mais de cem espalhadas pelos jardins,  a figura de um provável soldado  Russo, dominando um leão (símbolo da derrotada Suécia), jorram  altos esguichos de água ; tudo representado por estátuas gigantes e, como sempre, douradas.

Essas aligeiradas impressões pessoais não representam nenhuma novidade;é claro. Há narrativas melhores e mais detalhadas ao alcance do todos sobre São Petersburgo, porém o testemunho deste escriba, para aqueles que o lêem, pretende revelar, apenas, a sua emoção revivida após mais de trinta anos de sua primeira visita a, então, Leningrado.

Impressiona a bagagem cultural do povo russo que ali se manifesta, não só pela conservação dos monumentos mais antigos de sua longa história, mas igualmente os do seu passado recente, ou seja, da experiência dos anos do socialismo cuja  herança positiva é inegável.

Naquele solo que pisamos jorrou o sangue de um povo na luta heróica contra os alemães nazistas. O mundo todo deve gratidão eterna ao heroísmo daquela linda cidade.

Turistas brasileiros estão chegando em grande número, afastando a demonização da Russia  operada na “guerra fria” que, por tantos anos, nos privou , a todos nós, de conhecer aquela cultura.
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VHCarmo.




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