Quando, em poesia, se refere à tendência para perfeição,
diz-se que o poema pertence à categoria dos Cânones, transcendendo ao comum dos
versos para mirar a perfeição como conjugação da poética à sua forma.
Essa corrente se eleva na nossa poesia ao meio do século XX e
se estrema com vários e conhecidos vates como João Cabral de Melo Neto,
Ferreira Gullar, Cecília Meireles, Vinícius, Carlos Drumond de Andrade e outros.
De Jorge de Lima expoente do poema canônico a gente traz ao
bloguinho:
"O céu jamais me
dê a tentação funesta"
( de Invenção de Orfeu).
O céu jamais me dê a tentação funesta
de adormecer ao léu, na lomba da
floresta,
onde há visgo, onde certa erva sucosa
e fria,
carnívora de certo o sono nos espia.
Que culpa temos nós dessa planta da
infância,
de sua sedução, de seu viço e
constância?
Minha cabeça estava em pedra
adormecida,
quando me sobreveio a cena pressentida.
Em sonâmbulo arriei as mãos e os pés
culpados
dos passos e do gesto em vão
desperdiçados.
Despi-me de outros bens , de glória
mais modesta:
restava-me por fim a minha pobre
testa
confundida com a pedra, em meio da
floresta.
Que doce olhos têm as coisas simples
e unas
onde a loucura dorme inteira e sem
lacunas!
Agora posso ver as mãos entrecruzadas
e as plantas de meus pés nas
entranhas amadas,
nesse início que é a clara insônia verdadeira.
Ó seres primordiais que sois testa e
viseira,
restituo-me em vós, sangue e máscara
vividos,
desejo de esquecer tempo e espaço
existidos;
e em vós e em vossa paz meus solilóquios
paro-os,
penetro-me do Verbo em sues silêncios claros,
invisto-me de vós, vossa fonte me
espia
através dessa pedra em que nasce o meu dia.
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VHCarmo.
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