quarta-feira, 5 de junho de 2013

Um momento de poesia (é algo mais no bloguinho)...


Quando, em poesia, se refere à tendência para perfeição, diz-se que o poema pertence à categoria dos Cânones, transcendendo ao comum dos versos para mirar a perfeição como conjugação da poética à sua forma.

Essa corrente se eleva na nossa poesia ao meio do século XX e se estrema com vários e conhecidos vates como João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Cecília Meireles, Vinícius, Carlos Drumond de Andrade e outros.

De Jorge de Lima expoente do poema canônico a gente traz ao bloguinho:

"O céu jamais me dê a tentação funesta"

( de Invenção de Orfeu).

 

O céu jamais me dê a tentação funesta

de adormecer ao léu, na lomba da floresta,

 

onde há visgo, onde certa erva sucosa e fria,

carnívora de certo o sono nos espia.

 

Que culpa temos nós dessa planta da infância,

de sua sedução, de seu viço e constância?

 

Minha cabeça estava em pedra adormecida,

quando me sobreveio a cena pressentida.

 

Em sonâmbulo arriei as mãos e os pés culpados

dos passos e do gesto em vão desperdiçados.

 

Despi-me de outros bens , de glória mais modesta:

restava-me por fim a minha pobre testa

confundida com a pedra, em meio da floresta.

Que doce olhos têm as coisas simples e unas

 

onde a loucura dorme inteira e sem lacunas!

Agora posso ver as mãos entrecruzadas

 

e as plantas de meus pés nas entranhas amadas,

nesse início que é  a clara insônia verdadeira.

 

Ó seres primordiais que sois testa e viseira,

restituo-me em vós, sangue e máscara vividos,

 

desejo de esquecer tempo e espaço existidos;

e em vós e em vossa paz meus solilóquios paro-os,

 

penetro-me do Verbo  em sues silêncios claros,

invisto-me de vós, vossa fonte me espia

através dessa pedra  em que nasce o meu dia.

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VHCarmo.  

 

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