É, sem dúvida, instigante verificar o
direcionamento uniforme do noticiário político dos chamados grandes jornais do
Brasil.
Como se evidencia, em nosso país, a grande mídia pauta
a oposição partidária na política, e de tal modo, que esta última fica tolhida de sustentar proposições construtivas que seriam naturalmente desejáveis na disputa dentro do quadro da
nossa democracia representativa. A oposição se deixa conduzir, assumindo o discurso midiático.
A
gravidade de tal situação reside em que os interesses maiores do Estado de
Direito Democrático permanecem sob o ataque permanente e a visão unilateral da
mídia que não se pautam pela ética e pelo respeito às posições dos adversários, que são tratados, por sua vez, como inimigos a exterminar ou afastar do jogo político. É o golpismo imanente nos jornalões e um dos meios mais usados para tal fim consiste em difundir, a cada dia, previsões catastróficas sobre o futuro do país em contraste com ciclo virtuoso que ora se vive no Brasil.
Do Blog Cafezinho este escriba transcreve o texto abaixo do exemplar e respeitado jornalista Wanderley
Guilherme dos Santos. É uma aguda e pertinente apreciação sobre o tema, que deve ser
divulgada.
Olhem só:
O
humor de hiena do jornalismo brasileiro
A imprensa atravessando o samba.
Por Wanderley Guilherme dos Santos*
Em 1963, a Acadêmicos do
Salgueiro adentrou a avenida Presidente Vargas para ganhar o carnaval e
revolucionar o desfile das escolas. Seu samba-enredo narrava a história de uma
escrava e, para espanto de todos, começava assim: “Apesar de não ter grande
beleza”. Como? Onde já se viu um samba começar com “apesar”? Bem, tratava-se da
famosa Chica da Silva que, mesmo sem dispor de excelência física, “encantou a
mais alta nobreza”. O samba? Maravilhoso.
Os autores da ousadia,
Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, transgrediram criativamente a rotina das
letras e utilizaram com perfeição um recurso estilístico. Lamentaram o que
seria de lamentar – a ausência de perfeição estética da mulher – para melhor
exaltar um grande feito: a conquista do coração do contratador João Francisco de
Oliveira, “que a tomou para ser a sua companheira”.
Pois 50 depois, o jornal
O Globo estampou em sua primeira página de domingo, 2/6/13, matéria sobre
trabalho infantil que começava assim: “Apesar dos avanços no combate ao
trabalho infantil desde os anos 90…” ao que se seguia informação sobre o
possível número de crianças e adolescentes ainda trabalhando em atividades
perigosas, e terminando com o registro de que “Para os especialistas, o país
não deve cumprir a meta de erradicar esse tipo de trabalho até 2015” . A Organização
Internacional do Trabalho acabava de publicar relatório sobre eliminação do
trabalho infantil apontando que o programa bolsa família foi responsável por
parte da significativa redução de 13,4% no contingente de trabalho infantil no
Brasil, entre 2000 e 2010. Especificamente, segundo o IBGE, o número de
crianças e adolescentes trabalhadores decresceu de 5,3 para 4,3 milhões, entre
2004 e 2009. Um milhão a menos em cinco anos. O jornal O Globo, ao contrário
dos criativos compositores do Salgueiro, transformou uma comemoração em
velório, apresentou pêsames aos resgatados de um desastre e exaltou um evento
que, segundo especialistas, não acontecerá daqui a dois anos. Tudo em primeira
página garrafal. Que jornalismo é esse?
Mais do que engajado
partidariamente, trata-se de um jornalismo de péssima qualidade profissional,
não bastasse o estilo chulamente cafajeste de seus colunistas. Os redatores são
incompetentes ou corrompidos. Inúteis até para formar a opinião dos leitores de
oposição ao atual governo, pois a que serve a disseminação da ideia de que, não
importando o esforço da sociedade brasileira, ela não será capaz de superar
seus problemas? Instilando desalento e baixa estima no segmento que o lê, o
jornal busca a erosão das expectativas positivas sobre o futuro de bem sucedido
projeto de transformação econômica e social, em curso desde 2003. Derrotismo de
derrotados faz mal a seus seguidores.
E a confusa manipulação
estatística na apresentação dos resultados da pesquisa do IBGE sobre desempenho
industrial no primeiro trimestre de 2013, divulgados terça-feira, dia 4/6,
reitera o padrão negativista do jornalão carioca, que leva seus profissionais a
atingirem o orgasmo ao anunciar alguma catástrofe, mesmo quando o anunciado não
o é. Em relação a abril de 2012,
a indústria cresceu 8,4%, com indicadores positivos em
23 das 27 atividades, 58 dos 76 subsetores e 63,4% dos produtos pesquisados.
Obscurecendo o disseminado impulso positivo da indústria, em texto
ininteligível, o jornal ressaltou o hiato que resta recuperar em relação aos
níveis de 2011 (O Globo, 5/6/13, p.19). Humor
de hiena.
Já em início de campanha
eleitoral, o momento é oportuno para balanços críticos do governo e de suas
políticas – e aqui faremos alguns. Faltam jornais capazes de identificar,
divulgar e analisar os problemas reais, pois contam com recursos materiais para
percorrer estados e municípios, registrando negligências e omissões. Postular
dogmaticamente que o feito poderia ser feito melhor, é a forma mais leviana de
um jornalão confessar que, apesar do que foi ou venha a ser feito, continuará
contra, atravessando, além do samba, a caminhada.
WG
assina, às quinta-feiras, a coluna Cafezinho com Wanderley.
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VHCarmo.
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