É a velha estória: somente nascidos poetas podem encadear seus versos? Perfilhar-se a uma escola poética, enclausurar-se em regras consagradas seria um imperativo para versejar?. Atrever-se a fazer um poema, sem o hermetismo dessas regras, seria um atrevimento? Este escriba às vezes se atreve, pois não se vê como poeta.
Aí vai um pequeno poema solitário, sem maternidade e paternidade conhecidas.
Pôr do sol em Ipanema.
No largo horizonte desse fim de dia
o sol se põe sobre a minha tristeza,
sulcando o espelho de um
mar de fogo.
Da calçada dura que aos meus pés arde
ternuras cálidas
indiferença frias.
Olhando esse sol na sua bruta inteireza
sinto, incrédulo, neste breve
morrer da tarde
a emoção e a frieza
num estranho e mal iluminado jogo.
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VHCarmo (do livro Memórias - A Vila do Capivara)
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