quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Um momento de poesia (é o algo mais)...

A revolução modernista de 1922 tentou, de certa forma, dar um novo sentido ao lirismo na poesia brasileira;  àquele que vinha, até então, envolto no lusitanismo impregnado pelo rigor da forma. 
A evolução da poesia brasileira seguiria em frente a extremos de liberdade formal, inclusive no Concretismo que feneceu quase sem registro.
Manuel Bandeira o abre com o  seu famoso  poema "Poética" e em famosos versos proclama:
                                
                    "Estou farto do lirismo comedido
                                     do lirismo bem comportado
                                     Do lirismo funcionário publico com livro de ponto expediente protocolo e
                                     [manifestações de apreço ao Sr. Diretor)
                                     Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho
                                      (vernáculo de um vocábulo
                                   
                        Abaixo os puristas"

 A ruptura modernista de 1922 e seus fundadores marcaram um tempo de vôos livres em que o lirismo se desligou do discurso emocional em pról da busca direta do verso, às vezes cru, sempre sem limites determinados.    O modernismo ficou como uma fase importante da nossa poesia e revelou poetas que figurarão para sempre na sua história.
                                       Fica aqui como um dos maiores símbolos daquela fase uma poema que se repete e  é característico daquele tempo: do mesmo Manoel Bandeira  (quem não o conhece?):

                                              VOU-ME EMBORA PRA PASSÁRGADA.

Vou-me  embora pra Passárgada
lá sou amigo do rei
lá tenho a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
aqui eu não sou feliz
lá a existência é uma aventura

   e tal modo inconsequente
que Joana Louca de  Espanha
Rainha falsa demente
venha a ser contraparente
da nora que nuca tive.

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
montarei em burro brabo
subirei no pau-de-sebo.
Tomarei banho de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do Rio
Mando chamar a Mãe d'água
pra me contar as histórias
que no tempo de eu  menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Passárgada.
Em Passárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
de impedir a concepção 
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
vontade de me matar
-Lá sou amigo do rei-
Terei a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada. 
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VHCarmo.                    

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