A revolução modernista de 1922 tentou, de certa forma, dar um novo sentido ao lirismo na poesia brasileira; àquele que vinha, até então, envolto no lusitanismo impregnado pelo rigor da forma.
A evolução da poesia brasileira seguiria em frente a extremos de liberdade formal, inclusive no Concretismo que feneceu quase sem registro.
Manuel Bandeira o abre com o seu famoso poema "Poética" e em famosos versos proclama:
"Estou farto do lirismo comedido
do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário publico com livro de ponto expediente protocolo e
[manifestações de apreço ao Sr. Diretor)
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho
(vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas"
A ruptura modernista de 1922 e seus fundadores marcaram um tempo de vôos livres em que o lirismo se desligou do discurso emocional em pról da busca direta do verso, às vezes cru, sempre sem limites determinados. O modernismo ficou como uma fase importante da nossa poesia e revelou poetas que figurarão para sempre na sua história.
Fica aqui como um dos maiores símbolos daquela fase uma poema que se repete e é característico daquele tempo: do mesmo Manoel Bandeira (quem não o conhece?):
VOU-ME EMBORA PRA PASSÁRGADA.
Vou-me embora pra Passárgada
lá sou amigo do rei
lá tenho a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
aqui eu não sou feliz
lá a existência é uma aventura
e tal modo inconsequente
que Joana Louca de Espanha
Rainha falsa demente
venha a ser contraparente
da nora que nuca tive.
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
montarei em burro brabo
subirei no pau-de-sebo.
Tomarei banho de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do Rio
Mando chamar a Mãe d'água
pra me contar as histórias
que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Passárgada.
Em Passárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
de impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
vontade de me matar
-Lá sou amigo do rei-
Terei a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada.
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VHCarmo.
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