Por acabada ou quase
finda aquela espécie de volúpia do modernismo dos anos vinte do século passado,
a poesia brasileira volta, em parte, ao
leito lírico e ao encontro das íntimas sensações do ser. O verso invade a
música e o povo o canta; há um retorno dialético aos sentidos lusitanos, vindos
de antes do surto modernista. Poetas
notáveis pontificaram então após os anos trinta do século XX estendendo aos
sessenta já apontando algo que veio ao século XXI neste atual curto tempo
literário.
Cecília Meireles,
Vinícius, Drumond, Mário Quintana e tantos mais que a quantidade só fez ressaltar a qualidade da poética
pátria. Este blogueiro reproduz aqui pequeno poema do grande poeta Murilo Mendes
exemplar daquele tempo que permanece.
Estudo
para uma ondina.
Murilo
Mendes
Esta
manhã o mar acumula ao teu pé rosas de areia,
Balançando
as conchas de seus quadris.
Ele
te chama para longas navegações:
Tua
boca, tuas pernas teu sexo teus olhos escutaram.
Só
teus ouvidos é que não escutaram, ondina.
Minha
mão lúcida sacode a floresta do teu maiô.
Ao
longe ouço a trompa da caçada às sereias
E um peixe vermelho faz todo o oceano tremer.
Tens
quinze anos porque já tens vinte e sete,
Tens
um ano apenas...
Agora
mesmo nasceste da espuma,
E
na incisão do ar líquido alcanças o amor dos elementos.
__________________________________________________
VHCarmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário