O nosso Sultão, o
infalível, voltou às lides. Foi um retorno digno de sua majestade. Subiu os pequenos degraus do Palácio e passou
ao lado da estátua da Justiça que, de olhos vendados, não o percebeu.
Atrás do nosso Sultão,
o magnânimo, seguiu o séquito midiático com seus jornalistas, suas câmeras modernas, transmitindo em HD (
alta definição) para todo o mundo, particularmente para atingir de norte a sul
e de leste a oeste todo o território da pátria brasileira.
O recesso teria feito
um efeito benéfico ao nosso Sultão, o
indelével, que pareceu mais lépido,
sorrindo às câmeras, naturalmente livre das dores nos quadris que o
faziam arrimar-se sob o espaldar do trono. Lembrou o "Joca" da
mocidade.
Tendo penetrado o
Palácio com o seu séquito, o nosso Sultão, o misericordioso, cuidou de
distinguir a Rede Globo para passar mais uma lição de seu incomparável saber, para
edição do Jornal Nacional.
Foi claro, "nada mais há acima do poder
de minha Corte". Ensinou, também, que recursos de que falam os advogados e
que estão na lei, na Constituição e no Regimento
Interno de seu reino, não se aplicam no caso do
mensalão.
Embora não seja algo próprio
de um Sultão , com seus títulos, dar-se ao luxo de estar explicando estas
questões, não se furtou de completar:
"ai daqueles que vierem a contrariar as ordens de sua majestade". Disse essas palavras, apontando o dedo em
direção aos palácios do outro lado da Praça.
Alguém mais afoito, com
todas as vênias, lembrou ao nosso Sultão, o misericordioso, que contra as
condenações com votos divergentes poderiam ser opostos os chamados "embargos infringentes", abrindo a
possibilidade de absolvição com um
simples empate. O nosso Sultão,
o magnânimo, esboçou um sorriso irônico, deixando contrastar a alvura de seus
dentes com a cor brilhosa de sua
pele. Foi taxativo:"isto é coisa
dos chamados juristas; esta questão já está juridiscializada na minha Corte".
Diga-se, a bem da
verdade, que não deu para entender bem a
sábia afirmação do nosso Sultão, o incontestável. Contudo, de sua cátedra não se diverge cumpre-se
o preceito.
Enfastiado com o cerco
midiático, nosso Sultão, o generoso, se despediu com um aceno de mão ao seu numeroso séquito demonstrando, mais uma
vez, a sua generosidade e segurança, medidas pela intensa publicidade de seus
atos e por sua inquestionável popularidade.
Dirigiu-se, aplaudido, aos seus aposentos ao fundo da cena.
Houve alguém, entre os
poucos pobres mortais ali presentes, que indagou: "e se
os chamados Embargos Infringentes
e os Declaratórios forem admitidos? se
os novos príncipes e o novo relator de sua majestade admitirem os recursos? ".
Apupado pelo séquito do nosso Sultão, o pobre
homem tratou de fugir pela porta de serviço do Palácio.
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VHCarmo.
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