As considerações, abaixo transcritas,
retiradas de um texto do consagrado
jornalista e sociólogo Wanderley
Guilherme Santos, republicado integralmente no blog "Conversa afiada" do PHA, ele
produz uma particular reflexão sobre o
caráter niilista de que se revestiram as manifestações dos jovens no mês de
junho e que provocaram, por sua vez, uma sequência indesejada de violência.
Vislumbram-se caminhos difíceis de
recomposição de pautas populares legítimas, desembaraçadas do peso dos setores
violentos da extrema direita nazista e da marginalidade.
Olhem só:
"Do mar de gente em desfile pelos dias de
junho já se ausentaram há muito os de boa fé, os lúdicos, os solidários com as
iniciais demandas sobre transporte, até mesmo sobre saúde e educação, bem como
os movimentos tradicionais organizados. Participam hoje dos protestos, fora os
incautos e ingênuos que sempre existem e lhes emprestam ar de legitimidade,
grupos anômicos de jovens de algumas posses, grupos neonazistas e
pré-fascistas, organizações niilistas nacionais e internacionais, além das
gangues ordinárias de ladrões e assaltantes.
Os que
agora se mobilizam e convocam sabem que são isso mesmo, portanto cúmplices
entre si. Não há jovem do Leblon que ignore os saques e
depredações que irão se seguir às suas intervenções ditas pacíficas. É a esta informal coalizão de celerados que
se referem os acoelhados discursos pela modernidade, pelo avanço democrático em
curso, pela radicalização da participação. Desde
quando movimentos pela democracia difundem o medo e intimidam fisicamente os
que divergem?
Na
verdade, a hegemonia da atual semântica política é niilista, reacionária,
antidemocrática. Mesmo as manifestações em favor de teses
populares adquirem conotação truculenta. Com
todo o narcisismo de que são portadores, movimentos e personalidades de grande
notoriedade não conseguem desfazer a impressão de que perderam o controle sobre
o emocional da população. A conjuntura é fascistóide. A pauta trabalhista das centrais sindicais era
a aparência para esconder uma real tentativa de retomar a alma das ruas. Foi
uma manifestação chinfrim, o dia nacional de lutas, e não recuperou a
hegemonia. Ficou apenas a impressão de que reclamava do governo a extinção do
fator previdenciário e a realização de uma reforma política, entre outras
bandeiras costumeiras, sem consequência significativa.
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VHCarmo.
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