quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ainda o dilema da oposição ...

                                   O período pós-eleição, que ora vivemos, suscita indagações e perplexidades. Não há uma discordância importante entre os que estudam, sem partidarismos, a nossa política de que o país vive uma carência de discursos oposicionistas baseados em uma posição ideológica conservadora respeitável.
                                    O fim da era do neoliberalismo que foi soterrado por sua falência, principalmente nos paises centrais do capitalismo com reflexos em todo o mundo pela crise corrente, fez esgotar as posições ideológicas caras à direita nos paises emergentes  e especialmente aqui no Brasil.
                                     Uma via alternativa à ocupação da centro/esquerda no comando do nosso país pelo PT e partidos aliados, não foi tornada viável pela oposição, certamente por falta de uma matriz histórica do pensamento conservador que, à época do neoliberalismo dominante, se deixou soterrar pela influência externa, extrapolando seu discurso em defesa de uma posição subalterna do Brasil, em relação às potências hegemônicas do capitalismo, promotoras daquela ciranda financeira cuja bolha estourou.
                                   Ao ter que confrontar nas últimas eleições o quadro existente na política do governo Lula que promoveu outro ideário, ou seja, a gradativa desvinculação da dependência externa estrita, a promoção da distribuição de renda, a primazia do consumo interno e o investimento na infraestrtura como motores do crescimento econômico, a oposição teve nítidas dificuldades para se e posicionar eleitoralmente.
                                  Além, do patrocínio da mídia que se esforçou, ao exagero, na promoção do candidato da oposição com os seus chamados “factóides” e escândalos fabricados, a permanência ideológica e econômica dos setores da agroindústria pressionados pelas reivindicações da democratização da terra, (a reforma agrária), restou à oposição o concurso de alguns setores da classe média e o seu candidato foi ao segundo turno na carona da candidatura Marina, até hoje nem bem explicada e de quase nenhum ganho institucional e partidário.
                                   A questão que desafia a oposição, frustrado o seu apelo à mídia e aos discursos moralista, racista e com veso separtista e religioso, é constituir um núcleo coerente para tentar veicular um discurso e prática  consentâneos com o momento político e social que o país atravessa, sob o risco de permanecer à margem do processo.
                                   De lembrar que o PSDB, partido hegemônico da direita neoconservadora, não teve sequer condições de fazer uma prévia eleitoral, por falta de arregimentação de filiados e, no último momento, teve que arranjar às pressas um inexpressivo candidato a vice na chapa presidencial de 2010.
                                Se considerada a votação geral na última eleição, o partido mais importante da esquerda, o PT, foi o grande vencedor do pleito acumulando a maior votação geral, elegeu mais deputados federais, estaduais e senadores, cinco governadores com os 10 que concorreu, além da Presidente. Fato relevante, também, é que, em São Paulo, reduto do serrismo, no segundo turno das eleições, a candidata do governo acresceu mais de um milhão e setecentos mil votos.
                                 Tudo isto, afinal, impõe uma reflexão, como dito acima, pois o país tem carências sérias no funcionamento do sistema eleitoral que propiciam um desvirtuamento dos ideais republicanos e democráticos; de justiça distributiva reclamando uma reforma tributária e, afinal, da remoção dos vários gargalos que obstruem o nosso desenvolvimento econômico e social.
                                       Para tanto é essencial o funcionamento das instituições democráticas e a existência de uma oposição comprometida com o país,desvinculada dos métodos condenáveis tais como os admitidos na última eleição com o concurso da mídia golpista. É uma questão de sua sobrevivência e uma forma de aplainar os caminhos do desenvolvimento do país.

                                      A propósito e por oportuno, este escriba transcreve abaixo as observações do ilustre jornalista e sociólogo Marcos Coimbra, expendidas no texto sob o título
                                                   
                                                      Dilemas tucanos.

                                       Neste início de ano, o PT e os partidos da base aliada estão mudando, procurando ajustar-se à realidade do governo Dilma. O modo como funcionaram nos últimos anos e se relacionaram com o Planalto não se coaduna com os novos tempos. O descompasso mais visível acontece com o PMDB.
                           Na oposição e, especialmente, no PSDB, a necessidade de transformações é ainda maior. Nada mais natural, após a terceira derrota consecutiva para Lula e o lulismo. Se o governismo, bem-sucedido nas urnas, é obrigado a se renovar, o que dizer das oposições?
                          O principal partido oposicionista tem que contrariar aquilo a que nos acostumamos a ver como sua natureza mais profunda. Depois de ter ficado famoso por sua dificuldade de tomar decisões, por sua incapacidade de sair “de cima do muro”, ele agora tem que explicitar suas diferenças e contradições.
                             Sem vida partidária real (como ficou claro em 2009, quando não conseguiu fazer prévias entre seus filiados por sequer saber quantos são), tudo no PSDB se resolvia “en petit comité”. Na sua história, ficaram famosas algumas cenas, como a escolha do candidato presidencial em 2006, decidida na mesa de jantar de um luxuoso restaurante em São Paulo, presentes quatro pessoas.
                            Hoje, a tendência quase atávica que os tucanos têm de evitar o dissenso não se sustenta mais. Seu medo do confronto interno terá que ser superado, pois não enfrentá-lo é o caminho certo para um novo fracasso em 2014.
                            O fulcro do problema é o serrismo, o pequeno, mas loquaz grupo de seguidores do ex-governador José Serra. Como tem um espaço desproporcional na chamada “grande imprensa” e conta com a simpatia de jornalistas nos principais veículos, acaba parecendo maior do que é. Os serristas são poucos, mas fazem barulho.
                               Apesar de seu pífio desempenho na eleição (pois foi pior que Alckmin no primeiro turno e só chegou ao segundo pegando carona em Marina), Serra quer ser a liderança maior e o candidato natural do PSDB à sucessão de Dilma. Acha que pode repetir a trajetória de Lula: de tanto tentar, acabar chegando à Presidência.
                                Sonhar é um direito de todos, mas não faz sentido querer que o conjunto da oposição se submeta a projetos pessoais, com chances de sucesso remotas (para dizer o mínimo). As figuras lúcidas do partido percebem que a carreira política do ex-governador acabou.
                                  A esse núcleo serrista se agregam outras correntes tucanas igualmente presas ao passado, nenhuma capaz de representar uma opção nova para o Brasil. Seu expoente mais ilustre é Fernando Henrique, que, quando fala da presidenta, insiste em um discurso de rejeição invejosa que perdeu a graça e a inteligência.
                                  Quem não é serrista no PSDB não tem escolha: ou se submete ou assume publicamente sua discordância. Em outras palavras, contraria o típico peessedebismo de deixar as coisas andar para ver como ficam.
                                   No fundo, isso é bom para o PSDB, ao obrigá-lo a se manifestar sobre o que pretende. Melhor a discordância exposta ao sol que o consenso falso. A briga de uns contra os outros sempre existiu em surdina.
                                   Esta semana, um episodio até cômico ilustra os dilemas tucanos. É pequeno, mas revelador.                                  O PSDB tem, agora no início de fevereiro, seu tempo de propaganda partidária do semestre. É uma janela sempre importante e, agora, ainda mais, por ser a primeira oportunidade de reencontro do partido com a grande maioria da população, somente atingível pela televisão.
                                O natural seria aproveitá-la para aquilo que os marqueteiros chamam reposicionamento. Seria uma boa hora para mostrar-se com a identidade que o partido adotará nos próximos quatro anos.    Pois bem, pela insistência do serrismo em protagonizar o programa, o resultado é que ninguém o estrelará. Nem Serra, nem Aécio aparecerão, e só seu presidente e FHC poderão ser vistos. Ou seja, a cara do PSDB continuará a ser a de sempre.
                                   Até quando o PSDB estacionará em impasses desse tipo? Quando é que a maioria vai mostrar à minoria que seu tempo passou?
(Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi)
 
VHCarmo.


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