Marcio Pochmann: “Propostas de Marina são mais
neoliberais que as do PSDB”
Olhem só:
Após a má
repercussão de várias propostas de Marina Silva, ela recuou da maioria. Recuou
do recuo sobre os homossexuais, recuou sobre abandonar o pré-sal, mas, até o
momento, não recuou da “autonomia do Banco Central”, que a grande maioria dos
brasileiros não sabe o que é e, por isso, não sabe o desastre que significaria.
Trocando
em miúdos, um Banco Central independente significa aumentos dos juros muito
maiores do que os que ocorrem hoje e, o que é pior, significa o virtual
abandono de instrumentos menos perniciosos de combate à inflação.
Um Banco
Central independente significaria que instrumentos de combate à inflação como
desoneração de impostos ou importações de produtos que estejam em falta – e
que, por estarem em falta, sobem de preço – dariam lugar à pura e simples
elevação dos juros ao consumidor, política econômica que, usada sem parcimônia,
gera desemprego e recessão.
Diante
disso, o Blog pediu ao economista e ex-presidente do Ipea Marcio Pochmann que
analisasse alguns pontos do plano de governo de Marina Silva que dizem respeito
à economia.
Sobre
Pochmann, ele se formou em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, concluiu pós-graduação em Ciências Políticas e foi supervisor do
Escritório Regional do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) no Distrito Federal, além de docente na Universidade
Católica de Brasília.
Também
tem doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), foi pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do
Trabalho (Cesit), foi pesquisador visitante em universidades de França, Itália
e Inglaterra, atuou como consultor no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp) e no Dieese.
No plano
internacional, foi consultor em diferentes organismos multilaterais das Nações
Unidas, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef) e a Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe (Cepal).
Pochmann
dirigiu a Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do
governo da prefeita Marta Suplicy em São Paulo e, a partir de 2007, passou a
exercer a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Nas
eleições 2012, Pochmann foi o candidato do PT à Prefeitura de Campinas, mas não
se elegeu.
Confira,
abaixo, trechos da entrevista.
Blog da
Cidadania –
Recentemente, a candidata a presidente Marina Silva propôs independência total
para o Banco Central. Como você vê essa proposta?
Marcio
Pochmann – Bem,
essa proposição existe há muito tempo no Brasil e, de maneira geral, ainda não
havia sido levada para debate em uma campanha eleitoral. Entendo que a independência
do Banco Central pode representar um retrocesso na democracia brasileira porque
o órgão passaria a ser um aparelho do Estado não mais submetido à aprovação ou
à votação popular, significando que os setores que são diretamente subordinados
à atuação do Banco Central sejam eles os próprios a exercer o poder de forma
independente naquilo que é quase central na política monetária, na política
macroeconômica, que é o papel do Banco Central.
Blog da
Cidadania – Você
acredita que com um Banco Central independente o país passaria a combater a
inflação usando aumento dos juros preferencialmente, antes de qualquer outro
instrumento, como importações, desoneração fiscal da cadeia produtiva etc.?
Marcio
Pochmann – De
fato, essa independência significaria o estabelecimento de um poder paralelo na
política macroeconômica. Nos Estados Unidos, por exemplo, o banco central tem
um papel mais amplo do que apenas perseguir a estabilidade monetária. Nos
Estados Unidos, o Banco Central tem um papel de perseguir tanto a estabilidade
monetária quanto um melhor nível de atividade econômica e do nível de emprego.
Nas circunstâncias brasileiras, você retiraria da administração pública ou do
Poder Executivo a capacidade de gerir tanto a política monetária [taxa de
juros] quanto a política cambial [a relação do real com outras moedas,
sobretudo o dólar] e a política fiscal [aumento ou diminuição de impostos].
Portanto, você reduziria o poder do presidente, que é submetido à validação
popular, dando esse poder a um setor que não tem nenhum compromisso com a
democracia [o mercado financeiro].
Blog da
Cidadania – Você
acha que a política econômica que seria adotada por Marina Silva, caso fosse
eleita, está clara no programa de governo que ela apresentou?
Marcio
Pochmann – O
programa de governo de Marina tem mais de 40 páginas e sobre vários pontos. Na
parte econômica, o que fica claro é um neoliberalismo, uma terceirização de
parte das atribuições do Poder Executivo. E não só na questão do Banco Central.
No caso da política fiscal, o que diz esse programa de governo é grave porque
se cria um “conselho de representantes” que retira do secretário do Tesouro
Nacional e, portanto, do ministro da Fazenda a capacidade de fazer política
fiscal e política cambial, deixando a taxa de câmbio submetida à vontade do
mercado financeiro. É, indiscutivelmente, terceirização da gestão da economia.
Blog da
Cidadania – Como
você vê a posição manifestada por Marina Silva em relação ao pré-sal, que
retira importância da exploração dessa riqueza?
Marcio
Pochmann – Ela
faz uma confusão entre a busca permanente e necessária da sustentabilidade
ambiental e a capacidade do país de utilizar um recurso limitado que é o
petróleo, esquecendo que a humanidade ainda não tem alternativa plena a essa
fonte de energia, ainda que existam promessas nessa área. Abandonar a
exploração do pré-sal significaria um grave retrocesso e uma brutal redução da
atividade econômica no país.
Blog da
Cidadania – Você
concorda com a premissa de que Marina Silva é de esquerda?
Marcio
Pochmann – Ela é
uma mulher de trajetória progressista. Sempre foi vista como uma batalhadora,
uma mulher corajosa, mas, obviamente, não se pode avaliar o governo que faria,
com os aliados que tem e com os acordos que fez, a partir da sua trajetória pessoal.
Blog da
Cidadania – Como
você vê a frase “Marina tem uma trajetória de esquerda, mas seu programa de
governo é de direita”?
Marcio
Pochmann – No que
diz respeito às propostas do programa de governo de Marina para a economia,
elas são de um radicalismo mais neoliberal do que as do PSDB.
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VHCarmo.
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