Na oportunidade de comentar o último
artigo escrito no Domingo (1.12) nos jornalões O Globo e Estado de São Paulo, muitos cronistas sérios anotaram o ódio com que Fernando Henrique Cardoso se refere ao
ex-presidente Lula, à Dilma e ao Partido dos
Trabalhadores.
Por outro lado, o texto torna evidente a pouca lucidez
do ex-presidente – (é o mínimo que se lhe pode atribuir) no exame da conjuntura
atual – iniciada no governo Lula - em confronto à que ele promoveu na loucura “ultraliberal” de seu governo.
Ele deixa claro naquele texto que a sua atuação passada
teria sido um sucesso quando, à unanimidade, todos analistas isentos não
escondem, isto sim, o triste fim a que se chegou ao término de seu segundo
mandato.
O Brasil saiu, então, ferido em sua soberania, pressionado por uma
imensa dívida externa, mediada pelo FMI que passou monitorar a nossa economia e
com todos os dados macroeconômicos em baixa, tais como o emprego, a inflação (
em mais de 12%), os salários congelados, inclusive o salário mínimo, a economia estagnada e perspectivas sombrias para o futuro.
Indaga-se: o que afinal levou o
ex-presidente ser esse verdadeiro “cara de pau” que, em suas manifestações,
parece tratar todos os leitores como imbecis, ignorantes e desmemoriados.
Ainda uma vez este escriba recorre aqui ao filósofo
francês Dany-Robert Dufour. O intelectual analisa aquela fase em que atuava FHC, nosso pretensioso
sociólogo, em anexo de seu livro “ O indivíduo que vem ... após o liberalismo”, (já aqui citado), colocando as coisas no lugar, ativando a memória do ex-presidente.
Ao propor 33 medidas para a superação da
fase do neoliberalismo o filósofo, no item 28, citando o exemplo brasileiro, escreve o seguinte:
“Se impõe transformar a dívida externa (pública) em dívida
soberana interior é porque um
Estado literalmente vendido à "plenoxia" não pode decidir nada. Este
Estado deverá então recompra-la (em todos os sentidos do termo, ou seja,
moralmente e financeiramente) para
seus habitantes para que eles se tornem os seus proprietários (a
desdolarização).
Sabe-se que estas medidas permitiram ao
Brasil conhecer hoje em dia um forte desenvolvimento. A partir de 2003 no
início dos anos Lula, o Brasil quitou efetivamente uma grande parte de sua
enorme dívida com o FMI e com a finança internacional, resgatando-a muito mais
rapidamente que o previsto. Em
seguida a política de estímulo à agricultura e à indústria nacionais permitiu a
Lula produzir saldos comerciais excedentes. Os investimentos meramente
especulativos foram desencorajados em proveito de investimentos na
produção. E finalmente porque o Estado propôs aos nacionais a compra
de uma boa parte da dívida externa, proporcionando-lhes taxas de juros mais
vantajosas.
Por outro lado essa medida contribuiu para
desarmar a oposição conservadora de uma parte dos brasileiros mais ricos ou
ajudar um governo supostamente "socialista", produzir este
reequilíbrio entre a dívida externa e interna e permitir o Brasil , até então
muito endividado no exterior, a recuperar sua soberania, de tal forma
que pôde ser um dos últimos
países a entrar na crise e o primeiro a sair."
Ao pé da página:
"Essas
soluções permitiram a Lula, antigo operário metalúrgico, de se mostrar muito
mais eficaz do que seu
predecessor, o eminente sociólogo e político "de
esquerda" conhecido no mundo inteiro, Fernando Henrique Cardoso. Impõe
afirmar que a única solução proposta por
esse último tinha, em boa lógica ultraliberal, de vender toda a indústria
nacional do Brasil à finança internacional para reembolsar a dívida. Solução
que mostrou claramente seus limites posto que o Brasil chegou ao fim de seu
segundo mandato , ainda mais endividado que antes. Isto
não impediu ao eminente sociólogo de tentar, por todos os meios, um terceiro
mandato, vetado pela Constituição, a fim de "realizar sua sonhada
obra" o que, muito
sabiamente, os brasileiros recusaram".
Notemos,
de passagem, que após 8 (oito) anos de governo em que a dívida externa foi
solucionada, Lula deixou o governo com cerca de 80% de opinião favorável,
deixando um país mais unido e mais seguro de si do que nuca dantes, malgrado
suas profundas divisões - isto faz
morrer de inveja muitos de nossos dirigentes europeus".
Quem
sabe seria de se recomendar ao pretensioso sociólogo – que anda tão esquecido -
a leitura do filósofo Dany-Robert ....
VHCarmo.
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