Nem varanda, nem janela:
os blocos passam....
Nem a Varanda, nem a
Janela, é Domingo de carnaval, me contento com o barulho que vem da rua, que se
propaga como um rumor andante e com o som do CD que rodo no aparelho da sala
com músicas populares.
Estou em casa, estou em Ipanema e ouço Chico
Buarque e o seu “Vai passar”, um
desfile de saudade; um dos suspiros emanados da classe média, na época vitimada
pela ditadura militar e era o Carnaval dos “tubarões retintos”, dos “barões
famintos” dos que “se foram” a buscar
fora do país o socorro contra a violência.
Aqui e agora a
predominância, como nos bairros de classe média em todo o país, vinga uma ideologia de alta volatilidade que tanto serve ao desígnios da classe dominante e, também, revela baixa resistência em sua própria defesa,
particularidade do caráter individualista da classe média em geral (Marx).
Há uma estória que
emana de setores dessa gente. Podem ir
ao extremo em sacrifícios pessoais, tanto no apoio aos seus algozes, como na
“luta armada” para tentar repeli-los
como alguns de seus membros o fizeram no passado contra a ditadura militar.
Passam aqui, na Rua, ao
lado da minha janela, entoando hinos aos quais não faltam sonhos éticos e
construtivo, nos quais, porém, não se
incluem a defesa plena a se opor ao o esmagamento do povão, do qual, aqueles
que levaram ao poder, retiram direitos e conquistas produto de suas lutas.
Cuidam de si, na medida de seus interesses pequeno/burgueses.
O CD continua rolando
na sala e ouço passados clamores contra
a violência nas canções entoadas por Caetano, Gil, João Gilberto que me
reacendem a esperança ao som dom grito do “Cálice!”, grito de protesto contra o
silêncio imposto, como agora, ao lamento do povo a quem deserdam.
Domingo de Carnaval,
quem sabe, derradeira expressão de uma ilusão da classe média que se julgou
capaz de integrar-se entre os ricos, na classe dominante.
Crescem nas ruas do meu
Rio de Janeiro os vultos tristes de homens, mulheres e crianças a dormir (e
morar) nas calçadas na tentativa de
angariar algo para comer e continuar a viver.
Bloco de carnaval deste
Domingo passa, arrastando sua falsa alegria; passa e os ignora, pulando sobre
seus trapos e vasilhas, assustando as suas pobres criança indefesas. O ato dessa gente que se abandona, indo, sem
teto, para as ruas, a pedir esmolas e “infear”
o bairro dito “chique” é um traço característico de sua resistência
involuntária, a última linha, antes do caos.
Rio, 26 de fevereiro de 2017.
Victor Hugo do
Carmo.
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