domingo, 26 de fevereiro de 2017

Reflexão necessária

                  
                

                        Nem varanda, nem janela: os blocos passam....

Nem a Varanda, nem a Janela, é Domingo de carnaval, me contento com o barulho que vem da rua, que se propaga como um rumor andante e com o som do CD que rodo no aparelho da sala com músicas populares.
 Estou em casa, estou em Ipanema e ouço Chico Buarque e o seu “Vai passar”, um desfile de saudade; um dos suspiros emanados da classe média, na época vitimada pela ditadura militar e era o Carnaval dos “tubarões retintos”, dos “barões famintos” dos que   “se foram” a buscar fora do país o socorro contra a violência. 
Aqui e agora a predominância, como nos bairros de classe média em todo o país, vinga uma  ideologia de alta volatilidade  que tanto serve ao  desígnios da classe dominante e, também,  revela baixa resistência em sua própria defesa, particularidade do caráter individualista da classe média em geral (Marx).
Há uma estória que emana de setores dessa gente.  Podem ir ao extremo em sacrifícios pessoais, tanto no apoio aos seus algozes, como na “luta armada” para tentar  repeli-los como alguns de seus membros o fizeram no passado contra a ditadura militar.
Passam aqui, na Rua, ao lado da minha janela, entoando hinos aos quais não faltam sonhos éticos e construtivo, nos  quais, porém, não se incluem a defesa plena a se opor ao o esmagamento do povão, do qual, aqueles que levaram ao poder, retiram direitos e conquistas produto de suas lutas. Cuidam de si, na medida de seus interesses pequeno/burgueses.
O CD continua rolando na  sala e ouço passados clamores contra a violência nas canções entoadas por Caetano, Gil, João Gilberto que me reacendem a esperança ao som dom grito do “Cálice!”, grito de protesto contra o silêncio imposto, como agora, ao lamento do povo a quem deserdam.
Domingo de Carnaval, quem sabe, derradeira expressão de uma ilusão da classe média que se julgou capaz de integrar-se entre os ricos, na classe dominante.
Crescem nas ruas do meu Rio de Janeiro os vultos tristes de homens, mulheres e crianças a dormir (e morar)  nas calçadas na tentativa de angariar algo para comer e continuar a viver.
Bloco de carnaval deste Domingo passa, arrastando sua falsa alegria; passa e os ignora, pulando sobre seus trapos e vasilhas, assustando as suas pobres criança indefesas.    O ato dessa gente que se abandona, indo, sem teto,  para as ruas, a pedir esmolas e “infear” o bairro dito “chique” é um traço característico de sua resistência involuntária, a última linha,  antes do caos.
                 Rio, 26 de fevereiro de 2017.  
                             Victor Hugo do Carmo.


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