sábado, 16 de maio de 2015

A questão central do Estado e da realidade.


A dicotomia com falso teor dialético, entre capitalismo e socialismo (ou comunismo)  que certos setores da esquerda ainda tentam sustentar, ficou superada desde 1989, restando como  discurso ainda propagado, em sua maioria, por filósofos e afastado por economistas e pensadores modernos, de  uma maneira geral.
 Aquela  abordagem política perdeu-se no tempo, substituída pelo jogo que se trava entre o Capital   e a desigualdade na distribuição da renda gerada, mediada  ou não, pela regulação do Estado Democrático.
 Aquele  discurso, por estéril no presente,  desvia o rumo da análise e da compreensão da atual dinâmica que se configura, melhor dizendo:  do Capital  frente  à  resistência do Estado Democrático na implementação de medidas e procedimentos que assegurem a distribuição justa da renda gerada e a permanência e manutenção das funções e obrigações da governança democrática.
 Os Estados  devedores passam a se omitir, pela falta de recursos, de suas  obrigações para com os serviços públicos de saúde, educação e assistência aos pobres e aos aposentados e demais pertinências, além das obras de infraestrutura. 
Os Estados passam também, na atualidade,  como  Estados Devedores, manter-se mediante dívida - sempre em progressão -  com emissão de títulos (soberanos), na impossibilidade política de taxar o Capital e as grandes fortunas,  tendo que, por vezes,  como medida imediata de privatizar  os serviços de  saúde, previdência e seguro, tornando-os atividades lucrativas para  o Capital liberalizado  e elitizadas, ou seja, passando a gerar mais exclusão social.
As esquerdas brasileiras - em sua maioria as da extrema esquerda -  se prendem àquele discurso historicamente superado.  Alienam-se não só ideologicamente como da luta contra o que ora se trava: contra a progressão desregulada do Capital, mantendo-se como sua linha auxiliar.
Sobre essa  questão Thomas Picketti ( Capital no século XXI), ao fim de seu  extenso comentário  final (páginas  948 e seguintes,  da edição francesa –Ed. Seuil)),   notou com  acuidade:
“Longe de estimular a procura sobre o tema “capital e as desigualdades”, as confrontações (ideológicas) entre capitalismo e comunismo estão  sobretudo levando-as  a se  esterilizarem, passando ao interesse também e de outra forma aos historiadores e  senão aos filósofos. É  mais que tempo de  considerar como passada  a pesquisa histórica e entender que  essas formas  arcaicas que ora se  colocam  me parecem profundamente marcadas por (aquela) confrontação pertinente (apenas)  no  passado” (Tradução livre).
É de insistir, finalmente, sobre a questão, posto que em face da realidade objetiva e ao não considera-la  e não a discuti-la, e por outro lado priorizando  a dicotomia esterilizada pelo passar do tempo histórico, permeando-a com uma ética formal e discriminatória, os setores de classe média em foco se alienam e contribuem para uma análise alienada que marginaliza a  questão principal, ou seja, a luta  entre o “Capital e a desigualdade”, ou seja, entre o Capital liberado e o Capital regulado pelo Estado Democrático questão central para a afirmação nacional  e realização de uma distribuição justa da renda.

VHCarmo.

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