A dicotomia com falso
teor dialético, entre capitalismo e socialismo (ou comunismo) que certos setores da esquerda ainda tentam sustentar,
ficou superada desde 1989, restando como
discurso ainda propagado, em sua maioria, por filósofos e afastado por
economistas e pensadores modernos, de
uma maneira geral.
Aquela abordagem política perdeu-se no tempo,
substituída pelo jogo que se trava entre o Capital e a desigualdade na distribuição
da renda gerada, mediada ou não, pela regulação do Estado
Democrático.
Aquele
discurso, por estéril no presente, desvia o rumo da análise e da compreensão da
atual dinâmica que se configura, melhor dizendo:
do Capital frente à resistência do Estado Democrático na
implementação de medidas e procedimentos que assegurem a distribuição justa da
renda gerada e a permanência e manutenção das funções e obrigações da governança democrática.
Os Estados devedores passam a se
omitir, pela falta de recursos, de suas obrigações para com os serviços públicos de
saúde, educação e assistência aos pobres e aos aposentados e demais
pertinências, além das obras de infraestrutura.
Os Estados passam
também, na atualidade, como Estados Devedores, manter-se mediante dívida - sempre em progressão - com emissão de títulos
(soberanos), na impossibilidade política de taxar o Capital e as grandes
fortunas, tendo que, por vezes, como medida imediata de
privatizar os serviços de saúde, previdência e seguro, tornando-os
atividades lucrativas para o Capital
liberalizado e elitizadas, ou seja,
passando a gerar mais exclusão social.
As esquerdas
brasileiras - em sua maioria as da extrema esquerda - se prendem àquele discurso historicamente
superado. Alienam-se não só
ideologicamente como da luta contra o que ora se trava: contra a progressão
desregulada do Capital, mantendo-se como sua linha auxiliar.
Sobre essa questão Thomas Picketti ( Capital no século
XXI), ao fim de seu extenso
comentário final (páginas 948 e seguintes, da edição francesa –Ed. Seuil)), notou com
acuidade:
“Longe
de estimular a procura sobre o tema “capital e as desigualdades”, as
confrontações (ideológicas) entre capitalismo e comunismo estão sobretudo levando-as a se
esterilizarem, passando ao interesse também e de outra forma aos historiadores
e senão aos filósofos. É
mais que tempo de considerar como
passada a pesquisa histórica e
entender que essas formas arcaicas que ora se colocam
me parecem profundamente marcadas por (aquela) confrontação pertinente (apenas) no passado” (Tradução livre).
É de insistir, finalmente, sobre a
questão, posto que em face da realidade objetiva e ao não considera-la e não a discuti-la, e por outro lado priorizando a dicotomia esterilizada pelo passar do tempo
histórico, permeando-a com uma ética formal e discriminatória, os setores de
classe média em foco se alienam e contribuem para uma análise alienada que marginaliza a questão principal, ou seja, a
luta entre o “Capital e a desigualdade”, ou seja,
entre o Capital liberado e o Capital regulado pelo Estado Democrático questão
central para a afirmação nacional e
realização de uma distribuição justa da renda.
VHCarmo.
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