quarta-feira, 13 de julho de 2011

Uma reflexão sobre a crise na União Europeia...

                            É claro que uma simples viagem turística não autoriza um completo entendimento – nos detalhes - do que se passa atualmente na velha Europa em crise, mas a é inegável que se pode sentir que há algo grave que está longe de se extinguir.
                         Está havendo uma contaminação da situação crítica da economia dos paises periféricos da União Europeia para o sistema financeiro de todo o grupo de nações.  Quando se diz que estão, ou permanecem, imunes a Alemanha e a França, não há como afastar o fato de que ali se iniciou a derrocada com o Deustch Bank e bancos franceses, socorridos pelos governos respectivos, respaldados pelo Banco Central Europeu.
                           Demais disto, impõe lembrar que a crise financeira que se alastrou pelo mundo capitalista teve sua origem em Wall Street e a bolha financeira criada pelos títulos sem lastro, atingiram em cheio a economia dos paises da UE.

                  O economista Joseph E. Stiglitz, diz com toda a razão ao se referir aos Bancos:
                    “A consciência de que não podiam quebrar se tornou um incentivo para a tomada de ricos excessivos. No final das contas, os bancos caíram nas suas próprias armadilhas. Os instrumentos financeiros usados para explorar os pobres se voltaram contra os mercados financeiros e os derrubaram. Quando a bolha estourou, a maior parte dos bancos acabou ficando com uma quantidade de papeis de riscos suficiente para ameaçar a sua própria sobrevivência”. (do livro “O Mundo em queda livre”).
                     A situação mais grave atingiu o sistema da UE na sua periferia, levando a Islândia, Grécia e Portugal a se tornarem paises falidos, ou seja, incapazes de honrar suas dívidas e seus títulos se tornaram meros papeis podres, sem valor.    A Espanha e a Itália seguem o mesmo caminho, com dívidas muito maiores do que a sua capacidade de pagamento e de seu PIB e em crise fiscal sem paralelo na sua história..
                    A essa altura lançam-se as âncoras do sistema capitalista, encabeçadas pelo Fundo Monetário Internacional    e, no caso da UE, em conjunto com o Banco Central Europeu. Os remédios salvadores não só são amargos, mas insuficientes para debelar no médio prazo a situação caótica das economias. Como sempre o maior peso das medidas restritivas atinge as camadas mais pobres daqueles paises dos quais se exige o sacrifício do desemprego, congelamentos salariais, invalidação de contratos coletivos de trabalho diminuição do valor das aposentadorias, drástico corte das despesas sociais dos governos e como sempre a exigência das privatizações das empresas públicas. Nós já  tivemos essa triste experiência.
                                Hoje, até sem que seja preciso uma fina percepção, vêem-se nas ruas das velhas e cultas cidades da Europa o empobrecimento da classe média – a restringir o consumo - e a miséria da larga faixa ocupada pelos imigrantes, muitas vezes de uma segunda geração  já nascidos naqueles paises. Sarkozy já cogitou expulsá-los da França.
                                   Em recente estatística do IPEA, em relação às nossas crises domésticas anteriores, verifica-se que as medidas aqui tomadas pelos governos Sarney, Collor e FHC, ao comando do FMI, iguais àquelas, levaram o nosso país a graves períodos de recessão em que a curva das despesas sociais declinaram juntamente com PIB. Contrariamente, nesta crise atual, o nosso país, emergiu da crise e a curva das despesas sociais ao invés de declinar subiu, mantendo a tendência do crescimento do PIB e os postos de trabalho.
                              Essa observação, aparentemente não relacionada às medidas contracionistas que estão sendo aplicadas na Europa, tem tudo a ver no entanto, pois a tendência histórica de tais medidas de nítido caráter neoliberal, tendem – como se vê – a levar os paises a recessão e mesmo à falência.
                            Diga-se, afinal, que o sistema monetário do Euro passa por sua maior crise, havendo mesmo manifestações populares nos paises mais atingidos, pleiteando a saída do sistema, como na Grécia e em Portugal.
                         Esse escriba teve a oportunidade de ver na Espanha, em Barcelona, uma das maiores manifestações populares que teve oportunidade de assistir nos últimos tempos, encabeçada pelos chamados “Indignados”, organização de setores populares e de classe média, de diversas matizes ideológicas, que continuam mobilizados nas ruas . Milhares de pessoas: jovens, adultos, velhos e até crianças nas praças e ruas, clamando contra o chamado “pacto com o FMI”, a um passo de ser firmado pelo governo. Na Praça da Catalunha, na bela Barcelona, permanecem centenas de pessoas acampadas desde 15 de maio último, até dormindo em camas montadas sobre os galhos das árvores.
                          Esses paises em crise, aos poucos, vão cedendo ao comando neoliberal e as consequências sociais se tornam cada vez mais drásticas. A cúpula da União Europeia, por incrível que pareça, já admite o calote e a revalorização de títulos podres dos paises a beira da recessão. De certa forma isto representa uma injeção de ânimo nas veias gastas do sistema financeiro que não lhe pode salvar da doença.
                      O desemprego é, talvez, a maior tragédia provocada pelas medidas contracionistas neoliberais, jogando na pobreza milhões de cidadãos sem esperança e famílias destruídas pela falta de perspectiva. Os índices de desemprego atingem números inimaginados.
                       A lição a extrair desses fatos deixa evidente que o sistema capitalista, como um todo, está sujeito a crises cíclicas que se repetem, nesse tempo histórico, com mais freqüência. O que, no entanto, traz mais preocupação é que, no nível da cúpula do sistema, não se visualiza uma solução duradoura e o sacrifício das populações mais pobres se agrava. As medidas tomadas são sempre as mesmas.
                      “Os Bancos são grandes demais para os deixar falir”, segundo Obama e os recursos retirados dos programas sociais são entregues ao sistema financeiro para manter o funcionamento das instituições que, numa segunda, etapa vão fabricar outra bolha e outro processo recessivo.
                     A gente pode avaliar, agora com muita clareza, o perigo que representa para o nosso país o ressurgimento das idéias neoliberais, que sempre são apoiadas pela mídia, ligada ao golpismo. Com o enfraquecimento das oposições a mídia tem ocupado o seu espaço, tornando-se quase um quarto poder. E aí mora o perigo.
VHCarmo.

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