Ajustes, ou austeridade? – Reflexão necessária.
Os debates sobre a
economia do nosso País, sustentados pelos economistas conservadores, se focam
quase exclusivamente na necessidade da aceleração do crescimento. Para eles haveria uma estagnação e um perigo
de retrocesso.
O remédio apontado por
esse grupo, no entanto é, mais uma vez,
no sentido de liberação plena da
economia brasileira ao mercado internacional, com um duro ajuste financeiro interno
e a sua desregulação.
O seu discurso, via de
regra, sequer traz à consideração um fator essencial para o exame correto do
processo de crescimento do País que é a sua inevitável ligação com o crescimento
externo, ou seja, do centro do Capitalismo em crise desde 2007/2008.
Os relatórios sobre a conjuntura
de outubro e novembro de 2014 da Comissão da UE, FMI, OCDE certificam a
desaceleração da economia. Entre julho e outubro, o Woorld Economic Outlook do
FMI reviu em baixa para este ano a previsão de crescimento mundial de 3,7% para
3,3% e do comércio mundial de 4,5% para 3,8%. As diminuições mais significativas dizem
respeito ao Japão (de 1,7% para,
0,9%), à Russia (e 2% para O,2%) do
Brasil (de 2,3% para, 0,3% previsão), à Itália ( de 0,6% para 0,2%.). As recuperações maiores, apesar de
irrelevantes, são a da Grã-Bretanha ( de
1,7% para 3,2%, incluindo os ajustes na
contabilidade nacional) e da Espanha (de
0,6% para 1,3%).
Os países emergentes e
em desenvolvimento têm desacelerado constantemente de 7,5% para 4,4% neste ano
(2014), a China de 10,4% para 7,4%.
Esse o quadro do crescimento
(ou da desaceleração) da economia mundial, não focalizados aí os EEUU cujas
especificidades desvirtuariam o estudo, sendo certo, todavia, que a
volatilidade de seus índices de crescimento aponta para a sua crise ainda não superada com reflexo negativo para o conjunto dos paises capitalistas.
Pois bem, os nosso 'doutos' economistas conservadores, acolhidos preferencialmente pela mídia como "especialistas", deixam de
lado uma análise da situação que o quadro acima aponta e parece que se esquecem
que o nosso país não está fora do contexto mundial e que a busca do crescimento
que pregam estaria nos remédios já
experimentados alhures e aqui no Brasil que levaram à quebra da nossa economia
por três vezes.
Faltam-lhes originalidades, pois o Brasil no
quadro em que se apresenta a economia
mundial, e apesar da queda do crescimento no último exercício tem sustentado índices elevados de emprego e
consumo, bem como um processo exitoso de integração de seu povo e a continuidade das obras
de infraestrutura, prevalecendo-se, mais acentuadamente, do nosso grande mercado
interno, em face da situação da crise externa acima exposta.
A nossa posição em relação ao câmbio se
sustenta com um colchão de reservas do Tesouro em torno de U$ 380 bilhões, possibilitando a atuação do Banco Central , para buscar o equilíbrio em face das
manobras externas. Por outro lado, o fato de mantermos a
dívida interna imune a dolarização, permite, também, exercer plenamente a
nossa soberania neste terreno.
O mercado externo, como
se vê acima, não é uma saída para a superação dos entraves do crescimento, pois
a situação de sua desaceleração é um fenômeno abrangente na economia
mundial. Nem mesmo a China, nem a
Alemanha, países que têm nas exportações seu maior trunfo econômico, minguaram
os seus índices, também em face da presente
crise generalizada dos mercados internacionais, inclusive com a queda dos
preços das “comódes”
Voltar-se para o
mercado interno e impulsionar o nosso processo de investimento e melhoria de produtividade
com a regulação dos mercados representa um caminho seguro para evitar a crise e
promover crescimento posto que a “austeridade”
nos termos pretendidos pelos economistas conservadores e a mídia nos levariam fatalmente à quebra financeira (como no passado), mesmo porque eles apontam
sempre para supressão dos investimentos sociais e para contenção de salários, pela “flexibilização”
dos direitos dos assalariados e o congelamento das verbas previdenciárias. Em
resumo, pretendem que se abandonem os programas sociais em curso. Remédios que acabariam por matar o paciente.
No limiar do novo quadriênio da Presidenta
Dilma se vislumbra uma necessidade de ajustes (como geralmente se prega), mas
de nenhuma forma – repita-se à exaustão - que produzam desemprego e inibam os
investimentos nas áreas sociais e na eliminação da pobreza, como pregam os
arautos dos mercados sem regulação. O bem estar e a vida digna do ser humano deve ser o alvo primordial da economia e
do crescimento.
VHCarmo.
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